Aspiração orotraqueal em bebês: implicações nos parâmetros fisiológicos e
intervenções de enfermagem
INTRODUÇÃO
Imediatamente após o nascimento, o recém-nascido (RN) precisa assumir as
funções vitais até então realizadas pela placenta intra-útero, dando início a
um período crítico de adaptações. Entre as alterações mais importantes
ocorridas nesse período está a transição para uma respiração independente, no
intuito de disponibilizar oxigênio para as células e tecidos corporais.
Contudo, alguns RNs têm dificuldade de iniciar o processo de respiração ou
desenvolvem complicações após o mesmo ser estabelecido. Estima-se que os
distúrbios respiratórios são responsáveis por 30 a 40% das admissões
hospitalares no período neonatal(1) .
As complicações respiratórias no período neonatal são muito frequentes e, em
geral, para assegurar a sobrevivência dos bebês acometidos, há necessidade de
que alguma modalidade de oxigenoterapia seja estabelecida.
O termo oxigenoterapia se refere ao uso do oxigênio com finalidades
terapêuticas, no intuito de reverter e prevenir situações de hipóxia, através
da utilização de concentrações de oxigênio superiores a 21%(2).
São diversas as modalidades de administração de oxigênio, sendo as mais
frequentes de uso neonatal: oxi-hood, pressão positiva contínua em vias aéreas
(CPAP) por via nasal e ventilação pulmonar mecânica (VPM).
Diante de situações de sofrimento respiratório, muitas vezes os RNs podem ser
caracterizados como uma clientela de alto risco que necessita de intervenções
imediatas e tratamentos intensivos.
Nesse sentido, tem-se na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) um
ambiente terapêutico apropriado para o tratamento desses neonatos, por se
tratar de uma unidade hospitalar de alta complexidade assistencial, devido à
gravidade das condições de vitalidade de seus clientes e à crescente
incorporação de tecnologia em saúde, levando ao aumento nas taxas de
sobrevivência dos bebês atendidos(3-4).
Na maioria das vezes, esses RNs necessitam de longos períodos de
hospitalização, sendo submetidos a inúmeros procedimentos invasivos e,
possivelmente, dolorosos(5).
No ambiente da UTIN, o recém-nascido está exposto à execução de procedimentos
técnicos que fazem parte do cuidar da enfermagem e que buscam garantir a
recuperação e a manutenção do seu estado de saúde.
Entre os procedimentos assistenciais realizados pelos enfermeiros (as) na UTIN
encontra-se a aspiração de secreções do tubo orotraqueal (TOT) e das vias
aéreas superiores (VAS). A realização dessa tarefa é fundamental para a
manutenção da permeabilidade das vias aéreas, proporcionando condições para que
ocorra uma boa ventilação, independente do tipo de suporte ventilatório
utilizado.
A aspiração de secreções não é um procedimento isento de riscos e, por isso,
deve ser realizada de acordo com a necessidade do paciente, empregando técnica
asséptica, evitando lesionar as mucosas traqueais e de VAS e minimizando a
ocorrência repercussões respiratórias e hemodinâmicas(6).
Alguns RNs, por conta de seu estado de saúde, são mais manipulados do que
outros e, por isso, requerem uma atenção maior do profissional em relação às
suas respostas frente aos procedimentos aos quais são submetidos, pois, na
medida em que é impossibilitado de comunicar-se verbalmente, o bebê exprime o
que está sentido através da comunicação não-verbal, seja através de sinais
fisiológicos ou de alterações em seu comportamento e expressão.
Diante da necessidade de se estabelecer relações entre os cuidados de
enfermagem e as alterações sofridas pelos bebês, resolveu-se realizar o
presente estudo, que teve como objetivos identificar o perfil clínico de bebês
sob oxigenoterapia internados em UTIN e investigar as intervenções realizadas
pelo (a) enfermeiro (a) em resposta às alterações fisiológicas manifestadas
pelos bebês sob oxigenoterapia internados em UTIN durante a realização do
procedimento de aspiração de TOT e/ou VAS.
MÉTODO
Tratou-se de uma pesquisa do tipo quantitativa, transversal e exploratório-
descritiva. A abordagem descritiva conduz a uma investigação que observa,
descreve e classifica os atributos mensuráveis, como predominância e
frequência, dos fenômenos relacionados à profissão de enfermagem(7).
O estudo foi desenvolvido durante o período de novembro/2008 a janeiro/2009 em
duas UTINs de uma maternidade pública federal do município de Fortaleza-CE,
considerada de nível terciário por ser referência em atendimento obstétrico e
neonatal de alta complexidade.
A população se constituiu de todos os RNs admitidos nas UTINs que foram
submetidos à oxigenoterapia. Estudos apontam que após a extubação há o risco de
que ocorram complicações como laringoespasmo e edema pulmonar, sendo
consideradas críticas as primeiras seis horas pós-extubação(8).
Portanto, os critérios de inclusão dos bebês foram a permanência do mesmo sob
oxigenoterapia por oxi-hood, CPAP ou VPM, com tempo de uso mínimo de seis horas
para descartar possíveis complicações que interferissem na coleta dos dados;
bebês após as seis primeiras horas de vida, permitindo que o mesmo se adaptasse
melhor ao meio extra-uterino, independente da idade gestacional. Com isso,
evitou-se avaliar os bebês durante os períodos de reatividade neonatal, quando
os RNs apresentam alterações previsíveis nas respostas fisiológicas e
comportamentais, com frequências e ritmos cardiopulmonares irregulares. Após
esse período, o RN torna-se mais estável e a frequência cardíaca e respiratória
se normaliza(9).
Foram considerados como critérios de exclusão condições de instabilidade
clínica ou que repercutissem diretamente no sistema cardiorrespiratório, como
bebês portadores de cardiopatias, hipertensão pulmonar, mal-formação congênita,
filhos de mãe usuárias de drogas e em estado de hipertermia. Obedecendo-se os
critérios de inclusão e exclusão, foram avaliados 56 bebês durante a realização
de aspiração de TOT e/ou VAS.
Além dos RNs, constituíram sujeitos da pesquisa as enfermeiras assistenciais
das UTINs em questão, por serem as responsáveis pela prestação de cuidados
complexos aos recém-nascidos. Participaram do estudo seis enfermeiras e sua
inclusão se deu mediante o interesse e a aceitação em participar do estudo,
além de fazerem parte das escalas dos turnos da manhã e/ou da tarde nas
referidas unidades, períodos em que foi realizada a coleta dos dados, a qual se
deu através do preenchimento de dois instrumentos previamente elaborados em
forma de roteiro sistemático.
O primeiro instrumento contemplava os dados acerca do perfil clínico-
epidemiológico dos bebês, abordando variáveis relacionadas aos dados
obstétricos, demográficos, perinatais, características da oxigenoterapia e
entidades mórbidas diagnosticadas, os quais foram extraídos dos prontuários dos
bebês.
O segundo instrumento objetivou identificar as intervenções realizadas pelas
enfermeiras durante o procedimento de aspiração de TOT e/ou VAS em resposta às
alterações dos parâmetros fisiológicos apresentadas pelo bebê. Para tanto, os
bebês foram avaliados imediatamente antes e imediatamente após a realização do
procedimento em relação aos seguintes parâmetros fisiológicos: saturação de
oxigênio (SatO2) e pulso, observados através do monitor da oximetria de pulso;
frequência respiratória (FR) e frequência cardíaca (FC), mensuradas pela
pesquisadora utilizando a observação direta dos movimentos respiratórios e o
estetoscópio neonatal, respectivamente. Em acréscimo, durante o procedimento
foram observadas reações como queda na SatO2, pulsos máximo e mínimo,
ocorrência de apnéia e ocorrência de cianose.
Para a realização do presente estudo, foram considerados como as seguintes
faixas de normalidade para os parâmetros fisiológicos: FC e pulso entre 120 e
160 batimentos por minuto (bpm), FR entre 40 e 60 movimentos respiratórios por
minuto (mrpm) e SatO2 entre 85 e 95%(10).
Diante das alterações sofridas pelos bebês registrou-se que tipo de intervenção
as enfermeiras realizaram, sendo enumeradas previamente as seguintes ações:
utilização de O2 inalatório; aumento do O2/FiO2; posicionamento do RN; ambuzar
o RN com ambú manual; ambuzar o RN na própria VPM; comunicar ao plantonista;
não faz nenhuma intervenção. A técnica de pesquisa utilizada para a coleta de
dados nessa etapa foi a observação não participante, em que o pesquisador
presencia o fato, mas não participa dele(7), embasando-se na observação
sistemática dos procedimentos e intervenções das enfermeiras.
Os dados quantitativos foram organizados e processados em tabelas. Utilizou-se
a estatística descritiva para a apresentação dos resultados na forma de
frequências absolutas e relativas. A análise foi pautada na literatura mais
recente pertinente ao tema.
Foram respeitados os aspectos éticos e legais que envolvem pesquisas com seres
humanos, conforme as normas e diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde Ministério da Saúde(11). Solicitou-se aos pais ou
responsáveis pelos bebês e enfermeiras que assinassem um termo de consentimento
livre e esclarecido que assegurava a preservação de suas identidades, a
acessibilidade aos dados em qualquer fase da pesquisa e a liberdade de
desistirem da pesquisa em qualquer momento sem prejuízo algum.
Ressalta-se que o projeto de pesquisa foi encaminhado para apreciação e
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição onde ocorreu o
estudo, obtendo parecer favorável conforme expedido no ofício nº123/08.
RESULTADOS
Quanto à apresentação dos dados referentes ao perfil clínico-epidemiológico dos
bebês avaliados, verificou-se que 28 (50,0%) eram do sexo masculino e 28
(50,0%) do sexo feminino; 29 (51,7%) nasceram por parto do tipo cesáreo e 23
(41,0%) por parto normal; 19 (34,0%) foram classificados como Pequenos para a
Idade Gestacional, 35 (62,5%) como Adequados para a Idade Gestacional e um bebê
era Grande para a Idade Gestacional. Em relação ao peso ao nascer, 21 (37,5%)
eram de muitíssimo baixo peso ao nascer (com peso de nascimento inferior a
1000g), 18 (32,1%) eram de muito baixo peso ao nascer (peso de nascimento
inferior a 1500g), 10 (17,9%) eram de baixo peso ao nascer (peso de nascimento
inferior a 2500g) e apenas 5 (8,9%) bebês se encontravam na faixa de
normalidade de 2500 a 4000g, além de um bebê que apresentou peso superior,
pesando 4005g.
No que diz respeito à idade gestacional (IG) calculada pelo método do Capurro,
apenas 4 (7,1%) bebês eram a termo e em um prontuário não havia registro da IG
do RN, apesar de se tratar de um dado imprescindível no momento da decisão das
condutas terapêuticas a serem tomadas. Dos prematuros, 24 (42,9%) eram
prematuros extremos, com IG inferior ou igual a 30 semanas, 24 (42,9%) eram
prematuros moderados, com IG entre 31 e 34 semanas, e 3 (5,3%) eram prematuros
limítrofes, com IG entre 35 e 36 semanas.
No primeiro minuto de vida, a maioria dos RNs, 23 (44,6%), apresen-taram uma
boa vitalidade. Obteve-se, ainda, uma homogeneidade entre os grupos de anóxia
moderada/deprimido e anóxia grave/intensamente deprimidos, com 15 (26,7%) bebês
cada grupo. No quinto minuto de vida, houve um aumento no número de RNs que
melhoraram seu estado clínico, sendo 45 (80,0%) bebês classificados como com
boa vitalidade, 6 (11,7%) como anoxiados moderados/deprimidos e apenas 2 (3,3%)
continuaram em estado de anóxia grave/intensamente deprimidos.
Quanto aos diagnósticos médicos atribuídos aos bebês até o momento da coleta de
dados, encontrou-se que os mais prevalentes foram a prematuridade e a síndrome
do desconforto respiratório, presentes respectivamente em 92,8% e 100,0% da
amostra. Outro diagnóstico importante, por aumentar o risco de complicações
durante a internação hospitalar, foi a infecção neonatal e esteve presente em
56,6% da amostra.
No que diz respeito à modalidade de oxigenoterapia utilizada pelo bebê no
momento da coleta de dados, observa-se que a metade dos RNs avaliados estava
sob VPM, sendo representada por 28 (50,0%) bebês. Sob CPAP nasal foram
avaliados 15 (26,8%) bebês e sob oxi-hood foram avaliados 13 (23,2%) bebês.
A seguir, os dados da Tabela_1 apresentam a distribuição dos bebês estudados
quanto aos parâmetros fisiológicos imediatamente antes e imediatamente após a
realização da aspiração do TOT e/ou VAS.
Percebe-se na Tabela_2 que os parâmetros fisiológicos que se apresentaram
alterados foram queda na SatO2 com 34 (65,4%) entre 85-95; aumento do pulso com
15 bebês (35,7%) e diminuição de pulso com 24 (61,5%) entre 71-119bpm e três
casos de cianose (5,3%). A maior parte das intervenções realizadas pelo
enfermeiro foi recolocar o capacete de hood ou a pronga nasal (23/39,6%) e (25/
43,1%) não realizaram nenhuma intervenção.
DISCUSSÃO
Ao se discutir variáveis que envolvem os dados da criança ao nascer, percebe-se
a importância destes no processo de adoecimento ou não. O peso ao nascer e a
idade gestacional são importantes indicadores para a morbimortalidade neonatal,
assim como são imprescindíveis na determi-nação dos cuidados que o RN irá
necessitar. Entre-tanto, é necessário observar que, para uma melhor ava-liação
dos riscos, deve-se agregar a esses dados os parâmetros fisiológicos que
refletem o estado clínico inicial do bebê(12).
Porém, vários estudos revelam haver um aumento nas taxas de morbimorta-lidade e
atrasos no desen-volvimento neurocomporta-mental em RNs prematuros e com baixos
pesos ao nascer, sendo essa relação inversamente proporcional, ou seja, quanto
menores a idade gestacional e o peso ao nascer maiores são as complicações(11-
13).
Outro aspecto relevante sobre a condição do RN ao nascer é escore obtido pelos
bebês no Boletim de Apgar. O boletim de Apgar é um índice muito utilizado para
mensurar a vitalidade do RN após o parto, através da avaliação da FC,
respiração, irritabilidade reflexa, tônus muscular e cor no 1º e no 5º minuto
de vida do RN. Um índice de Apgar menor que três no 5º minuto normalmente
indica evidências de asfixia, no entanto, índices de Apgar baixos em RNs
prematuros podem não indicar asfixia, pois os mesmos, por sua própria natureza,
são hipotônicos, com extremidades cianóticas e possuem baixa resposta aos
estímulos(14).
Além desses aspectos, se faz importante ressaltar que a presença de certas
impressões diagnósticas médicas e as terapêuticas utilizadas com esses bebês
podem prever o quadro de saúde, considerando sua internação e possibilidades de
intervenções e procedimentos invasivos ou não, que tem como objetivo minimizar
o quadro mórbido dessas crianças, buscando sua cura. Observa-se que dos bebês
estudados, a maioria se encontrava em oxigenoterapia por VPM (50,0%) e os
diagnósticos que prevaleceram foram a prematuridade (92,8%) e a síndrome do
desconforto respiratório (100,0%), sendo compreensível a relação direta entre
as duas situações. A SDR acomete cerca de 50% dos RNPT menores de 1500g, e os
óbitos e as complicações associadas à doença ocorrem, em geral, durante a fase
aguda da insuficiência respiratória. Nessa patologia há uma deficiência
quantitativa da película tensoativa chamada de surfactante, devido à
insuficiência de produção por conta dos pulmões imaturos, resultando em
alterações na relação ventilação-perfusão pulmonares, provocando a hipoxemia,
hipercapnia e acidose(15).
Conforme o quadro clínico apresentado por cada bebê são traçados planos de
cuidados e realizadas várias intervenções de enfermagem para a melhoria de sua
saúde. Nesse contexto estão os procedimentos de VAS e/ou TOT, assim como o
monitoramento dos parâmetros fisiológicos (FC, FR, SatO2 e pulso).
Quando se busca, neste estudo, mostrar a caracterização dos parâmetros
fisiológicos (tabela_1), observa-se que em relação à FC, antes da aspiração, a
maioria dos bebês, 43 (76,8%) encontrava-se normocárdica, apenas 3 (5,4%)
apresentavam bradicardia e 10 (17,8%) estavam taquicárdicos. Após o
procedimento, houve uma diminuição para 33 (58,9%) na quantidade de bebês
normocárdicos; entretanto dobrou o número de bebês taquicárdicos, 20 (35,7%).
Analisando individualmente cada caso, constatou-se que 41 (73,2%) bebês tiveram
sua FC aumentada após o procedimento de aspiração.
Quanto à FR antes da aspiração, obteve-se certa homogeneidade na distribuição
dos bebês, estando 20 (35,8%) eupnéicos, 18 (32,1%) bradipnéicos e 18 (32,1%)
taquipnéicos. Porém, após o procedimento, houve um aumento no número de bebês
eupnéicos, com um total de 26 (46,5%), e uma diminuição tanto no número de
bradipnéicos quanto de taquipnéicos, com um total de 17 (30,3%) e 13 (23,2%)
respectivamente. Porém, analisando-se individualmente cada bebê pesquisado,
encontrou-se que 27 (48,2%) bebês tiveram sua FR diminuída após a aspiração, o
que se pode entender como uma melhora no esforço respiratório que poderia estar
sendo agravado devido à retenção de secreções nas vias aéreas, que leva a um
aumento da frequência respiratória na tentativa de expelir o gás carbônico
retido.
A respeito da SatO2, antes da realização da aspiração, a maior parte dos bebês,
50 (89,3%), encontrava-se em estado de hiperoxigenação, 5 (8,9%) estavam dentro
dos padrões de normalidade e apenas um bebê encontrava-se em estado de hipo-
oxigenação com a SatO2 de 67%. Após o procedimento houve um aumento no número
de bebês que se enquadravam dentro dos padrões de normalidade, 10 (17,9%), mas
46 (82,1%) ainda encontravam-se hiperoxigenados.
Quanto ao pulso, a maior parte dos bebês permaneceu dentro das faixas de
normalidade tanto antes como após o procedimento, num total de 36 (64,3%) e 34
(60,7%) bebês em estado de normosfigmia respectivamente. Houve uma discreta
diminuição no número de bebês bradisfígmicos e um aumento também discreto no
número de bebês taquisfígmicos após a realização da aspiração.
A realização cuidadosa da aspiração é a melhor maneira de evitar ou minimizar
as complicações e reações adversas. Entre tantas medidas, a pré-oxigenação
auxilia na minimização da incidência de hipoxemia durante o procedimento, que
pode levar à ocorrência de arritmias cardíacas. A estimulação mecânica das vias
aéreas também pode causar arritmias, como por exemplo, a estimulação vagal, que
leva à bradicardia, e a taquicardia, que pode ser decorrente da agitação, dor e
da hipoxemia do paciente(16).
Ao se enfatizar os dados da tabela_2 que explana as alterações identificadas
nos parâmetros fisiológicos, do total de bebês avaliados, 52 apresentaram queda
na SatO2 em relação ao valor registrado imediatamente antes do início do
procedimento. Desses, a maioria, 34 (65,4%), apesar de apresentarem uma
diminuição da oxigenação, continuaram dentro dos padrões de normalidade e 9
(17,3%) continuaram hiperoxigenados. Apenas 9 (17,3%) bebês apresentaram quedas
significativas na SatO2. Isso se deve tanto ao fato de que grande parte dos
bebês já se encontrava hiperoxigenados antes do procedimento quanto ao fato de
que, em todas as aspirações acompanhadas em que o bebê estava sob VPM, houve
utilização do sistema fechado de aspiração, conhecido como trach-care.
Na técnica de aspiração pelo sistema aberto, é necessária a desconexão do
paciente do ventilador mecânico para que se possa introduzir, de forma
asséptica, a sonda para sucção das secreções. O tempo maior de afastamento do
aparelho de ventilação mecânica pode levar o individuo à hipoxemia, o que não
ocorre no uso de trach-care.
Em relação ao pulso, 42 bebês sofreram aumento na frequência de pulso, sendo
que desses, 26 (61,9%) ficaram em estado de taquisfigmia, 15 (35,7%)
permaneceram dentro das faixas de normalidade e um bebê, apesar de ter o pulso
aumentado, continuou em estado de bradisfigmia.
Ainda se tratando do pulso, 39 bebês tiveram diminuição do mesmo, ficando a
maioria, 24 (61,5%) em estado de bradisfigmia e 15 (38,5%) permaneceram dentro
dos padrões.
Apenas 3 (5,3%) bebês apresentaram cianose durante a aspiração. Nenhum caso de
apnéia foi registrado.
Em pesquisa realizada em 2007 sobre as respostas fisiológicas dos RNs frente
aos cuidados do (a) enfermeiro (a), observou-se que as alterações na frequência
cardíaca e na saturação de oxigênio são as reações mais frequentes, também
registrando casos de cianose, porém em menor proporção. Segundo os autores, é
de suma importância a monitorização do bebê para visualização de suas reações
em momentos de estresse, já que a FC e a SatO2 podem ser alteradas por
estímulos endógenos ou exógenos, variando sua intensidade de acordo com cada
bebê(17).
No que se refere às intervenções realizadas pelas enfermeiras durante a
aspiração de TOT e/ou VAS, observou-se que em 25 (43,1%) casos nenhuma medida
específica foi realizada, ou por ter sido entendido não haver necessidade ou
porque houve um retorno espontâneo aos valores fisiológicos dos parâmetros
avaliados; em 23 (39,6%) casos as enfermeiras recolocaram o capacete ou a
pronga nasal, intercalando os períodos de aspiração (em bebês em uso de oxi-
hood e CPAP nasal respectivamente) para que os mesmos não ficassem sem suporte
ventilatório durante a realização de todo o procedimento; em 5 (8,6%) e 2
(3,4%) casos foi necessário ambuzar o bebê através da máquina de ventilação
mecânica e ambuzar através do ambú manual respectivamente, sendo um dos casos o
que ocorreu cianose, e em 2 casos (3,4%) foi necessário aumentar a FiO2. As
últimas intervenções citadas foram todas realizadas em bebês em uso de VPM. Em
apenas um caso de bebê em uso de oxi-hood foi necessária a utilização de O2
inalatório.
Alguns métodos de prevenção da hipoxemia, durante realização de procedimentos,
têm sido propostos por sua eficiência, entre eles estão a hiperoxigenação, que
consiste na administração de uma FiO2 maior do que a que o paciente vinha
utilizando; hiperinflação, que é a inflação pulmonar com um volume maior do que
o volume corrente estabelecido, não implicando em alterações da FiO2; e
hiperoxigenação com hiperinflação, que consiste numa associação dos dois
métodos descritos anteriormente. A hiperoxigenação e/ou hiperinflação podem ser
realizadas através do ventilador do próprio paciente ou de bolsas de
ressuscitação manual(18). Um estudo avaliou 313 aspirações de VAS, em que, em
92,31% dos casos, foi necessária a utilização de ambú para hiperinsuflação nos
intervalos das aspirações com resultados eficazes(19).
Já outros autores afirmam que, diante de situações de diminuição da saturação
de oxigênio, como as ocasionadas por realização de procedimentos, seria mais
apropriado aumentar transitoriamente a pressão expiratória final positiva
(PEEP) e a FR para manter um volume pulmonar adequado, do que aumentar a FiO2,
mas se isso for realizado, que se aumente gradualmente de 5% a 10% por vez. Já
em episódios de apnéia, o ideal seria aumentar a FR, realizar estimulação tátil
e em casos graves iniciar a ventilação com ambú manual, porém mantendo a mesma
FiO2 de antes do episódio(20).
Observa-se que existe certa divergência sobre as melhores formas de intervenção
em casos de diminuição da SatO2 devido à realização de procedimentos, sendo que
algumas correntes defendem a hiperoxigenação e/ou hiperinflação, já outras,
mais conservadoras, apontam que a melhor saída seja manter os valores de FiO2 e
aumentar transitoriamente a PEEP e a FR, o que não foi visto em nenhum dos
casos observados.
CONCLUSÕES
O estudo evidenciou que, quanto às características gerais dos RNs em uso de
oxigenoterapia na UTIN e que foram submetidos à aspiração de TOT e/ou VAS, a
grande maioria se tratava de bebês prematuros e com peso inferior aos limites
aceitáveis ao nascer, mas que se classificavam como AIG. Devido ao estado
generalizado de imaturidade dos sistemas corporais, principalmente o do trato
respiratório, a maior parte dos bebês eram acometidos pela síndrome do
desconforto respiratório.
Conhecer o perfil dos bebês que fazem uso de oxigenoterapia ajuda o (a)
enfermeiro (a) a nortear a sistematização dos cuidados a serem desenvolvidos e,
assim, melhorar a assistência de enfermagem prestada.
O procedimento de aspiração de TOT e/ou VAS é um muito frequente em unidades de
alto risco, sendo realizado de acordo com a rotina da instituição e de acordo
com a necessidade de cada bebê, principalmente quando o bebê está sob VPM. Nas
outras modalidades de oxigenoterapia, observa-se uma necessidade menor no
número de aspirações por dia, sendo esta tarefa, muitas vezes delegada aos
demais integrantes da equipe de enfermagem ou ao fisioterapeuta, caso o
atendimento por esse profissional esteja prescrito para o bebê.
Percebeu-se que a aspiração é um procedimento de grande impacto sobre o estado
respiratório e hemodinâmico do bebê e que causa grandes alterações nos
parâmetros fisiológicos. Os resultados obtidos mostram que a aspiração de TOT
e/ou VAS, em geral, causa aumento da FC e pulso e diminuição da FR após a sua
realização, e, durante a sua execução, causa quedas na SatO2 e variações
extremas no pulso.
Antes e após os procedimentos acompanhados, a maioria dos bebês encontrava-se
em estado de hiperoxigenação, fato preocupante ao se levar em consideração os
potenciais efeitos tóxicos do uso do oxigênio em grandes concentrações e
durante longos períodos de tempo. É comum observar que os profissionais
demonstraram grande preocupação nos casos em que algum bebê se encontra
hipossaturando, porém os estados de hiperoxigenação não lhes chamam tanto a
atenção. Isto pode trazer graves consequências a esses bebês, que passam a
receber altas concentrações de oxigênio durante o prolongado tempo de
internação hospitalar.
Em relação às intervenções das enfermeiras frente às alterações manifestadas
pelos RNs foi predominante a não-realização de alguma intervenção específica
que tivesse como objetivo a melhora dos parâmetros do bebê. A maior parte das
intervenções realizadas estava relacionada aos bebês em uso de CPAP nasal ou
oxi-hood, cujos períodos de aspiração foram intercalados com períodos de
reposição do suporte ventilatório.
O (a) enfermeiro (a) neonatologista deve ter um profundo conhecimento técnico-
científico para estar seguro sobre suas opções assistenciais. Com sua vivência
prática bem fundamentada em argumentos cientificamente indicados, o (a)
enfermeiro (a) respalda sua atuação e garante que a assistência prestada ao RN
sob oxigenoterapia seja otimizada, diminuindo e prevenindo possíveis
complicações decorrentes da própria terapia ou do manuseio desses RNs durante
os cuidados de enfermagem necessários de serem executados. Sugere-se que novas
pesquisas sejam realizadas sobre o tema com amostras maiores e em cenários
regionais diferentes para que se busquem comparar de forma mais ampliada o
cuidado prestado ao RN em oxigenoterapia.