Espaçamento para o cultivo da bananeira 'Comprida verdadeira' (Musa AAB) na
zona da mata sul de Pernambuco (1º Ciclo)
Espaçamento para o cultivo da bananeira 'Comprida verdadeira' (Musa AAB) na
zona da mata sul de Pernambuco (1° Ciclo)1INTRODUÇÃO
O Brasil destaca-se como o terceiro produtor mundial de banana, com uma
produção de 6,34 milhões de toneladas, segundo dados da FAO (2001). Não se
sabe, entretanto, quanto desse total corresponde às bananas de cozinhar e
fritar do grupo AAB, conhecidas mundialmente como "plátanos". É certo que as
regiões Nordeste e Norte concentram os maiores plantios desse tipo de banana,
que é importante fonte de alimento para todas as camadas sociais da população.
Embora Pernambuco seja um dos maiores produtores de banana do País [36,9
milhões de cachos, em 2000, conforme IBGE (2001)], cerca de 86% das bananas do
tipo "plátano" que consome, são importadas de outros Estados, como Alagoas e
Bahia (Ceagepe, 1996). Existem poucas informações acerca do cultivo desse tipo
de banana no Brasil, e o uso de tecnologias é extrapolado a partir de outras
variedades. Com relação ao manejo de touceiras, os estudos são ainda exíguos,
possivelmente devido aos problemas peculiares da própria conformação genética
do subgrupo Plátano (afloramento de rizoma e elevada suscetibilidade à broca-
do-rizoma e nematóides), que faz com que a condução das plantas se torne
bastante trabalhosa.
A maioria dos trabalhos sobre densidade de plantio e espaçamento foi realizada
em outros países, sobretudo da América Latina e África. Tézenas du Montcel
(1987) recomenda, para os países africanos, densidades que vão de 1.500 até
3.000 plantas/ha, dependendo do tipo de "plátano" cultivado. O espaçamento pode
variar de 2,0 x 1,8 m até 3,0 x 2,0 m, sendo usado o sistema tradicional de
condução de touceiras. Añez et al. (1991) testaram na Venezuela 11 diferentes
distâncias de plantio e concluíram que os rendimentos do "plátano" 'Hartón'
aumentaram proporcionalmente com o aumento das distâncias. Na Colômbia,
Belalcazar Carvajal et al. (1994a, 1994b) constataram que, para o "plátano"
'Dominico Hartón', o espaçamento de 3,0 x 2,0 m, e a densidade de 1.666
plantas/ha, com um rebento por touceira em explorações perenes, ou as altas
densidades no mesmo espaçamento (3.332 e 4.490 plantas/ha com duas e três
plantas por touceira, respectivamente), em explorações anuais, são as mais
recomendadas para obtenção de elevadas produções. No Brasil, em ensaio para
definição de espaçamento, adubação e calagem da planta-mãe da bananeira-
'Comprida Verdadeira', Cavalcante et al. (1981) encontraram melhores resultados
na distância de 3,0 x 2,0 m, entre três espaçamentos testados (3,0 x 2,0 a 4,0
m). Alves & Oliveira (1999) recomendam densidades de 1.111 a 3.333 plantas/
ha para as cultivares Terra e Maranhão, e 1.666 a 4.998 plantas/ha para
'd'Angola' e 'Terrinha', com dois seguidores.
O objetivo deste trabalho foi definir o melhor espaçamento no desenvolvimento e
rendimento da bananeira-'Comprida Verdadeira' na Zona da Mata Sul de
Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Engenho Amorinhas, localizado no Município de
Amaraji, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, que se situa a 8°22'45"S,
35°27'00"W e a uma altitude de 180 m. O clima da região é tropical quente e
úmido, de transição entre As' e Ams' (classificação de Köppen), com
pluviosidade e temperatura médias anuais de 2.007mm e 24°C, respectivamente. O
solo é do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico. O material genético
utilizado foi a bananeira tipo French 'Comprida Verdadeira' (Musa AAB, subgrupo
Plátano), também conhecido como 'Samburá' ou 'Sete Palmas', sendo a cultivar
desse subgrupo mais plantada no Estado. O delineamento experimental foi o de
blocos ao acaso, com três tratamentos, constituídos por três espaçamentos (3,0
x 2,0 m, 2,5 x 2,0 m e 2,0 x 2,0 m) e três repetições. Cada parcela foi formada
por 35 plantas (espaçamentos 2,5 x 2,0 m e 2,0 x 2,0 m) e 28 plantas
(espaçamento 3,0 x 2,0 m), sendo 15 consideradas úteis no espaçamento 2,0 x 2,0
m, 10 no espaçamento 3,0 x 2,0 m e 12 no espaçamento 2,5 x 2,0 m, de modo que a
área útil de cada parcela foi de 60 m², independentemente do tratamento.
O plantio foi realizado em covas de 0,40 x 0,40 x 0,40 m e as mudas utilizadas
foram do tipo pedaço de rizoma, com aproximadamente 1,0 kg. As plantas foram
conduzidas sob regime de irrigação por aspersão sobcopa e submetidas aos tratos
culturais e fitossanitários recomendados para a cultura (Alves & Oliveira,
1999). As fertilizações mineral e orgânica foram realizadas conforme
recomendação de Gonzaga Neto et al. (1998) para uso em bananeira irrigada no
Estado de Pernambuco. Foram avaliadas as seguintes características: altura da
planta no florescimento; número de filhos e de folhas até a colheita; número de
dias do plantio ao florescimento e à colheita; peso do cacho e das pencas,
número de pencas e frutos por cacho; comprimento e diâmetro do fruto e
espessura da casca. Os dados foram submetidos à análise estatística e as médias
foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com respeito ao número de dias do plantio à emissão da inflorescência e até a
colheita, não houve diferença entre os tratamentos estudados (Tabela_1). Em
relação à altura da planta, aquelas conduzidas no espaçamento 3,0 x 2,0 m
alcançaram o maior porte (2,70 m), sem diferir daquelas cultivadas no
espaçamento 2,5 x 2,0 m (2,67 m). Já no tratamento mais adensado, o porte foi
mais reduzido (2,54 m). Comportamento semelhante foi observado para a
circunferência do pseudocaule. As bananeiras conduzidas em espaçamentos maiores
podem ter sofrido maior incidência de luz, o que promoveu mais desenvolvimento
das plantas, sem que o crescimento estivesse associado a estiolamento, como
pode ser comprovado pelos valores da circunferência do pseudocaule. Essa mesma
explicação pode ser aplicada a algumas características de produção e físicas do
fruto mencionadas adiante.
Não houve diferença para número de filhos emitidos até a colheita e de folhas
em nenhum espaçamento. No que concerne às características de rendimento (Tabela
2), não houve diferença na produtividade, mesmo quando foi utilizado o sistema
de condução mais adensado; entretanto, quando se avaliou a produção em peso de
cacho por planta, observou-se que as plantas no espaçamento 3,0 x 2,0 m
alcançaram o valor mais alto (17,8 kg), diferindo significativamente das
plantas no espaçamento 2,0 x 2,0 m, que obtiveram uma produção de 14,4 kg. Esse
mesmo comportamento foi observado para o peso das pencas. Em relação ao número
de pencas e de frutos por cacho, não foi encontrada diferença entre os
tratamentos. Resultados semelhantes também foram obtidos por Reyes &
Armijos (1998) para o "plátano" 'Barraganete', no Equador, onde os cachos de
menor peso também foram obtidos em plantios mais adensados. Em avaliações
realizadas na Colômbia por Belalcázar Carvajal & Cayón Salinas (1998),
verificou-se que, no primeiro ciclo de produção, o "plátano" 'Dominico Hartón'
cultivado no espaçamento 3,0 x 2,0 m, com uma planta por touceira, alcançou uma
produtividade de 23,2 t/ha, enquanto sob altas densidades registraram-se
valores de até 51,8 t/ha, Os cachos obtidos em plantios muito adensados
apresentaram menores pesos em todos os ciclos de produção.
Quanto às características físicas do fruto (Tabela_3), notou-se que, para o
peso do fruto, as plantas conduzidas na distância 3,0 x 2,0 m obtiveram a maior
média (208,50 g), que não diferiu das plantas no espaçamento 2,5 x 2,0 m
(193,48 g), mas que foi sensivelmente maior que as do 2,0 x 2,0 m (170,68 g),
havendo diferença entre os mesmos. Comportamento similar foi registrado para
comprimento e diâmetro do fruto, para os quais as plantas do espaçamento 3,0 x
2,0 m alcançaram os maiores valores médios (23,34 cm e 39,15 mm,
respectivamente), embora não tenham diferido das plantas na distância 2,5 x 2,0
m, que obtiveram para essas mesmas variáveis os valores de 22,70 cm e 36,60 mm,
respectivamente. Os frutos avaliados nas plantas do espaçamento 2,0 x 2,0 m
apresentaram os menores comprimento e diâmetro (21,34 cm e 36,67 mm,
respectivamente), diferindo significativamente dos demais. A espessura da casca
não apresentou diferença entre todos os tratamentos.
CONCLUSÃO
Nas condições do presente estudo, os espaçamentos 3,0 x 2,0 m e 2,5 x 2,0 m
promovem a produção de cachos maiores, bem como de frutos com melhores
características físicas (maiores peso e tamanho) no primeiro ciclo de cultivo
da bananeira-'Comprida Verdadeira', sem prejudicar a produtividade, quando
comparados ao espaçamento 2,0 x 2,0m.