Contato precoce pele a pele entre mãe e filho: significado para mães e
contribuições para a enfermagem
INTRODUÇÃO
A promoção do contato pele-a-pele entre mãe-filho tem sido objeto de trabalhos
científicos que comprovam os benefícios fisiológicos e psicossociais, tanto
para a saúde da mãe quanto para a do recém-nascido(1-2). A mesma deve ser
estimulada desde os primeiros minutos de vida, necessita ser respeitado na sua
individualidade e magia, que envolve o binômio mãe-filho neste momento(2).
Após o nascimento, o recém-nascido passa por uma fase denominada inatividade
alerta, com duração média de quarenta minutos, na qual se preconiza a redução
de procedimentos de rotina, em recém-nascido de baixo risco(1) Nesta fase, o
contato mãe-filho deve ser proporcionado, por tratar-se de um período de alerta
que serve para o reconhecimento das partes, ocorrendo a exploração do corpo da
mãe pelo bebê(1).
O contato pele a pele mãe-filho deve iniciar imediatamente após o nascimento,
ser contínuo, prolongado e estabelecido entre toda a mãe-filho saudáveis(2,3).
O contato pele-a-pele acalma o bebê e a mãe que entram em sintonia única
proporcionada por esse momento; auxilia na estabilização sanguínea, dos
batimentos cardíacos e respiração da criança; reduz o choro e o estresse do
recém-nascido com menor perda de energia e mantém o bebê aquecido pela
transmissão de calor de sua mãe(2-3).
A amamentação se destaca como benefício do contato imediato ao tornar a sucção
eficiente e eficaz, aumenta a prevalência e duração da lactação, além de
influenciar de forma positiva a relação mãe-filho(4).
É salutar a recompensa que a amamentação promove entre mãe e filho; o contato
íntimo, freqüente e prolongado repercute no estreito e forte laço de união
entre eles. Esta maior ligação mãe-filho possibilita uma melhor compreensão das
necessidades do bebê, o que facilita o desempenho do papel de mãe e auxilia na
transição gradual do bebê de dentro para fora da barriga(5).
Comprovados os benefícios imunológicos, nutricionais e psicossociais da
amamentação tanto para a mulher como para a criança, esforços têm sido
empreendidos no sentido de promover, proteger e apoiar a prática do aleitamento
materno, destacando-se a implementação de políticas e ações para propiciar à
criança o melhor início de vida possível(6). Insere-se neste contexto a
Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) lançada em 1991 e adotada por mais
de 20.000 hospitais credenciados em mais de 156 países nos últimos 15 anos(7).
Os "Dez Passos para o Sucesso no Aleitamento Materno" são a base da IHAC, da
OMS/UNICEF, que resumem as práticas necessárias a serem desenvolvidas nas
maternidades, para o apoio ao aleitamento materno(8). Dentre estas práticas,
encontramos no quarto passo: "Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na
primeira meia-hora após o nascimento"; a qual é interpretada na atualidade pela
OMS/UNICEF (2008) como "Colocar os bebês em contato pele-a-pele com suas mães
imediatamente após o parto durante pelo menos uma hora e encorajar as mães a
reconhecerem quando seus bebês estão prontos para mamarem oferecendo ajuda, se
necessário"(3).
No Brasil, de 1992 a 2004 foram credenciados 312 Hospitais Amigos da Criança,
distribuídos em 24 estados e no Distrito Federal. Destes, 1 foi descredenciado
e 10 foram desativados, sendo importante ressaltar que o Brasil é o único país
no mundo a exigir o cumprimento desses requisitos no processo de credenciamento
da IHAC(9). Em Santa Catarina, existem atualmente 19 instituições credenciadas
com o título, entre eles o Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de
São Tiago, local de desenvolvimento deste estudo.
Para o sucesso do credenciamento, alguns fatores são fundamentais: o
treinamento de toda a equipe que trabalha com mães e bebês, a sensibilização do
dirigente do hospital e das chefias de serviços da maternidade, pois é consenso
que rotinas e práticas hospitalares inadequadas podem acabar introduzindo o
desmame precoce(9).
Alguns hábitos, muito disseminados entre as maternidades, resultam na
prorrogação do início do contato precoce mãe-filho. Dentre as rotinas dos
cuidados imediatos ao recém-nascido encontramos: receber o neonato em posição
Trendelemburg, secar, aspirar e avaliar o recém-nascido, realizar o exame
físico seguido do banho de imersão, verificar os dados antropométricos e
administrar medicamentos. A maior incidência de cesarianas, que diminui o
estado de alerta do bebê após o nascimento e a grande disseminação de
analgesias de parto, que resultam em sonolência materna; também dificultam a
realização do contato precoce pele a pele mãe-filho(10-11).
Por outro lado, casos são descritos em que o contato precoce não pode ser
realizado imediatamente após o processo de parir, quando a vitalidade do bebê
encontra-se prejudicada e/ou momentos de fragilidade da mulher. O contato deve
ser retomado assim que mãe-filho estiverem em condições físicas e emocionais
adequadas e deve ser prolongado até que seja suficiente para ambas as partes
(3).
Os profissionais de saúde possuem um papel determinante na realização do
contato precoce pele a pele. Podem estimular e facilitar o contato com a
prorrogação dos cuidados de rotina e suporte profissional ou trazer prejuízos
pelo desrespeito aos mecanismos fisiológicos do recém-nascido e as evidências
científicas sobre o aleitamento materno(1,8).
Como suporte do profissional de saúde no momento do nascimento, é preciso
oferecer tempo e ambiente tranquilo, auxiliar a mãe a posicionar-se
confortavelmente, atentar para o estado de alerta e procura do bebê destacando
os comportamentos positivos, favorecer a confiança materna e evitar manobras
que apressem o bebê na amamentação(3).
A partir da vivência das acadêmicas ao assistir diversas situações de parto e
reconhecer o contato pele a pele precoce mãe-filho como um momento único e
especial no processo de nascimento, instigadas em analisar esse momento por uma
perspectiva materna pela necessidade de ouvir seus anseios e percepções sobre a
importância desta vivência dentro de um Hospital Amigo da Criança, emergiu o
interesse em pesquisar sobre o assunto e a pergunta de pesquisa: Qual o
significado para as mães do contato pele-a-pele mãe-filho na primeira hora após
o nascimento? Como ocorre o estabelecimento do contato pele-a-pele mãe-filho e
de que modo a enfermagem pode contribuir?
Para tanto, traçamos como objetivos deste estudo: Compreender o significado do
contato precoce pele-a-pele mãe-filho para o ser-mãe; Identificar
características do estabelecimento do contato pele-a-pele do binômio mãe-filho
(tempo para início, duração e motivos para o término do contato) e as
contribuições da enfermagem para este procedimento na primeira hora após o
nascimento.
MÉTODO
Para o embasamento teórico-filosófico e metodológico deste estudo, optamos pela
Teoria de Enfermagem Humanística de Paterson e Zderad. Nesta teoria, a
enfermagem é compreendida como uma disciplina que possibilita estabelecer uma
relação intersubjetiva entre o ser cuidador e o ser que é cuidado, num
determinado tempo e espaço vividos. É considerada essencialmente como um
encontro vivido e dialogado entre seres humanos que entram em relação contendo
esta, todos os potenciais humanos e limitações de cada participante único(12-
13).
Portanto é uma teoria voltada para a vivência de cada indivíduo, preocupando-se
em explorar as experiências humanas, dando ênfase ao significado da vida, à
natureza do diálogo e à importância do campo perceptivo. Desta forma, cada
mulher é considerada um ser único e traz consigo suas experiências, vivências e
visão de mundo no momento do nascimento, tendo diferentes compreensões e
significados ao primeiro contato com seu filho(14).
Trata-se de um estudo descritivo, de natureza qualitativa, tendo como
referencial metodológico a Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA) proposta por
Trentini e Paim(15). A opção por este referencial se fez a partir da
necessidade sentida de articular teoria e prática na construção do conhecimento
em Enfermagem uma vez que, segundo suas autoras, esta modalidade de pesquisa
procura manter em todas as fases do processo investigativo uma estreita relação
com a prática assistencial, tendo como finalidade "encontrar alternativas para
solucionar ou minimizar problemas, realizar mudanças e introduzir inovações na
prática"(15).
Para a formulação da PCA, as autoras sugerem algumas fases a serem seguidas,
como: fase de concepção, instrumentação, perscrutação, análise e interpretação.
Cada uma dessas fases tem suas subdivisões, facilitando o seu desenvolvimento.
É importante destacar que estes passos não são, necessariamente, lineares, eles
ocorreram concomitantemente durante a pesquisa(15).
A fase de concepção envolveu o início da pesquisa, a concepção do tema, sua
lapidação e foi desenvolvida com base na trajetória das pesquisadoras. Nesta
fase a escolha do tema foi justificada, o problema de pesquisa foi definido e a
busca pelo material teórico para suporte realizada(15).
Seguiu-se a fase de instrumentação ao traçar os procedimentos metodológicos da
pesquisa determinando o local, os participantes e as técnicas de obtenção e
análise dos dados(15).
O cenário escolhido foi o Centro Obstétrico e Unidade de Alojamento Conjunto da
Maternidade do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago
da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC), que presta assistência à
saúde da população e desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Os sujeitos significativos foram mulheres que tiveram parto normal no Centro
Obstétrico desta Maternidade e mantiveram contato pele a pele com seu filho na
primeira hora após o parto, no período de abril e maio de 2009, com as quais as
acadêmicas tiveram contato direto durante o processo do trabalho de parto e
pós-parto imediato podendo observar o período de contato pele-a-pele.
O número de sujeitos definiu-se à medida que as informações foram sendo
saturadas, ficando assim, condicionada à compreensão do fenômeno o que se deu
ao completar nove sujeitos significativos, que serão identificados através de
letras, visando manter o sigilo da identidade das participantes
Durante a fase de perscrutação, a coleta e a análise dos dados ocorreram
simultaneamente. No processo de apreensão foram realizadas entrevistas
individuais gravadas (NE) com a utilização de um roteiro semi-estruturado, a
fim de garantir o não distanciamento do tema a ser investigado e a aquisição
dos dados de forma integral; além de obter dados de observações (NO) e notas de
diários (ND) no momento do primeiro contato pele a pele mãe-filho, no Centro
Obstétrico(15).
As entrevistas individuais ocorreram durante a permanência das mulheres no
Alojamento Conjunto, ao aceitarem participar voluntariamente da pesquisa, após
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
As fases de análise e interpretação compõem-se dos processos de apreensão,
síntese, teorização e recontextualização; o qual permitiu total domínio do tema
em investigação, pela profunda familiaridade alcançada com as informações
coletadas. Os dados obtidos em campo foram relacionados aos dados encontrados
na literatura e a transferência dos resultados da pesquisa pôde dar significado
ao que foi encontrado, justificando as mudanças no contato pele a pele mãe-
filho, percebidos na equipe(15).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Santa Catarina, sob o número 064/09 colocar o número do
CAEE, respeitando as questões éticas nos termos da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, posteriormente a autorização da instituição a ser pesquisada
(16).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O conteúdo das entrevistas realizadas, após o estabelecimento de uma relação
através do encontro vivido e dialogado entre as autoras e as mulheres, foi
possível identificar, como resultados, as seguintes categorias: Orientações
acerca do contato pele-a-pele precoce mãe-filho antes do nascimento;
Estabelecimento do contato pele-a-pele mãe-filho; Significado do contato pele-
a-pele precoce mãe-filho para o ser-mãe e Contribuições da Enfermagem no
estabelecimento do contato precoce pele-a-pele mãe-filho. Antes, porém,
apresentamos as características sociodemográficas das mulheres entrevistadas
(Quadro_1).
Com base nos dados coletados das entrevistadas foi possível descrever um perfil
baseado nas experiências individuais, que formam as características
sociodemográficas das mesmas. A idade variou entre 15 e 36 anos, sendo a média
de idade das entrevistadas de 23 anos. Das nove entrevistadas apenas uma era
casada, as demais mantinham união estável com seus companheiros. Sobre o nível
de escolaridade das puérperas, encontramos diferenças consideráveis, sendo que
duas não haviam concluído o ensino fundamental, duas o haviam concluído, três
possuíam o ensino médio incompleto, uma o ensino médio completo e uma havia
cursado o ensino superior.
Quanto às vivências do ciclo gravídico-puerperal, observamos o planejamento da
gestação em quatro entrevistadas, este mesmo número foi identificado nas
gestações não planejadas, acrescido de uma mulher que não soube afirmar sobre o
planejamento da gestação, justificando que não utilizava nenhuma forma de
contracepção. Com relação à paridade, observamos que a experiência do primeiro
parto foi identificada em sete entrevistadas.
Os sentimentos que permearam a descoberta da gestação foram descritos como
felicidade em cinco mulheres entrevistadas, uma referiu sentir-se assustada,
duas relataram ambos os sentimentos descritos anteriormente e uma apresentou em
sua narrativa desespero.
Os diferentes sentimentos expressados podem ser explicados pelo referencial
teórico, pelas diferentes relações interpessoais que as mulheres estabelecem
com suas famílias e comunidade. O tempo vivido decorrido até a aceitação da
gestação é diferente pra cada mulher(12).
Esses sentimentos ficam evidentes nos discursos a seguir:
Fiquei bem feliz, mas fiquei pensando se era bem isso mesmo que eu
queria. Naquela hora, não fiquei em dúvida nem nada, mas na hora eu
levei um choque sabe? Mas foi o primeiro mês, depois fiquei bem
feliz. (Puérpera G)
Nossa... desespero né? No começo, até o quarto mês eu não aceitava.
Mas depois comecei a aceitar. (Puérpera C)
Orientações acerca do contato pele-a-pele precoce mãe-filho antes do
nascimento
Na obtenção de informações na relação eu-nós, proposta por Paterson e Zderad, o
indivíduo se relaciona com os outros, formando sua identidade através desta
vivência, vindo a ser mais(12). Todas as mulheres entrevistadas realizaram pré-
natal e, nesta vivência, ao serem questionadas sobre as informações que
receberam acerca do contato pele-a-pele, apenas duas referiram terem sido
informadas da possibilidade de ter o bebê colocado em seu colo no momento do
nascimento.
Fiz, umas cinco consultas. Ele (o médico) falou que se fosse parto
normal iam colocar o bebê em cima de mim pra ele sentir a minha pele
(Puérpera D).
As informações sobre o contato pele-a-pele também estiveram presentes durante o
itinerário percorrido na gestação. Uma das mulheres mencionou ter recebido
informações através de amigas e familiares que já haviam passado pela
experiência do contato pele-a-pele mãe-filho, duas mulheres receberam a
informação através da participação em grupos de gestantes e três mulheres foram
informadas no momento da internação no Centro Obstétrico.
Fiz (pré-natal), mas não falaram não, eu fiquei sabendo por pessoas
que já tinham ganho bebê aqui, mãe, amigas, parentes que já tinham
falado [...] (Puérpera E)
Dentre os objetivos do pré-natal e grupos de gestantes está o favorecimento da
compreensão de novas vivências pelas quais a gestante e seus familiares irão
passar, não só em relação à gestação, mas também ao parto e pós-parto(17-18). É
na ocasião do pré-natal que surge a possibilidade de elucidar, pela primeira
vez, a questão do contato pele-a-pele mãe-filho.
Estabelecimento do contato pele-a-pele mãe-filho
No estabelecimento do contato pele-a-pele constatamos em cinco casos o contato
imediato, nos demais, o início demorou de três a dez minutos, tendo como motivo
a necessidade de atendimento ao recém-nascido devido a hipoatividade, cianose,
baixa oxigenação ou ausência de choro.
O índice de Apgar manteve-se acima de sete no primeiro minuto e acima de oito
no quinto minuto em todos os nascimentos, não havendo necessidade de
intervenções invasivas. O atendimento limitou-se a estimulação tátil e
aquecimento do recém-nascido.
Segundo a UNICEF/OMS, em sua atual interpretação sobre o quarto passo dos "Dez
Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno", os bebês devem ser colocados
junto à mãe de forma contínua, nos primeiros minutos de vida, encorajar as mães
no reconhecimento de seus bebês quanto à amamentação, sendo preconizado o
contato continuado por pelo menos uma hora. Identificamos neste estudo que
nenhum contato atingiu o tempo preconizado(3).
Os motivos para o término do contato variam desde o pedido da mãe até a
solicitação da equipe multidisciplinar para o início dos cuidados a serem
prestados ao bebê, o qual foi observado na maior parte das vezes. Percebemos
que esta remoção tem como fundamento a ansiedade da equipe e a pressa em
realizar os primeiros cuidados ao recém-nascido, principalmente quando os
nascimentos ocorrem no final do turno ou quando há sobrecarga de trabalho no
setor.
Salientamos a redução das separações desnecessárias entre o binômio mãe-filho
com a diminuição dos procedimentos realizados no pós-parto imediato, ao
estritamente necessário, quando se tratar de um bebê de baixo risco(1).
Durante a realização de uma reunião com a equipe de enfermagem do setor,
observamos, como resultado de nossa presença e intervenção no desenvolvimento
da PCA, a equipe levantar a possibilidade de transferir a realização do banho
para a Unidade de Alojamento Conjunto. Esta prática pode diminuir a ansiedade
dos profissionais e facilitar a promoção e a maior duração do contato pele-a-
pele mãe-filho. O banho do recém-nascido deve ser realizado de 2 a 6 horas após
o nascimento, quando a temperatura encontra-se estável(19).
Significado do contato pele-a-pele precoce mãe-filho para o ser-mãe
As entrevistadas descrevem o significado e a importância do contato pele-a-pele
mãe-filho em discursos bastante heterogêneos, que abrangeram desde a
naturalidade do momento, a felicidade, até o alívio e a força proporcionados
pelo contato; evidenciado no discurso a seguir.
Aí vem uma sensação boa, um sentimento de alívio, e uma felicidade.
(...) é uma coisa muito natural, assim é natural. (Puérpera G)
Esta heterogeneidade pode estar relacionada às diferentes vivências/
experiências pessoais de cada indivíduo, levando a uma singularidade do
momento, inclusive para mulheres que já haviam passado pela experiência de
descobrir-se mãe(12).
Através dos discursos das mulheres podemos perceber o contato pele-a-pele como
um momento único, em que acontece o primeiro reconhecimento do bebê e que a
mulher pode pela primeira vez, apreciar o seu filho e vivenciar fortes
sentimentos de emoção, referenciados de diferentes maneiras. O momento do
nascimento como um encontro íntimo e profundo entre mãe e filho, que traduz
toda a espera decorrida da gestação(20).
[...] tava no meu instinto, acho que isso é mesmo instinto de cuidar,
analisar, ver os detalhes, a mãozinha, a unha que já era grande, o
cabelinho, ver que ele me procurava com os olhos quando eu falava,
ver que primeiro ele abriu um olhinho[...] (Puérpera I )
O momento do nascimento gera grande expectativa na mãe, não só durante o
trabalho de parto e parto, mas durante toda a gestação, quando ela se pergunta
se o bebê que está por vir será da forma que ela imagina(21). É neste primeiro
contato que a mulher tem a oportunidade de ver, por si própria e não por relato
dos profissionais, os detalhes de seus bebês, já buscando encontrar semelhanças
deste novo ser com seus familiares(22-23).
A realização do contato pele-a-pele precoce mãe-filho "transmite para mãe
tranqüilidade e segurança, pois neste momento ela pode sentir, ver, segurar o
seu bebê, e toda a ansiedade e curiosidade pode ser sanada"(20).
O sentimento de alívio observado em todas as mulheres após o nascimento de seu
bebê é mais evidente após o início do contato pele-a-pele e tem relação com o
efeito fisiológico da ocitocina enquanto antagonista da adrenalina, o que reduz
a ansiedade materna e proporciona alívio(24).
(Significou) força. Foi muito importante, porque no momento que eu tava
sentindo a dor assim, eu pensei em desistir, mas no momento que eu vi ele valeu
a pena. (Puérpera D)
Algumas mulheres demonstraram dificuldade em expressar o que havia significado
esse momento, como em:
Não sei, não caiu a ficha ainda... é muito bom né? Dá pra sentir ela
assim... (Puérpera C)
Sei lá, não tem explicação, é muito bom, muito bom (Puérpera D)
Todas as mulheres consideraram que o momento para início do contato pele-a-pele
foi o mais propício, sendo descrito como ideal. Somente aspectos positivos são
encontrados, nos discursos das mulheres entrevistadas.
Ele nasceu, aí levaram pra dentro e trouxeram depois, ai ficou, bem a
vontade [...] Foi (o melhor momento), bem interessante. (Puérpera G)
Entre as mulheres que o contato não ocorreu de forma imediata após o
nascimento, não são percebidos aspectos negativos quanto à assistência prestada
pelos profissionais de saúde ao recém-nascido, anteriormente ao contato pele-a-
pele.
Contribuições da Enfermagem no estabelecimento do contato precoce
pele-a-pele mãe-filho
No que diz respeito às contribuições da enfermagem no estabelecimento do
contato pele-a-pele, todas as mulheres consideram o atendimento eficaz. Ao
serem questionadas sobre o que poderia ser feito para a melhora desta
assistência, oito disseram ser suficiente e não souberam colocar como poderia
ter sido de melhor maneira. Uma delas justificou não ter informações sobre seus
direitos, a fim de avaliar o atendimento.
[...] elas auxiliam, ajudam a colocar no peito, elas conversam, ficam
ali te dando carinho, te dando apoio o tempo todo, é importante
demais pra mim que já tenho (filho), imagina pra quem tem o primeiro
e está meio perdida sem saber o que fazer. (Puérpera F)
O apoio da equipe de enfermagem é importante neste momento de transição, em que
a mulher passa a ser mãe e nutriz.(25) É a enfermagem que tem a oportunidade de
proporcionar o início do contato e de auxiliar a mulher neste primeiro
reconhecimento de mãe-filho, agora fora do ventre(26).
Fui acolhida, tu te sente muito bem, muito à vontade, foi ótimo. Me
ajudaram desde o começo, lá no trabalho de parto, fazendo massagem,
estimulando os exercícios [...] Toda a equipe foi maravilhosa comigo.
(Puérpera I)
A importância da presença da equipe de enfermagem no momento em que a mulher se
torna mãe proporciona mais segurança e liberdade para a mulher solicitar ajuda,
sempre que necessário(27).
Outra mudança percebida na prática assistencial da equipe de enfermagem, como
resultado da PCA, foi identificada após conversas informais e reuniões, ao
apresentar a importância e instigar uma reflexão da equipe, sobre o contato
precoce pele-a-pele. A equipe demonstrou-se mais atenta durante a assistência
prestada ao binômio no estabelecimento do contato pele-a-pele mãe-filho,
incluindo este contato como uma rotina no setor, devendo ser respeitado sempre
que possível.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo possibilitou, de um lado, compreender o significado
do contato precoce pele-a-pele mãe-filho para o ser-mãe evidenciando a
importância dessa vivência de forma plena, ainda na sala de parto. Um momento
natural, belo e exclusivo, de reconhecimento familiar, permeado de significados
e benefícios para os dois seres ali envolvidos: o ser-mãe e o ser-filho.
Por outro lado, permitiu identificar o modo como é estabelecido o contato pele-
a-pele do binômio mãe-filho (tempo para início, duração, motivos para o término
do contato) e as contribuições da Enfermagem para este procedimento na primeira
hora após o nascimento.
No estabelecimento do contato pele-a-pele precoce mãe-filho houve o cumprimento
do quarto passo nos "Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno"(3) da
OMS/UNICEF, porém o tempo não alcançou mais de quarenta minutos, enquanto o
preconizado seria de uma hora. Isto demonstra um distanciamento entre o modelo
proposto e as práticas atuais consolidadas no cotidiano dos profissionais de
saúde, atuantes na maternidade em questão. Apesar destes fatos identificados a
avaliação da atuação da equipe de enfermagem sempre foi positiva pelas mulheres
entrevistadas.
Como proposta da PCA, as pesquisadoras foram integrantes da equipe de
enfermagem, o que possibilitou perceber as dificuldades inerentes à prática
assistencial. Uma relação por vezes conflituosa, ao desenvolver suas atividades
com profissionais formados para atuar de diferentes maneiras no evento do
nascimento, com práticas intervencionistas que dificultam o contato pele-a-pele
precoce mãe-filho. O diálogo com a equipe multidisciplinar foi necessário para
que a coleta de dados pudesse ser realizada e permitiu reflexões da equipe, que
resultaram em modificações sobre a assistência prestada ao binômio mãe-filho,
no momento do nascimento.
O suporte profissional prestado no estabelecimento do contato pele-a-pele
precoce mãe-filho, a promoção de ações de cuidado no ambiente envolvido e
interação com o binômio visando à realização mínima de intervenções e auxílio
no reconhecimento mãe-filho, podem ser o caminho para alcançar aquilo que se
recomenda na atualidade e que possui evidente importância materna.
Acreditamos que a educação continuada com os profissionais de saúde e a
renovação dos saberes, pode resultar na melhoria da qualidade da assistência
prestada, além do reconhecimento e consolidação do exercício da profissão de
enfermagem.