Refletindo sobre idosos institucionalizado
PESQUISA
Refletindo sobre idosos institucionalizado
Reflecting on the institutionalized elderly
Reflexionando sobre ancianos institucionalizados
Cenir Gonçalves TierI; Rosane Teresinha FontanaII; Narciso Vieira SoaresIII
IGraduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões - URI - Campus de Santo Ângelo - RS.
IIEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Coordenadora do Curso de Enfermagem da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus de
Santo Ângelo
IIIEnfermeiro. Mestre em Enfermagem. Docente do Curso de Graduação em
Enfermagem URI - Campus de Santo Ângelo. Trabalho desenvolvido no Grupo de
Estudos e Pesquisas em Enfermagem Saúde e Educação - GEPESE/URI
E-maildo autor: ctier@urisan.tche.br
1 Introdução
Tem-se verificado no Brasil nas últimas décadas, um decréscimo nas taxas de
natalidade e mortalidade, o que tem proporcionado um aumento na população na
faixa etária entre 60 anos ou mais. Estes dados apontam para uma realidade em
que a expectativa de vida cada vez mais se eleva, necessitando, por conseguinte
uma adaptação a essa nova realidade, a esse novo modelo populacional.
Segundo o IBGE, havia cerca de 10 milhões de idosos em 1990. Em 2000, este
número foi de 15 milhões de idosos, em 2025 espera-se que alcance a 34 milhões.
A lei 8.842/94 e o Estatuto dos Idosos 2004 consideram idosa, a pessoa que se
encontra na faixa etária a partir de 60 anos(1) .
O envelhecimento é considerado como um processo cumulativo, que se torna
irreversível, universal, não-patológico, onde ocorre uma deterioração do
organismo maduro, podendo incapacitar o indivíduo a desenvolver algumas
atividades. Assim, refere que a velhice não significa doença e muitas pessoas
conservam a saúde até a idade avançada(2).
Tem se verificado principalmente nos grandes centros urbanos, o aumento na
proporção de pequenas famílias em detrimento das famílias extensas. A
diminuição do apoio familiar aos idosos está relacionada, a maior mobilidade
das famílias pelo seu tamanho e o número crescente de separações(3).
A família é considerada extremamente importante na vida de seus idosos, mas o
convívio entre várias gerações pode gerar grandes conflitos e problemas,
tornando-se necessário que seus integrantes procurem entender o comportamento
de seu idoso e, isso deve acontecer da mesma maneira com os outros membros de
sua família.
Ainda que a família não esteja relacionada diretamente à doença e à
dependência, o crescimento da população idosa indica um aumento do número de
pessoas em situação de saúde frágil, apresentando debilitação e dependência(4).
Na maioria das vezes, a grande quantidade de cuidados dispensados às pessoas
idosas, debilitadas acaba sendo da responsabilidade da família. A relação de
cuidado que se estabelece entre as famílias e seus idosos ocorrem com base no
significado da família e da velhice(4). A responsabilidade que os filhos tem
para com seus pais, está fundamentada na perspectiva de uma reciprocidade
esperada, que se manifesta na retribuição pelo cuidado recebido na infância e
no amor filial(5)
A família pode ser considerada como um suporte na proteção ao idoso fragilizado
sendo, o ambiente familiar, o melhor espaço para dispensar o cuidado. Essa
perspectiva está relacionada, entre outras, à noção de que a família é a
instituição mediadora principal, entre o indivíduo e sua realidade circundante
(5).
Devido ao envelhecimento podem ocorrer riscos de doenças, invalidez, viuvez,
isolamento e em certos casos até chances para a morte. A solidão do idoso nos
tempos atuais está relacionada às alterações que ocorrem na família de hoje. De
forma que as condições da vida moderna podem favorecer o surgimento da solidão
na velhice, pois o estilo de vida das pessoas e a estrutura familiar sofreram
intensas modificações(6). Para fornecer apoio emocional aos idosos, não basta
apenas estar ao seu lado, é necessária a aproximação não apenas física dos
filhos e amigos, mas que estes sejam capazes de amparar e suprir as
necessidades afetivas e sociais do idoso.
Devido à dependência, abandono e até mesmo por outros fatores, alguns idosos
acabam sendo internados em instituições asilares, casas de repouso, tendo como
conseqüência o distanciamento de seu espaço familiar em que viveram por muito
tempo, mesmo que este tenha sido um tempo muito difícil. Na maioria das vezes,
os idosos são asilados contra sua própria vontade, tornando-se, desta maneira
uma espécie de "prisioneiros" da instituição. Grande parte dos familiares após
a institucionalização de seu idoso, não retorna mais à instituição, para
visitá-los, delegando os cuidados do idoso, a profissionais, muitas vezes,
despreparados e desqualificados para a função.
Então em situações em que a institucionalização do idoso é um 'mal necessário',
é importante considerar que o número de asilos e a qualidade dos serviços
oferecidos não necessariamente devam ser inadequados, desde que o Estado
realize seu papel de financiador e fiscalizador destas atividades(7). Essa
fiscalização se faz necessária para que as instituições observem o cumprimento
das normas mínimas exigidas para seu funcionamento que é o de prestar o
atendimento aos idosos com segurança e dignidade, podendo utilizar-se de
medidas simples e pouco onerosas.
As instituições asilares beneficentes que tinham como função, principal abrigar
idosos sem condições financeiras para o custeio de suas despesas passam a ter
uma nova missão na sociedade de hoje, marcada pelo envelhecimento: cuidar de
idosos necessitados de várias modalidades de serviços, em face das perdas
funcionais que tornaram problemática a vida a sós ou com a família. Essas casas
beneficentes/filantrópicas, assim como as clínicas geriátricas e as casas de
repouso, devem fazer parte da rede de atendimento integral institucional.
Várias são as situações em que idosos são totalmente dependentes, sendo
incapazes de realizar as atividades básicas, nesses casos, se a família exercer
atividades no trabalho, a tendência é manter o idoso em uma instituição, mesmo
que contrário à sua vontade, podendo muitas vezes ser enganado quanto ao que
representa a instituição a que está sendo encaminhado, da qual poderá nunca
mais sair.
2 Caminho metodológico
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, descritiva que teve por objetivo
identificar como vem sendo o relacionamento idoso-família, identificando os
motivos que levaram os familiares a optarem pela institucionalização do seu
idoso em um lar da velhice, obtendo-se também a visão da família sobre o
cuidado no lar.
Participaram da pesquisa, familiares de idosos institucionalizados em um lar da
velhice em um município da região noroeste do Rio Grande do Sul. A coleta de
dados efetivou-se mediante entrevista a um membro de cada família, em que foi
utilizado um instrumento semi-estruturado composto de perguntas abertas que
permitiu aos participantes manifestarem sua concepção acerca do assunto
delimitado, sendo respondido voluntariamente, após os sujeitos darem seu
consentimento Livre e Esclarecido. Os sujeitos da pesquisa foram identificados
por números de um a seis conforme a ordem de realização da entrevista, ou seja,
de F1 a F6.
Os dados foram estudados a partir do método de análise de conteúdo, em que se
realizou a leitura flutuante, primeiramente com a categorização inicial, sendo
apresentadas a seguir, as categorias finais(8).
3 Apresentação e análise dos resultados
Após a análise das falas dos respondentes, observaram-se algumas
características que permitiram aos pesquisadores organizar três categorias por
semelhança temática que são: Falta de Tempo Para Cuidar do Idoso; Limitações
Decorrentes de Alterações Mentais; O Olhar Da Família Sobre o cuidado.
3.1 Falta de tempo para cuidar do idoso
A grande dificuldade das famílias pesquisadas foi à falta de tempo para cuidar
dos idosos, tal como o depoimento de F2 e F3, respectivamente:
A família sempre se deu bem, ninguém da família tinha tempo para
cuidar dela. Colocaram no lar por ser melhor para ela e para a
família. (F2)
Ela tinha perfeita saúde mental e física. Depois dos 85 anos ela
começou a ter problemas como de esquecimento e mental, sair e não
saber voltar, não obedecia. Ela ia para o cemitério, não tinha medo
do perigo, não tinha medo de nada, dava soco, arranhava as pessoas.
Por isso resolveram colocar no lar, pois ela exigia cuidado integral
e eles não tinham tempo para cuidar dela. (F3)
A família provê de 80% a 90% do cuidado de seus idosos, estando incluídos os
cuidado de enfermagem, médico, transporte e locomoção, auxílio para realização
de atividades domésticas, realização de compras respondendo, também, às
necessidades de cuidados em situações de emergências como no cuidado agudo,
além de iniciar e manter vínculos de cuidado formal quando necessário(9).
A fase da velhice apresenta o surgimento de alguns mitos ao envelhecimento que
podem influenciar nas relações familiares como a fraqueza, a debilidade, a
doença e a incapacidade, além da imagem de abandono familiar sempre presente
nesta fase. Embora trabalhos mostrando que os idosos não são tão abandonados
pelas famílias como se supõe, à medida que a dependência dos idosos é de
difícil definição e extremamente variável, não só com a idade, mas também com
outros fatores como doenças, condições econômicas, entre outros. É necessário,
pois, reconhecer que o envelhecimento é inevitável, representando uma
importante questão familiar, independente da vivência conjunta ou separada.
3.2 Limitações decorrentes do processo de envelhecimento
O idoso em seu processo de envelhecimento experiencía várias alterações como
limitações físicas, alterações mentais e psicossociais que podem influenciar,
muitas vezes, no seu relacionamento com a família cuidadora em decorrência de
tais limitações. Dentre as alterações decorrentes desse processo estão às
relacionadas aos aspectos psicossociais, na qual se evidenciam déficit de
memória, desorientação no tempo e espaço, sentimentos de solidão e abandono,
tristeza e solidão, podendo em decorrência disso, aumentar a freqüência de
casos de suicídios.
Os déficits no funcionamento mental dos idosos são causados por um conjunto de
fatores biológicos e psicossociais incluindo, a falta de interesse e motivação,
ansiedade, atitudes derrotistas e a não utilização das faculdades intelectuais
(10).
As alterações relacionadas ao aspecto físico são em decorrência do desgaste
vivenciado pelos idosos causando doenças e dificuldades funcionais que requerem
geralmente maior cuidado por parte dos familiares visando evitar o agravamento
do quadro de dependência do idoso, buscando preservar sua autonomia em relação
ao autocuidado.
A dependência física aumenta com a idade, entretanto essa dependência não deve
pressupor incapacidade, pois, mesmo dependente fisicamente, o idoso tem direito
a decidir o que é melhor para si. É necessário que reconheçamos que o idoso
pode ser dependente de cuidados de terceiros, mas independente para tomar
decisões, portanto tendo direito de exercer sua autonomia.
As falas dos familiares F1 e F3 estão de acordo as afirmações dos demais
familiares entrevistadas, confirmando as alterações sofridas pelo idoso
conforme verbalização a seguir:
Nunca tiveram problema, querem bem. Conseguem se relacionar com ela
apesar de estar um pouco confusa.(F1)
A família sempre se deu bem, ninguém da família tinha tempo para
cuidar dela. Colocaram no lar por ser melhor para ela e para a
família, pois estava com problema mental, não tinha condições de
cuidar dela, fazia bagunça, gritava, batia na porta, colocava um
monte de roupa.(F3)
Os idosos são freqüentemente acometidos pela doença de Alzheimer também
denominada de demência degenerativa primária ou de demência senil. É uma doença
neurológica, progressiva e irreversível com início insidiosa caracterizada por
perdas graduais da função cognitiva e distúrbios do comportamento e do afeto
(11).Evolui gradualmente onde a primeira etapa dura de dois a quatro anos e há
perda de memória progressiva e deterioração da memória recente; em geral não
requer hospitalização. Na segunda etapa ocorre a maior perda da memória; a
etapa seguinte pode caracterizar-se por reações catastróficas, ou seja,
comportamento descontrolado, além de uma linguagem ofensiva. A última etapa é
caracterizada por deterioração ainda mais acentuada onde ocorre incontinência
urinária e fecal, perda de peso muito acentuada, pouco ou nenhuma resposta a
estímulos, alucinações visuais e convulsões, que podem levá-lo ao coma e à
morte(12).
3.3 O olhar da família sobre o cuidado
Na grande maioria das respostas evidenciou-se a satisfação dos familiares sobre
o cuidado que vêm sendo dispensado aos idosos na instituição, tais como podem
ser demonstradas nas falas de F1, F2 e F3 respectivamente:
Cuidam bem, não tem nada para reclamar, elas não fazem mais porque
não podem. Ela gostou muito, ótimo, não admite que alguém reclame.
(F1)
Administração do lar é boa, os funcionários são bons com os idosos,
fazem o melhor dentro das condições. No momento é o ideal, o
atendimento é feito num bom trabalho. Os funcionários são
pacienciosos, cuidadosos. (F2)
Não temos queixas, pois, duas vezes ele ficou doente e o lar tomou as
providências. Ele sempre fala bem dos funcionários, principalmente da
cozinheira.(F3)
Horta(13) define o objetivo do cuidado como sendo o de atender as necessidades
básicas do ser humano, mediante um conjunto de ações e medidas deliberadamente
planejadas, resultantes de percepção, observação e análise do comportamento, da
situação ou condição do ser humano. Necessidades essas que são comuns a todos
os idosos, sendo diferenciadas apenas pelo modo de como se manifestam e a
maneira de satisfazê-las.
Ao refletirmos acerca do processo de cuidar uma pessoa asilada podemos
constatar que este processo envolve questões como atitude, expressões, padrões
e estilos de cuidados que podem ser realizados/percebidos por diferentes
sentidos. O cuidado humanizado deve ser desenvolvido através do exame de visão
do mundo com estrutura social e contexto ambiental no qual será implementado
(14).
Devemos ter consciência de que a velhice é uma etapa da vida caracterizada por
inseguranças, medos e alterações de suas necessidades básicas inerentes ao
envelhecimento e para tanto, é necessário que busquemos uma reflexão sobre o
cuidado ao idoso.
Muitas das teorias sobre o cuidado humano, relacionam a enfermagem à ciência do
cuidado, entretanto, é inegável que na ótica do senso comum, este cuidado pode
ser exercido por uma gama de seres humanos, seja no âmbito da família e da
comunidade ou em instituições de abrigo e/ou de saúde(14).
Diferenciamos o cuidador formal do informal caracterizando o primeiro como
aquele que é contratado pelo idoso e/ou familiares, portanto é remunerado, para
exercer atividades cuidativas; o segundo é um familiar, amigo ou vizinho que
assume a tarefa de cuidar do idoso, quase sempre sem preparo ou remuneração
(15).
Acreditamos ser importante refletir acerca das possibilidades e situações que
fazem com que o idoso se torne dependente do cuidador, no auxilio ou execução
de ações que envolvem o cuidado sobre seu corpo. Este auxílio ao idoso para
realizar determinadas ações, pode provocar distorções naquilo que ele tem de
mais privado a sua existência, uma vez que tende a perder a liberdade de
decisão sobre o seu corpo, sobre sua vida.
Alguns idosos são retirados bruscamente do seu meio familiar, onde passaram um
longo período de suas vidas e são colocados em instituições onde vão conviver
com pessoas de sua faixa etária ou mais velhas, totalmente estranhas ao seu
convívio social(16).
4 Considerações Finais
Ao finalizarmos podemos refletir sobre que: se observarmos a natureza humana e
o ambiente ao nosso redor constatamos que envelhecer é um fenômeno universal,
normal e natural, sendo resultante não apenas de fatores biológicos, mas
influenciado por múltiplos fatores tais como ambientais, sociais, hábitos
cultivados ao longo da vida(17).
Através do estudo foi possível observar que a família exerce papel fundamental
visando manter o equilíbrio emocional e afetivo do idoso. Percebeu-se através
das verbalizações dos sujeitos que a família é a unidade de apoio mais
importante aos idosos, podendo, muitas vezes, ser a assistência predominante
que eles precisam em suas vidas.
Constatou-se que devido a algumas limitações evidenciadas no processo de
envelhecimento, como a falta de tempo para cuidar de seus idosos leva as
famílias a optarem pela sua institucionalização. Entretanto, os entrevistados
confirmaram que a institucionalização se deu em decorrência das circunstâncias
que envolvem o cuidado, como a falta de tempo, a insuficiência de pessoas da
família para cuidar, dentre outras.
As famílias deveriam dividir responsabilidades na busca da interação com o
idoso, mantendo cada um de seus membros, o compromisso e a afetividade.
Entretanto, esta não parece ser uma prática dominante, pois muitas vezes a
responsabilidade com o cuidado ao idoso acaba recaindo sobre somente um de seus
membros, ocasionando sobrecarga de atividades e responsabilidades, fazendo com
que este, opte pela institucionalização de seus idosos.
Para as famílias entrevistadas os idosos estão sendo bem cuidados pelos
funcionários do lar, muitos manifestando satisfação pelo cuidado dispensado ao
idoso, fazendo o que podem, dentro das possibilidades de cada um.
Nos tempos atuais os filhos permanecem sendo a maior e mais esperada fonte de
apoio em momentos de necessidade e, muitos dos idosos institucionalizados,
ainda esperam que seus familiares venham buscá-los para morar com eles.