Maneiras de cuidar em Enfermagem
PESQUISA
Maneiras de cuidar em Enfermagem
Caring gestures in Nursing
Maneras de cuidar en Enfermería
Maria José Coelho
Doutora. Professora Adjunto IV do Departamento de Enfermagem MédicoCirurgica da
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.
Coordenadora do Grupo de Pesquisa Cuidar/cuidados de Enfermagem CNPq/UFRJ.
zezecoelho@yahoo.com.br
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com o reconhecimento da subjetividade/objetividade no Cuidar de enfermagem, foi
importante buscar denominações, no sentido de criar um paradigma de Cuidar em
Enfermagem que incluísse o ser humano e que se distanciasse do modelo
predominantemente biologicista, mecanicista e centrado nas respostas orgânicas.
O Cuidar de Alerta, Guerra, perto/distante entre outros 14 descritos por Coelho
(1) em 1997 na Tese de doutoramento cujo cenário foi a Unidade de Emergência e
(re)afirmado nesta investigação possibilitou pensar/ampliar uma denominação de
enfermagem. Inicialmente, é importante destacar como ocorreu a tessitura dos
cuidados onde foram identificadas as maneiras de cuidar em enfermagem junto à
clientela assistida estruturando o sistema de cuidar/cuidados. Esta Tessitura
dos cuidados de Enfermagem deu através da definição de Cuidar de um cliente
hospitalizado como:"É o Cuidado individualizado visando resgatar os aspectos
que se encontram encobertos pela hospitalização. É um dos trabalhos mais
sublime dentre todas as profissões pois somos todos em qualquer momento da vida
um cliente em potencial. É uma ação que produz o cuidado através de uma
interação freqüente com o cliente, respeitando seu direito de questionar este
cuidado e opinar em relação ao mesmo. É também qualquer ação de enfermagem que
visa o bem estar e a saúde. Cuidar implica em várias atividades técnicas e
informativas ao cliente e a família, é implementar ações de enfermagem para o
atendimento à todas as necessidades deste e seus familiares. É contribuir para
que o cliente recupere o seu equilíbrio, a sua homeostasia. Prestar cuidados é
um desafio cotidiano, é a arte de cuidar com muito amor, ajuda, compreensão,
dedicação e presença contribuindo para o desenvolvimento da ciência. É a
lembrança permanente que o cliente não é apenas problema/doença".
A partir de então, emergiram um mapeamento que foi denominado como se segue,
cabe destacar que, a especificidade e as descrições definidas, destacadas e
descritas a partir das características do cuidado de enfermagem e a apropriação
do próprio saber, foi transformado numa linguagem própria. Mas foi no dia-dia,
que se estabeleceu as maneiras de cuidar.
Para tesser as maneiras de cuidar construiu-se "os cuidados de forma bem
especial e distante da divisão biologista e mecanicista predominante. É feito
tentando atender o cliente em todas as necessidades, mantendo a relação
Enfermeiro-Cliente integrada, de forma a vê-lo como um "ser completo" como um
"todo", respeitando a individualidade, ouvindo-o, informando -o que esta
fazendo e o que vai fazer tirando as dúvidas, proporcionando conforto. De
acordo com as necessidades afetadas estabelece a relação de ajuda-confiança e
incentiva a elevação da auto-estima",considera todos os fatores bio-psico-
sócio-econômicos, emergendo o Cuidado Solidário de acordo com as necessidades
humanas básicas e visão filosofica-religiosa do cliente.
2. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Para descrever as maneiras de cuidar em Enfermagem, utilizamos os conceitos de
cuidar e cuidados de Coelho(2) e de Cotidiano de Certeau(3). Pesquisa
qualitativa por análise temática, desenvolvida no Laboratório de Tecnologia e
Procedimentos de Enfermagem EEAN/UFRJ no CCS no período de 1999/2003 com dois
grupos: enfermeiros e a clientela por eles cuidados. A formação de cada grupo
foi pararalelo e correlacional. Os dados coletados abordaram diferentes
momentos de descrição da realidade, de circunstâncias práticas, descritíveis,
inteligíveis, relatáveis, analisáveis, com observação individual e grupal,
entrevistas e consulta documental sendo documento qualquer material escrito que
possam ser usados como fonte de informação. Para conhecer o cotidiano em
Enfermagem dentro do processo de Cuidar, os clientes foram fontes primárias e
as equipes de enfermagem fonte secundária, familiares e profissionais de saúde
ou outros como fonte terciárias ou paralela atendendo aos preceitos da
Resolução 196/96.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram (re)afirmados, tecidos, denominados e mapeados os tipos de cuidar que
perpassaram o Cotidiano Hospitalar como demonstrados a seguir:
3.1 Cuidar de Alerta
É a construção dos cuidados que significa permanecer atento para os aspectos
imprevisíveis Se inicia no ato de Cuidar, desde a coleta dos dados para o
histórico de enfermagem contidos no boletim de atendimento e/ou no prontuário
tradicional ou eletrônico, até a (re)organização de todo o ambiente. É uma
espera permanente pelo que poderá vir acontecer, caracterizada também por um
processo assistencial INTER conjugado ao de outros profissionais da área da
saúde. O quadro clínico agudizado, a insuficiência respiratória, a
insuficiência cardíaca, a descompensação orgânica causada pelo ato cirúrgico
são pontos em permanente alerta. Todos mantém-se em alerta porque o cliente
pode agravar a qualquer momento.Na área hospitalar, é comum permanecer nas
Unidades de Internação os clientes mais graves. Há um alerta total para os
casos mais graves e prioritários, que muitas vezes ficam nas enfermarias junto
a outros de menor complexidade assistencial e que requerem outras maneiras de
serem cuidados. Sua construção demanda a integração de conhecimentos tais como
a especificidade do ciclo vital, as situações clinicas, cirúrgicas, os
conteúdos substantivos das ciências biológicas e humanas além de instrumental
tecnológico de última geração.
3.2 Cuidar de Guerra
Emerge do confronto entre a vida e a morte. Se busca e utiliza todos os
recursos e esforços disponíveis para cuidar em Enfermagem. Parada cárdio-
respiratória, insuficiência respiratória ou reanimação cardio-pulmonar começam
e se intensificam quando alguém grita 'parada'. Correm todos em direção a
enfermaria: é a luta pela vida do outro. É comum na área hospitalar, este
cuidar ocorrer simultaneamente em duas ou mais enfermarias.
Elabora-se um desenho e procurar segui-lo até chegar ao resultado final,
fazendo o diagnóstico das necessidades de cuidados de enfermagem, estabelecendo
prioridades e implementando os cuidados atribulados e envolventes, vivenciando
um ambiente que parece no primeiro momento o caos, tumultuado, com etapas
intercorrentes e momentos críticos nos quais as carências de equipamentos e
materiais muitas vezes se tornam evidentse e geram estresses. Os cuidados são
direcionados a (re)organização da ambiência, preparo e conferência do carro de
Parada-cardiorespiratória todas as manhãs e após cada uso, com reposição de
material , como cuidados de sentinela para resolver conflitos.
3.3 Cuidar do Corpo Transformado
Ostomias, edemas acentuados e generalizados, as fraturas que necessitam
fixadores externos, alopécia, retiradas e colocações de próteses, membros
superiores e/ou inferiores paralisados e atrofiados, amputações parciais ou
totais visíveis ou invisíveis, mamas em corpos masculinos, corpo transvestido,
transformações do corpo humano. É o corpo marcado por cicatrizes de cirurgias,
de úlceras por pressão adquiridas na região occipital, sacra, nádegas, dorsal e
calcanhares e cotovelo bilateralmente na hospitalização por longos períodos
acamados entre tantas outras situações que o corpo enfermo enfrenta. A
hospitalização transforma o corpo através de vários procedimentos invasivos. É
o braço direito com uma punção venosa profunda, nas fossas nasais cateteres,
sonda nasogástrica, na cavidade oral um tubo orotraqueal, no braço esquerdo um
outro acesso venoso, na região uretral uma sonda vesícal, nas extremidades dos
membros inferiores e/ou superiores com talas de contenção, drenos, bolsas e
tantos outros recursos que invadem e mudam o corpo humano. A cavidade oral
vazia de prótese(s) dentária(s) por esta na gaveta, deixa os clientes se vendo
" muito diferente, feios e estranhos, transformados, com o corpo transformado,
horrorosos, como lixo, revoltados, preocupados, tristes, incomodados,
esquisitos, traumatizados, um terror".
3.4 Cuidar Admissional
Normas e rotinas, direitos e deveres fazem parte deste cuidar. O cliente
fragiliza-se quando é hospitalizado, por está fora de seu habitat comum, a
hospitalização faz com que ele necessite se engajar em um outro grupo social Ao
dar entrada no Hospital, o cliente sente que seu mundo vai cair. A primeira
solicitação é da retirada dos objetos pessoais muitas vezes significativos de
uma vida e de um simbolismo próprio."...a primeira coisa foi me mandarem tirar
as minhas coisas, os meus pertences Cliente. O relato freqüente do cliente
'...é de que entrou, mas não sabe se sairá, entrar é fácil mas sair é muito
difícil' afirmam. Recebê-lo bem, com atitude cortez e amigável é a articulação
dos conhecimentos das ciências do comportamento para cuidar consolida este
cuidar de enfermagem.
3.5 Cuidar do Resgate da Arte e da Criação
A improvisação originada das práticas para dar conta das técnicas foi
considerada por muito tempo com pouca cientificidade e sem valor de criação,
mas sempre foi um dos pontos fortes do cuidar em Enfermagem. Conectar um equipo
ao outro, improvisar um lençol, uma tala, uma contenção entre tantas outras
coisas, faz parte do Cotidiano da Enfermagem Hospitalar. As carências de
material permanente e/ou consumo e de recurso humano exigem que se crie, que se
faça de um nada um tudo para que não falte o cuidado de enfermagem a ser
prestado.Traz para as improvisações uma roupagem tecnológica em que há
emergência para as patentes, registros e criações dessas improvisações.
Garrotes, frascos de drenagem e suportes são freqüentemente improvisados/
criados no cotidiano assistencial para atendimento propedêutico e terapêutico
de enfermagem. Há três décadas atrás, as enfermeiras costuravam em suas
residências capas para proteger as soluções sensíveis a luminosidade.
3.6 Cuidar Eletrônico
As contínuas mudanças científicas e tecnológicas na área da saúde, requerem o
conjunto de informações cotidianas escritas de enfermagem no contexto
organizacional. Hoje a informática é uma aliada de primeira linha. O cuidar
através do prontuário eletrônico está ligado a rede de informações que aliada à
terapêutica e os cuidados prestados faz com que se busque o tratamento de
enfermagem. Este incorporado à interdependência de solucionar as necessidades
de cuidar. Na enfermagem a tradição da informação oral é forte, mas é através
de uma rede que vamos transmitir e (re)transmitir o cuidar de enfermagem.
Informação informatização e sistema de comunicação é a tríade do cuidar
eletrônico. A tradição oral da informação se deslocará para o cuidar através de
rede de informação, seja para formação de uma Banco de Dados do histórico, das
prescrições e evoluções de enfermagem, onde estarão armazenadas as maneiras de
cuidar que permitirão acompanhar com agilidade o que foi implementado e os seus
resultados.
3.7 Cuidar Decisório
É baseado na observação rigorosa de uma situação, no princípio de decisão, na
abordagem racional, numa relação estreita entre a vida e a morte. Ressuscitar
ou oferecer uma morte com dignidade, é uma decisão difícil. Neste momento, são
retirados informações fundamentais da memória acumulativa, que guarda
informações detalhadas no arsenal mental para ser usada em benefício do
cliente. Desponta neste momento decisório a perda como um fio condutor da vida:
de um lado a perda de uma vida do outro a perda da própria vida.
3.8 Cuidar Social
É a relação entre o profissional de saúde e os usuários e as dimensões humanas
e (bio)éticas. É o cuidar pautado na preocupação com o sofrimento humano, a
exclusão dos grupos principalmente os mais pobres, que gera o esgaçamento do
tecido social no que diz respeito ao atendimento de saúde dentro da Instituição
Hospitalar. É uma maneira de cuidar coletivo fundamentado no compromisso
social. Para cuidar em enfermagem, tem que levar em contar a questão da
(des)igualdade social brasileira. As transformações econômicas e sociais
ocorridas nas últimas décadas advindas das políticas implementadas pelo modelo
neoliberal no Brasil.Todavia, emerge uma maneira de cuidar que tem em seu bojo
a questão social brasileira, a globalização econômica associada ao globismo
político, à revolução tecnológica, as preocupações ecológicas, as inquietações
da modernidade. São as atividades de Educação e Saúde dentro do espaço
hospitalar a ensinar as pessoas como tratar os fatores relativos aos estilos de
vida, como cuidar de si mesmo e como lidar com os assuntos de saúde antes deles
se tornarem problemas crônicos. É o compromisso social traduzido em uma maneira
de cuidar em Enfermagem.
3.9 Cuidar para as Quedas
É a maneira preventiva de uma ocorrência freqüente na área hospitalar: as
quedas dos leitos, cadeiras de rodas, macas, própria altura. É a verificação da
relação entre a freqüência da queda, com o número de prescrições de enfermagem
que atendam a necessidade de segurança com adequação das prescrições de
enfermagem a evolução e os problemas de saúde e também as conseqüências e
fatores determinantes.
As quedas dos clientes hospitalizados acontecem independentemente, muitas
vezes, da vigilância permanente. Em muitas situações o estado psicobiológico do
cliente no momento da queda da maca-leito era de tranqüilidade e orientação
outras vezes desorientação, agitação e convulsão. Em contrapartida a situação
dos leitos, das grades das macas-leito, estado de uso e conservação e
quantidade inadequada no momento da queda.
3.10 Cuidar de Conexões
É o cuidar que necessita conexão com os outros setores tais como o Centro de
Diagnóstico por Imagem, Banco de Sangue, Laboratório Clínico de Anatomia
Patológica, Serviço de Nutrição e Dietética, Fisioterapia, Pronto Atendimento,
Centro Cirúrgico/Centro de Material, Farmácia, Serviço de Admissão e Alta entre
outros. São as conexões necessárias para cuidar. As conexões com os Setores
emergem a relação de conhecimentos numa composição direta com outras áreas que
serão incorporadas ao cuidar de enfermagem, numa conexão interdisciplinar.
3.11 Cuidar de Formigas
As formigas são consideradas uma das sociedades mais organizadas. Assim é o
cuidar, cada um tem sua parte a fazer na divisão social do cuidado hospitalar.
Todos fazem sua parte mas perpassa em seu interior o objetivo de cuidar. Passo-
a-passo vão se realizando os cuidados, valorizando cada coisa ou situação como
ela é. É a busca pelo equilíbrio entre objetividade e subjetividade no cuidado
e respeito, buscando o cuidar e os cuidados do outro.
3.12 Cuidar dos Líquidos Corporais
Líquidos que entram e que saem do corpo. Medir, controlar, observar, anotar,
comparar e acompanhar com precisão no momento em que se fizer necessário. Os
líquidos que entram e saem e assim (des)equilibram o organismo. Líquidos por
via oral e/ou parenteral, sondagem, vômitos, secreções nasais, lagrimais,
exultados, brônquicas, urinárias, intestinais, gástricas, suores e outros. É o
cuidar na busca do eqüilíbrio hídrico e da avaliação da diferença.
3.13 Cuidar Confortável
O conforto reflete nos corpos dos clientes. É a busca do equilíbrio entre
objetividade e subjetividade proporcionando bem estar. Perpassa de várias
formas tais como conversas objetivando apoio emocional, gentileza, sutileza no
ato dos cuidados, proximidade, fazer curativo, trocar a roupa diariamente. O
conforto é a meta a ser planejada e alcançada no cuidar de enfermagem tem um
significado multidimensional, tais como físico, psicológico, social, espiritual
ou a integração dessas dimensões. São táticas e trocas diretas com o cliente,
são medidas de atendimento de necessidades humanas básicas. Cuidado de escutar,
cuidados do ambiente, cuidados voltados para o controle ou alivio da dor entre
tantos outros que proporcionam conforto, bem estar.
3.14 Cuidar das Intercorrências
No acompanhamento e na identificação dos procedimentos adotados ao manipularem
os cateteres, soluções, medicamentos, equipamentos entre tantas outras,
considerando o respaldo teórico específico e propondo um método de cuidado de
enfermagem específico baseado em experiência adquirida e nas alterações
orgânicas, que sirva de orientação para o cuidado no que tange as flebites,
obstruções, infiltrações etc.
3.15 Cuidar de Saída
A alta hospitalar está ligada diretamente ao cuidar, o que contradiz uma
observação inicial da prática quando aparece visível a autorização médica de
saída. Compete-se avaliar o estado geral no momento da saída, observando se
existem condições e antever as eventuais intercorrências, que poderão surgir
pós-saída hospitalar, isto é no domicilio. A alta hospitalar pode ser
programada, a pedido ou a revelia. Demandam cuidados de correlação com o
processo saúde-doença, a dinâmica da organização dos Serviços de Saúde e de
Enfermagem, riscos e benefícios.
3.16 Cuidar por Gestos e Palavras - o Apoio Emocional
As palavras são um dos recursos terapêuticos de enfermagem. Através da análise
interpretativa do que é dito pelo cliente, programa-se a ação terapêutica na
resolução daquela necessidade afetada. Falar, conversar para enfermagem é um
ato que busca resultados no que tange ao que o cliente está sentido e/ou
expressando, envolve conhecimentos de psicologia geral e do desenvolvimento em
especial, na busca dos gestos e das palavras como terapia de alguma coisa que
se desarmonizou na vida do cliente hospitalizado. Há todo um esforço para
apoiar emocionalmente o cliente através de palavras, gestos e conversas que são
estruturadas nas necessidades humanas básicas. É o cuidar que busca a
exteriorização de necessidades e sentimentos, já que as emoções estão ligadas
as alterações físicas.
3.17 Cuidar Fotografado
Uma das grandes dificuldades da enfermagem é divulgar os momentos dos cuidados,
aqueles em que a relação somente é percebido por três pessoas: o cliente, o
enfermeiro e Deus. O recurso através da lente de uma máquina fotográfica
permite congelar momentos que ficarão na memória do enfermeiro e do cliente, e
que o cotidiano os farão adormecer. Cuidar fotografado é aquele que permitirá
os registros desses momentos e que tem como base a antropologia visual. É o
fotodocumentário ou seja registrar tudo o que for possível com bastante
astúcia, agilidade e ética procurando ângulos que facilitem a compreensão do
acontecimento que envolve o cuidar.
3.18 Cuidar em uma Suspensão Cirúrgica/Exames e Alta Hospitalar
Nada mais crítico do que a suspensão de uma cirurgia, de um exame ou de uma
alta hospitalar agendados em que requer para o cliente toda uma manipulação do
seu corpo, da sua alma e da sua mente. Este é um dos pontos mais freqüente na
realidade do cotidiano hospitalar que traz transtorno para a clientela, mas que
tem como testemunha diária a equipe de enfermagem. Ocorre uma desarmonia do ser
humano e de suas ligações extra-muros hospitalares e muitas vezes de sua
enfermaria. Como uma analogia do jogo de dados, todas as pedras caem em
cascata, uma a uma quando uma cirurgia ou exame é suspenso. Essas situações são
descritas diariamente em que são suspensas as cirurgias,exame e alta em
decorrência da sua não realização. Os fatores causadores de suspensão de uma
cirurgia, exames ou alta hospitalar causam grande impacto na vida pessoal e
institucional.
3.19 Cuidar das Lesões Cutâneas do Corpo
É o cuidar ligado aos exudatos que drenam dos corpos e de auto-imagem, aos
sentimentos que emergem do cliente, que levam ao isolamento do cliente e a
exigência de demorados cuidados numa abordagem multiprofisional. Hoje, este
cuidar é realizado por comissão ou grupo compostos por enfermeiros que visitam
os clientes em seus leitos, discutindo e tomando conduta quanto aos cuidados de
enfermagem junto às Unidades de Internação. Analisam, identificam, prescrevem e
acompanham as lesões do corpo. Identificam as causas do surgimento de úlceras
por pressão e os respectivos cuidados. Descrevem a relação entre sua evolução e
os cuidados de enfermagem, acompanham a evolução e os respectivos cuidados.
3.20 Cuidar da Auto-Imagem Compremetida
Recompor o retrato mental do cliente em relação ao seu corpo, ao conceito que o
mesmo faz de si e como vislumbra seus limites, suas formas, enfim sua auto-
imagem antes e durante a hospitalização. No dia-dia, observa-se quando a
cliente pede para se pentear, para passa talco ou colocar um perfume ou um
batom. Nos homens, quando este solicita material para ele mesmo fazer o seu
barbear, é um dos sinais de melhora do seu quadro de enfermidade. Este é um dos
parâmetros do quadro geral. Perda de peso, retiradas de próteses dentarias,
cabelos em desalinhos e outras situações provocam mudanças radicais da auto-
imagem levando homens e mulheres desejarem recuperar a imagem que tinham antes
da hospitalização.
3.21 Cuidar de Vidas Modificadas - Retrato de Famílias
Para adequar e dar suporte ao ente diante da situação que se põe, a família
precisa de tempo e entendimento a cerca dos acontecimentos. O movimento dos
"corações" no convívio familiar, a identificação do conviver da família no
período anterior, durante e após a constatação da enfermidade e da
hospitalização, é cuidar das famílias que viram suas vidas serem modificadas
muitas vezes de forma súbita e inesperada.
3.22 Cuidar Conciliador
Conciliar as situações cuja homeostase de vários clientes estejam
comprometidas, necessitando simultaneamente de cuidados, exige estratégias
criativas. Trinta e seis clientes em sete enfermarias diferentes com 2 a 3
clientes graves por enfermaria com respiração controlada por máquinas, em que
se concilia tudo para continuar cuidando. É conciliar os níveis de
complexidades das situações assistenciais de baixa com alta; de média com baixa
e média com alta, média com média, alta com alta, baixa com baixa todas
centradas no mesmo universo assistencial.
3.23 Cuidar dos Procedimentos Invasivos
Os procedimentos invasivos não coadunam com os cateteres, drenos e sondas. Esta
conceituação é mais ampliada, no caso da enfermagem e está relacionada aos
cuidados que requerem privacidade tais como banho no leito, higiene oral,
íntima, despir uma pessoa, comentários sobre várias situações cotidianas entre
tantos outros são procedimentos invasivos. Na invasão do ser humano, a mente
emocional reage e registra imediatamente o que acontece. A mente racional leva
de um a dois momentos para reagir. Logo o paradigma de invasão é removido e
associados dos recursos tecnológicos para os cuidados de enfermagem, também.
3.24 Cuidar Solitário
Neste cuidar procura se resgatar a essência da vida, mesmo sem possibilidade de
cura, busca-se um sentido para o cliente em sua vida. O relacionamento
interpessoal é uma estratégia do cuidar solidário e visa atender as
necessidades bio-psicossociais de trocas de sensibilidade e preocupações do
cliente, mostrando que para cuidar é necessário abrir um canal de trocas.Muitas
das necessidades que podem ser satisfeitas através de uma afinidade de valores
são simples, mas elas podem se tornar complexas. Esta maneira de cuidar tem
raízes na pessoa humana e na motivação.Além dos conhecimentos de anatomia,
fisiologia, patologia, sociologia, psicologia, antropologia, aparelhos e
equipamentos eletrônicos a de ser conhecer e cuidar de como os clientes
(con)vivem, resistem e sobrevivem a doença e a hospitalização, a dor, a
alegria, a tristeza, o sofrimento, as angustias, os prazeres, a fragilidade.
Enfim, lidar com a pessoa e a sua diversidade. Durante os cuidados prestados
procura-se resgatar a essência da vida.
3.25 Cuidar do Imaginário Social
Este cuidar é interligado ao embricamento do imaginário acerca das doenças e o
desdobramento nos cuidados envolvendo pensamentos, sentimentos, crenças e
valores assim como medos, angústias e rejeição numa contribuição para mudança
de comportamentos pessoais e das representações sociais, os sentimentos que
interferem sobre o cuidado de enfermagem para clientes portadores de Doença
Infecto-Parasitária,em especial.Nesta maneira de cuidar leva-se em consideração
o imaginário social, as culturas possuem uma configuração particular, um estilo
e freqüentemente um determinado valor social ou uma forma de perceber o mundo
em que deixam suas marcas em várias instituições da sociedade. Rituais,
cerimônias, comportamentos exóticos, sagrado, profano entre outros perpassam
pelo imaginário social principalmente em situações de cuidar ligadas as Doenças
Infecto-parásitarias ou deformativas.
3.26 Cuidar Noturno
O cuidar noturno é diferente em seu bojo do cuidar diurno. O silêncio
prolongado da noite faz com que emerjam diferentes ritmos circadianos e altere
o relógio biológico que é responsáveis pela regularização do padrão de
atividade de descanso e variações biológicas. Os seres vivos estão expostos a
ritmos de periodicidade muitos diferentes. Ocorrem modificações nos ritmos
biológicos em relação ao ciclo vigília e sono, temperatura corporal que são
passíveis de alteração pela mudança do habitat natural. Uma particularidade
deste cuidar é que durante o período noturno o enfermeiro e sua equipe passam a
ser o elo de ligação entre o médico plantonista e o cliente. Autonomia,
processo decisório e a tomada de decisão. É o relógio biológico muitas vezes em
descompasso orgânico.
3.27 Cuidar Diurno
Planejar e executar os cuidados de enfermagem durante o período diurno,
principalmente nos hospitais requer uma organização especial, principalmente no
período da manhã: movimentação de pessoas, num ambiente de entra e sai de
clientes, familiares, enfermeiros e suas equipes, fisioterapeutas,
nutricionistas, professores, pesquisadores, alunos de todos os níveis, ruídos
de monitores, telefone que soa, funcionários que circulam, exames
complementares a serem feitos, um burburrinho de vozes, tumultos, conversas
paralelas, prontuários sendo disputados por todos, higiene a ser feita, bomba
de infusão a controlar, curativos, procedimentos administrativos, óbitos,
parada cárdio-respiratória, sentimentos. É a maneira de cuidar e executar os
cuidados, que acontecem em sua grande maioria neste período, em especial na
parte da manhã.
3.28 Cuidar dos Futuros Cuidadores
É a maneira de cuidar na transmissão do cuidado no cotidiano hospitalar. A
descrição de suas práticas diárias, as pistas, a tecnologia, o saber, o saber-
cuidar e subseqüentemente o saber ensinar passam por compreender o significado
da experiência vivenciada e compõem os pontos fundamentais deste cuidar. É a
transmissão oral da cultura de uma profissão, é cuidar hoje, de quem construirá
o cuidar e os cuidados de enfermagem no futuro.
3.29 Cuidar do Corpo (Semi) Morto
Este cuidar apresenta múltiplos aspectos, são muitas as polêmicas e também
poucas as respostas aos questionamentos surgidos no enfretamento do dilema
vida/morte no cotidiano do cuidar. O direito de morrer em paz, com dignidade e
sem sofrimentos desnecessário é algo que não pode ser esquecido, pois implica o
direito do ser humano. Hoje há recursos sofisticados de tecnologia que fornecem
a prova da morte. Para a enfermagem a morte de um cliente não significa uma
passagem, um momento, mas uma série de etapas que envolvem aspectos técnicos,
legais e éticos e que podem durar minutos, horas, dias e meses. Morte de todo o
corpo físico ou de uma de suas partes, faz parte do cotidiano hospitalar. A
morte não significa o cessar dos sinais vitais, mas a sua transposição em parte
para outros corpos vivos (transplantes).
3.30 Cuidar Desafiador
É a maneira de cuidar que pode ser definida como desafio diário, é o cuidado
assistencial com os procedimentos técnicos, a observação da recuperação do
cliente, as condições de trabalho, é que vão traçar as dificuldades ou as
facilidades dos cuidados a serem prestados, é o confronto com um cliente
desesperançoso devido ao grau de comprometimento da doença vigente. É lidar com
o estado de piora de um indivíduo a aceitação, o medo, a ansiedade e a
confiança apresentado, o cuidado do cliente considerado fora de possibilidade
terapêutica mas não fora de possibilidade de cuidados. É Interagir com o
cliente diariamente.
3.31 Cuidar Contingencial
É construído durante os momentos em que há uma situação súbita ou episódica.
Nela o prognóstico em enfermagem é reservado, já que o desequilibro bio-psico-
socio-espiritual do cliente pode agravar-se. O perfil dos cuidados delineia-se
pelo investimento de todos os recursos para cuidar e salvar a vida. Os cuidados
caracterizam o aspecto biológico do cuidar através de procedimentos onde são
utilizados os instrumentais de enfermagem como punção venosa periférica,
cateterização vesical e curativo de partes lesadas entre outros.
A principal característica desse tipo de Cuidar são os cuidados cuja a
constatação é concreta, mas que nos chama atenção o fato de que paralelamente a
eles se atende aos aspectos subjetivos já que estes necessitam de observação
detalhada.
3.32 Cuidar Contínuo
É a manutenção e a seqüência de cuidados diários como o de higiene. Eles
possuem o significado de prevenção, manutenção da vida e impedimento do
surgimento de seqüelas que possam agravar o quadro do cliente. São cuidados que
implicam conteúdo predominantemente cognitivo-psicomotor, isto é, manipulação
de material, objetos ou ato que requeira atenção e coordenação neuromuscular
durante os cuidados. Esses cuidados são relativos as necessidades
psicobiológicas da clientela. Os cuidados contínuos na área hospitalar são
predominantemente na parte da manhã condizentes com a cultura hospitalar,
apesar de todo esforço para prescrever, e implementar uma terapia de enfermagem
que respeite a individualidade do cliente.
3.33 Cuidar Dinâmico
É a execução dos cuidados num contato relativamente curto e rápido no tocante
ao tempo de permanência com o cliente, mas intenso e direto em sua execução. O
que nos chama atenção é que uns estão sendo cuidados e simultaneamente chegam
outros, somando assim aos que ai estão sendo cuidados. Na aparente
"normalidade" os cuidados de enfermagem se mostram mais apropriadamente quando
são atingidos os níveis interpessoal e individual. A analise das situações não
se detém àquele momento suas conexões remetem ao passado, na busca de
comparações e informações, no sentido de dar continuidade aos cuidados do
presente.
3.34 Cuidar Expressivo
Durante os cuidados ficam-se atento para aquilo que parece em um primeiro
momento imperceptível. Aqui o cuidar assume diversas formas que são de
encorajamento, expressos para que o cliente lute, para que ele reaja, utilize
seus sentidos através de uma relação pessoa-pessoa que contém as linguagens
verbal e não verbal num relacionamento interpessoal. É a parte do cuidar
predominantemente cognitivo-afetivo. É o momento da expressão de sentimento, da
emoção do grau de aceitação ou de rejeição. Também, pode ser o da demonstração
de caráter e de uma consciência internamente consistente. O fio condutor de
cuidar é a Esperança num momento em que os cuidados são realizados e
caracterizados por uma relação interpessoal.
3.35 Cuidar do Ânimo
É o cuidar calcado no principio de individualização naquilo que se refere ao
conjunto de características próprias e exclusivas de uma pessoa tais como nome,
idade, profissão sexo, religião, preferências por lazer, estado civil,
popularidade entre outros. Numa vertente contrária é o cuidar da pessoa publica
tais como artistas, autoridades, políticos, entre outros, conhecidos
publicamente. Na área hospitalar é freqüente a internação de pessoas conhecidas
publicamente e também do próprio espaço social de trabalho. Nos Hospitais
Universitários é comum pesquisadores, professores e outros funcionários de
renomado conhecimento público serem internados, assim como pessoas que são
trazidas pela população que de imediato não se sabem quem são.
3.36 Cuidar Multifaces
Dentro da tipologia do cuidar, apresenta-se o cuidar que, na sua elaboração é
ao mesmo tempo que é único tem muitas faces interligadas a ele, tornando ao
mesmo tempo singular e múltiplo de si mesmo. A interseção se faz com várias
áreas do saber em saúde aliado a outros saberes. A construção desse cuidar tem
as bases fundamentadas nas áreas de antropologia, sociologia, economia,
política e normas diplomáticas (num limite nacional e internacional) quando os
cuidados são instrumentalizados aos estrangeiros com base em nacionalidade,
cultura, idioma, símbolos e vivências típicos de outros países e regiões do
país.
3.37 Cuidar à Margem do Social
Tem como base o aspecto jurídico-policial das situações surgidas quando o
cliente é levado ao setor de emergência por policiais e posteriormente
internado nas Unidades/Setores por custodia policial, na maioria das vezes
ferido durante uma troca de tiros e outras circunstâncias similares tais como
posse ou ingestão de drogas (conhecidos como engolidores de droga) nos quais
tem que recolher, contar e descrever o material na presença de uma testemunha e
encaminhar ao policial de plantão no Setor. Os cuidados são direcionados aos
traficantes, toxicômano, delinqüentes juvenis, alcoólatras ou outras
dependências químicas, travesti, testemunhas com proteção policial, cliente em
custódia entre outros.
3.38 Cuidar da População de Rua
É centrado no estrato social, com cuidados oriundos das áreas de conhecimento
da sociologia, política e economia. São crianças e idosos abandonados, crianças
de ruas, mendigos, e pessoas sem residência fixa que buscam abrigo e comida, o
que para nós seriam alimentação para este grupo é a forma de manter a vida.
Representa a prescrição de um corpo debilitado precisando de alimentos e abrigo
como forma terapêutica. É comum encontrar nas mesas de criado mudo dos clientes
restos de alimentos que são guardados para serem entregues aos familiares na
hora da visita, assim como adiamento das altas hospitalares pelos mesmos
motivos. É a diferença dos que tem algo daqueles que nada tem.
3.39 Cuidar Mural
A primeira vista esse cuidado pode parecer um lembrete chamando atenção para um
determinado fator, seu objetivo é de advertência e de direção. Sua construção é
fundamentada na prevenção, na vigilância e na situação limite. Descrição de
cuidados estratégicos nas paredes do Posto de Enfermagem em local de destaque,
de fácil visualização, apreensão e consequentemente ação rápida. Os cuidados
objetivos/subjetivos, não tem fronteiras nem limites, portanto este cuidar na
parede, é uma forma de expressão de detalhar critérios de um cuidar especifico
e desafiador.
3.40 Cuidar Perto/Distante
O conhecimento intelectual, o domínio tecnológico e o conhecimento sensível
constróem e dão esse tipo de Cuidar. Os órgãos dos sentidos são acionados pela
situação de alerta, instrumentos e equipamentos, ampliando a capacidade natural
de sentir como: barulho de respirador, respiração estertorosa, gemidos,
silêncios prolongados entre outros obtidos através dos sentidos e composto de
dados intuitivos, que mesmo distante é captado pelos sentidos o perigo no ar.
Qualquer objeto material atua sobre os órgão dos sentidos causando sensação
estimuladora, o mundo sensível exerce ação sobre os órgãos dos sentidos
despertando sensações intuitivas.
3.41 Cuidar (In)Visível
É cuidar de um mundo microscópico com os habitantes naturais em que o homem
sofre as conseqüências dessa invasão. É a preocupação com a infecção
hospitalar, é o compromisso de que o cliente saia restabelecido do que estava
em desarmonia, mas não adquira outras complicações que possam duplicar o risco
de vida ao qual esta inserido. Hoje já se sabe que a maioria das infecções
hospitalares é causada pela microbiota normal do indivíduo mas quando ocorre um
deseqüilíbrio na resistência quaisquer agentes infecciosos podem se tornar
patogênicos, provocando enfermidade de difícil controle, são ocorrências que
fazem parte do cotidiano assistencial e requerem cuidados específicos e
distintos.
3.42 Cuidar do Ambiente
É o espaço privado num ambiente coletivo olhado como um espaço social de
convivência. O ambiente hospitalar é um espaço importante como elemento
terapêutico, cuidar para que esteje higienizado, confortável, tranqüilo,
seguro, sem riscos, mesmo com super-lotação atenda as necessidades humanas
básicas da clientela ali internada. Parceria entre arquitetos, engenheiros,
decoradores entre outros profissionais é comum hoje nas Instituições
hospitalares cenários do estudo. Musica ambiente, cores,sala de estar,
bibliotecas ambulantes, jornais e revistas fazem parte deste cuidar.
3.43 Cuidar Higiênico
São os cuidados mais visíveis. Vestir e despir, cuidados com a boca, os dentes,
os cabelos, as mãos, os pés como manutenção e recuperação da promoção do bem
estar e uma barreira natural para a invasão de microorganismos assim como um
momento de trocas junto ao cliente e de detectar situações encobertas por
lençóis, colchas e cobertores. É a higienização do corpo do outro.
3.44 Cuidar de Quem Cuida
É quando um dos membros da equipe de enfermagem ou de saúde, durante o plantão
entram na condição de cliente de forma busca ou não, saindo do estado de saúde
para o estado de doença seja no sentido de distúrbio orgânico, emocional ou
espiritual. No dia-dia hospitalar e no silêncio cotidiano afloram medos,
receios e sentimentos guardados que são acionados por situações vivenciadas.
Cordialidade, amizade, sorriso, um aperto de mão, um abraço amigo, uma
preocupação com o outro são cuidados de enfermagem que um membro deve dispensar
ao outro da equipe.
3.45 Cuidar Hospitalar por Um Dia (day clinic)
O progresso diagnóstico e terapêutico de forma geral e a cronicidade de quadros
clínicos que demandam cuidados permanentes mas não hospitalização da forma
tradicional, aliados ao custo elevado das internações determinam um tipo de
cuidar que exige uma programação intensa e criteriosa para que os clientes
possam receber os cuidados de enfermagem durante um período de um dia, com a
admissão programada pela manhã e alta à tarde. É um elo entre o cuidar
hospitalizado e o cuidar em residência.
3.46 Cuidar Especial a imagem refletida no espelho do cuidar
Cuidar de enfermeiros, médicos e técnicos/auxiliares de enfermagem
hospitalizados, exige um cuidado a mais em que o comportamento e sentimentos
ambíguos, contraditórios, paralelos, convergentes, divergentes, éticos,
conflitantes que são aflorados no momento de sua internação, já que em muitos
momentos em suas vidas planejaram, supervisionaram e realizaram os cuidados
para os clientes. É a própria imagem que reflete no espelho do cuidar
cotidiano.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No projeto mil e uma maneiras de cuidar em enfermagem: a construção do
conhecimento de cuidar em enfermagem e a aplicação no Cotidiano Assistencial, -
CNPq denominações, formas, estilos, definiçõesde 104 maneiras de cuidar das 46
apresentadas. A construção das maneiras de cuidar nessa multiplicidade de
cuidados aponta para um cuidar individualizado voltado para a complexidade dos
casos não os visualizando somente pelo lado biológico dos sintomas, mas
considerando os dados subjetivos.
Foram apresentados um mapeamento com definições e classificação das mil e uma
maneiras e a estrutura dos cuidados, elaborados no dia-dia com a visibilidade
teórica e proposta de criação, seguindo uma rota. Dos 283 clientes
hospitalizados e cuidados e que permitiram emergir as maneiras de cuidar em
Enfermagem Hospitalar 80% receberam alta hospitalar, 15% continuavam internados
e 5% foram a óbito.
A classificação e descrições não são exaustivas, necessitam continuidade
recomenda-se a continuação através da observação do cotidiano no sentido de
completar as mil e uma maneiras de cuidar especificas da enfermagem e também a
identificação e descrição dos CUIDADOS que perpassam o intervalo da admissão a
alta do cliente.