Educação em saúde: objeto de estudo em dissertações e teses de enfermeiras no
Brasil
PESQUISA/RESEARCH/INVESTIGACIÓN
Educação em saúde: objeto de estudo em dissertações e teses de enfermeiras no
Brasil
Health education: object of study in dissertations and theses by brazilian
nurses
Educación en salud: objeto de estudio en disertaciones y tesis de enfermeras em
Brasil
Maria Vilaní Cavalcante GuedesI; Lucia de Fatima da SilvaII; Maria Célia de
FreitasIII
IEnfermeira. Doutoranda em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.
Professora da Universidade Estadual do Ceará. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa
Educação, Saúde e Sociedade (GRUPESS)
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Universidade Estadual do
Ceará. Enfermeira do Hospital de Messejana. Líder do GRUPESS
IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da Universidade Estadual do
Ceará. Enfermeira do Instituto Dr. José Frota. Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa Educação, Saúde e Sociedade (GRUPESS)
E-mail do autor: vilani.guedes@globo.com
1 Introdução
A educação em saúde é uma estratégia direcionada para as ações básicas de
promoção, prevenção, cura e reabilitação. Assim, deve facultar aos cidadãos
conhecimentos não só para manter sua saúde sob controle, mas também para
identificar as causas do adoecimento, compreendendo que sua ocorrência não é
somente falta do seguimento de orientações ou ensinamentos dos profissionais de
saúde.
No Brasil, a educação em saúde tem dois pressupostos. O primeiro refere-se às
medidas preventivas e curativas que visam a obtenção da saúde e o enfrentamento
das doenças; o segundo, às estratégias da promoção da saúde como construção
social da saúde e do bem-estar. O pressuposto das estratégias preventivas e
curativas de obter saúde e enfrentar a doença é coerente com os princípios que
regem as atuais sociedades e culturas, ou seja, são baseados na produção
incessante e sempre renovada de variados serviços, fundamentados na ciência e
na tecnologia, oferecidos para o consumo das pessoas(1).
A promoção da saúde, entendida como o processo participativo de toda a
população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco
de adoecer, quando almeja a obtenção das condições de vida da população,
abrange, entre outros propósitos, excluir ou minimizar a ocorrência de doenças
decorrentes da ausência destas condições. Deste modo, atinge as causas e não
apenas evita a manifestação de tais agravos(1). Prevenção, por sua vez, é
considerada como toda medida tomada antes do surgimento de dada condição
mórbida ou de um seu conjunto, com vistas a que tal situação não ocorra com
pessoas ou coletividades ou, pelo menos, se vier a ocorrer, que isso se dê de
forma mais branda ou menos grave.
Garantida por políticas públicas e ambientais apropriadas, a educação em saúde
tem por objetivos a reorientação dos serviços de saúde e o entendimento de
saúde como o resultado de condições de educação, emprego, renda, segurança,
moradia, lazer, acesso aos serviços de saúde, entre outras. Assim, ela deve se
orientar por meio de propostas pedagógicas libertadoras voltadas ao
desenvolvimento da solidariedade e da cidadania. Portanto, o processo educativo
em saúde deve almejar ações para além da prevenção e cura das doenças, em uma
perspectiva de despertar o cidadão para o controle das desigualdades sociais,
de modo que as torne mais solidárias.
A educação em saúde implica, pois, uma alternativa de mudança coletiva da
sociedade na busca de caminhos passíveis de redescobrir e valorizar a atenção
primária, transpondo a terciária, tão valorizada e presente nos dias atuais.
Esta, porém, não tem dado conta de impedir o reaparecimento de doenças
supostamente controladas ou erradicadas, as quais, em caso de reincidência,
trazem profundo sofrimento para a população e pesados custos para os cofres
públicos.
Por conseguinte, mesmo diante da complexidade inerente à prática educativa,
compete aos profissionais de saúde empreender esforços no sentido de conquistar
a população atendida para assumir boas práticas no seu estilo de vida. Estes
profissionais devem capacitar indivíduos e grupos a se auto-organizarem para
desenvolver ações a partir de suas prioridades, consumindo, a depender dos seus
anseios e necessidades, os serviços que oferecem atenção, promoção, prevenção e
reabilitação da saúde(2). Portanto, fazendo com que a educação em saúde
transcenda campanhas educativas e orientações normativas, tanto as individuais
como as coletivas.
Ao se considerar a educação em saúde como uma estratégia indispensável para
pessoas e comunidades alcançarem saúde e bem-estar. Os enfermeiros brasileiros
têm se utilizado desta possibilidade na sua prática profissional cotidiana,
seja como práticas educativas, desenvolvidas nas atividades diárias de
trabalho, nos mais variados contextos do cuidado, seja em programas voltados
para o ensino às pessoas de quem cuidam. Por isso, o presente estudo voltou sua
atenção para a análise da utilização da temática educação em saúde nas
pesquisas desenvolvidas nos programas de pós-graduação stricto sensu em
Enfermagem no Brasil. Isto por considerar que tal interesse, por certo, trará
mais conhecimentos acerca de práticas/programas de educação desenvolvidos por
estes profissionais, demonstrando, assim, seu interesse por esta estratégia de
cuidado.
Dessa forma, ao realizar esta investigação teve-se como objetivos levantar o
quantitativo de dissertações e teses produzidas pelas enfermeiras envolvendo a
temática educação em saúde; identificar focos de interesse no campo da educação
em saúde e analisar os estudos produzidos em relação ao tipo de estudo,
população, técnica de coleta de dados e conclusões.
2 Metodologia
Trata-se de um estudo retrospectivo, caracterizado como a busca de informações
em documentos e registros(3). O material analisado originou-se nos Catálogos de
Informação sobre Pesquisas e Pesquisadores, produzidos e organizados pelo
Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem(CEPEn), da Associação Brasileira de
Enfermagem(ABEn). Foram examinados os 17 catálogos produzidos no período de
1979 a 1999.
Neles, foram encontradas 1.304 dissertações e 503 teses. Destas, 428 teses de
doutorado, 63 de livre-docência e 12 envolvendo a carreira acadêmica, concurso
para professor catedrático, titular, adjunto, assistente e licenciado. A
amostra compôs-se de 120 trabalhos selecionados a partir da leitura dos
resumos, tendo sido escolhidos aqueles em cujo título ou texto constava o termo
educação em saúde. Deste grupo amostral, 105 eram dissertações de mestrado, 13
teses de doutorado e 2 de livre-docência.
Os resumos foram lidos por cada autora separadamente e classificados. Em
seguida conferidos os resultados para avaliar a coincidência. A classificação
idêntica ocorreu em 93% dos casos. Os 7% restantes foram discutidos pelas
autoras até o alcance dos 100% dos trabalhos. As variáveis estudadas foram
objeto e tipo de estudo, população, técnica de coleta de dados, conclusões e
grau acadêmico obtido, registrados em uma planilha preparada, especificamente,
para o estudo.
Por terem sido as informações extraídas de documentos, procurou-se manter
preceitos éticos, na medida em que não está explicitada a origem dos dados. Do
mesmo modo, não há possibilidade de identificação dos estudiosos produtores dos
resumos estudados.
3 Resultados e discussão
Diante da diversidade de cenários nos quais o exercício da Enfermagem é
praticado, o comum e esperado é que, ao desenvolverem suas pesquisas, as
enfermeiras busquem, nestes contextos, objetos de estudo, assim como as
populações que viabilizarão a compreensão dos seus questionamentos
investigativos. A estas profissionais interessa melhor compreender seu processo
de trabalho, a realidade em que ele se insere e a clientela cuidada, com vistas
ao alcance da excelência da prática de cuidar.
Os propósitos das pesquisas são responder questionamentos e soluções de
problemas. No âmbito da Enfermagem, é muito freqüente a utilização de estudos
que descrevam fenômenos relativos à profissão e que busquem explorar as
dimensões destes fenômenos, procurando explicá-los, prevê-los e controlá-los
(4).
De acordo com a análise dos estudos, em nível de pós-graduação stricto sensu,
realizados por enfermeiras, se concentram entre aqueles classificados como
descritivo (45,84%), exploratório-descritivo (19,17%) e experimental (14,17%).
Os estudos são ditos descritivos quando procuram relatar, pormenorizadamente,
situações não plenamente conhecidas a serem apreendidas, requerendo, portanto,
do pesquisador o interesse por buscar informações acerca do objeto de estudo,
delimitação de técnicas, métodos e teorias capazes de orientar a coleta e a
interpretação dos dados(3). As descrições permitem o acréscimo de sua
experiência em torno de uma questão qualquer, compreendendo uma exploração do
problema, ampliando a familiaridade de suas características.
Já os estudos experimentais são realizados nas condições em que seja
possibilitada a randomização, controle e manipulação(5). Estes estudos se
voltam para o esclarecimento de objetos de estudo adequados a estes cuidados,
portanto mais diretamente relacionados às ciências naturais, logo, aos
fenômenos mensuráveis. Boa parte da prática profissional de Enfermagem pode ser
analisada sob este prisma do conhecimento e tem sido muito necessária para
conferir caráter científico à Enfermagem.
Tal como referido, as enfermeiras encontram em suas práticas de cuidar os
objetos para suas investigações e, como demonstrado na tabela anterior, isto se
comprova. As pesquisas em Enfermagem dizem respeito a atividades de promoção de
estilo saudável de saúde; pesquisas relativas ao processo de enfermagem ou
julgamentos clínicos a grupos de risco, com problemas específicos de saúde ou
minoritários; a obediência a programas prescritos de tratamento e descrição de
situações holísticas de Enfermagem(4).
Ao se analisar os estudos de dissertações e teses das enfermeiras, conforme se
percebe, seus objetos de investigação se voltam para o contexto de suas
práticas, tais como a aplicação do processo educativo em saúde nas situações de
promoção da saúde, prevenção de doenças e adoecimento, especialmente de
adoecimento crônico. O predomínio de pesquisas com foco nos doentes crônicos
pode se dar pelo fato da incidência destas doenças e seus índices de morbi-
mortalidade serem uma crescente, desde o século XIX, com maior expressão nos
últimos anos, em virtude da mudança nos perfis epidemiológicos dos
determinantes de adoecimento e fatores de risco para a ocorrência destas.
Nestes contextos, os profissionais de saúde, neste caso particular as
enfermeiras, tentam compreender o processo de adoecer destas pessoas e parecem
encontrar, na estratégia de educação em saúde, a possibilidade de modificar
hábitos não saudáveis praticados por estes grupos populacionais.
Encontrar o grupo de mulheres em diversas fases do ciclo reprodutivo como uma
das populações mais estudadas por estes profissionais pode estar relacionado à
grande ênfase recebida por esta clientela das diretrizes das políticas de
atenção à saúde coletiva. Isto porque as mulheres, particularmente nas faixas
etárias mais jovens, devem receber informações relativas a planejamento
familiar, riscos de gravidez na adolescência, cuidados com pré-natal e
aleitamento materno e riscos de contraírem DST/HIV. Neste sentido, a fase do
ciclo gravídico-puerperal é um momento de possibilidade de aproximação desta
clientela e oportunidade de estabelecer estratégias de educação em saúde.
Os estudos envolvendo a educação em saúde e sociedade mostram as preocupações
das enfermeiras em compreender as principais questões sociais que influenciam
as condições de saúde da população e mais, como questões relacionadas com a
participação popular no SUS. Sensibilizar a clientela dos serviços de saúde
para exercer o controle social passa necessariamente pela estratégia de
educação em saúde. Nestes serviços, a enfermeira tem assumido funções de
gerenciamento e as preocupações com a educação em saúde. A integração destas
duas vertentes de trabalho da enfermeira é fértil para a compreensão das
necessidades de criar condições de desenvolvimento das atividades educativas,
conformando-as como parte do processo de trabalho em saúde e, em particular, da
Enfermagem.
As necessidades de aprendizagem de pacientes no período perioperatório, diante
da realidade de serem submetidos a procedimentos cirúrgicos, quando precisam de
mais atenção e orientações, configuram uma oportunidade da enfermeira
dispensar-lhes ensinamentos para o enfrentamento do medo, da ansiedade e mesmo
da dor. Educar em saúde, nestas situações, contribui para a redução dos riscos
de complicações pós-operatórias dando, de certo modo, ao paciente, controle da
situação em relação aos acontecimentos do ato operatório e do período após este
evento.
De acordo com o que observamos a população e a amostra provêm de diferentes
grupos de interesse, assim denominadas por fazerem parte da investigação,
validação dos resultados e serem agentes ativos em todo o processo de pesquisa.
População é um conjunto bem definido com certas propriedades específicas. Pode
ser composta de pessoas, objetos ou acontecimentos e constitui-se desde
pequenos grupos até um grande contingente(5). A amostra é um recorte da
população, por meio da qual se estabelece ou se estima a característica da
população alvo da investigação. Assim, a amostra deve ser definida pelo
pesquisador de acordo com a determinação de critério de inclusão(5).
Diante destas considerações, é possível perceber que as populações escolhidas
pelas enfermeiras, em suas teses e dissertações, encontram-se especialmente nos
grupos de adultos, profissionais de Enfermagem, mulheres em várias fases do
ciclo vital, crianças e adolescentes e doentes crônicos. Isso mostra que as
enfermeiras são profissionais que contribuem amplamente para o desenvolvimento
das ações definidas nos protocolos das políticas do setor saúde. Também se
preocupam com os modos de fazer da equipe da qual é líder.
A escolha e elaboração de instrumentos de coleta de dados é uma tarefa
desafiadora no processo de pesquisa. Mas, dos instrumentos e das técnicas de
coleta de dados depende a qualidade dos resultados e, até mesmo, das conclusões
de um estudo(4). A natureza da investigação, de certo modo, direciona esta
escolha. Quanto aos métodos de coletas de dados na Enfermagem, variam em quatro
importantes dimensões, quais sejam: estrutura, capacidade de quantificação,
envolvimento do pesquisador e objetividade(4).
A preparação de um instrumento de coleta de dados requer do pesquisador
organização criteriosa para a obtenção dos dados necessários ao alcance dos
objetivos propostos. Deste modo, a definição da técnica e elaboração do
instrumento não são ações isoladas nem arbitrárias. Estas escolhas na realidade
são definidas desde o momento da formulação do problema a ser investigado.
Segundo encontrou-se, os estudos elaborados utilizaram a entrevista em 68
trabalhos. Esta é um instrumento de largo uso na Enfermagem e por sua natureza
permite investigar temas complexos que requerem profundidade. É adequada para a
obtenção de informações acerca do que pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou
desejam(6,7), podendo ainda ser considerada "a técnica mais adequada para a
revelação de informações sobre assuntos complexos, [...] ou para verificar
sentimentos subjacentes a determinada opinião apresentada"(7: 272).
Dos 68 trabalhos que utilizaram entrevista para coletar dados identificou-se as
seguintes modalidades: estruturadas, semi-estruturadas, focal e abertas, todas
com o objetivo de obter dados para a investigação. Esta técnica de coleta de
dados se mostra adequada, pois em geral, a clientela que procura os serviços
públicos de saúde, e onde as enfermeiras desenvolvem ações educativas em saúde,
têm baixa escolaridade e a entrevista se torna uma excelente técnica para
obtenção de dados.
A observação como técnica de coleta de dados é imprescindível em qualquer
processo de pesquisa científica, pois ela tanto pode conjugar-se a outras
técnicas de coleta de dados como pode ser empregada de forma independente e
exclusiva. Segundo consenso entre os estudiosos, a observação se torna
científica à medida que serve a um objetivo formulado de pesquisa, é
sistematicamente planejada e registrada, passível de verificações e controles
(7, 8).
A observação com o uso exclusivo dos sentidos apareceu em 55 estudos. É
importante dizer que este instrumento é um recurso fundamental em pesquisa.
Admite-se, hoje, a necessidade de coletar dados com dois instrumentos e a
observação tem sido um dos escolhidos na maioria dos estudos.
A observação pode ser sistemática, participante e simples; a escolha está na
dependência do objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas a observação tem
sido valorizada pela possibilidade de apreender os significados de fatos e
comportamentos.
Nos estudos realizados foram identificados diferentes objetos que de fato
requeriam o concurso da observação como técnica de coleta de dados. Entre eles
sobressaem: doenças crônicas, educação de gestantes e puérperas, prevenção de
DST/AIDS, todas situações passíveis de serem observadas. Entretanto, a
observação é menos eficiente para propiciar informações sobre percepções,
sentimentos, crenças e outras emoções, pois, por sua natureza, são situações
difíceis de se observar(9).
Outro instrumento utilizado foi o formulário, usado em 17estudos.Formulário é
um conjunto de questões perguntadas e registradas pelo pesquisador em situação
face a face(9). Sua elaboração e organização são semelhantes à do questionário
que ao mesmo tempo se constitui o roteiro de entrevistas estruturadas. Por
isso, às vezes os autores fazem referência ao uso de mais de um instrumento de
coleta de dados quando na realidade estão utilizando o formulário preenchido
pela técnica de entrevista, ou seja, estão fazendo apenas a entrevista
estruturada.
O questionário é um instrumento de coleta de dados que tem duas funções
primordiais: descrever as características e medir determinadas variáveis do
grupo amostral(8). Identificaram-se 20 trabalhos cujos dados foram coletados
com o uso de questionário, como afirmaram os autores. Por ser respondido pelo
pesquisado na ausência do pesquisador este instrumento deve ter uniformidade
para facilitar a avaliação, e as questões formuladas devem estar relacionadas
ao problema em estudo(3).
O estudo de alguns objetos poderia ser realizado mediante coleta de dados com
questionários que têm a característica de ser entregue ao participante do
estudo, para ser respondido no momento mais adequado. Mas, este também tem
desvantagens, como dificuldades para trabalhar com amostras com baixa
escolaridade, e com deficientes visuais.
O tamanho do instrumento é outro motivo de dificuldades para preenchimento e
baixa freqüência na devolução, exigindo do pesquisador o encaminhamento de novo
documento, acompanhado de uma carta explicativa e orientadora. Isto significa
mais despesas e mais tempo para concluir a coleta de dados. Constitui-se,
portanto, um dos fatores de retardamento de conclusão de pesquisas que pode ser
minimizado pelo pesquisador desde o momento do planejamento do estudo, além de
disciplina para não extrapolar o cronograma.
O objeto de estudo, os objetivos estabelecidos e os informantes selecionados
precisam ser, constantemente, lembrados, quando se decide e se prepara um
instrumento para coletar os dados de determinado estudo, para não se correr o
risco de, após concluída a coleta, detectar-se que o instrumento não trouxe os
resultados esperados. Tal fato pode ser evitado ou pelo menos minimizado se à
medida que os dados forem coletados, forem organizados e analisados.
Nos resumos apreciados, as conclusões dos estudos analisados, em sua maioria,
apontavam para a melhoria das condições de saúde e bem-estar dos grupos
participantes, ao mencionar que educação em saúde deve se voltar para além do
nível individual. As conclusões também mostraram ser ainda preciso investir em
ações educativas para alcançar outros patamares como o de cidadania, pois
educar em saúde é uma estratégia de reconhecido valor para a promoção da saúde.
No presente estudo, estavam explicitadas as conclusões em 98 trabalhos.
A elaboração de um resumo deve trazer com clareza o objeto estudado, objetivos
estabelecidos, metodologia, resultados principais e conclusões.
Conceituar resumo pode servir de esclarecimentos para os neófitos em pesquisa.
É uma tarefa complexa, exige atenção e treinamento para conseguir dizer em
poucas palavras o conteúdo mais significante da pesquisa concluída. Desta
maneira, o resumo consiste em uma apresentação concisa, objetiva e seletiva de
maior interesse de uma publicação científica(10, 11).
A educação em saúde requer investimentos do Estado, como responsável pela saúde
da população, qualidade dos profissionais que atendem no sistema público de
saúde, assim como pelas condições de trabalho destes, para poderem desenvolver
com mais qualidade suas práticas de educação sanitária(12). É recomendada uma
nova diretriz para as práticas de educação em saúde, afastadas do poder
coercitivo e normativo, até hoje freqüente neste modo de educar pessoas para
viver mais e melhor, transformando as oportunidades de educar a clientela em
momentos prazerosos, favorecendo para que a aceitação de mudanças no estilo de
vida, para manter a saúde ou mesmo prevenir a doença, seja consciente(12).
4 Considerações finais
Os resultados mostram as preocupações das enfermeiras com as questões da
educação em saúde na produção do conhecimento, apesar das limitações
metodológicas também identificadas. Deste modo, o estudo permitiu identificar o
interesse das enfermeiras brasileiras em investigar esta temática.
Ainda segundo se constata, as questões da prática são aquelas escolhidas como
objeto de estudo nas oportunidades que os profissionais têm de, à luz do método
científico, analisar o desenvolvimento de práticas educativas com as pessoas e
suas famílias. No período estudado foram realizados 120 trabalhos sobre
educação em saúde, envolvendo as situações de ensino de clientes crônicos,
mulheres no ciclo gravídico-puerperal, saúde da mulher, da criança, DST/AIDS,
entre outros.
Estes resultados indicam a necessidade de fortalecer as pesquisas centradas nas
questões do cotidiano merecedoras de atenção, considerando a Enfermagem
inserida em um contexto histórico e social no qual a clientela é carente de
orientações. Entretanto, estas devem ter caráter emancipatório. É lícito e
verdadeiro ressaltar que a prática de pesquisa na Enfermagem precisa ser
intensificada e os cursos de graduação e principalmente os de pós-graduação
stricto sensu têm uma co-responsabilidade em despertar o interesse, bem como
assumir a preparação dos profissionais de Enfermagem para a prática
investigativa.
Por fim, as enfermeiras devem experienciar a aventura da pesquisa, pois
certamente, após esta vivência, elas verão o contexto da prática sob outros
prismas. No entanto, para isto, têm de aceitar a seguinte premissa: só se
aprende a pesquisar pesquisando.