Administração do tempo nas atividades de enfermagem de uma UTI
PESQUISA
Administração do tempo nas atividades de enfermagem de uma UTI
Administration of the time in the activities of nursing of a UTI
Administração hacen el uma UTI en las atividades de enfermagem de del
tempoexcesiva de trabajo
Karleny dos Santos AlencarI; Rita de Cássia Moura DinizII; Flavia Regina
Furtado LimaIII
IEnfermeira. Atua no Programa Saúde da Família de Campos Sales-CE. Aluna de
Especialização da UNIFOR
IIEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Coordenadora do Curso de Enfermagem da
UNIFOR
IIIEnfermeria. Mestree em Enfermagem. Professora da UNIFOR
Correspondência
1 Introdução
A Enfermagem vem acumulando, no decorrer de sua história, juntamente com o
conhecimento empírico, conhecimentos teóricos, executando inicialmente suas
atividades baseadas não somente em normas disciplinares, mas também em rotinas
repetidas da sua atuação. Com a afirmação da Enfermagem como ciência, as
modificações da clientela, da organização, do avanço tecnológico e dos próprios
profissionais de Enfermagem, a prática da profissão deixa de ser mecânica,
massificada e descontínua, utilizando-se de métodos de trabalho que favorecem a
individualização e a continuidade da assistência de Enfermagem, bem como do
estudo crítico do atendimento que se presta.
Dentre os vários métodos científicos específicos das ciências da Enfermagem,
destacamos o Processo de Enfermagem, o qual melhor que se adapta aos objetivos
da assistência, indo ao encontro da dinâmica das ações sistematizadas e inter-
relacionadas, visando à assistência ao ser humano(¹).
As ações ou técnicas de Enfermagem consistem na descrição do procedimento a ser
executado passo a passo e especificam também a relação do material que é
utilizado. Tanto pode ser um procedimento realizado com o paciente, como banho
no leito, curativo, sondagens, montagem da sala de operação, esterilização de
instrumental e outros, bem como ações ou técnicas relativas às rotinas
administrativas, tais como admissão, alta de pacientes, planejamento, delegação
e administração do tempo dispensado no processo de trabalho.
A classificação das ações de Enfermagem relativas às funções administrativas
são aquelas que envolvem a coordenação da assistência e concorrem para o
adequado atendimento do paciente(2). Sabemos que para a realização dessas
funções, a administração do tempo é algo fundamental. A administração do tempo
no ambiente hospitalar sempre foi um tema que nos despertou interesse ao nos
depararmos com a sobrecarga de trabalho, dado o número de procedimentos a serem
realizados e a gravidade dos pacientes. Tudo aquilo nos fez refletir sobre como
o planejamento das ações era importante para evitar estresse e ineficácia das
atividades a serem realizadas.
Com o presente trabalho, pretendemos investigar como as enfermeiras
assistenciais de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) empregam o seu tempo de
trabalho durante a execução das atividades assistenciais anteriormente
mencionadas. Será que as enfermeiras assistenciais conseguem administrar esse
bem tão precioso e insubstituível que é o tempo? A sistematização utilizada por
elas favorece a administração do tempo? Que estratégias ou prioridades utilizam
para vencer um recurso tão valioso e finito como o tempo?
Considera-se o tema do estudo relevante, pois o tempo é um dado real utilizado
de acordo com as necessidades, desejos, decisões e prioridades; é algo que não
se recupera, pois ele é insubstituível e tende a ser escasso, sendo, por esse
motivo, indispensável o seu planejamento no processo de trabalho da equipe de
Enfermagem(3).
2 Objetivo
- Identificar as atividades de Enfermagem realizadas pelas enfermeiras em uma
Unidade de Terapia Intensiva;
- Analisar como as enfermeiras assistenciais de uma UTI empregam seu tempo
durante a realização de suas atividades;
- Conhecer as estratégias de administração do tempo no ambiente de trabalho
utilizadas pelas enfermeiras.
3 Metodologia
Trata-se de um estudo de natureza exploratória e descritiva, realizado numa
instituição pública de médio porte.
Foi intenção nossa trabalhar com a totalidade da população em estudo, uma vez
que foram selecionadas todas as enfermeiras assistenciais lotadas na UTI do
hospital analisado, em número de seis, enfermeiras das quais obtivemos a
aceitação e a disponibilidade. Em pesquisas sociais desta natureza, é muito
freqüente se trabalhar com amostra, ou seja, com pequena parte dos elementos
que compõem o universo do estudo(4). Todavia, trabalhamos com a terminologia de
população porque fizemos referência ao total de profissionais enfermeiras
lotadas na UTI e não a uma amostra relativa a esta população. Investigamos a
questão do tempo durante a realização de suas atividades, bem como procuramos
conhecer as estratégias utilizadas pelas mesmas, relativas à administração do
tempo no seu ambiente de trabalho.
A pesquisa de campo ocorreu no período de fevereiro a abril do ano de 2004, com
duração de três meses, a fim de que pudéssemos pesquisar toda a população do
estudo. Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram uma entrevista
semi-estruturada e um check list, entregue às participantes e por elas
respondido.
A entrevista semi-estruturada teve um roteiro com questões abertas e fechadas,
baseadas nos objetivos do estudo. No check list, relacionamos todas as
atividades desenvolvidas na Unidade. Vale ressaltar que no início do referido
processo informamos às participantes qual o objetivo da pesquisa e que não
seriam avaliadas as suas ações ou feitos julgamentos acerca de sua prática
cotidiana. Em outras palavras, para que o resultado do nosso estudo retratasse
a verdade da melhor maneira possível, as enfermeiras tiveram resguardado seu
anonimato. Ao final da pesquisa de campo, os dados foram agrupados e
apresentados em forma de figuras para serem analisados e interpretados. As
falas foram lidas, sistematizadas e interpretadas, tendo como apoio a
literatura pertinente sobre administração do tempo.
Os aspectos éticos estiveram presentes em todas as fases da pesquisa, de acordo
com a Resolução 196/96, a qual requer consentimento expresso dos participantes,
pleno acesso aos objetivos do estudo, a garantia do anonimato dos envolvidos e
o compromisso de não se utilizarem os resultados para objetivos contrários ao
estudo.
4 Descrevendo e analisando os resultados
4.1 O perfil das enfermeiras lotadas na UTI do HGEx de Fortaleza
Verificou-se que o ano de graduação das enfermeiras do estudo variou entre 1988
e 2000. No entanto, houve uma maior predominância daquelas graduadas no período
1988 a 1993. Dessa forma, o tempo de trabalho como enfermeira assistencial
prevaleceu de 10 a 12 anos. Relativamente ao estado civil, todas são solteiras,
tendo afirmado que a profissão não interferiu no atual estado civil. A jornada
de trabalho é exaustiva, cumprindo uma média de 64 horas semanais de trabalho,
alternando com plantões noturnos e diurnos. A faixa etária das profissionais
está entre 35 a 39 anos, caracterizando-se por serem jovens em fase da vida
bastante produtiva. O salário varia entre R$1.400 e R$1.800, tendo havido
restrições da parte de algumas em relatar o valor real da renda total,
considerando que todas trabalham também em outro hospital.
O HGEx, possui lotadas na sua UTI seis enfermeiras, que executam cuidados aos
pacientes, todas com experiência de quinze anos, em média, o que significa que
as mesmas possuem requisitos suficientes para exercerem o papel de enfermeiras
que prestam cuidados intensivos aos pacientes, pois devem possuir, além de
diploma de graduação, experiência profissional de pelo menos cinco anos,
aliados à cultura geral, qualidade de liderança, iniciativa, energia e saúde
física e mental(5).
4.2 Atividades práticas das enfermeiras assistenciais na UTI do HGEx de
Fortaleza/CE
A figura relaciona e identifica as atividades realizadas pelas enfermeiras na
UTI do HGEx. Vale salientar que este serviço se coloca como um dos mais
importantes no processo de recuperação do cliente, uma vez que provêaos
pacientes cuidados desde a sua entrada no hospital até sua saída, inclusive a
volta ao lar, família e trabalho.
Nas atividades desenvolvidas, podemos observar no processo de elaboração do
instrumento para a monitoração do tempo, que foram obtidas da relação de
atividades assistências que são executadas pelas enfermeiras em estudo.
Percebemos que diante da gama de atividades descritas pelas enfermeiras na
Figura_I como passíveis de serem por elas realizadas, torna-se clara a
dicotomia entre teoria - prática com uma profunda dissonância entre o que a
enfermeira deve fazer e o que a mesma executa de fato. Acreditamos que isso se
dá pelo processo exaustivo de trabalho, apesar de que a ênfase nos cursos de
Graduação em Enfermagem tem sido para a prestação do cuidado direto aos
pacientes, o que nos leva a afirmar que o processo de divisão de trabalho tem
que ser reconsiderado, bem como redimensionado o número de enfermeiras que
trabalham em atividades que requerem cuidados intensivos.
Para que não ocorra uma discrepância entre as atividades desenvolvidas pelas
enfermeiras e as delegadas aos outros funcionários, é preciso que se tenha um
planejamento adequado das atividades, pois os serviços de enfermagem dentro de
uma UTI são complexos, exigindo uma resposta imediata, ou seja, envolve estudo
e uso de fatos e princípios, exigindo dessa forma conhecimento, imaginação,
raciocínio, habilidade e técnica de pesquisa(6).
4.2 Como as enfermeiras assistenciais de uma UTI empregam seu tempo durante a
realização de suas atividades
A Figura nos mostra alguns desperdiçadores do tempo que, de forma direta ou
indireta, cercam o ambiente das enfermeiras de uma Unidade de Terapia
Intensiva, revelando, assim, que as mesmas fazem mau aproveitamento do seu
tempo, o que pode vir a prejudicar a saúde do paciente.
Analisando os desperdiçadores do tempo e baseado nas respostas citadas pelas
participantes do nosso estudo, os maiores foram planejamento inadequado e
desorganização, revelando que elas os praticam com muita freqüência. Em relação
aos demais desperdiçadores contidos na Figura_2, evidenciou-se que eles foram
bastante enfocados, confirmando assim que são muito utilizados por estas
enfermeiras, garantindo um desperdício de tempo na sua prática cotidiana,
interferindo, portanto, na qualidade da assistência prestada ao cliente.
4.3 Estratégias de administração do tempo no ambiente de trabalho utilizadas
pelas enfermeiras da UTI
A figura a seguir nos mostra as estratégias realizadas pelas enfermeiras numa
UTI para que possam alcançar uma execução eficiente do trabalho, utilizando,
dessa forma, conhecimentos das ciências comportamentais da pessoa humana,
princípios científicos das técnicas e tratamentos, habilidade na observação,
comunicação, relações interpessoais e capacidade de julgamento.
Administrar o tempo, portanto, é fazer ótimo uso do tempo disponível. A
administração eficaz do tempo requer a análise das características do trabalho
e dos hábitos de trabalho individual e da equipe, como também a necessária
intervenção onde o uso daquele não for produtivo(3).
A estratégia observada como de maior prioridade foi a delegação de tarefas, que
traz vantagens como o crescimento pessoal e profissional de quem delega e de
quem recebe a delegação. Essa função deve estar diretamente relacionada com o
conhecimento da ação a ser executada e a responsabilidade pelos resultados
finais(7).
Percebemos que outras atividades, como elaboração de listas de prioridades, são
habitualmente utilizadas pelas enfermeiras assistências. O que se pode concluir
é que as enfermeiras em estudo estão pondo em prática estratégias de
planejamento para um bom aproveitamento do tempo, apesar de não se engajarem à
procura de formas para a eliminação dos desperdiçadores do tempo.
A fim de reforçamos a nossa análise, iremos apresentar as falas mais
significativas das participantes da pesquisa no momento da aplicação da
entrevistacomo forma de ficar mais evidenciada a sobrecarga de trabalho das
enfermeiras assistenciais na sua prática cotidiana.
Na busca da realização das atividades dentro de um tempo adequado, obtivemos os
seguintes depoimentos:
As atividades deveriam ser distribuídas de maneira que em relação à parte
administrativa nos deixassem mais livres (Lírio).
Na realidade, o enfermeiro é o mais sobrecarregado da equipe, por isso eu acho
que devem ser revistas com precisão as atividades que lhe são competentes
(Dália).
Nesse relato, a enfermeira Lírio refere que a distribuição de atividades
deveria ser realizada de uma forma coerente, que não a sobrecarregasse e
pudesse disponibilizar uma maior racionalização do tempo para se obter uma
assistência de qualidade e com humanização.
No segundo depoimento, a enfermeira Dália revela uma sobrecarga de trabalho e o
principal motivo está relacionado ao tempo, pois muitas vezes a enfermeira
trabalha mais do que sua jornada de trabalho para concluir suas atividades, ou
então esta enfermeira tem que adquirir segurança, agilidade e experiência para
realizar as tarefas no tempo adequado, sendo muito importante a disposição do
enfermeiro em querer fazer.
Estar assoberbado de trabalho e as restrições de tempo causam um número maior
de erros, omissões de tarefas importantes e sentimentos gerais de estresse e
ineficácia. Embora algumas pessoas pareçam ser "naturais" com a administração
do tempo, esta qualidade é adquirida e desenvolve-se com a prática. Existem
etapas básicas para a administração do tempo dentro de uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), das quais podemos citar(3)
- Alocar tempo para o planejamento e estabelecer prioridades;
- Completar a tarefa de mais alta prioridade sempre que possível e terminar uma
tarefa antes de iniciar outra;
- Estabelecer novas prioridades com base nas tarefas remanescentes e nas novas
informações que tenham sido recebidas.
Tudo isso leva tempo, requer capacidade de pensar, analisar dados, visualizar
alternativas e tomar decisões.
5 Considerações Finais
O presente trabalho coloca em evidência as atividades assistenciais a serem
realizadas pelas enfermeiras e as estratégias de tempo utilizadas pelas mesmas
para a efetivação destas tarefas.
De acordo com o relato das enfermeiras assistenciais participantes do nosso
estudo, percebemos que a maioria delas não aproveitam de forma adequada seu
tempo, pois relatam que estão sempre sobrecarregadas e realizando tarefas
burocráticas que não são de sua competência.
Para tanto, é necessária uma atenção à questão da organização do hospital como
um todo, do processo de trabalho da Enfermagem e do estabelecimento de limites
de competência para cada categoria que atua dentro da profissão.
Podemos nos auto-administrar e, certamente, não teremos motivação para fazê-lo
se não definimos o que pretendemos. Então devemos, diariamente, planejar as
atividades que iremos desenvolver durante o dia, ressaltando as prioridades,
delegando atividades e mantendo o nosso ambiente de trabalho sempre organizado
(3).