Vivências de cuidados da mulher mastectomizada: uma pesquisa bibliográfica
REVISÃO
Vivências de cuidados da mulher mastectomizada: uma pesquisa bibliográfica
The experience of mastectomized woman: a bibliographic research
Vivências de la mujer mastectomizada: una investigación bibliográfica
Sandrine Gonçales PereiraI; Daniele Portella RosenheinII; Michele Salum
BulhosaIII; Valéria Lerch LunardiIV; Wilson Danilo Lunardi FilhoV
IEnfermeira. Ex-bolsista PIBIC/CNPq. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Enfermagem e Saúde - NEPES da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio
Grande, RS
IIAcadêmica de Enfermagem - FURG. Bolsista PIBIC/CNPq. Membro do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Enfermagem e Saúde - NEPES, Rio Grande, RS
IIIEnfermeira. Aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem - FURG. Membro do
NEPES/FURG, Rio Grande, RS
IVDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem - FURG. Membro
do NEPES/FURG, Rio Grande, RS
VDoutor em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem - FURG. Membro do
NEPES/FURG e do Grupo de Estudos em Organização e Trabalho em Enfermagem e
Saúde - GEPOTES/FURG, Rio Grande, RS
1. INTRODUÇÃO
O câncer é a segunda causa de morte por doença no Brasil, sendo a Região Sul a
que apresenta maior incidência. Dentre os cânceres, o câncer de mama é a maior
causa de mortes entre as mulheres. Estimativas apontam que, em 2005, seriam
descobertos, no Rio Grande do Sul, cerca de 91,43 casos de câncer de mama por
100.000 mulheres(1).
Esse grande número de mulheres com diagnóstico de câncer de mama exige dos
profissionais de saúde e, dentre estes, os de enfermagem, valorizar esta
problemática, identificando ações de prevenção, educação e cuidado. Não há uma
causa única e específica de câncer de mama, mas sim uma série de eventos
genéticos, hormonais e, possivelmente, ambientais que podem contribuir para o
seu desenvolvimento. Os cânceres de mama podem ocorrer em qualquer parte da
mama, mas a maioria surge no quadrante superior externo, onde há maior parte do
tecido mamário. Em geral, as lesões são insensíveis, fixas e rijas com bordas
irregulares(2).
Por sua vez, as mamas são vistas como símbolo da metamorfose feminina. Assim, o
enfrentamento de uma enfermidade nessa parte do corpo feminino impõe a vivência
de vários estágios, pois a mulher com suspeita de câncer de mama enfrenta
diferentes momentos, que vão desde a expectativa e o medo de estar com a doença
e o recebimento do diagnóstico até a procura por serviços que ofereçam
condições de reabilitação física, social e emocional, no caso de sua
confirmação(3-5).
O diagnóstico de câncer de mama e a possibilidade de mastectomia geram muitas
incertezas, medos e ansiedades. Estudos apontam para uma "seqüela psicológica",
a qual pode ser mais grave que a própria deformidade deixada pela mastectomia
(6). Portanto, sistematizar o conhecimento produzido acerca do cuidado destas
mulheres pode contribuir para a instrumentalização de profissionais que atuam
nessa área.
O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido à sua
alta freqüência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos. A sociedade
atribui uma importância fundamental às mamas femininas e, nos últimos tempos,
isso vem estimulando a vaidade da mulher, como forma de valorizar sua beleza,
visto que as normas sociais parecem determinar que a mulher necessita ter mamas
belas e cabelos longos para a construção da sua feminilidade(7).
Cada vez que lemos ou ouvimos falar sobre o problema do câncer de mama,
vivenciamos uma mistura de sentimentos e emoções, principalmente, se o fato
está ligado a pessoas famosas em nosso meio ou a alguém próximo de nós (8). A
transformação causada pelo câncer pode ser dolorosa, pois corrói tecidos, mas,
principalmente, corrompe valores e crenças, carregando ainda consigo
preconceito, discriminação e solidão(5,8).
A mastectomia é um dos tratamentos prováveis para a maioria das mulheres com
câncer de mama. Ao submeter-se à retirada da mama ou parte dela, certamente, a
mulher estará passando por uma grande mudança, vivenciando, assim, um
comprometimento físico, emocional e social(9). A cirurgia e sua associação a
outros tratamentos para o câncer podem interromper os hábitos de vida da
mulher, provocando alterações nas suas relações familiares e sociais, quase
sempre provenientes, também, de sentimentos de impotência e de frustração sobre
algo que foge ao seu controle, como o próprio temor da doença(10,11).
Nesse sentido, os profissionais da saúde, sobretudo os de enfermagem, precisam
investir esforços na prevenção do câncer de mama, orientando e auxiliando a
mulher na realização do auto-exame das mamas, bem como, quando se dá a
descoberta do nódulo e durante todo o tratamento, oferecendo-lhe assistência e
apoio. Tal assistência requer estar voltada não apenas ao cuidado físico, mas,
principalmente, para o cuidado emocional e cultural da mulher, buscando, assim,
reduzir sua ansiedade e oferecer maior segurança e conforto, tendo em vista que
cada mulher é um ser com sentimentos, costumes e vontades diferentes(12,13).
Assim, tivemos como objetivo geral conhecer a produção cientifica da enfermagem
brasileira, a partir de 1990, acerca do cuidado à mulher mastectomizada, e,
como objetivos específicos, conhecer as dificuldades e os sentimentos
enfrentados pela mulher mastectomizada e conhecer como os profissionais de
saúde, especificamente os de enfermagem, vêm construindo estratégias para
melhor cuidá-la.
2. CAMINHO METODOLÓGICO
Para realizar este estudo, foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, o
qual consiste no exame da bibliografia, para o levantamento e análise do que já
foi produzido sobre o assunto que assumimos como tema de pesquisa científica
(14). Tal método foi realizado em duas fases: a coleta de fontes
bibliográficas, na qual foi feito o levantamento da bibliografia existente e,
logo após, a coleta de informações, na qual foi realizado o levantamento dos
dados, fatos e informações contidas na bibliografia selecionada.
Para o levantamento da bibliografia, foram selecionados artigos publicados em
periódicos nacionais, a partir de 1990, devido ao aumento na taxa de
mortalidade por câncer de mama, entre os anos de 1979 e 2000. Logo, buscamos a
bibliografia dos últimos dez anos desse período e dos cinco anos subseqüentes,
ou seja, de 1990 a 2004, verificando se as estratégias de cuidado estão sendo
efetivas para diminuir a mortalidade por câncer de mama(12). A busca pelos
textos foi realizada a partir das seguintes palavras-chave: mulher, câncer de
mama, sentimentos, mastectomia, cuidado, de forma predominantemente manual e na
base de dados Scielo.
A partir do proposto por Salvador(15), foi feita uma leitura exploratória,
verificando se existiam ou não informações a respeito do tema proposto e de
acordo com os objetivos do estudo. Nessa leitura, foram selecionados 23
artigos. Logo após, foi realizada uma leitura seletiva, a partir da qual foi
determinado o material que seria utilizado na pesquisa, selecionando as
informações pertinentes de acordo, novamente, com os objetivos do estudo. Nessa
fase, foram selecionados 17 dos 23 artigos que abordavam o tema da pesquisa.
Dos artigos selecionados, foi realizada uma leitura crítica, com a necessária
imparcialidade e objetividade, buscando respostas aos objetivos da pesquisa e,
em seguida, uma leitura interpretativa, na qual foram relacionadas as
informações e idéias dos autores com os problemas para os quais se buscavam
soluções. Após a realização das leituras, foi elaborado um texto de análise dos
dados apresentado a seguir, a partir dos objetivos propostos, configurando-se
como: Sentimentos que o câncer de mama desperta na mulher; Dificuldades pós
mastectomia; Estratégias de cuidado à mulher mastectomizada.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3. 1 Sentimentos que o Câncer de Mama desperta na mulher
O câncer de mama é visto pela mulher como uma doença ameaçadora, devastadora,
horrível, apavorante, perigosa, triste, preocupante e incontrolável. Ao ser
diagnosticado, causa um inquestionável impacto tanto físico quanto emocional
para a mulher. Isso, talvez, porque é cultural que a mulher precisa ter mamas
saudáveis e que qualquer anormalidade poderá ser um fator de discriminação e de
sua desvalorização(7,16).
Dentre os tratamentos mais comuns para o câncer de mama, está a mastectomia, a
qual desperta uma diversificada gama de sentimentos. Assim, ao enfrentá-la, a
mulher percebe e tem sua integridade ameaçada e vivencia períodos de tensão e
de incertezas, que se manifestam desde a identificação de um nódulo ao
diagnóstico do câncer de mama e indicação de cirurgia para a realização de uma
possível mastectomia(10).
Os sentimentos que mais comumente são despertados em uma mulher ao ser
mastectomizada são o medo, a rejeição, a culpa e a perda(7,16). O medo parece
resultar de várias preocupações, mas o mais marcante parece ser o medo da
morte. Outro medo que a mulher expressa, ao ser mastectomizada, é o da rejeição
social. Esse medo parece fazer com que a própria mulher rejeite seu corpo, logo
após a mastectomia(16).
A perda da mama pode levar ao sentimento de mutilação ou até mesmo de
castração, significando a perda da feminilidade; é como se as mulheres
estivessem perdendo um ente querido. Diante de tal perda, muitas vezes, sentem-
se culpadas, atribuindo o aparecimento do câncer ao estilo de vida que levavam
e à influência do meio cultural em que se inserem, tais como: hábitos
alimentares, falta de cuidado com o corpo, estresse, herança familiar,
repressão de sentimentos e trauma físico(3,7,16).
Na visão de um grupo de mulheres mastectomizadas, os hábitos alimentares
representam uma das causas do aparecimento do câncer de mama, já que associam a
ingestão de comidas gordurosas e alimentos contaminados por agrotóxicos e
hormônios ao aparecimento de doenças como o câncer. Outro agente causador do
câncer de mama, segundo elas, é a falta de cuidado com o próprio corpo, ou
seja, as mulheres culpam-se por não terem adotado medidas preventivas.
A presença do estresse associada à herança familiar é, também, na concepção
dessas mulheres, um contribuinte para o surgimento do câncer de mama, assim
como a preocupação com a família e a repressão de sentimentos. Grande parte das
portadoras de câncer de mama reconhecem que não tem o hábito de expressar seus
sentimentos, de desabafar, preocupando-se apenas com o marido e os filhos,
esquecendo-se de si mesmas. Outras, ainda, associam o aparecimento do câncer a
algum trauma físico vivenciado previamente(3).
Assim, percebemos que é inquestionável a diversidade de sentimentos em uma
mulher que descobre o câncer de mama e que enfrentará uma mastectomia.
Sentimentos como o medo, a insegurança, a culpa, dentre outros, muito
possivelmente irão surgir e, cabe a nós, profissionais da saúde, estarmos
preparados e sensíveis para reconhecê-los, de modo a ajudá-la a enfrentar sua
realidade da maneira mais corajosa possível.
3.2 Dificuldades Pós-Matectomia
Muitas são as dificuldades enfrentadas pela mulher após a mastectomia,
responsáveis, especialmente, pelo comprometimento da sua auto-imagem,
decorrentes tanto da própria cirurgia e dos efeitos colaterais da quimioterapia
adjuvante como do preconceito e da dor e das dificuldades físicas que acarreta.
A análise desse material permitiu evidenciar a importância do trabalho da
enfermagem nas vivências de cuidado da mulher mastectomizada, para amenizar
essas dificuldades e fortalecê-la para o seu enfrentamento, de maneira menos
traumática.
3.2.1 O comprometimento da auto-imagem
A primeira grande dificuldade a ser enfrentada pelas mulheres, após uma
mastectomia, é sua própria aceitação, como de olhar-se no espelho e aceitar que
seu corpo está diferente, sem uma parte, que culturalmente representa a
feminilidade. A identificação da mutilação se dá pela percepção da assimetria
do corpo e pela visibilidade da cirurgia, o que para muitas, é um momento
agressivo à sua auto-imagem(9).
Para algumas mulheres, a mastectomia destrói a imagem corporal de maneira
abrupta. Diante disso, muitas vezes, a preocupação maior é com a mutilação, já
que a mama é um órgão que representa a maternidade, a estética e a sexualidade
femininas, do que com a própria doença, já que a sociedade ainda parece impor
que a morte é fato consumado para portadores de câncer. Para outras, a
incorporação da modificação corporal se dá de forma contínua e gradativa e a
imagem corporal e a auto-estima são construídas pelas experiências acumuladas
ao longo da vida, o que demonstra a necessidade de um tempo para assimilar sua
nova imagem corporal(5,9).
Após a realização da mastectomia, a mulher comumente encontra-se em um estado
de fragilidade emocional e é justamente nesse momento que ela se depara com
dificuldades que precisarão ser superadas para que possa viver o mais próximo
possível do que possa reconhecer como normalidade(7).
3.2.2 O enfrentamento dos efeitos colaterais da quimioterapia
É cada vez mais comum a indicação de quimioterapia antineoplásica para o câncer
de mama, por ser considerado uma doença sistêmica(7). A quimioterapia, então,
principalmente por seus efeitos colaterais, é uma outra dificuldade que muitas
mulheres mastectomizadas precisam enfrentar. A quimioterapia associada à
mastectomia potencializa a possibilidade de sobrevida da mulher, porém pode
comprometer sua qualidade de vida, uma vez que ela se sente amedrontada,
abalada e insegura, diante da vivência de efeitos colaterais, os quais
geralmente são agressivos tanto no plano físico quanto no psicológico(7,17).
Para algumas mulheres mastectomizadas, a alopécia, um dos efeitos colaterais do
tratamento quimioterápico, pode trazer maior sofrimento do que a própria
mastectomia já que, no contexto social, a perda do cabelo mostra o diferente, o
não belo, a pessoa inquestionavelmente adoecida, reforçando o sentimento de
compaixão sentido pelos outros e pela própria mulher(7), pois é cultural que o
gênero feminino exiba cabelos longos e bonitos, fato que dificulta a aceitação
da alopécia tanto pela mulher quanto pela sociedade.
Nesse sentido, os profissionais de saúde podem preparar a mulher para o
tratamento quimioterápico e para o enfrentamento de seus efeitos colaterais,
sobretudo a alopécia. Atualmente, é possível fazer perucas com o próprio
cabelo, mas, para isso, a mulher precisa ser informada do tratamento
quimioterápico e dessa possibilidade, antes da realização da mastectomia, para
que possa se preparar antecipadamente para a perda do cabelo e possíveis
cuidados. Além disso, é necessário reforçar constantemente que, após o
tratamento, o cabelo retorna naturalmente(7).
É importante ressaltar que, além dos efeitos colaterais associados à
quimioterapia, muitas mulheres encontram ainda outras dificuldades para sua
realização. Mulheres desfavorecidas economicamente precisam enfrentar a
burocracia para receber o tratamento adequado. Muitas vezes, faltam recursos
para o transporte até o local do tratamento, o que se constitui em fator
agravante para a situação de saúde em que se encontram.
3.2.3 O enfrentamento de preconceitos
O câncer de mama desperta diferentes reações e sentimentos nas pessoas, pois,
culturalmente, é uma doença marcante que pode levar à morte, podendo amedrontar
aqueles que se deparam com uma portadora dessa doença, possivelmente,
explicando o afastamento das pessoas, como expressão da dificuldade de lidarem
com uma situação de doença ameaçadora à vida(5,11).
O preconceito social é motivo de constrangimento para as mulheres
mastectomizadas, dificultando, ainda mais, o enfrentamento desta vivência. Para
elas, o conhecimento dos outros sobre seu diagnóstico atua como símbolo do
estigma da doença, associado, ainda, à iminência da morte(11).
O preconceito enfrentado pelas mulheres mastectomizadas contribui para que elas
sejam preconceituosas em relação ao seu próprio corpo, o que leva a outra
dificuldade a ser enfrentada no pós-operatório: o retorno à vida sexual. A
maioria delas tem vergonha de mostrar-se nua na frente de seus parceiros, pois
a sensação é de que, na situação em que se encontram, são menos mulheres,
preferindo, então, manter relações sexuais com um sutiã ou mesmo com uma
camiseta(5,18).
É importante lembrar que alguns parceiros de mulheres mastectomizadas lhes dão
apoio, não manifestando desconforto com a falta da mama, mesmo nas relações
sexuais. Entretanto, alguns se afastam das mulheres, a partir do diagnóstico do
câncer de mama, daí a insegurança que muitas delas sentem em relação ao seu
presente e futuro com seus parceiros. Tal situação faz com que muitas mulheres,
às vezes, ainda que com medo, optem pela reconstrução imediata da mama, seja
para a simples satisfação do cônjuge, seja para evitar o olhar preconceituoso
da sociedade, seja para reconhecer novamente sua feminilidade(19).
3.2.4 O enfrentamento da dor e das dificuldades físicas
A descoberta da necessidade de uma mastectomia é, geralmente, uma surpresa para
a mulher, tanto que ela comumente não tem tempo de se preparar para enfrentar a
situação. O preparo pré-operatório, tendo em vista a especificidade dessa
doença e seus efeitos psicológicos, comumente, é bastante precário e a mulher
vai para o centro cirúrgico sem saber o que irá acontecer consigo, se será
retirado apenas o nódulo, uma área maior ou toda a sua mama; se precisará de
tratamento posterior e quais cuidados precisará ter, ou seja, ela enfrenta a
mastectomia sem o preparo bio-psico-sócio-espiritual necessário, que é
fundamental para a diminuição de suas preocupações(5).
Assim, a falta de preparo para o enfrentamento da mastectomia contribui para o
agravamento das dificuldades emocionais e sociais e, além dessas, ao sair do
centro cirúrgico, ela precisa enfrentar, ainda, dificuldades físicas como a dor
e as limitações decorrentes da própria cirurgia(20). A informação da mulher
sobre seu diagnóstico e mastectomia, associada ao exercício do seu direito de
participação na escolha do tratamento, é uma estratégia que vem reduzindo o
grau de sua ansiedade, antes do enfrentamento do próprio procedimento(21,22).
Logo após uma mastectomia, a mulher tem algumas limitações e a necessidade de
realizar exercícios com o membro superior homolateral à mama mastectomizada e,
se esses cuidados não forem realizados corretamente, poderá surgir edema de
braço ou linfedema, o que pode representar mais um incômodo físico e emocional
para ela, já que lhe causa dano estético, vindo a ser foco de atenção e
curiosidade de outras pessoas, além de provocar prejuízo funcional do membro
afetado(20).
Linfedema e dor podem aumentar as dificuldades na realização das tarefas
rotineiras da mulher, o que pode contribuir para o agravamento de uma outra
dificuldade pós mastectomia: ter que permanecer em casa, que contribui para o
aumento da ansiedade e do sentimento de solidão, dificultando o tratamento.
Quando ocorre o linfedema pós mastectomia, a mulher requer um tempo maior para
retomar plenamente a realização de suas atividades diárias, seja no trabalho ou
em casa. Além disso, muitas vezes, é necessário que ela mude seu estilo de
roupas, podendo trazer perda do interesse com sua aparência e comprometimento
ainda maior da sua auto-estima, prejudicando seu relacionamento interpessoal e
sexual, podendo intensificar-se o desejo de morte(20,23).
3.3 Estratégias de cuidado à mulher mastectomizada
O cuidado de enfermagem à mulher necessita iniciar-se antes mesmo do
aparecimento do câncer de mama, quando são promovidas atividades de promoção da
saúde, prevenção, cura e reabilitação de doenças; na realização de consultas
ginecológicas e no incentivo ao auto-exame. Ao ser diagnosticado o câncer de
mama e a necessidade de uma mastectomia, o trabalho da enfermagem é muito mais
de incentivo e de suporte emocional para a mulher e sua família do que
propriamente curativo. Entretanto, percebe-se que pouco tem sido produzido a
respeito das estratégias de cuidado adotadas pela enfermagem à mulher
mastectomizada, as quais, sem dúvida alguma, contribuem para o sucesso do
tratamento.
A principal estratégia de cuidado são as atividades grupais, com as quais se
busca promover a auto-estima da mulher, contribuindo para sua qualidade de
vida. Os grupos de apoio são uma estratégia inovadora que vem sendo construída
e aprimorada a cada dia, sendo constituídos por uma equipe multiprofissional
(enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional, etc) que planeja atividades,
visando a promoção e reabilitação da saúde(13).
Nesses grupos, cada encontro tem um momento de educação em saúde, no qual são
abordados assuntos que ofereçam informações clínicas sobre o câncer de mama e a
mastectomia; espaço esse em que também se reforça a importância do auto-exame
para a prevenção do câncer e de sua reincidência. Num outro momento, é
trabalhada a reabilitação da mulher mastectomizada, realizando-se exercícios
para o membro homolateral à mama afetada. Durante o encontro, também, são
promovidas trocas de experiências entre as participantes, o que facilita o
enfrentamento da situação de saúde-doença de cada uma e, por fim, são
realizados exercícios de relaxamento e lazer(4).
Logo, se percebe que, nos grupos, a mulher é estimulada ao auto-cuidado; à
troca de experiências; à realização de exercícios físicos e de reabilitação,
tendo a oportunidade de expressar e, possivelmente, de sanar suas dúvidas com
os profissionais que promovem palestras e oficinas, de acordo com os interesses
do grande grupo(13). As mulheres compartilham suas experiências, percebendo que
não estão sozinhas no enfrentamento do câncer de mama; falam da doença e da
mastectomia sem medo da rejeição e do preconceito, surgindo daí, muitas vezes,
verdadeiras amizades(24).
As ações de enfermagem têm fundamental importância nas atividades grupais com
as mulheres mastectomizadas, no sentido de minimizar os conflitos
identificados, incentivando o auto-cuidado e valorizando cada participante como
um ser único, com seus medos e dúvidas. Assim, essa estratégia está
apresentando resultados positivos, uma vez que as mulheres, nos grupos, são
mais aceitas e fortemente estimuladas a enfrentarem as dificuldades do período
pós-mastectomia, contribuindo para uma melhor qualidade de vida(24).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dessa pesquisa bibliográfica, foi percebido que a mulher, ao descobrir
o câncer de mama e ao enfrentar uma mastectomia, apresenta uma mescla de
sentimentos e emoções, tais como: o medo, a rejeição, a culpa e a perda, os
quais, muitas vezes, podem não ser percebidos e valorizados pela equipe de
enfermagem que trabalha com essas mulheres, ou por seus familiares,
dificultando a realização do tratamento e o enfrentamento das vivências
presentes.
Foram identificadas inúmeras dificuldades enfrentadas pela mulher após a
mastectomia, tais como o comprometimento da sua auto-imagem; os efeitos
colaterais da quimioterapia adjuvante, destacando-se a alopécia; o preconceito;
a dor e as dificuldades físicas, mostrando que o trabalho da enfermagem é de
extrema importância para que essas vivências sejam amenizadas e enfrentadas da
maneira menos traumática possível.
Não se tem como negar que o aumento da sobrevida de portadoras de câncer de
mama é, hoje, uma realidade. Porém, ainda amedronta muitas mulheres, pois as
constantes revisões a que ficam submetidas para avaliar a progressão da doença
deixam-nas extremamente ansiosas, com dúvidas e incertezas sobre uma possível
recorrência. Assim, o despertar de sentimentos de desesperança, revolta e
desamparo e a sensação da proximidade da morte podem gerar acomodação e
indiferença e algumas mulheres podem não desejar mais viver e desistir de lutar
contra o câncer. Tal situação precisa levar os profissionais da saúde a buscar
estratégias que maximizem as vivências de cuidados oferecidos, contribuindo
para uma melhor qualidade de vida a essas mulheres(5,12).
Entretanto, pouco tem sido produzido a respeito das estratégias de cuidado
adotadas pela enfermagem para o trabalho com a mulher mastectomizada,
destacando-se as atividades grupais como a principal estratégia identificada.
Na caracterização dos grupos, foi encontrado que existe um momento de educação
em saúde, quando são abordados temas que oferecem informações clínicas sobre a
doença. Contudo, compreendemos que os demais momentos apresentados na
caracterização destes grupos também constituem espaços de educação em saúde
(exercícios de reabilitação, troca de experiências e exercícios de
relaxamento).
Pouco foi encontrado a respeito do trabalho realizado pela enfermagem no
preparo dos parceiros sexuais dessas mulheres para o enfrentamento desta
situação junto a elas, sem abandoná-las. Outra lacuna bibliográfica encontrada
durante a realização desse estudo e que pode vir a ser objeto de novos estudos
refere-se ao processo de reconstrução da mama, com a necessidade de respostas a
algumas questões, tais como: Quando a mulher decide reconstruir sua mama? O que
interfere nessa decisão? Qual a influência do parceiro sexual nessa decisão?
Diante do vivido pela mulher mastectomizada, a qual pode enfrentar, além do
mal-estar físico, o drama psicológico e emocional de padecer dessa doença, a
enfermagem, principalmente a enfermeira, tem uma importante missão, pois
enfrenta o desafio, no cuidado prestado, de buscar minimizar o sofrimento da
mulher. Seu trabalho requer valorizá-la e estimulá-la a transformar seu medo em
força de sobrevivência, favorecendo sua adesão e participação no decorrer do
tratamento, para obter maior sucesso. Assim, o cuidado à mulher mastectomizada
é um desafio para a equipe de enfermagem, uma vez que sua sensibilidade, as
ameaças à sua auto-estima, à sua sexualidade e à sua vida necessitam ser
consideradas e valorizadas, pelos profissionais, durante todo o tratamento.
Portanto, a enfermagem necessita traçar um plano de cuidados à mulher, que
ofereça suporte informativo com relação ao câncer, aos tratamentos recomendados
e cuidados com o membro correspondente à mama afetada e que proporcione maior
tranqüilidade e conforto; estimule a expressão de sentimentos e pensamentos aos
outros; a ajude na construção de alternativas viáveis para minimizar a
alteração na imagem corporal; a incentive na execução de atividades
ocupacionais que reduzam a tensão emocional e encorajem a sua participação em
grupos de auto-ajuda (25).