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BrBRCVHe0034-71672004000500003

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National varietyBr
Year2004
SourceScielo

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Avaliação nutricional de crianças de seis a sessenta meses PESQUISA

Avaliação nutricional de crianças de seis a sessenta meses

Evaluación nutricional de niños en edades de seis a sesenta meses

Nutritional evaluation of children aged from six to sixty months

Francisca Georgina Macedo de SousaI; Thelma Leite de AraújoII IEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora da Disciplina Enfermagem Pediátrica do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão.

E-mail do autor: fgeorgina@bol.com.br IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UFC

1 Introdução A vigilância e a monitorização do crescimento constituem ações fundamentais no atendimento à criança. O crescimento é um processo bastante sensível às diversidades do meio onde a criança cresce e deve ser utilizado como indicador da saúde infantil. A avaliação do crescimento é a medida que melhor define a saúde e o estado nutricional de crianças, que distúrbios na saúde e nutrição, independentemente de suas etiologias, afetam o crescimento infantil (1). A maioria dos problemas de saúde e nutrição durante a infância, na opinião dos mesmos autores, está relacionada ao consumo alimentar inadequado e às infecções de repetição. Essas duas condições são descritas como resultado do padrão de vida da população, que inclui dificuldades sociais e econômicas que se refletem em condições inadequadas de moradia, comprometem a aquisição de uma alimentação balanceada e dificultam o acesso aos serviços de saúde(2).

Acrescenta-se, ainda, que os distúrbios nutricionais da infância têm conseqüências sérias que tornam imperativos a sua prevenção e o seu controle.

Ainda destacamos o aumento nas taxas de doença e de morte e os danos permanentes ao desenvolvimento físico e intelectual como os resultados negativos mais observados(3). Dessa forma, a avaliação do crescimento infantil é também uma medida indireta da qualidade de vida da população(4). São destacadas entre as finalidades da avaliação do estado nutricional, a triagem da população para cuidado individual de saúde, a identificação de mudanças tendenciosas no estado nutricional, o planejamento e acompanhamento de programas, a política para alimentação e nutrição e o estabelecimento de um sistema de alarme precoce(5).

Para determinar o estado nutricional, a avaliação antropométrica destaca-se como um dos indicadores de saúde da criança. É enfatizada como importante instrumento epidemiológico, de fácil aplicabilidade e compreensão, com a vantagem de ser um método que permite rápida avaliação, é barato e não invasivo, fornecendo uma estimativa da prevalência e gravidade das alterações nutricionais.

Pela aferição do peso e da altura podem ser calculados três índices antropométricos mais freqüentemente empregados na avaliação nutricional: peso/ idade, estatura/idade e peso/estatura e, a partir daí se definir que sistema para avaliação será utilizado. Assim, relacionamos as metodologias mais utilizadas para avaliação da situação nutricional em crianças.

A metodologia que tinha a função de determinar o prognóstico de morbi- mortalidade de crianças hospitalizadas de acordo com sua condição nutricional.

No entanto, esse critério passou a ser utilizado na avaliação nutricional de crianças independente da condição de saúde. Baseia-se no índice de peso para a idade e sexo. Por este critério as crianças são classificadas em eutróficas, desnutrição leve ou de grau, desnutrição moderada ou de grau e desnutrição severa ou de grau, considerando o percentual de adequação entre o peso e a idade.

A proposta de Waterlow(6)baseia-se nos índices de estatura/idade e peso/ estatura e classifica a situação nutricional em quatro categorias: eutrofia, desnutrido atual ou agudo, desnutrido crônico e desnutrido pregresso. O comprometimento do índice estatura/idade indica que a criança tem o crescimento comprometido em processo de longa duração -stunting, que significa nanismo. O déficit no índice peso/estatura reflete um comprometimento mais recente do crescimento com reflexo mais pronunciado no peso -wasting, que significa emaciamento(6).

Enquanto a metodologia de Waterlow relaciona os índices estatura/idade seguida de peso/estatura, a de Gómez prioriza o índice peso/idade/sexo para a classificação da situação nutricional. A primeira por sua vez, possibilita o estabelecimento de prioridades de intervenção, uma vez que estabelece o tipo de desnutrição(1).

A metodologia proposta pela OMS classifica a desnutrição energético-protéica em moderada e grave, de acordo com os parâmetros estatura/idade e peso/estatura.

Este critério é inadequado para ser utilizado na assistência primária, pois identifica apenas as formas moderadas e graves de desnutrição, o que impediria uma intervenção mais precoce junto às crianças com formas leves ou em risco nutricional(1).

Nas Unidades Básicas de Saúde, o gráfico de crescimento do Cartão da Criança (CC), é o instrumento utilizado nas consultas de enfermagem para avaliação do crescimento da criança de zero a cinco anos Os parâmetros para avaliação da curva do gráfico são o peso, a idade e o sexo. O acompanhamento do crescimento, com a utilização da curva-gráfico, permite aferir se a criança está em processo de desnutrição, tornando-se, assim, um instrumento extremamente útil no estabelecimento de situações de risco nutricional(7).

Segundo as metodologias supracitadas, as medidas mais freqüentemente utilizadas têm por objetivo determinar a massa corporal, expressa pelo peso, e as dimensões lineares, expressas pela estatura. No entanto, tais parâmetros não determinam deficiências nutricionais específicas, como as hipovitaminoses, o que exigiria exames laboratoriais complementares. No entanto, apesar dessas limitações, a antropometria tem sido, sem nenhuma dúvida, o método mais utilizado em todo mundo e também o proposto pela OMS para a avaliação da condição nutricional.

2 Objetivos - identificar a prevalência de agravos nutricionais de crianças de seis a sessenta meses; - classificar a situação nutricional das crianças utilizando os critérios de Waterlow(6) e da curva peso/idade.

3 Metodologia Trata-se de um estudo transversal, exploratório e descritivo, realizado no período de maio a outubro de 2002, parte da pesquisa onde se identifica a prevalência de anemia ferropriva e fatores de risco associados, realizado na localidade de Vila São Pedro, município maranhense de Paço do Lumiar, com inserção na Grande São Luís. Constituída por 950 domicílios e população estimada em 3.680 habitantes, segundo informações da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA-2001). Pelo Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB - 2002), existem na localidade 769 famílias cadastradas no Programa Saúde da Família (PSF), com um total de 2.779 pessoas. Para fins deste estudo, foram identificadas 380 crianças de seis a sessenta meses, a partir das fichas de cadastramento de famílias do PSF. No estudo foram avaliadas 371 crianças porque nove delas não compareceram aos encontros de verificação de peso e estatura.

A localidade de Vila São Pedro situa-se a 20 km de São Luís, é servida por rodovia asfaltada e serviço urbano de transporte coletivo. Dispõe de rede de água, luz e asfalto, mas é desprovida de esgoto sanitário. Apresenta bolsões de pobreza, caracterizados por moradias em precárias condições de saneamento e de vida. Banhada pelo mar, tem como principais atividades econômicas a pesca e o cultivo de hortaliças.

Para avaliação da condição nutricional das crianças optou-se pela classificação de Waterlow e pela curva do gráfico de crescimento do cartão da criança e da classificação sugerida pelo Ministério da Saúde adotada pela estratégia Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI).

A partir do resultado encontrado definem-se quatro possibilidades de classificação nutricional: 1. Eutrófico: A/I superior a 95% e P/A superior a 90% do p 50 do padrão de referência; 2. Desnutrido atual ou agudo (wasted): A/I superior a 95% e P/A inferior a 90% do p 50 do padrão de referência; 3. Desnutrido crônico (wasted and stuting): A/I inferior a 95% e P/A inferior a 90% do p 50 do padrão de referência; 4. Desnutrido pregresso (stuting): A/I inferior a 95% e P/A superior a 90% do p 50 do padrão de referência.

Para avaliação da situação nutricional, segundo os critérios de Waterlow(6), utilizou-se o cálculo:

As medidas de peso, a estatura e a idade das crianças foram necessárias para que, combinadas, formassem os indicadores da situação nutricional definidos pelo padrão de referência do NCHS (National Center for Health Statistics) como: peso/idade (P/I), altura/idade (A/I) e peso/altura (P/A), recomendado pela OMS e adotado oficialmente pelo Ministério da Saúde (MS). Um déficit em um destes, freqüentemente, é encarado como evidência de problemas nutricionais e é utilizado para representar os graus de carências aos quais as crianças estão submetidas.

O segundo critério utilizado foi a curva peso/idade do cartão da criança e a classificação sugerida pela AIDPI (peso muito baixo, peso baixo para a idade e peso não é baixo). A curva peso/idade constitui-se de quatro linhas denominadas percentis. A linha superior é o percentil 97. A linha do meio corresponde ao percentil 10; a linha logo abaixo do percentil 10 corresponde ao percentil 03 e a linha inferior ao percentil 02. O ponto de encontro entre o peso e a idade corresponde à situação nutricional da criança. Caso o ponto se encontre abaixo da curva inferior (< -3 DP ou P 0,1) a criança tem peso muito baixo para sua idade. Caso o ponto esteja localizado entre a curva inferior e a do meio ((= - 3 DP ou P 0,1 e < - 2 DP ou P 3) a criança é classificada como peso baixo para a idade. Se o ponto de inserção localizar-se na linha ou acima da curva do meio (= -DP ou P 3), a classificação será de peso não é baixo. Além da classificação estabelecida pela estratégia AIDPI, o Ministério da Saúde adverte os profissionais de saúde sobre aquelas crianças que se encontram entre os percentis 10 e 3, caracterizadas como de risco nutricional e as acima do percentil 97 como de sobrepeso(7).

As idades das crianças foram confirmadas pelos registros de nascimento e, na falta destes, pelo CC e calculadas em meses. E foram pesadas em balanças digitais.

A medida do comprimento em crianças menores de dois anos foi realizada com a criança deitada Os resultados foram analisados pelo programa EPI-INFO versão 6.0 e estão apresentados em tabelas e freqüências simples.

4 Resultados e discussões

Do total de 371 crianças avaliadas, observa-se que 57,1% eram do sexo feminino e as faixas etárias de maior e de menor prevalência, respectivamente, foram de 54 a 60 meses (18,9%) e de seis a onze meses (6,7%).

Segundo o critério de Waterlow, 57,1% das crianças foram classificadas como eutróficas (sem comprometimento nutricional), enquanto 42,9% apresentaram desnutrição, variando entre desnutrido agudo (11,9%), desnutrido pregresso (22,4%) e desnutrido crônico (8,6%). As crianças classificadas como desnutrido agudo e pregresso demonstram ter sofrido uma perda de peso recente que é o resultado de processos infecciosos e/ou internações(5).

Na categoria de desnutrido crônico, estão as crianças com déficit de altura para idade, como resultado dos efeitos crônicos da desnutrição, que as levou a um retardo no crescimento corporal. Mesmo que ocorra recuperação nutricional (recuperem o peso), estas crianças não se recuperarão do déficit estatural(5).

Relacionando as conseqüências da desnutrição na população infantil, destacamos prejuízos ao desenvolvimento mental, pois as carências nutricionais estão associadas a privações sociais e econômicas que, por si , afetam o desenvolvimento da criança(2). O comprometimento da imunidade com conseqüente diminuição da resistência às infecções é mais uma conseqüência desta carência, ampliando riscos ao crescimento e desenvolvimento saudável na população de menores de cinco anos.

Segundo o critério Curva peso/idade, 19,7% das crianças estavam incluídas na classificação de risco nutricional, seguindo-se as crianças com peso baixo para a idade com 11,6%. Tais classificações sugerem perda de peso recente e/ou manutenção de situações de risco que impedem a criança de alcançar peso ideal para a idade representada por processos infecciosos de repetição e erro alimentar(8).

Posto aqui os extremos nutricionais - de um lado a carência alimentar, representada pelas crianças com déficit peso/idade (34,0%), e, do outro, o sobrepeso (1,6%), embora em percentual bem inferior - a convivência desses extremos traz grandes desafios ao setor saúde na execução de políticas e práticas que contemplem necessidades tão distintas(9).

Neste sentido, profissionais e famílias devem ser parceiros igualmente responsáveis pela busca e construção de estratégias que garantam mudanças de comportamento, que se definem na literatura como ações de co-responsabilidade.

Esta relação exige esforço, criatividade, habilidades, adequação de recursos e estratégias para resolução de problemas e situações adversas, principalmente as relacionadas ao comportamento alimentar. Por outro lado, as modificações nos hábitos alimentares não são rapidamente alcançadas, o que exige dos serviços e dos profissionais de saúde estratégias permanentes e de longo prazo, acompanhadas de melhoria das condições sociais e econômicas a que estão submetidas as crianças, principalmente aquelas menores de cinco anos de idade.

5 Conclusão Independentemente do critério utilizado para avaliação nutricional na população infantil, aqui representadas por crianças de seis a sessenta meses, não foi observado distanciamento significativo nos resultados. Ambos refletiram alta prevalência para os problemas nutricionais na ordem de 42,8% pelo critério de Waterlow e 34,0% quando considerados os parâmetros peso/idade da curva de crescimento do CC.

Com relação aos critérios adotados na avaliação do estado nutricional, enfatiza-se o emprego da curva de crescimento do CC, por ter se mostrado eficaz na avaliação do estado nutricional. Outro ponto positivo na utilização da curva peso/idade foi a possibilidade de captar as crianças classificadas como risco nutricional.

Quanto à metodologia de Waterlow, apesar de definir o grau de severidade e comprometimento nutricional, não faz referências às situações de sobrepeso e risco nutricional.

Conclui-se que os problemas nutricionais são possíveis de serem identificados, reconhecidos e tratados na atenção básica de saúde, desde que os serviços e profissionais direcionem atenção e metodologias para vigilância deste agravo.

Reconhece-se, aqui, o papel social da Universidade, associando atividades de ensino e extensão, alcançando comunidades como a de Vila São Pedro. Como professoras sentimo-nos responsáveis em implementar esforços no sentido de minimizar os problemas nutricionais apresentados neste estudo.

Acredita-se que as ações educativas deverão sempre permear o cuidado à criança, enriquecendo o ambiente familiar e levando os pais, principalmente as mães, a adotarem comportamentos e estilos saudáveis de vida para que, desta forma, sejam reduzidos os riscos que comprometem o crescimento e o desenvolvimento da criança. As atividades educativas não devem atender somente as questões biológicas, mas se estender aos determinantes sociais, visando estimular hábitos de higiene e de ingestão adequada de nutrientes.

Propõe-se inserir os alunos da enfermagem no cuidado à criança, promovendo a integração dos mesmos no contexto social da comunidade da Vila São Pedro, sendo estes capazes de compreenderem a realidade local, de produzirem e socializarem conhecimentos, de agir e interagir para melhorar a situação de saúde das crianças.


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