Resíduos potencialmente infectantes em serviços de hemoterapia e as interfaces
com as doenças infecciosas
PESQUISA/RESEARCH/INVESTIGACIÓN
Resíduos potencialmente infectantes em serviços de hemoterapia e as interfaces
com as doenças infecciosas
Potentially infectious residues at hemotherapy services and interfaces with
infectious diseases
Residuos potencialmente infectivos en servicios de hemoterapia y las interfaces
con las enfermedades infecciosas
Marinésia Aparecida do PradoI; Dulcelene de Sousa MeloII; Katiusse Macedo
MachadoIII; Silvana de Lima Vieira dos SantosIV; Elucir GirV; Silvia Rita Marin
da Silva CaniniVI; Nilza Tereza Rotter PeláVII
IEnfermeira. Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás. Doutoranda em enfermagem do Programa de Interunidades da USP
IIEnfermeira com Especialização em enfermagem em infectologia pela EERP/USP.
Mestranda em enfermagem da FEN/UFG
IIIEnfermeira do Instituto Goiano de Hemoterapia de Anápolis/Goiás.
Especialização em enfermagem em infectologia pela EERP/USP
IVEnfermeira com Especialização em enfermagem em infectologia pela EERP/USP.
Mestranda em enfermagem da FEN/UFG
VEnfermeira. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Geral e
Especializada da EERP/USP
VIEnfermeira, Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós Graduação de
Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
VIIEnfermeira. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e
Especializada da EERP/USP
E-maildo autor: prado@aol.com
1 Introdução
Atualmente estamos inseridos num contexto em que, ora beneficia, ora promove a
inadequação das condições que assegurem à manutenção da vida. Tal situação
contribui para a cadeia epidemiológica das doenças infecciosas.
A tecnologia em seus avanços de alta complexidade tem possibilitado o dinamismo
na evolução e na produção do conhecimento nas várias atividades humanas.
Em contrapartida, tem possibilitado mudanças no comportamento e nas
necessidades humanas, o que tem gerado problemas éticos e ambientais e, que
comprometem o equilíbrio da ecologia em seu sentido pleno(1).
Entretanto, há de considerar o processo de transformação ocorrido no âmbito
cultural, social e econômico vivenciado no momento, onde os impactos
relacionados à tecnologia e ao comportamento da sociedade têm refletido na
manutenção do processo saúde-doença das pessoas. Assim, entre outros fatores,
associados à prática do cotidiano das instituições de saúde geradoras de
resíduos potencialmente infectantes e perfurocortantes, como por exemplo, os
serviços de hemoterapia, deve ser repensada, para que as conseqüências
negativas destas ações não inviabilizem a vida(2).
É importante ressaltar que, o modelo de organização da sociedade moderna
dificulta o entendimento por parte do indivíduo quanto a sua participação,
enquanto, controlador dos fatores de risco e dos problemas ambientais, em que,
especialmente o manejo adequado, destes resíduos seja assegurado(2).
Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), constituem uma categoria específica dos
resíduos sólidos devido a suas particularidades, especialmente em razão da
presença de resíduos que oferecem riscos biológicos. Portanto, estes resíduos
resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição(2-4).
Ressaltamos que, segundo a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) RDC 33 de 25/02/03, são geradores de RSS, todos os serviços
que prestam atendimento à saúde humana ou animal, incluindo os programas de
assistência domiciliar, indústrias e serviços de pesquisa na área de saúde,
hospitais, clínicas, ambulatórios médico e odontológicos, acupuntura, tatuagem,
drogarias, farmácias, tratamento quimioterápico, radioterapia e de medicina
nuclear, unidades de produção de hemoderivados, laboratórios de análises
clínicas e patológica, necrotérios e medicina legal, unidades de controle de
zoonozes e unidades móveis de atendimento à saúde, entre outros(5).
Portanto o gerenciamento de RSS constitui-se, em um conjunto de procedimentos
de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas
normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos, de
forma eficiente, visando a proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde
pública e dos recursos naturais e do meio ambiente(2, 5 ).
De acordo com a portaria nº 3.214/78 - NR - 09 do Ministério do Trabalho,
constitui-se em resíduo com risco biológico, aqueles com presença de
microrganismos (bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus
entre outros) capazes de causar infecção no homem e disseminar doenças(6).
Nesse contexto a classificação destes resíduos, preconizada pelas resoluções
05/93 e 283/01 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), tendo como base
à composição e as características biológicas, encontram-se distribuídas em
quatro grupos, a saber: A, B, C e D(3).
Entretanto com a nova regulamentação técnica da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, estes resíduos foram reclassificados em cinco grupos: A, B, C, D e
E, em conformidade com esta regulamentação, as Instituições de Assistência à
Saúde, foram convocadas a elaborarem ou reformularem o seu plano de
gerenciamento de RSS, adequando-o às mesmas, em um prazo máximo de 12 meses, a
partir da data de sua publicação(5).
Os resíduos gerados nos serviços de hemoterapia de acordo com a legislação
vigente enquadraram-se nos seguintes grupos:
Grupo A: bolsas de sangue ou hemocomponentes com volume residual superior a
50ml e kits de aférese.
Grupo D: bolsas transfundidas vazias ou contendo menos de 50ml de produto
residual (sangue ou hemocomponentes); invólucros de materiais como: papéis,
plásticos, etc.
Grupo E: bolsas de coleta incompleta descartada no local da coleta quando
acompanhadas de agulhas, independente do volume coletado e agulhas
hipodérmicas.
Assim os serviços de hemoterapia devem elaborar um plano de gerenciamento de
RSS, dentro da atual classificação, uma vez que, os resíduos ali gerados são
considerados resíduos biológicos, em particular os potencialmente infectantes e
os perfurocortantes, tendo como premissa a carga residual presente neste
material e os riscos que tais materiais representam para as pessoas, bem como
para o meio ambiente.
Diante destas informações e da nossa vivência em algumas instituições de saúde
e como pesquisadoras atuando há alguns anos na prevenção e no controle das
infecções hospitalares e medidas de biossegurança em estabelecimentos de saúde,
percebemos que o gerenciamento dos RSS ainda é ineficaz, o que favorece a
cadeia epidemiológica das doenças infecciosas e a exposição de trabalhadores
aos acidentes envolvendo materiais biológicos.
Acreditamos que este ciclo compromete a qualidade dos serviços de saúde
oferecidos à população, o que justifica a realização de estudos que busquem
compreender o gerenciamento dos resíduos potencialmente infectantes e
perfurocortantes em serviços de hemoterapia das instituições de saúde e suas
interfaces com as doenças infecciosas.
Neste contexto elaboramos os seguintes questionamentos:
- Como o gerenciamento dos resíduos potencialmente infectantes e
perfurocortantes nos serviços de hemoterapia está sendo
operacionalizado?
- O gerenciamento dos resíduos potencialmente infectantes e
perfurocortantes, uma vez, inadequado tem exposto as pessoas ao risco
de adquirir doenças infecciosas intra e extra instituição geradora?
- Quais os fatores que facilitam ou que dificultam o gerenciamento
adequado destes resíduos?
- Há protocolo norteando a prática do gerenciamento de resíduos do
serviço de saúde nas instituições?
Nessa ótica partimos do pressuposto de que, o gerenciamento dos resíduos
infectantes, uma vez realizados, inadequadamente, nos serviços de hemoterapia
expõe os indivíduos ao risco de adquirir doenças infecciosas tanto intra como
extra instituição geradora. O protocolo para o manejo dos resíduos
potencialmente infectantes e dos perfurocortantes constitui uma ferramenta
essencial para o gerenciamento seguro dos mesmos, sendo considerado um agente
facilitador para os serviços que já o possuem.
2 Objetivos
- Verificar se o processamento dos resíduos potencialmente
infectantes e os perfurocortantes favorecem a exposição dos
indivíduos ao risco de adquirirem doenças infecciosas intra e extra
instituição de saúde geradora;
- Identificar os fatores facilitadores e ou dificultadores
relacionados ao gerenciamento adequado destes resíduos;
- Identificar e avaliar os indicadores utilizados acerca da
normatização e do manejo dos resíduos infectantes e os
perfurocortantes produzidos nos serviços de hemoterapia em
instituições de saúde do município de Goiânia - GO.
3 Material e Método
Pesquisa do tipo survey, a qual permite a obtenção de informações por meio de
auto-relatos, foi realizada no período de maio a novembro de 2003 em Goiânia-
GO. Participaram 6 serviços de hemoterapia, sendo 2 públicos, 2 privados e 2
filantrópicos, os quais foram classificados como unidades 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
A população foi constituída por profissionais e por responsáveis pelo
gerenciamento, manuseio e processamento interno dos resíduos potencialmente
infectantes e perfurocortantes lotados nos serviços de hemoterapia. Foram
excluídos os profissionais que se encontravam afastados temporariamente de suas
atividades por licenças: maternidade, prêmio, saúde ou de interesse particular
e não se encontravam no momento da coleta ou ainda que se recusaram a integrar
formalmente à pesquisa.
Participaram da pesquisa 203 profissionais de seis serviços de hemoterapia
sendo 02 públicos, 02 privados e 02 filantrópicos, os quais foram identificados
como unidades 1, 2, 3, 4, 5 e 6. O número de profissionais por serviço variou
de 14 a 98, totalizando 203 profissionais. A amostra do estudo foi composta por
131 sujeitos da pesquisa, os quais estavam em atividade no período da coleta e
concordaram em participar.
Este projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Goiás e Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. As informações foram
coletadas após a exposição dos objetivos da pesquisa aos sujeitos e a sua
concordância expressa por meio do termo de livre esclarecido.
Em seguida aplicou-se um questionário contendo questões abertas e fechadas aos
sujeitos. A coleta de dados foi complementada por meio de observação direta,
não participativa, em um único momento, quando as pesquisadoras assinalavam um
roteiro de observação simples (check-list) previamente validados, por
especialistas na temática. Por último foi realizado um teste piloto em uma
instituição de hemoterapia de outro município, o qual não foi incluído neste
estudo. O banco de dados foi estruturado no programa Excel 2000 e os resultados
analisados por meio de estatística descritiva.
4 Resultados e discussão
Verificou-se que os serviços pesquisados geram resíduos dos grupos A, B, D e E,
conforme classificação da legislação vigente (5). Os serviços 5 e 6 produzem os
resíduos do grupo B em maior escala que os outros, uma vez que realizam
atividades envolvendo administração de quimioterápicos. Há de se considerar
que, cada grupo de resíduos, exige uma demanda diferenciada para seu manejo, no
entanto, neste estudo o enfoque foi dado aos resíduos dos grupos A e E.
Quanto a distribuição dos sujeitos por categoria funcional houve maior
incidência de técnicos de laboratório 20,61%, seguidos por 19,08% biomédicos e
19,08% auxiliares de serviço geral e 15,27% técnicos em enfermagem.
Com relação ao tempo de atuação profissional em serviços de hemoterapia,
verificou-se que, estes profissionais, estão exercendo suas atividades entre 1
e 5 anos (39,69%).
O plano de gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde (PGRSS), documento
que descreve as ações relativas ao manejo dos RSS deve ser compreendido em
todas as suas fases inclusive quanto a proteção à saúde pública, considerado o
principal indicador de qualidade e de segurança à saúde do trabalhador, da
comunidade e minimizador de agravos ao meio ambiente(5).
Nesse sentido, considerou-se pertinente indagar os profissionais acerca do
manejo de resíduos com risco biológico, implementado nos serviços. Identificou-
se que quatro serviços possuem planos de gerenciamento e dois não. Em dois
serviços o mesmo foi elaborado a partir da publicação da nova legislação, porém
nenhum ainda está implementado.
O Ministério da Saúde do Brasil, disponibilizou curso gratuito de capacitação à
distância, direcionado aos profissionais responsáveis pelo gerenciamento dos
RSS de várias Instituições de Saúde do país, com o objetivo de minimizar o
impacto da prática do manejo inadequado destes resíduos até então adotados(2).
Nesse enfoque investigou-se junto aos profissionais dos serviços de hemoterapia
sobre o Plano de Gerenciamento - PGRSS adotado na instituição e verificou-se
que, apesar dos profissionais saberem da existência do mesmo, este ainda se
encontra em fase de elaboração em 4 serviços e em fase inicial de implementação
em 2 serviços, entretanto nenhum serviço os validou. Podemos concluir que
nenhum serviço pesquisado possui PGRSS estruturado, implantado e já avaliado.
Com relação à normatização para o exercício das atividades do manuseio interno
dos RSS, detectou-se que 5 serviços a disponibilizam, estando documentada e
inserida em sua rotina e 1 não a disponibilizou.
As normatizações devem ser padronizadas e detalhadas de forma clara,
proporcionando o seu entendimento por todos os profissionais envolvidos,
promovendo assim, as adequações necessárias(7).
No tocante às fases que compreendem o manejo interno dos resíduos
potencialmente infectantes e perfurocortantes, foi observado que, a segregação
e o acondicionamento, realizados nos serviços de hemoterapia, não atendem as
orientações estabelecidas, uma vez que, a separação e o ato de embalar não
atendem todos os critérios definidos pela resolução do Ministério da Saúde(1,
2, 5).
Ressalta-se que em 5 serviços observados, os resíduos pertencentes aos grupos A
e D são segregados seguindo as orientações daqueles classificados no grupo A, o
que é contra indicado, pois, segundo a recomendação vigente os resíduos do
grupo D, devem ser segregados em sacos plásticos comuns, o que torna o seu
custo mais acessível para o serviço.
Para os resíduos do grupo B percebe-se a adoção de condutas diferenciadas e que
também não atendem a legislação vigente, percebe-se que esta deficiência tem
seu início desde a sua estruturação em nível de órgãos fiscalizadores de forma
a esclarecer e estabelecer tais condutas.
Quanto ao serviço de atendimento ao trabalhador exposto a acidente ocupacional,
todos os serviços investigados o disponibilizam. No que se refere a
normatização do fluxo de atendimento em caso de acidentes entre os
profissionais observou-se que apenas um dos serviços não a possui. Entretanto,
todos os serviços efetivam o registro e o acompanhamento dos profissionais
vítimas de acidentes ocupacionais, cuja atribuição em 4 serviços fica a cargo
do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar ou da Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar -SCIH/CCIH.
Vale ressaltar que o Serviço de Controle de Infecção tem como objetivos: o
planejamento, a implementação e a avaliação de medidas direcionadas ao controle
de ações educativas que promovam a mudança de comportamento, acerca do controle
de infecção, partindo do individual para o coletivo; colaborar com a CCIH na
monitorização e investigação de exposições a agentes potencialmente infecciosos
e em surtos entre os profissionais; prover assistência ao pessoal em casos de
exposição ou doenças relacionadas ao trabalho; identificar riscos de infecção
relacionados ao trabalho e as medidas apropriadas e conter custos prevenindo
doenças infecciosas que resultem em absenteísmo e incapacidade na ausência de
um serviço de Medicina do Trabalho(8).
As atividades desenvolvidas pelos profissionais nos serviços de hemoterapia
tornam-os susceptíveis a riscos de acidentarem com maior freqüência, nesse
sentido, preocupamo-nos em identificar a ocorrência de acidentes ocupacionais.
Verificou-se que dos 32,82% trabalhadores acidentados, 41,86% foram expostos
mais de uma vez.
O material biológico envolvido com maior freqüência foi o sangue, referido por
73,33% dos profissionais. O sangue é o material manipulado com maior freqüência
pelos profissionais dos serviços de hemoterapia, tornando-os mais expostos aos
riscos biológicos, visto que parte da demanda espontânea destes serviços,
emerge para a verificação do estado sorológico da população em situação de
risco e de estarem contaminados com agentes infecciosos de importância
epidemiológica.
Quanto ao tipo de exposição detectou-se que, 39,13% foram vítimas de acidentes
com materiais perfurantes e 23,92% de perfurocortantes.
Vale ressaltar que estes materiais representam uma fonte de contaminação de
maior relevância na prática dos trabalhados de saúde, uma vez que, contém
material biológico e são capazes de veicular microrganismo como os vírus das
hepatites B (VHB) e C (VHC) e do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
(1,7,9). Estes resultados encontram-se evidenciados no Gráfico_1.
Em relação às condutas tomadas após o acidente 21,05% profissionais realizaram
esquema completo dos exames de sorologias e 10,53% sorologias do cliente. A
limpeza do local com água e sabão e a utilização de anti-séptico embora seja de
grande importância, foi relatado por apenas 1,05% dos profissionais e 1,05% não
realizou nenhuma conduta, sendo esta considerada falha grave do sistema de
atendimento no tocante a avaliação dos agravos eminentes da saúde do
trabalhador.
A tabela_1 apresenta a distribuição das condutas adotadas pelos profissionais
após acidentarem.
Apesar dos profissionais saberem da necessidade de atendimento em caso de
acidente ocupacional não observamos haver uniformidade quanto às condutas
adotadas por eles após o acidente. Os profissionais não têm clareza sobre a
necessidade do seguimento do protocolo de controle pós-exposição ocupacional à
material biológico. Segundo as recomendações preconizadas estas devem ser
elaboradas, implementadas e divulgadas à equipe profissional com o intuito de
padronizar os procedimentos a serem seguidos na ocorrência do mesmo, visando à
prevenção, tratamento e acompanhamento(10).
Ao se acidentar o profissional deve adotar as seguintes condutas(10-13):
- Lavar o local lesionado abundantemente com água e sabão, seguido da
aplicação de solução anti-séptica (álcool a 70%, PVPI ou Clorexidina)
e, em caso de envolvimento de mucosa, utilizar soro fisiológico 0,9%
ou água boricada, e na ausência destes, água corrente(10).
- Notificar imediatamente à chefia, a qual notifica a CCIH ou setor
que avaliará o acidente, o mais precoce possível, idealmente até duas
horas após o acidente, pois, a eficácia das medidas profilática, pós-
exposição é maior quando oferecida o mais precocemente possível,
sobretudo quando o acidente caracterizar-se como grave e o paciente
fonte for soro reagente para HIV.
- Realizar a comunicação do acidente de trabalho (CAT).
- Coletar sangue do paciente fonte e do profissional acidentado para
sorologias.
- Analisar os dados da fonte de contágio, causas do acidente, tipo de
acidente.
- Adotar medidas pertinentes a vacinas, quimioprofilaxia e outras.
- Realizar as orientações aplicáveis no plano individual e familiar.
- Seguimento clínico-laboratorial apropriado de 6 meses a 18 meses
(10-13).
Quanto à utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), 99,24% dos
profissionais referem que os utilizam. Entretanto em algumas situações o
utiliza de maneira inadequada. Ressalta-se que o uso do EPI está recomendado a
todo profissional no atendimento a todo cliente independente de seu presumível
estado de saúde e quando houver possibilidade de exposição a sangue, líquidos e
secreções corpóreas(14). Apesar dessa recomendação, o uso das luvas não foi
mencionado por 3,27% dos profissionais, fator relevante considerando-se a
especificidade de suas atividades.
Os EPI utilizados com maior freqüência, segundo os relatos dos profissionais
participantes foram luvas 27.02%, jalecos 19,78%, óculos 17,65% e máscaras
16,80%. O protetor facial embora importante para o tipo de atividade
desenvolvida pelos profissionais nos serviços de hemoterapia foi referido por
apenas 2,34% deles. Estes resultados encontram-se disponibilizados na Tabela_2.
Vale ressaltar que segundo as recomendações da NR-6 do Ministério do Trabalho,
os EPI de uso cotidiano dos serviços de hemoterapia compreendem luvas, jalecos,
máscaras , protetor facial e no caso específico do capote impermeável ele é
recomendado em algumas situações.
Ao questionar os profissionais dos serviços de hemoterapia quanto ao
treinamento sobre as normas de biossegurança e saúde ocupacional, 77,10%
afirmaram ter recebido treinamento e 22,14% relataram que nunca receberam
nenhum tipo de treinamento. No tocante às orientações atinentes ao manejo de
resíduos de saúde 80,92% profissionais referiram ter recebido orientações
específicas e 19,08% não as receberam.
A periodicidade acerca das orientações relatadas pelos profissionais variou de
diária até a cada dez anos. Pode-se inferir que estes serviços não têm
priorizado as atividades de educação permanente relacionadas aos RSS ou que as
mesmas não se encontram estabelecidas em cronogramas ou ainda não têm
contemplado a participação de maneira uniforme por parte dos trabalhadores.
Em qualquer atividade de prestação de serviços é recomendável que os
profissionais de saúde sejam periodicamente atualizados quanto às normas e
rotinas do serviço, bem como das medidas de biossegurança. As condições com
potencial de causar danos aos trabalhadores são variadas e, para controlá-las é
necessária a sistematização das atividades de educação continuada/permanente e
assim auxiliar na promoção de mudança de comportamento destes profissionais.
Esse direito está assegurado nas novas normatizações da ANVISA(5), cabendo aos
dirigentes dos estabelecimentos geradores de RSS a responsabilidade quanto à
capacitação, treinamento e manutenção de programas de educação permanente,
direcionados ao pessoal envolvido no gerenciamento e manejo dos resíduos.
Compreendendo também o PGRSS como meio de desenvolvimento e de implantação de
programas de capacitação que envolva os setores geradores destes resíduos, bem
como, os serviços de higiene e limpeza, SCIH/CCIH, SESMT e CIPA. Esta
capacitação deve ocorrer a partir da admissão dos trabalhadores nas empresas e
deve ser mantido por meio de acompanhamento sistemático destes profissionais em
suas atividades durante o manejo dos resíduos, inclusive aos profissionais em
situação temporária ou que não estejam envolvidos diretamente nas atividades de
manuseio dos mesmos(5).
A equipe de saúde deve ser educada sobre a política e procedimentos de controle
de infecção da organização. Conseqüentemente isto possibilitará o
desenvolvimento seguro das atividades de prestação de serviços de saúde do
trabalhador e do cliente(8).
Em relação ao esquema vacinal dos profissionais dos serviços pesquisados
verificamos que estes o valorizam como fator de proteção para a atividade
profissional, uma vez que, 79,38% referiram esquema completo para hepatite B.
Porém, questionamos o fato de que 9,16% referiram esquema incompleto e 2,30%
não receberam nenhuma dose da vacina contra hepatite B. As vacinas constituem
parte essencial dos programas bem sucedidos de saúde ocupacional, pois
asseguram imunidade ao pessoal quanto às doenças preveníveis(8,11,15).
No que se refere à triagem sorológica pós-vacinal dos profissionais dos
serviços de hemoterapia de Goiânia, verificamos que 23,67% não realizaram.
Constatamos por meio dos dados que há dúvidas por parte dos profissionais
quanto à interpretação dos resultados das sorologias realizadas.
Esta conduta é recomendada aos trabalhadores que se encontram em situação
permanente de exposição ao sangue, para verificar a dosagem de títulos cujo
objetivo é conferir se o trabalhador adquiriu imunidade e auxiliar na
profilaxia pós-exposição ocupacional com indicação da revacinação ou mesmo
indicação de gamaglobulina hiperimune específica(8,11,15).
Dados registrados na literatura alertam para o risco de infecção ocupacional
cujos agentes são veiculados pelo sangue e outros fluídos corpóreos, apontam
ainda a maior infectividade do VHB em relação ao HIV, entre os profissionais da
área da saúde e atingindo um percentual de suscetibilidade maior em relação à
população em geral(1,16,17).
Estes resultados encontram-se condizentes com os alcançados na presente
pesquisa, uma vez que, 32,82% dos profissionais dos serviços de hemoterapia
relataram exposição ocupacional, destes 11,63% apresentaram soroconversão para
VHB e VHC. Observa-se que alguns fatores como a duração e a freqüência com o
sangue e derivados, bem como a positividade dos clientes para anti-HBsAg, são
determinantes na infecção ocupacional( 17).
5 Conclusão
Os objetivos foram contemplados e possibilitam pontuar alguns aspectos:
- O tempo de atuação dos profissionais variou de 1 a 25 anos.
- Não existe plano de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde
estruturado nos serviços de hemoterapia pesquisados.
- Os fatores dificultadores para o manejo adequado dos RSS foram, a
falta de medidas administrativas e de engenharia; falta de um
programa de segurança ocupacional estruturado, capaz de dar suporte
de forma efetiva ao profissional em situação de acidente com material
biológico.
- A adesão aos EPI recomendados foi mencionada por 99,24% dos
profissionais, entre eles destacaram-se as luvas, os óculos, as
máscaras e os jalecos.
- O índice de acidente foi de 32,82 % entre os trabalhadores, sendo
55,82% expostos uma vez e 41,86% mais de uma vez.
- O material biológico envolvido com maior freqüência foi o sangue,
em 73, 33% dos acidentes ocupacionais.
- O esquema completo para vacina contra hepatite B foi referido por
79,38%, porém, 9,16% referiram esquema incompleto e 2,30% não
receberam nenhuma dose.
- Quanto a sorologia (Anti-HbsAg) pós vacinal, 70,23% dos
profissionais a realizaram.
- 77,10% dos profissionais referiram ter recebido treinamento quanto
às medidas de biossegurança e saúde ocupacional ao ingressar no
serviço.
- Quanto ao manejo dos resíduos de serviço de saúde, 80,92% relataram
ter recebido orientação.
- 11,63% dos profissionais que referiram acidente ocupacional
apresentaram soroconversão para VHB e VHC.
Frente aos resultados obtidos, consideramos que o gerenciamento de resíduos
potencialmente infectantes e perfurocortantes em unidades de hemoterapias tem
exposto os profissionais ao risco de adquirir doenças infecciosas.
6 Considerações finais
Embora nos pareça que os resultados da pesquisa sejam elucidativos, é
importante alertar sobre a questão do gerenciamento dos resíduos de serviços de
saúde, considerando o impacto que os mesmos representam à saúde da população,
por um lado pelos possíveis agravos até o momento não mensurados e por outro
pelas especificidades das atividades desenvolvidas pelos prestadores de
serviços relacionados às unidades de hemoterapia, deixando de lado algumas
temáticas e discussões para a prática.
Todos as unidades geradoras de RSS têm sua responsabilidade frente ao problema
de saúde pública, uma vez que, o este tem reflexo direto na ecologia. Portando
é necessário que nos atentemos para esta e outras problemáticas passíveis de
intervenção.
Sob essa ótica, esta pesquisa traz contribuições de grande impacto para o
saneamento ambiental e para as doenças infecciosas relacionadas tanto ao
gerenciamento inadequado de resíduos potencialmente infectantes como aos
materiais perfurocortantes em unidades de hemoterapias e o seu reflexo nas
ciências da saúde, de significado epidemiológico indiscutível na população
intra e extra instituição geradora.
Consideramos relevantes e prementes a estruturação do PGRSS, nestes serviços,
bem como a elaboração de um cronograma direcionado as atividades de educação
permanente em serviço e a elaboração de um protocolo que auxiliem a compreensão
de todos os profissionais responsáveis pelo manuseio e gerenciamento dos
resíduos potencialmente infectantes e perfurocortantes nos serviços de
hemoterapias, com vistas a minimizar seus agravos e assegurar a saúde e a
qualidade de vida dos cidadãos.