A educação como meio para vencer desafios impostos aos idosos
REFLEXÃO
A educação como meio para vencer desafios impostos aos idosos
Education as a means to face challenges posed to the elderly
La educación como medio para vencer desafíos impuestos a los ancianos
Margarita Ana Rubin Unicovsky
Enfermeira. Professora Assistente da Escola de Enfermagem /UFRGS. Mestre em
Educação.Doutoranda em Gerontólogia Biomédica PUC/RS
E-maildo autor: mar.u@terra.com.br
1 Introdução
O momento atual suscita algumas reflexões para um tema que nos parece um dos
mais importantes deste principio de século: o fato, amplamente provado, do
aumento da expectativa de vida.
Embora grande parte de nossas aprendizagens seja considerada implícita, o que
significa dizer que o meio ensina de maneira não deliberada, o processo ensino-
aprendizagem vem sendo, historicamente, uma preocupação de estudiosos.
A inserção do idoso na sociedade, a mesma que o descarta pelo envelhecimento,
tem encontrado na educação o eixo central para um novo aprendizado, o
aprendizado do viver e do envelhecer, portanto, dos processos que caracterizam
não só os envelhecimentos, sejam eles biológicos, psicológicos ou
socioculturais, mas a dinâmica da própria aprendizagem.
O processo ensino-aprendizagem deve possibilitar ao idoso reflexões em torno do
seu ambiente concreto, das suas vivências cotidianas, da sua realidade mais
próxima. Essas reflexões conjuntas aumentam o nível de consciência dos
problemas que afetam o coletivo. Isto ajuda a promover o sujeito, não ajustá-lo
a realidades pré-programadas. A aprendizagem deve situar-se diretamente a
partir da experiência, pois nenhuma necessidade é mais humana do que a de
perceber o significado da própria vida. A elaboração e o desenvolvimento do
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização que "é sempre
inacabado, continuo e progressivo; é uma aproximação crítica da realidade que
vai desde as formas de consciência mais primitiva até a mais crítica e
problematizadora e, conseqüentemente, criadora"(1:91). Nesse sentido, é preciso
considerar qual ação pedagógica deve ser implementada para esse novo velho ator
social. A aprendizagem passa a ser algo necessário e prazeroso, sendo
desnecessário resistir na aprendizagem(2).
Tudo o que se aprende está relacionado ao sistema referencial da
realidade. Aprende-se com a própria experiência. Indagação e sede de
saber fazem parte da natureza humana. É necessário apenas acionar a
capacidade de sentir para que se aprenda com satisfação. Ao aumentar
a capacidade de absorver novas informações, estimula-se a percepção
das relações entre um conjunto de dados e as estruturas de realidade
pessoais, interiores e exteriores. Desse modo, cada fragmento de
informação encontra o seu lugar adequado e amplia a integração do
todo(2:25).
Isto será possível na medida em que a ação pedagógica desenvolvida leve em
conta estímulos visuais, os comportamentos dos idosos (muitas vezes
contidos),os diferentes ritmos sensório-motores, a história de vida pessoal, as
possibilidades de interação e ampliação de conhecimentos, proporcionadas pela
utilização de filmes, de passeios, de discussões, de atividades em grupo.
2 Processo de ensino e aprendizagem no contexto do idoso
Ao envelhecer, as pessoas confrontam-se com novos desafios e novas exigências.
As limitações físicas são acrescidas àquelas que a sociedade coloca, como os
preconceitos e os estereótipos, e o grande desafio é construir permanentemente
o próprio caminho e desenvolver atitudes que as levem a superar suas
dificuldades, integrando limites e possibilidades de conquistar mais qualidade
de vida, que podem ser concebidas como um conjunto de condições dignas de
existência.
As atividades relacionadas ao processo de envelhecimento são por sua natureza
intrínseca, interdisciplinar, que envolvem diferentes áreas do conhecimento, na
busca da melhoria da qualidade de vida e na necessidade de oferecer, nos
processos de formação profissional e nas iniciativas educativas desenvolvidas
junto a idosos, a oportunidade de discussão e de compreensão do processo de
envelhecimento humano em suas múltiplas e relacionadas dimensões.
A educação, portanto, é um dos meios para vencer os desafios impostos aos
idosos pela idade e pela sociedade, propiciando-lhes o aprendizado de novos
conhecimentos e oportunidades para buscar seu bem- estar físico e emocional. Os
programas educacionais para idosos vêm procurando atender a essas necessidades,
trabalhando com diversos procedimentos pedagógicos, a fim de despertar a
consciência crítica para a busca do envelhecimento bem-sucedido. O desafio que
se apresenta é o de gerar motivação para que os idosos se interessem pelo que
se pretende ensinar, de modo que empreguem esforço e dedicação na busca de
criação de estratégias para reaprender a aprender, gerando um conhecimento que
vai além de evitar ou atrasar doenças, que se caracteriza pela busca do
engajamento pleno na vida. Por meio da educação continuada, esses programas têm
possibilitado ao idoso atualização, aquisição de conhecimentos e participação
em atividades culturais, sociais, políticas e de lazer.
Nesse sentido a ação genética vai buscar sua teoria visando a compreender as
raízes do conhecimento, incluindo as mais diversas formas de aprendizagem. Em
termos de estrutura de conhecimento nos leva a questionar quanto a importância
de se traduzir as diversas fase da ciência na construção pessoal em diferentes
fases da vida. Ao reportarmos à postura do empirismo no processo de
aprendizagem devemos destacar que o sujeito é um ser passivo, receptor de
informações prontas, que lhe servirão como bases e instrumentos de adaptação ao
mundo em que vive, sendo uma realidade transmitida de maneira formal, pelo
processo educativo. Assim, a inteligência passa a ter um papel de intermediar
no processo de armazenar informações. Na educação de adultos, trabalhar em
conjunto é o que impulsiona o processo de ensino e aprendizagem. O mestre e o
aprendiz, juntos dividem suas expectativas e ansiedades, analisando formas de
vencer as dificuldades que aparecem. Para esse trabalho, é importante que o
mestre tenha conhecimento do desenvolvimento físico, psicológico e social do
idoso, se conscientizando de que essa fase possui características peculiares.
Além disso, é necessário que o mestre conheça os preconceitos e os estereótipos
em relação à velhice, para que possa identificá-los e revê-los em sua ação.
A aprendizagem é um processo permanente de construção, que inicia ao nascer e
se prolonga por todas as fases da vida. O indivíduo que acredita em suas
potencialidades, por conseqüência da lógica a construção. Os idosos nesse
processo apresentam um papel fundamental na construção e reconstrução do
aprender, pois eles desencadeiam construções básicas de conhecimento de um ser
autônomo, produtivo e extremamente cooperativo. Não podemos separar o processo-
ensino aprendizagem sem vincular o idoso, pois ele completa todas as fases de
conhecimentos do qual o homem cresce, se socializa, aprende e determina seus
atos. É possível formarmos um sujeito autônomo frente a uma nova realidade
educacional, pois a aprendizagem gera uma autonomia, inclui dentro do processo
de desenvolvimento social o idoso como referencia viva de um aprendizado. O
idoso precisa resgatar dentro deste processo uma ação participativa e efetiva,
participando ativamente da sociedade em que vive. Ao passarmos este legado ao
idoso estamos garantindo e reconhecendo sua participação não como obrigação,
mas com uma atitude de cidadania, contribuindo de forma efetiva na melhoria da
qualidade de vida. A contribuição do conhecimento transfere ao cidadão uma
cooperação e pelo respeito mútuo, é necessário que proporcione um ambiente
adequado ao seu desenvolvimento, de forma que possa construir-se como sujeito e
autor de sua aprendizagem, este é o desafio que cabe inapelavelmente na
sociedade. Precisamos resgatar o valor de uma educação continuada que seja
pautada pela idéia de crescimento e democracia, que possibilite o
desenvolvimento da capacidade intelectual e de uma estrutura cognitiva que
permita a discussão corajosa dos problemas de seu tempo.
O aprendiz idoso necessita, com maior freqüência, obter êxito em suas tarefas
para que se sinta motivado a continuar produzindo. O mestre, portanto, deve
estar atento aos pequenos avanços apresentados pelo aprendiz e incentivá-lo a
continuar. Outro aspecto importante a ser considerado pelo mestre é o de que o
aprendiz idoso necessita de propostas claramente colocadas, sendo necessário o
estabelecimento de objetivos precisos para que ele produza mais e sem fadiga.
Acima de tudo, o mestre tem que conhecer o interesse de seus aprendizes idosos,
pois eles só se motivam e assimilam aquilo que for interessante. Não é exagero
dizer que o aprendiz idoso "só faz aquilo que realmente quer", o que vai ao
encontro de suas expectativas. O mestre dos programas para o idoso não se
dedica, portanto, a transplantar os conhecimentos, para que o aprendiz enfrente
todos os seus desafios. Deve ser companheiro do grupo, incentivando os
aprendizes a lutar por melhores condições de vida.
Ao oferecer informações os mestres devem levar em conta um conjunto de
princípios gerados no contexto da educação de idosos, cujo atendimento tende a
favorecer a eficácia das suas iniciativas, qualquer que seja a idade ou nível
educacional dos aprendizes(3). Os princípios são os seguintes:
- Processamento ativo: envolve dar oportunidades para aprender
fazendo, ou seja dar oportunidades para a prática do que está sendo
ensinado. Pessoas mais velhas são capazes de aprender tão bem quanto
as mais jovens, desde que possam envolver e participar ativamente de
programas estruturados, levando em conta os seus interesses e sua
experiência anterior.
- Retroalimentação e apoio sistemático: i nformações freqüentes sobre
a qualidade e o progresso do desempenho facilitam o ajustamento e
ajudam a aceitação do erro e da necessidade de correção. Essas
informações devem ser fornecidas de forma sistemática e contigente.
- Sistema de recompensas: o elogio e o reconhecimento podem funcionar
como poderosos incentivos, principalmente se forem usados de modo
sistemático contingente, no sentido de diferenciar padrões de
desempenho.
- Reconhecimento de conceitos: a o ensinar novos conceitos, isto é,
expandir a base conhecimentos e habilidades pré-existentes. A
transferencia da aprendizagem é facilitada quando se inicia a partir
do que os idosos já sabem.
- Aplicabilidade direta: demonstrar os usos práticos e a
aplicabilidade de um novo conceito e habilidade melhora a motivação
de aprendizes idosos e aumenta a possibilidade de generalização do
aprendido para situações novas. Nesse contexto é importante lembrar
que a generalização dos conhecimentos teóricos para a prática não é
automática. Em situações que exigem habilidades é importante criar,
na situação de ensino, uma ampla quantidade de situações assemelhadas
com aquelas que os aprendizes irão encornar na vida real.
- Adaptação do contexto social: uma situação de aprendizagem não deve
tornar-se uma oportunidade de confronto com a incapacidade, mas sim
de capacitação das necessidades existentes. Deve-se evitar a
competição em favor da cooperação e da aceitação. O apoio social dos
companheiros é importante em qualquer idade, mas particularmente
importante nos idosos. Por isso a aprendizagem em duplas ou em
pequenos grupos é mais eficaz do que, a aprendizagem individual. Além
disso, é necessário evitar que o idoso se molde a um contexto social
improdutivo, como ocorre na maioria das vezes. Deve-se buscar
motivações para promover um processo de mudança destes conceitos
implícitos, iniciando uma nova construção direcionada para um idoso
mais ativo e participativo.
- Um contexto logístico adaptado: é necessário oferecer planos de
trabalho adaptado às capacidades individuais dos idosos para
compreender e fazer. É importante adotar estratégias personalizadas
de ensino e acompanhamento. É interessante organizar o material a ser
aprendido em unidades pequenas e significativas.
- Envolvimento com os objetivos: a participação é facilitada se os
aprendizes têm oportunidades de participar da definição dos
objetivos, a partir de seus interesses, necessidades, conhecimentos e
habilidades.
Surge, então, a necessidade de investimento em práticas educativas que
propiciem uma efetiva participação dos idosos como possuidores de potencial
para produção de conhecimento e não como meros consumidores. Assim, desenvolvam
sua sensibilidade em relação ao seu interior para que percebam, no seu
cotidiano e na sua cultura de inserção, fontes inesgotáveis de conhecimento,
trazendo benefícios não só individuais, como também para a própria comunidade
de inserção.
É nesse contexto que surge a necessidade de projetos educacionais para o acesso
ao conhecimento e para prevenir efeitos de exclusão, repensando a educação,
pela consciência de que os idosos têm características singulares como grupo
social, biológico e psicológico, que exigirá um novo estilo educativo, com
diferentes objetivos, conteúdos e formas de estímulo à motivação. Desse modo,
compete aos profissionais, que se dedicam a atividades educacionais com idosos,
indagarem-se: até que ponto a metodologia utilizada, os conteúdos trabalhados e
os objetivos pretendidos têm produzido motivação? É necessário profissional com
formação direcionada ao idoso para organizar situações de aprendizagem com as
características motivacionais de acordo com necessidades dos aprendizes para
que estes construam novos conhecimentos e passem a ter um envelhecimento ativo
e participativo no contexto social.
3 Considerações finais
O palpável adiamento da velhice merece ser considerado na fixação dos limites
da idade para o tempo de atividade útil. Se a vida está sendo prolongada e
evidentemente ampliado o ciclo de atividade produtiva dos indivíduos, nada mais
justo e certo que dilatar o período de formação escolar e profissional, levando
então a um idoso mais saudável e mais ativo.
As mudanças nas vias de educação para que o idoso se prepare a viver
positivamente esta etapa de vida, visando às oportunidades de sua re-inserção
no processo educacional formal, indicam um eixo norteador para novos
aprendizados, de ligação entre educação e envelhecimento, expressões
aparentemente incompatíveis, considerando que a educação sempre esteve ligada a
crianças e jovens, de outro lado, de que o processo de envelhecimento é
aprendido e, por isso, requer preparação. Esses requerimentos são desafiadores
não só para os idosos, mas também para os docentes e para as instituições de
ensino; sendo expressos nos conteúdos, na competência dos professores, na
própria concepção de ensino-aprendizagem, preparando assim, idosos para um
mundo de aceleradas mudanças, um mundo que consome idéias, sem limite de tempo
e espaço, sem certezas. A preparação terá que ser para uma vida interativa,
inconclusiva, com exigências cognitiva e instrumental, que considere aspectos
éticos, afetivos, espirituais, criativos, de prazer e de alegria de viver.
É nesse contexto que surge a necessidade de projetos educacionais para o acesso
ao conhecimento e para prevenir efeitos de exclusão, repensando a educação,
pela consciência de que os idosos têm características singulares como grupo
social, biológico e psicológico, que exigirá um novo estilo educativo, com
diferentes objetivos, conteúdos e formas de estímulo à motivação. Desse modo,
compete aos profissionais, que se dedicam a atividades educacionais com idosos,
indagarem-se: até que ponto a metodologia utilizada, os conteúdos trabalhados e
os objetivos pretendidos têm produzido motivação? É necessário profissional com
formação direcionada ao idoso para organizar situações de aprendizagem com as
características motivacionais de acordo com necessidades dos aprendizes para
que estes construam novos conhecimentos e passem a ter um envelhecimento ativo
e participativo no contexto social.