Pograma Saúde da Família: perfil de idosos assistidos por uma equipe
PESQUISA
Pograma Saúde da Família: perfil de idosos assistidos por uma equipe
Health Family Porgram: profile of elderly people assisted by a team
Programa Salud de la familia: perfil de anciano asistidos por un equipo
Lorena Aparecida de Oliveira AraújoI; Maria Márcia BachionII
IEnfermeira. Aluna do Programa de Mestrado em Ciências da Saúde, Convenio UNB/
UFG/UFMS.
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail do autor: mbachion@fen.ufg.br
1 Introdução
Cerca de 14 milhões de brasileiros (8,6%) têm idade igual ou superior a 60 anos
(1), sendo considerados idosos. Este grupo populacional teve um crescimento de
aproximadamente 86,7% no período de 1980 a 2000 (2). Com isto, a população
idosa é cada vez maior e já supera o crescimento da população total(3).
A população de idosos em Goiás equivale a 6,25% da população total, e em
Goiânia este grupo representa 6,16%. Em Goiânia estão 21,09% do total dos
indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos do estado de Goiás(4).
Entre os estudiosos do envelhecimento existe a preocupação em se conhecer e
refletir sobre as modificações funcionais, estruturais e fisiológicas
desenvolvidas a partir do processo de envelhecimento, conhecido como
senescência, e as modificações orgânicas que levam ao surgimento de algumas
patologias que freqüentemente acometem o cliente idoso, definida como
senilidade(5-9).
Todos os órgãos e sistemas do corpo humano modificam-se no envelhecimento, que
é um processo iniciado aos 21 anos de idade. A partir dos 60 anos estas
transformações estão bem marcantes, podendo haver fisiologicamente funções
comprometidas ou alteradas(6,8,10).
Além disso, o próprio processo natural de envelhecimento diminui a capacidade
funcional de cada sistema de nosso organismo. É percebido que a medida em que
se envelhece aumenta a prevalência de doenças crônicas, que levam a maior parte
da ocorrência de incapacidade nos idosos (2,11). Além disso nesta faixa etária
podem advir alguns distúrbios cognitivos (12,13). Em geral instala-se nas
doenças crônicas um grau progressivo de lesão dos tecidos afetados, lesão essa
que é devida às exacerbações sucessivas da doença (11).
É comum que o ser humano tenha pelo menos uma patologia crônico-degenerativa
após os 60 anos de idade. Por vezes estas patologias podem provocar algum tipo
de incapacidade e/ ou dependência(13), faz se necessário então que o indivíduo
idoso seja avaliado a fim de prevenir agravos e minimizar danos.
Considerando o aumento do número de idosos no Brasil e a ocorrência de vários
problemas relacionados à saúde desta população, são necessárias providências
que viabilizem maior acesso a serviços de saúde e a cuidados de enfermagem nas
áreas hospitalar, ambulatorial, comunitária e domiciliária (12).
A assistência ao idoso deve prezar pela manutenção da qualidade de vida,
considerando os processos de perdas próprias do envelhecimento e as
possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação de seu estado de saúde.
Muitos distúrbios crônicos comuns nos idosos podem ser controlados, limitados e
até mesmo prevenidos, podendo as pessoas idosas ter uma maior probabilidade de
manter uma boa saúde e independência funcional(6).
O Programa Saúde da Família (PSF) é uma estratégia do Ministério da Saúde que
tem como eixo de ação a reorganização da atenção básica no Brasil devendo
contribuir para a implementação de um novo modelo assistencial no país voltado
para a prática assistencial em novas bases e critérios, priorizando as ações de
prevenção de doenças e promoção a saúde junto à comunidade, estabelecendo uma
relação permanente entre os profissionais de saúde e a população assistida,
marcada por um atendimento humanizado e resolutivo dos problemas de saúde mais
freqüentes(14). Pretende-se que o PSF seja a porta de entrada do cliente no
Sistema Único de Saúde (SUS).
O modelo de atenção oferecido através do PSF pretende melhorar as condições de
vida e, portanto, da saúde da população, mediante atividades e ações de
promoção, prevenção, cura e reabilitação. É desenvolvido de acordo com as
características e problemas de cada localidade, para atender à saúde do
indivíduo e da família dentro do contexto da comunidade, durante todo o
processo de saúde-doença.
O PSF propõe um conjunto de inovações dentre elas o trabalho em equipe,
requerendo dos profissionais novos papeis e atribuições. Cada equipe do PSF é
composta por uma enfermeira, um médico generalista, um auxiliar de enfermagem e
agentes comunitários de saúde.
Com a finalidade de gerar informações que possam subsidiar o planejamento da
Equipe 02 do PSF do Jardim Mariliza, de Goiânia, desenvolvemos o presente
estudo, que poderá também contribuir para o direcionamento do ensino de
enfermagem gerontológica e geriátrica, bem como gerar pesquisas futuras.
Nosso objetivo geral neste estudo é traçar um perfil da população idosa
atendida por uma equipe do programa saúde da família na cidade de Goiânia.
Como objetivos específicos pretendemos caracterizar esta comunidade quanto à:
faixa etária; escolaridade; estado civil; Índice de Massa Corporal; verificar
quem vive com estes idosos atualmente; levantar a ocorrência de prática de
atividade físicas regulares entre este grupo; levantar a existência de dano
cognitivo nestes idosos; levantar a prevalência de Depressão entre os mesmos;
levantar a prevalência de patologias referidas; levantar a prevalência de dor e
sua interferência na vida do indivíduo.
2 Metodologia
Trata-se de um estudo de caráter exploratório, sendo a amostra composta de
pessoas com idade maior ou igual a 60 anos, moradores do Jardim Mariliza em
Goiânia (Região/Distrito Sudeste), atendidos pela equipe 02 do Programa Saúde
da Família, que se dispuseram a participar.
Inicialmente o Plano de trabalho foi encaminhado à Coordenação Colegiada do
Programa Saúde da Família da Secretaria de Saúde de Goiânia, para solicitação
de consentimento da realização da pesquisa, bem como ao Comitê de Ética da
Universidade Federal de Goiás para análise, após consentimento deu-se início a
abordagem dos idosos, quanto ao aceite em participar do estudo, mediante
consentimento livre e esclarecido por escrito, sendo garantido sigilo e
anonimato aos participantes.
Utilizamos como instrumento de coleta de dados neste estudo o roteiro utilizado
em pesquisa anterior (15), para avaliação de mobilidade física, sendo o mesmo
ampliado para atender aos objetivos do presente estudo.
A coleta de dados ocorreu em ambiente privativo, no domicílio do idoso ou no
consultório de enfermagem do PSF do setor, transcorrendo de março a maio de
2003. A análise foi realizada mediante procedimentos de estatística descritiva,
como freqüência simples, média e moda.
3 Resultados
Atualmente estão cadastrados pela equipe 02 do Programa Saúde da Família do
Jardim Mariliza 103 idosos, sendo 37 homens e 66 mulheres. Destes, 75 aceitaram
participar deste estudo, sendo que 51 (68%) eram indivíduos do sexo feminino e
24 (32%) eram indivíduos do sexo masculino.
Quanto à idade, os idosos apresentaram de 60 a 89 anos, sendo a média de 71
anos e a moda de 61 anos e a mediana de 70 anos. A amostra apresentou a
seguinte distribuição: 28% idosos com idade entre 60 e 64 anos, 28% entre 65 e
69 anos, 21,3% de 70 a 74 anos; 32,7% dos idosos tinham 75 anos ou mais. No
estado de Goiás temos: 37,73% de idosos com idade entre 60 e 64 anos, 25% com
65 a 69 anos, 18,05% com 70 a 74 anos e 22,22% com 75 anos ou mais (IBGE,
2004). Assim, podemos dizer que na região estudada prevalecem idosos com idade
mais avançada, em comparação com as demais áreas do estado. Tal fato pode ser
explicado pela maior disponibilidade de equipamentos de saúde na capital do
estado, bem como recursos humanos melhor preparados, maior número de aparelhos
para realização de exames, além melhores condições de saneamento básico, maior
número de postos de trabalho, melhor rede de transporte e melhores condições de
moradia.
Quanto ao estado civil, a distribuição foi a seguinte: 34 (45,3%) são casados,
33 (44%) são viúvos, 07 (9,3%) são desquitados/divorciados e apenas um (1,3%)
se declara solteiro. Estes valores vão de encontro àqueles encontrados por
Berquó (3) onde 55,1% dos idosos eram casados, 33,8% viúvos, 5,4% desquitados/
descasados e 5,9% solteiros. Em nosso estudo, percebemos um maior número de
idosos casados ou viúvos. Tal fenômeno pode ser entendido com base no fato de
estar ocorrendo aumento progressivo na expectativa de vida da população. Outro
aspecto a ser destacado é que esta população em geral está envolvida por
valores morais onde se prega que o casamento é só um e para a vida inteira.
No que diz respeito à prática regular de atividade física, 50 (66,6%) idosos
revelam não fazer nenhuma atividade física e 25 (33,3%) praticam exercícios
regularmente sendo que 17 (22,6%) fazem caminhadas e 08 (10,6%) praticam outras
atividades como hidroginástica e andar de bicicleta. Em Goiânia existem
políticas públicas para a prática de atividades como a caminhada. A cidade é
dotada de áreas especialmente planejadas para este fim. Na região estudada
existe um parque e uma pista de cooper, dotada de campo de futebol. Além disso,
estão cada vez mais em evidência na mídia informações acerca dos benefiícios de
atividade física na terceira idade. Lembramos também que muitos realizam
atividades físicas pelo simples prazer, não necessariamente para promover seu
bem estar físico.
Contudo, ainda é grande o número de idosos que ainda não encontraram motivação
suficiente para engajar-se em tais atividades.
A atividade física tem benefícios sobre o organismo, sendo essencial para a
circulação sangüínea, linfática e trocas celulares além de elevar as
necessidade de oxigênio e nutrientes promovendo a abertura de números vasos
capilares(8).
Quanto à escolaridade 24 (32%) idosos não eram alfabetizados, 09 (12%) eram
precária mente alfabetizados (lêem números e assinam o próprio nome), 26
(34,6%) tinham até quatro anos de instrução e 16 (21,3%) apresentaram mais de
quatro anos de estudo. O analfabetismo de uma parcela significativa de idosos
no Brasil é um fenômeno generalizado e identificado por outros estudiosos(3).
É importante destacar que a situação da escolaridade das pessoas idosas se
remete a um período (década de 20 a 40) onde as oportunidades de acesso a
educação se dava de forma assimétrica por classe social e gênero, tendo como
conseqüência a dificuldade em buscar condições de existência e de sobrevivência
(3).
Encontrar 44% de idosos sem condições de ler remete a um direcionamento
bastante diferenciado de ações em saúde. Lidar com a medicação, transporte,
informações escritas é um desafio para este grupo.
Em relação ao convívio no lar 32 (42,7%) idosos moram com filhos e ou netos, 25
(33,3%) vivem com companheiro, filhos e/ou netos, 12 (16%) idosos moram somente
com o companheiro, 04 (5,3%) idosos vivem sozinhos e 02 (2,7%) idosos vivem com
outros (amigo, primo). Desta forma, percebe-se um recurso adicional com relação
à rede de suporte social, que se forma em função da precariedade de recursos
financeiros, na maioria das vezes, dos idosos, ou, em alguns casos, por falta
de independência financeira dos filhos. Podemos dizer que se estabelece uma
relação de interdependência.
De maneira a observar a condição nutricional desta comunidade utilizamos como
parâmetro o Índice de Massa Corporal (IMC) que é calculado através da divisão
do peso (Kg) pela altura ao quadrado (m2). O índice aceitável em idosos é
diferente dos valores indicados para os adultos. Na faixa de 60 a 64 anos o
intervalo de índice considerado normopeso é de 23 a 28Kg/m2, na faixa etária
acima de 64 anos o IMC adequado deve estar entre 24 e 29Kg/m2(16).
Pudemos observar que 43,3 % dos idosos apresentam em níveis satisfatórios. Dos
20 idosos que tem entre 60 a 64 anos encontramos 11 (55%) apresentam o IMC na
faixa aceitável. Entre os maiores de 64 anos (55), 52,7% apresentaram IMC
dentro dos níveis adequados.
Uma parte dos idosos (34 %) apresentou peso menor que o adequado. Entre 60 a 64
anos identificamos 04 idosos com IMC menor que os valores aceitáveis. Entre
aqueles com 65 ou mais este baixo valor de IMC foi identificado em 14 idosos.
Os idosos passam por uma série de problemas e necessidades nutricionais
relacionados com as alterações físicas, socioeconômicas associadas ao processo
de envelhecimento. De fato, um número substancial de idosos apresenta risco
alto para um estado nutricional insatisfatório, inclusive com deficiência,
desidratação, subnutrição. Alguns dos fatores de risco para um estado
nutricional insatisfatório, comuns nessa faixa etária, são a presença de
doenças e distúrbios agudos ou crônicos, ingestão inadequada ou inapropriada de
alimentos, recursos financeiros insuficientes, dependência ou incapacidade
física funcional e uso de medicamentos(17).
A obesidade representa um problema importante para os idosos tendo sido
encontra em nosso estudo em 17 (22,7%) deles, onde 12 tinham idade superior a
64 anos. Resulta muitas vezes de um desequilíbrio alimentar antigo e não
modificado(8). Ao envelhecermos a atividade diminui, necessitarmos de menos
alimento para manutenção de um peso ideal e a maior parte dos idosos não
modifica os seus hábitos alimentares e aumentam o peso.
O peso acima do desejável constitui um fator de risco e uma forma de má
nutrição, pois o excesso do aporte calórico não significa necessariamente um
aporte adequado de nutrientes, podendo ocasionalmente agravar certas patologias
como Hipertensão e Diabetes, limitando a mobilidade e comprometendo o esforço
de readaptação na presença de fraturas ou acidentes vasculares cerebrais(8).
No que se refere a patologias relatadas, em maior parte os idosos referiram
patologias crônicas como hipertensão arterial, diabetes e osteoporose (Tabela
1).
Pelo menos metade dos idosos apresenta alguma patologia de caráter crônico(2).
Estudo norte americano relatam que quatro entre cinco idosos sofrem pelo menos
uma doença crônica(6).
Em nosso estudo este percentual foi significativamente maior, pois, 96% dos
idosos referiram pelo menos uma patologia crônico-degenerativa. A média de
patologias por cliente foi de 2,61, variando de uma a sete, sendo a moda igual
a 1 (20 indivíduos). A progressão deste processo ameaça a independência e a
qualidade de vida do indivíduo(6).
Num estudo realizado em São Paulo foi encontrado que apenas 14% dos idosos
disseram se livres de doenças crônicas (2), em nosso estudo apenas 03 idosos
(4%) se revelaram livres de patologias com caráter crônico. Na pesquisa
anteriormente referida, realizada na cidade de São Paulo, foi identificado que
15 % dos idosos mencionam cinco ou mais patologias desta natureza. Nossos
achados corroboram este índice. Encontramos 10 idosos (13,3%) com tal
inferência.
Como podemos perceber a maioria das patologias citadas tem caráter crônico e
são comumente encontradas em idosos(2,6).
Tabela_01
Em estudo seccional realizado em algumas cidades brasileiras, são descritas
prevalências ara hipertensão arterial, doenças do coração, reumatismo, doença
mental, diabetes, doença cérebro vasculares, e doenças respiratórias
encontrando-se taxas sempre elevadas(2), o que pudemos confirmar também em
nosso estudo.
A HAS foi referida por 48 idosos (64%) que participaram de nosso estudo. Trata-
se de idosos com diagnóstico médico previamente estabelecido. Constitui em
fator de risco importante em qualquer idade, embora seja um problema
característico da população idosa. A H.A.S. está enquadrada dentro das
alterações cardiovasculares, podendo ocasionar perda da capacidade aeróbia
máxima, diminuição da oxigenação e da resistência e principalmente da
capacidade funcional(6). Outros estudos encontraram uma prevalência menor de
hipertensão, em que aproximadamente 40% dos indivíduos maiores de 65 anos
reportaram esta doença(10).
Identificamos 6 idosos sem o diagnóstico médico de HAS apresentando valores
pressóricos elevados, em duas aferições, sendo os mesmos encaminhados para a
consulta médica.
O diabetes foi referido por 17 (22,7%) indivíduos da amostra, sendo esta
afirmação baseada em diagnóstico médico previamente estabelecido. Este
percentual também mostrou-se superior àquele encontrado na literatura(2) em que
entre as pessoas com mais de 65 anos de idade, 8,6% referiram diabetes tipo II.
É fato que com o avançar da idade o idoso apresenta uma intolerância a glicose,
a causa ainda não foi bem evidenciada, porém há hipóteses que esteja
relacionada com a dieta pobre, inatividade física, diminuição da massa corpórea
magra, na qual os carboidratos ingeridos podem ser estocados, secreção alterada
de insulina e resistência a insulina.
Com relação à hipertensão arterial e o diabetes, a diferença de nossos achados
em relação a outros estudos pode dever-se ao fato de que são alterações que
desencadearam ações específicas de detecção e controle no sistema de saúde
brasileiro, em especial, no PSF. Assim, atualmente, nas regiões onde o programa
atua, pode estar sendo identificados os casos de modo mais preciso.
Os problemas relacionados aos diversos tipos de reumatismos (artrite, artrose,
poliartrite reumática) afetam cerca de 50% da população idosa, sendo uma
importante causa de sofrimento, restrição de atividades e utilização dos
serviços de saúde(8). Na comunidade por nós estudada tal característica foi
encontrada em 19 (25,3%) indivíduos. Esta discrepância entre os achados pode
ser explicada por diferenças regionais ou pelo fato destes problemas estarem
sendo sub diagnosticados ou não valorizados pelo sistema de saúde.
A osteoporose foi referida por 17 (22,7%) idosos. Trata-se de uma alteração que
comporta um desequilíbrio entre a formação e a reabsorção óssea que se
caracteriza por uma perda generalizada da densidade óssea. Os ossos a partir
daí, tornam-se progressivamente mais porosos e frágeis e, em certos casos,
surge apagamento dos corpos vertebrais e deformação do esqueleto, tal
sintomatologia é percebida principalmente em mulheres pós-menopausa(8).
A Depressão relatada pelos clientes apareceu em 09 idosos (12%). Ao aplicarmos
a Escala de Depressão geriátrica(10), pudemos assinalar que 70,6% não
apresentavam tal ocorrência, 24% dos idosos apresentaram escores compatíveis
com depressão moderada e 5,3% depressão grave. A depressão em idosos pode estar
sendo subestimada pelos profissionais da área de saúde que atenderam estes
idosos anteriormente. Por outro lado, convém lembrar que o instrumento de
avaliação utilizado por nós representa uma estimativa pontual. O estado
depressivo pode varia no decorrer do tempo.
Nos idosos é particularmente difícil o reconhecimento de uma depressão, pois os
sintomas podem ser atribuídos ao processo natural de envelhecimento, visto que
simultaneamente ocorre a deterioração mental, sendo importante saber elaborar
um diagnóstico diferencial entre depressão e demência(10). Alguns trabalhos
relatam que a depressão nos idosos integrados a comunidade tem uma incidência
(números de casos novos ao ano) aproximada de 2% e de prevalência (número de
casos novos no ano mais os já existentes) de 10% e dessa porcentagem cerca de
2% são depressões graves(8,10).
Outras patologias foram referidas apenas uma vez pelos idosos como prostatite,
insuficiência renal, cálculo renal, gota, "esporão de galo", doença de
Parkinson, nevralgia, epilepsia, anemia pelos homens e bronquite, Câncer
uterino, hemorróidas, escoliose, lombalgia, surdez, arritmia cardíaca, sopro
cardíaco, erisipela pelas mulheres.
Quanto à sensação dolorosa 32% dos idosos referiam não sentir dor usualmente, e
68% referem dor como parte integrante do seu dia a dia.
No que diz respeito à localização desta dor, a região dorsal foi a mais
freqüente (25,3%) vindo a seguir dor em perna direita e perna esquerda (ambas
com 24%). Vários idosos informam dor em mais de uma parte do corpo.
No que se refere ao tempo de início da dor, 16% informa dor há mais de 10 anos,
10,6% dos idosos referem o tempo de inicio da dor como sendo entre um e dois
anos, 18,6% não souberam determinar há quanto tempo sentiam dor.
Pesquisamos também a forma pela a qual o idoso define sua dor. Foram relatados
20 tipos diferentes de dor e aqueles que apareceram apenas uma vez foram
agrupados na categoria "outro tipo", que somaram dezesseis ocorrências. Dez
idosos descrevem sua dor como contínua e seis como ferroada.
Quanto à intensidade desta dor, mediante escala de copos(18) 33% a identificam
como moderada; 17% como grave; 13% como leve e 9% informa dor intensa. Ao serem
questionados sobre o que esta dor o impedia de fazer, 25,3% afirmaram que mesmo
sentindo dor, esta não os impedia de realizar nenhuma de suas atividades
habituais; 10,6% revelaram que a dor os limitava na arrumação da casa, outros
10,6% afirmam que a dor prejudica o andar/ caminhar; 6,6% descrevem a dor como
empecilho para lavar e passar roupas, 2,7% referiram dificuldades para dormir,
bem como fazer força. Para 02 clientes (2,7%) a dor experimentada é tão intensa
que os impede de realizar qualquer tarefa. Alguns idosos (14,6%) têm outras
atividades impedidas devido a dor como por exemplo realizar o auto cuidado,
trabalhar, dirigir, etc. A dor, por vezes limita a mobilidade, principalmente
em pessoas com problemas articulares(8).
Outro aspecto levantado neste estudo foi a presença de distúrbio cognitivo.
Sabe-se que a diminuição de algumas funções cognitivas é esperada durante o
processo de envelhecimento. Mesmos os idosos mais funcionais as manifestações
como de perda de memória representam importante ameaça ao bem estar e a auto-
estima dos indivíduos. À medida que envelhecemos as aptidões cerebrais diminuem
enquanto que o desempenho cognitivo pode-se manter intacto. O declínio das
funções cognitivas aparece por volta dos 50 ou 60 anos, geralmente com
manifestações mínimas. As disfunções cognitivas não são doenças, mas estados
fisiológicos do envelhecimento(8).
Em nosso estudo 80% dos idosos não apresentaram prejuízo da função cognitiva
(10). No entanto, 16% apresentaram escore compatível com de funcionamento
cognitivo deficitário, suspeito de deterioração; 03 indivíduos (4%)
apresentaram pontuação indicativa de dano cognitivo grave (demência). Por se
tratar de um teste muito simples, os casos indicativos de dano intelectual
devem ser submetidos a uma avaliação mais aprofundada. Mediante estes achados,
nos casos indicados, foi realizado seu encaminhamento para avaliação
especializada.
A avaliação do funcionamento cognitivo do idoso é sempre complexa e raramente
precisa, devendo levar em conta certos fatores específicos como plano físico,
aspecto emocional e social, além é claro do nível de escolaridade do cliente,
pois pode-se correr o risco dos resultados serem falseados(8).
As doenças crônico-degenerativas e os distúrbios cognitivos representam um
fator limitante para a manutenção da mobilidade física, e estas aumentam
consideravelmente na idade avançada em número e gravidade (2,6,8). Contudo, é
importante evidenciar que o declínio das funções orgânicas pode variar
consideravelmente entre os idosos, podendo ser muito acentuado para uns e
insignificante para outros, mesmo na oitava década da vida.
Dada a complexidade da natureza humana e de seus processos, fisiológicos ou
não, acreditamos que a atuação em saúde deva ser realizada num trabalho
interdisciplinar, envolvendo, além do enfermeiro, psicólogos, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, médicos de várias
especialidades, educadores físicos entre outros.
Faz-se necessário que o Programa Saúde da Família responsável pela área onde
foi realizada a pesquisa elabore um plano de ação que possa intervir no perfil
identificado, a fim de contribuir pra a melhora na qualidade de vida destes
idosos.
4 Conclusões
Mediante a presente pesquisa identificamos o perfil de uma amostra de 75 idosos
(72,81%) cadastrados pela Equipe 02 do Programa Saúde da Família do Jardim
Mariliza, da cidade de Goiânia, quanto ao sexo (68% mulheres), faixa etária
(28% entre 60 a 64 anos), escolaridade (44% analfabetos ou semi-analfabetos;
37,7% com pelo até 4 anos de instrução); estado civil ( 24,75% viúvos e 25,5%
casados), pessoa com a qual este idoso vive (92% moram com o companheiro e/ ou
filho e/ ou netos) e Índice de Massa Corporal (34 % com peso menor do que o
desejado para a idade e 22,7 com peso excessivo).
Outras informações que auxiliam a planejar ações de saúde a esta população
também foram identificadas. A maioria (66,7%) dos sujeitos não realizava de
forma regular atividades físicas. Referem ser portadores de patologias como
hipertensão arterial sistêmica (64%), reumatismos (25,3%) labirintite (25,3%),
a osteoporose (22,7%), a diabetes (22,7) entre outras.
Com relação à área cognitiva, mediante realização de teste, 80% não
apresentaram qualquer demonstração que levasse a suspeita de prejuízo nessa
área.
Mediante aplicação de escala de avaliação, foram identificados 29,34% de idosos
com pontuação indicativa Depressão, apesar de ser relatada por apenas 12% dos
participantes.
Com relação a sensação dolorosa, 68% informara sentir dor de forma freqüente,
sendo o dorso e as pernas os locais mais referidos, com intensidade Moderada
(33%). Entre os indivíduos que relataram dor, 74,7% afirmam estarem impedidos
de realizar algumas atividades instrumentais e de vida diária em função desta
sensação desagradável.
Frente a estas informações pudemos perceber que a maioria dos itens que
caracteriza o perfil de idosos na comunidade por nós estudada é compatível com
dados disponíveis na literatura. Outros, porém, são característicos da
comunidade abordada nesta pesquisa. Mediante esta constatação, acreditamos ser
necessário que cada equipe do PSF realize estudo direcionado para sua área de
abrangência, para ter bases mais seguras para o planejamento de ações em saúde.