Processo de formação de enfermeiros líderes
INTRODUÇÃO
O processo de formação de enfermagem sofreu várias modificações ao longo dos
anos, resultantes de mudanças ocorridas nos diversos contextos históricos. Em
decorrência disso, o perfil dos enfermeiros também apresentou significativas
transformações(1).
Em 2001 foram instituídas as novas Diretrizes Curriculares do Curso de
Graduação em Enfermagem baseadas em competências. Tais diretrizes definem a
formação de enfermeiros generalistas, humanos, críticos e reflexivos, capazes
de aprender a aprender e que atendam as necessidades da população de acordo com
os princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS)(2).
Diante dessa conjuntura, enfatiza-se que o conceito de competência é central
nas propostas de reformas curriculares em distintos níveis e modalidades de
ensino de diferentes países. Já no Brasil, este conceito constitui-se na
referência para diretrizes curriculares oficiais e para avaliação de sistemas
escolares(3). Conforme Perrenoud, sociólogo suíço que vem desenvolvendo
pesquisas sobre a temática, competência consiste na capacidade de agir de forma
eficaz frente a um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas
sem limitar-se a eles(4). A competência emerge como uma maneira de repensar as
interações estabelecidas entre as pessoas e seus saberes, bem como entre as
organizações e suas demandas frente aos processos de trabalho(5).
Dentre as competências instituídas nas Diretrizes Curriculares, necessárias
para o exercício da enfermagem, destaca-se: a atenção à saúde, tomada de
decisões, comunicação, administração e gerenciamento, educação permanente e
liderança, competência a qual se dará ênfase no estudo em questão(2).
A liderança representa o processo de influenciar as pessoas a atuar de modo
ético-profissional, exigindo a construção de laços de confiança, a fim de que
se possa trabalhar em conjunto, com o intuito de alcançar objetivos em comum
(6). No processo de trabalho da enfermagem, a liderança representa um
instrumento gerencial indispensável, pois se encontra tangenciando a rede das
relações humanas do enfermeiro ao coordenar uma equipe de trabalho, além de
contribuir na tomada de decisões e no enfrentamento de conflitos(7).
A competência para liderar, assim como as outras, devem ser desenvolvidas nas
Instituições de Ensino Superior (IES) e aprimoradas ao longo da vida
profissional e, portanto as escolas e instituições hospitalares têm cada uma um
papel fundamental nesse processo, a primeira na formação e a segunda na
educação contínua do profissional, conforme reconhecido e preconizado pela
Política Nacional de Educação Permanente(2).
Convém informar que o presente artigo é um recorte da dissertação de mestrado,
cuja temática abordada foi a liderança como instrumento no processo de trabalho
da enfermagem(7). Acredita-se que o impacto causado pelos depoimentos das
participantes justifica a elaboração do mesmo, o qual teve por objetivo
conhecer o papel de uma instituição de ensino superior e de uma instituição
hospitalar na formação e educação permanente de enfermeiros-líderes.
MÉTODO
Tratou-se de um estudo qualitativo o qual foi realizado durante os meses de
fevereiro e março de 2008, em um hospital de grande porte, que presta
assistência pelo SUS, convênios e particulares, localizado na região sul do Rio
Grande do Sul. Participaram da pesquisa onze enfermeiras, com idade entre 23 e
39 anos; sete especialistas e uma mestranda; com tempo de experiência
profissional variando de 1 ano e 3 meses a 15 anos, e tempo de trabalho na
instituição entre 1 e 15 anos. Dentre as participantes, destaca-se que dez são
egressas de uma mesma universidade federal situada na região em questão.
Para a coleta dos dados, fez-se uso de entrevistas semi-estruturadas e grupo
focal. As entrevistas semi-estruturadas aconteceram em uma sala reservada, na
instituição hospitalar do estudo. O conteúdo das gravações foi transcrito logo
após a sua realização. Quanto ao grupo focal, foram realizados três encontros
tendo aproximadamente uma hora de duração. No primeiro, o processo de trabalho
da enfermagem constituiu-se no tema central. Já no segundo grupo apresentou-se
os dados obtidos no primeiro encontro, abriu-se espaço para discussão e,
posteriormente, verificou-se a existência de dúvidas sobre o tema, a fim de
saná-las. No último encontro, os dados foram validados pelas participantes.
Convém informar que as discussões no grupo foram gravadas e transcritas na
íntegra, assim como as entrevistas.
Optou-se pela utilização da Análise de Conteúdo(8) como técnica para tratamento
dos dados, por ser entendida como um meio de expressão do sujeito, no qual o
analista visa categorizar as palavras ou frases, que aparecem com mais
frequência no texto e após infere uma expressão que possa representá-los de
forma adequada. Nesse sentido, as transcrições foram lidas repetidas vezes e, a
partir desta leitura foram estabelecidas duas categorias: instituição de ensino
superior na formação de enfermeiros-líderes e instituição hospitalar na
formação permanente de enfermeiros-líderes.
Para o desenvolvimento do estudo foram respeitados os procedimentos éticos
exigidos pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério
da Saúde; com aprovação pelo Comitê de Ética da Santa Casa de Misericórdia de
Pelotas, sob o protocolo nº 29/2007. Dessa forma, todas as participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Acredita-se que a formação do enfermeiro é permeada por diversas habilidades e
competências, as quais vão sendo construídas ao longo do processo de formação
acadêmica que inclui uma multiplicidade de conhecimentos e práticas, bem como a
associação da teoria e prática, ou seja, a práxis em saúde. Esse contexto exige
que a postura dos educadores e outros profissionais com quem os estudantes
interagem, ao longo das vivências acadêmicas, os estimulem a desenvolver as
competências necessárias para tornarem-se lideres.
Pensando nisso, resgataram-se as duas categorias que emergiram dos depoimentos
das enfermeiras participantes da pesquisa, a fim de identificar o papel de uma
instituição de ensino superior e de uma instituição hospitalar na formação e
educação permanente de enfermeiros-líderes. Essas categorias manifestaram-se
tanto na entrevista quanto durante os grupos focais.
Papel da Instituição de Ensino Superior na formação de enfermeiros-líderes
A maioria das participantes declarou seu descontentamento sobre o papel das
instituições de ensino superior na formação de enfermeiros-líderes, que pode
ser evidenciado nos seguintes depoimentos:
A gente chega ao mercado de trabalho e é engolido por ele. Na
faculdade não te preparam, tu és praticamente jogado aos leões, eles
te ensinam a fazer escala e algumas teorias da administração que
pouco se usa, mas liderança mesmo quase não é desenvolvida. (E11)
Eu não sinto que a faculdade tenha me ajudado porque quando eu tive
que assumir uma unidade eu estava sozinha, era só eu. Até no estágio
que era eu e a enfermeira da instituição era complicado, eu ficava
sempre esperando que alguém me dissesse o que fazer. (E10)
Um estudo a respeito do ensino de enfermagem revelou que a formação tem
priorizado o aprendizado de procedimentos técnicos. Verifica-se também que os
conteúdos teóricos têm sido apresentados na forma de aulas exaustivas sem a
devida relevância do seu significado real e, desarticulados entre si, não
oferecendo o retorno desejado ao aluno(9). Este tipo de ensino pode explicar,
pelo menos em parte a dificuldade no exercício da liderança, tendo em vista que
o mesmo, quando descontextualizado da prática e da realidade laboral, não
instrumentaliza o futuro profissional para ser líder da equipe, uma vez que a
liderança exige tomada de decisão a partir do vivido.
Percebe-se no último depoimento que a enfermeira critica sua formação
acadêmica, no entanto, o mesmo também permite antever seu papel enquanto
educanda. Ao analisar essa fala construiu-se o seguinte questionamento: Por que
a participante E10 ficava sempre esperando que alguém dissesse o que fazer?
Acredita-se que ao longo do curso as acadêmicas assumem ou são levadas a
assumir uma postura mais passiva esperando que os professores ou ainda, outros
profissionais como enfermeiras e médicos digam o que deve ser feito. Dessa
forma, quando se formam evidenciam a sensação de "estar sozinhas" gerando
insegurança, além de dificultar o gerenciamento das ações de enfermagem e
comprometer sua liderança perante a equipe. Mediante o exposto, a prevalência
de um ensino autocrático, que mascara o processo dialógico e o pensamento
crítico e reflexivo, pode corroborar com a ocorrência de tal situação.
Outro aspecto emergido nas discussões é o processo de ensino-aprendizado formal
da liderança na Instituição de Ensino Superior, na qual 10 das 11 participantes
realizaram a graduação em Enfermagem. Ao analisar o projeto pedagógico da
Faculdade de Enfermagem em questão, pode-se identificar que o ensino formal da
liderança é limitado aos últimos semestres da graduação, estando associado à
disciplina de Administração.
[...] a gente chega totalmente despreparado. O tempo que o curso
prepara é muito pouco, porque é só no penúltimo semestre que começam
a trabalhar isso contigo. (E10)
De repente a gente só se preocupa em ser um bom técnico. Não me
preocupava em exercer a liderança. (E5)
Na percepção das enfermeiras, o graduando tem sua formação voltada para o
aprendizado das atividades técnicas e, somente próximo ao término do curso, é-
lhe apresentado o real papel que irá desempenhar nos serviços de saúde, em
especial nas instituições hospitalares.
Pode-se afirmar que os depoimentos acima, apresentam resquícios do início da
institucionalização da enfermagem. Com a instrumentalização da clínica, o saber
anátomo-fisiológico passa a enfocar como objeto de trabalho, dos profissionais
da saúde, a recuperação e cura do corpo. E o agente que histórica e socialmente
preside esse processo é o médico. Devido à complexidade do conhecimento e a
ampliação da infra-estrutura das instituições hospitalares, outros
trabalhadores agregaram-se a este profissional. Por intermédio da impregnação
da cura como resultado do processo de trabalho, o saber da enfermagem desloca-
se do cuidado e passa a centrar-se na execução de tarefas e procedimentos
técnicos perdendo parte de sua identidade(10).
Durante a graduação, contata-se que alguns estudantes preocupam-se,
excessivamente, em realizar atividades técnicas. Assim, é possível visualizar o
tecnicismo na formação, a desvalorização de aspectos gerenciais, como a
liderança, que muitas vezes, é lembrada quando o enfermeiro já está inserido na
prática profissional e necessita solucionar conflitos, além de coordenar uma
equipe, que em geral, é constituída por profissionais com mais idade e
experiência.
Diante disso, a liderança desponta enquanto competência profissional,
considerada por alguns autores da enfermagem como um fenômeno de influência
grupal, no qual é imprescindível agregar esforços individuais, para atingir os
objetivos compartilhados pelo grupo(7,11).
Cabe destacar que o aprendizado da enfermagem, ainda hoje, está associado às
atividades de natureza técnica, o que acaba influenciando o cuidado prestado
pelos profissionais. Por conseguinte, este cuidado é realizado, na maioria das
vezes, de forma mecânica, norteado por tarefas que obedecem rigidamente normas
e prescrições(12).
Ainda identifica-se a desarticulação, do ponto de vista das participantes do
estudo, entre o ensino da enfermagem oferecido pela universidade, da qual as
enfermeiras participantes são egressas e as exigências do mercado de trabalho.
Eu acho que a faculdade te formou para uma coisa e a realidade te
mostrou outra. Primeiro tu sai da universidade achando que tu és um
líder, que tu vai chegar na unidade e vão te respeitar, mas te criam
um mundo utópico, que não existe. (E4)
A formação se refere a um conceito, que compreende educação como instituição em
uma dada sociedade, ou seja, é o sistema educacional formal, público e privado,
constituído pelas escolas e universidades regulamentadas por órgãos federais e
estaduais(13).
No contexto atual, almeja-se a formação de enfermeiros capazes de atender as
necessidades dos indivíduos e coletividades. Para tanto, torna-se essencial
repensar as desarmonias existentes entre o ensino e às exigências do atual
mercado de trabalho, sem olvidar que esse último, está engajado a um modelo
econômico e social, competitivo, individualizado e alienante. Conforme o
exposto, não há dúvidas de que a responsabilidade das Instituições de Ensino
Superior é formar líderes, críticos, reflexivos, politizados capazes de atuar
de forma coerente, a fim de criar e recriar sua realidade.
A educação tem sido reforçada como um instrumento capaz de conduzir à formação
de indivíduos que irão compor a "nova" sociedade, ainda em construção.
Sociedade está que demandaria e revalorizaria o desenvolvimento de uma cultura
geral, na qual ensinar e aprender seriam processos que acompanhariam cada
sujeito ao longo da vida; que aproximaria a escola da empresa; que
transformaria as relações de trabalho e que interferiria diretamente na
objetividade e na subjetividade do sujeito-trabalhador, a fim de
responsabilizá-los por suas ações, bem como pelo desenvolvimento ou não de suas
potencialidades(14).
Outro fator que, na percepção das participantes da pesquisa, dificulta o
aprendizado da liderança é o distanciamento dos docentes da prática
assistencial.
Na universidade têm professores que já estão fora da prática há muito
tempo e criam um mundo para ti que não existe. (E4)
[...] as professoras vivem baseadas em situações que elas pescam
durante os estágios, mas experiência de liderança dentro da equipe,
poucas ali têm para passar. (E11)
Na contemporaneidade, o docente necessita assumir efetivamente uma posição
diante dos desafios postos ao ser humano para o enfrentamento de uma nova era,
cujas tendências exigem, do profissional do futuro, o perfil de uma pessoa
capaz de investir no seu autoconhecimento, que seja ágil e criativo na
resolução de problemas, que tenha conhecimento variado e com habilidades nas
relações humanas(15).
A reflexão sobre como desenvolver o ensino-aprendizagem da liderança é
imprescindível para a formação de enfermeiros com esta competência. Assim, as
participantes consideram a experiência como um aspecto facilitador para o
ensino da liderança que permite enriquecer os momentos de aprendizagem e, por
consequência, aproximar as aulas teóricas da realidade, tornando-as mais
atraentes para os estudantes. Além disso, a liderança pode ser trabalhada na
graduação desde os semestres iniciais, tangenciando cada disciplina, porque
indiferente da área de atuação, o enfermeiro irá executar ações gerenciais, que
se tornarão mais acessíveis aos profissionais que dominam essa competência.
Para tanto, se faz necessário que os docentes conheçam a trajetória de vida do
aluno, pois alguns poderão ter características que facilitem o exercício da
liderança, enquanto outros necessitarão de mais estímulos para desenvolvê-la.
Sendo assim, a formação dos enfermeiros precisa semear a crítica, a reflexão, a
autonomia e, consequentemente, a capacidade de liderar.
Papel da Instituição Hospitalar na educação permanente de enfermeiros-líderes
A segunda categoria refere-se à contribuição da instituição hospitalar para o
desenvolvimento da capacidade de liderança. Parte-se do pressuposto que a
liderança é uma competência, pelo menos teoricamente, conhecida pelos
enfermeiros. Seu aprendizado, contudo, não pode restringir-se à conclusão do
ensino superior devendo ser aprimorado no dia-a-dia. Os depoimentos a seguir,
exemplificam a conduta da instituição hospitalar relacionada ao desenvolvimento
da liderança no ambiente de trabalho.
[...] não tem motivação para a gente estudar, fazer algum curso, para
crescer profissionalmente. Não tem liberação do horário para estudar,
e quando conseguimos algum título continuamos no mesmo lugar no
hospital, a gente nunca vai crescer .(E3)
Quando eu fui admitida eu tive a cobrança da chefia de enfermagem de
ser uma líder e exercer a liderança, mas ao mesmo tempo a instituição
nunca deu palestras, cursos de aperfeiçoamento, reuniões em relação a
este tema específico. (E5)
[..] não vejo a instituição estimular a capacitação da liderança.
Acho que tinha que ter mais reuniões, capacitações, trazer as pessoas
para falar sobre o assunto, estimular a liderança. Na instituição
eles não negam que tu faças cursos, que tu te especializes, mas ao
mesmo tempo não tem liberação de horário [...] eu tenho vontade de
estudar, mas me acomodo porque tenho que repor as horas, também não
tem incentivo financeiro e nem a liberação do trabalho, isso me
desmotiva. (E8)
Identifica-se nos depoimentos acima a presença de certa contradição, pois mesmo
criticando o ensino teórico da graduação, resultado apresentado na primeira
categoria, as participantes solicitam da instituição hospitalar à implantação
de estratégias de aperfeiçoamento, também teóricas, como palestras e cursos de
capacitação. Diante dessa circunstância, a educação permanente desponta como
uma proposta que visa problematizar a prática, disponibilizar soluções
adequadas às características dos locais e trabalhadores, não se limitando a uma
formação pontual. De acordo com os resultados obtidos, acredita-se que essa
proposta carece diferir do processo ensino-aprendizagem oferecido pela
instituição de ensino superior, pois o mesmo tem sido criticado pelas
participantes do estudo, devendo sua replicação ser evitada na prática
profissional.
Por outro lado, poucos enfermeiros, descrevem a instituição como um ambiente
onde há possibilidade de crescimento profissional, em virtude das experiências
oferecidas em seu cotidiano.
Eu acho que a universidade até dá uma base, mas tu vai aprender mesmo
como ser um líder dependendo do meio que tu te insere. (E2)
A instituição acaba ajudando no teu dia-a-dia, com a cobrança. (E9)
Através da análise destes depoimentos, aprender na prática da enfermeira E2
parece estar associado apenas em vivenciar a profissão numa idéia de ensino-
aprendizagem individual. Já no segundo depoimento, aprender está ligado à
cobrança, o que é típico do ensino tradicional e que vem sendo, constantemente,
criticado. Mais uma vez, verifica-se a existência de contradições no
posicionamento das participantes, as quais almejam mudanças tanto na formação
acadêmica como profissional, que estão ainda alicerçadas ao modelo educacional
clássico.
A fim de colaborar com a resolução desta problemática, destaca-se a educação
permanente como uma estratégia que pode ser utilizada no ambiente de trabalho.
A educação permanente é compreendida como um processo educativo, que
possibilita o surgimento de um espaço para pensar e fazer no trabalho. Também
pode ser compreendida como uma ação que possibilita ao indivíduo maior
capacidade de atuar dentro do mundo do trabalho, como ser que constrói e
destrói sua realidade, norteado por valores políticos, culturais e éticos(16-
17).
A educação dos trabalhadores é fator essencial para o desenvolvimento da
sociedade que vive em constantes transformações. No mundo do trabalho, a
possibilidade de educação permanente deve contemplar a incorporação de novas
tecnologias, e a própria pressão social deve desencadear processos que
assegurem a cidadania. Dessa forma, a educação permanente em saúde requer um
contínuo de ações de trabalho-aprendizagem que ocorre em um espaço de trabalho/
produção/educação em saúde, que parte de uma situação existente, geralmente uma
situação-problema, e se dirige a superá-la, a mudá-la, a transformá-la em uma
situação diferente e desejada(17).
Neste cenário, as instituições hospitalares são entendidas como locais
propícios para o desenvolvimento profissional, as quais são consideradas
sistemas complexos que absorvem grande parte dos profissionais da saúde e
disponibilizam empregos para diversos trabalhadores que atuam na administração,
higienização, manutenção entre outras áreas que se fazem necessárias(18).
Entretanto, o processo de trabalho dos profissionais de enfermagem desenvolvido
em tais instituições é, comumente, executado de forma fragmentada, o que
intensifica a lacuna existente entre as ações realizadas pelos profissionais de
enfermagem, acarretando na compartimentalização da pessoa a ser cuidada.
Contribuindo para que o cuidado, tarefa profissional da enfermagem, seja alvo
de críticas relacionadas à forma mecanicista e burocratizada como é
desenvolvido, sofrendo, em contrapartida, questionamentos sobre os recursos e
instrumentais utilizados para a sua consecução, os quais permanecem
interligados a paradigmas tradicionais, que acabam ferindo o viver humano, em
sua subjetividade e complexidade(19).
Por estes motivos, emerge a educação permanente como uma estratégia capaz de
amenizar as condições atuais do trabalho nas instituições hospitalares, através
do distanciamento desse modelo institucional que aliena os profissionais e
transforma o trabalho em uma carga pesada e sofrida, substituindo-se por um
local promotor de satisfação, desenvolvimento e capacitação pessoal. A adoção
da educação permanente poderá contribuir positivamente para a modificação das
condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais da saúde, em especial os
da enfermagem(20).
Neste sentido, reforça-se a idéia de que a educação permanente tem por objetivo
qualificar e promover qualidade de vida aos trabalhadores e, por conseguinte,
oferecer uma assistência que atenda as reais necessidades da população. Sob
esta ótica, deve-se ter claro que a responsabilidade pela formação profissional
não recai exclusivamente nas unidades de ensino, pois, também necessita da
participação das instituições onde são desenvolvidas as atividades práticas.
Salienta-se a importância do papel do enfermeiro como promotor de sua formação
e qualidade de vida no trabalho. Nesse sentido, os enfermeiros necessitam
considerar que o exercício da crítica não compete somente aos outros, mas
fundamentalmente a si próprio, ao modo como tem norteado sua formação, bem como
resgatado sua responsabilidade frente à busca de melhor qualificação
profissional. Somente pode ser líder de uma equipe, a pessoa que promove seu
autoconhecimento, traça metas e estratégias para seu crescimento pessoal e
profissional, bem como de seus colaboradores, visando fortalecer as
potencialidades do grupo e superar suas fragilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do estudo foi possível conhecer na percepção das participantes, o
papel de uma instituição de ensino superior e de uma instituição hospitalar na
formação do enfermeiro-líder. Os depoimentos das enfermeiras expressam a
existência de lacunas no processo de ensino-aprendizado da liderança durante
sua graduação, lacunas estas evidenciadas pelo pouco tempo demandado ao ensino
de tal competência e distanciamento dos docentes da prática assistencial.
Também se identificou o descontentamento das participantes no que tange o
desenvolvimento permanente da liderança na instituição hospitalar, estando
vinculado ao escasso incentivo destinado à participação das enfermeiras,
principalmente, em cursos de pós-graduação. Contudo, apesar das várias queixas
atribuídas ao sistema educativo percebe-se que é para esse mesmo sistema que as
participantes gostariam de retornar, mediante sua inclusão em cursos de
aperfeiçoamento profissional, capacitações e palestras.
Ainda, constatou-se que as enfermeiras estão pouco instrumentalizadas para
exercer a liderança enquanto competência profissional. Mediante o exposto, cabe
aos docentes sensibilizarem-se para a importância do ensino formal da liderança
ao longo do curso de graduação, bem como, instigarem os discentes para a
importância da liderança no seu processo de trabalho e para as facilidades que
a mesma proporcionará ao enfermeiro-líder durante o gerenciamento da unidade e
da equipe.
O estudo possibilitou a reflexão sobre a temática em pauta, no entanto, a
discussão não se dá por encerrada, pois ainda existem questões que precisam ser
exploradas. Todavia, o mesmo reforça a responsabilidade das instituições de
ensino superior e hospitalares frente à formação e o desenvolvimento permanente
de enfermeiros-líderes, pois além de potencializar as ações cuidativas, a
liderança poderá auxiliar o enfermeiro na construção de uma ambiente de
trabalho satisfatório, por meio do estabelecimento de vínculos profissionais
saudáveis e de processos dialógicos entre o enfermeiro e os demais os
integrantes da equipe de enfermagem.
Assim, poder-se-á disponibilizar ao mercado de trabalho enfermeiros-líderes
críticos, reflexivos, criativos, éticos, os quais sejam capazes de aprender a
aprender, de colaborar com a autonomia e co-responsabilização de seus
colaboradores na tomada de decisões, no planejamento e na implementação das
práticas assistenciais, com intuito de atender as demandas sociais.