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BrBRCVHe0034-71672010000600011

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National varietyBr
Year2010
SourceScielo

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Processo de formação de enfermeiros líderes

INTRODUÇÃO O processo de formação de enfermagem sofreu várias modificações ao longo dos anos, resultantes de mudanças ocorridas nos diversos contextos históricos. Em decorrência disso, o perfil dos enfermeiros também apresentou significativas transformações(1).

Em 2001 foram instituídas as novas Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem baseadas em competências. Tais diretrizes definem a formação de enfermeiros generalistas, humanos, críticos e reflexivos, capazes de aprender a aprender e que atendam as necessidades da população de acordo com os princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS)(2).

Diante dessa conjuntura, enfatiza-se que o conceito de competência é central nas propostas de reformas curriculares em distintos níveis e modalidades de ensino de diferentes países. no Brasil, este conceito constitui-se na referência para diretrizes curriculares oficiais e para avaliação de sistemas escolares(3). Conforme Perrenoud, sociólogo suíço que vem desenvolvendo pesquisas sobre a temática, competência consiste na capacidade de agir de forma eficaz frente a um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles(4). A competência emerge como uma maneira de repensar as interações estabelecidas entre as pessoas e seus saberes, bem como entre as organizações e suas demandas frente aos processos de trabalho(5).

Dentre as competências instituídas nas Diretrizes Curriculares, necessárias para o exercício da enfermagem, destaca-se: a atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, administração e gerenciamento, educação permanente e liderança, competência a qual se dará ênfase no estudo em questão(2).

A liderança representa o processo de influenciar as pessoas a atuar de modo ético-profissional, exigindo a construção de laços de confiança, a fim de que se possa trabalhar em conjunto, com o intuito de alcançar objetivos em comum (6). No processo de trabalho da enfermagem, a liderança representa um instrumento gerencial indispensável, pois se encontra tangenciando a rede das relações humanas do enfermeiro ao coordenar uma equipe de trabalho, além de contribuir na tomada de decisões e no enfrentamento de conflitos(7).

A competência para liderar, assim como as outras, devem ser desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior (IES) e aprimoradas ao longo da vida profissional e, portanto as escolas e instituições hospitalares têm cada uma um papel fundamental nesse processo, a primeira na formação e a segunda na educação contínua do profissional, conforme reconhecido e preconizado pela Política Nacional de Educação Permanente(2).

Convém informar que o presente artigo é um recorte da dissertação de mestrado, cuja temática abordada foi a liderança como instrumento no processo de trabalho da enfermagem(7). Acredita-se que o impacto causado pelos depoimentos das participantes justifica a elaboração do mesmo, o qual teve por objetivo conhecer o papel de uma instituição de ensino superior e de uma instituição hospitalar na formação e educação permanente de enfermeiros-líderes.

MÉTODO Tratou-se de um estudo qualitativo o qual foi realizado durante os meses de fevereiro e março de 2008, em um hospital de grande porte, que presta assistência pelo SUS, convênios e particulares, localizado na região sul do Rio Grande do Sul. Participaram da pesquisa onze enfermeiras, com idade entre 23 e 39 anos; sete especialistas e uma mestranda; com tempo de experiência profissional variando de 1 ano e 3 meses a 15 anos, e tempo de trabalho na instituição entre 1 e 15 anos. Dentre as participantes, destaca-se que dez são egressas de uma mesma universidade federal situada na região em questão.

Para a coleta dos dados, fez-se uso de entrevistas semi-estruturadas e grupo focal. As entrevistas semi-estruturadas aconteceram em uma sala reservada, na instituição hospitalar do estudo. O conteúdo das gravações foi transcrito logo após a sua realização. Quanto ao grupo focal, foram realizados três encontros tendo aproximadamente uma hora de duração. No primeiro, o processo de trabalho da enfermagem constituiu-se no tema central. no segundo grupo apresentou-se os dados obtidos no primeiro encontro, abriu-se espaço para discussão e, posteriormente, verificou-se a existência de dúvidas sobre o tema, a fim de saná-las. No último encontro, os dados foram validados pelas participantes.

Convém informar que as discussões no grupo foram gravadas e transcritas na íntegra, assim como as entrevistas.

Optou-se pela utilização da Análise de Conteúdo(8) como técnica para tratamento dos dados, por ser entendida como um meio de expressão do sujeito, no qual o analista visa categorizar as palavras ou frases, que aparecem com mais frequência no texto e após infere uma expressão que possa representá-los de forma adequada. Nesse sentido, as transcrições foram lidas repetidas vezes e, a partir desta leitura foram estabelecidas duas categorias: instituição de ensino superior na formação de enfermeiros-líderes e instituição hospitalar na formação permanente de enfermeiros-líderes.

Para o desenvolvimento do estudo foram respeitados os procedimentos éticos exigidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde; com aprovação pelo Comitê de Ética da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, sob o protocolo 29/2007. Dessa forma, todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Acredita-se que a formação do enfermeiro é permeada por diversas habilidades e competências, as quais vão sendo construídas ao longo do processo de formação acadêmica que inclui uma multiplicidade de conhecimentos e práticas, bem como a associação da teoria e prática, ou seja, a práxis em saúde. Esse contexto exige que a postura dos educadores e outros profissionais com quem os estudantes interagem, ao longo das vivências acadêmicas, os estimulem a desenvolver as competências necessárias para tornarem-se lideres.

Pensando nisso, resgataram-se as duas categorias que emergiram dos depoimentos das enfermeiras participantes da pesquisa, a fim de identificar o papel de uma instituição de ensino superior e de uma instituição hospitalar na formação e educação permanente de enfermeiros-líderes. Essas categorias manifestaram-se tanto na entrevista quanto durante os grupos focais.

Papel da Instituição de Ensino Superior na formação de enfermeiros-líderes A maioria das participantes declarou seu descontentamento sobre o papel das instituições de ensino superior na formação de enfermeiros-líderes, que pode ser evidenciado nos seguintes depoimentos: A gente chega ao mercado de trabalho e é engolido por ele. Na faculdade não te preparam, tu és praticamente jogado aos leões, eles te ensinam a fazer escala e algumas teorias da administração que pouco se usa, mas liderança mesmo quase não é desenvolvida. (E11) Eu não sinto que a faculdade tenha me ajudado porque quando eu tive que assumir uma unidade eu estava sozinha, era eu. Até no estágio que era eu e a enfermeira da instituição era complicado, eu ficava sempre esperando que alguém me dissesse o que fazer. (E10) Um estudo a respeito do ensino de enfermagem revelou que a formação tem priorizado o aprendizado de procedimentos técnicos. Verifica-se também que os conteúdos teóricos têm sido apresentados na forma de aulas exaustivas sem a devida relevância do seu significado real e, desarticulados entre si, não oferecendo o retorno desejado ao aluno(9). Este tipo de ensino pode explicar, pelo menos em parte a dificuldade no exercício da liderança, tendo em vista que o mesmo, quando descontextualizado da prática e da realidade laboral, não instrumentaliza o futuro profissional para ser líder da equipe, uma vez que a liderança exige tomada de decisão a partir do vivido.

Percebe-se no último depoimento que a enfermeira critica sua formação acadêmica, no entanto, o mesmo também permite antever seu papel enquanto educanda. Ao analisar essa fala construiu-se o seguinte questionamento: Por que a participante E10 ficava sempre esperando que alguém dissesse o que fazer? Acredita-se que ao longo do curso as acadêmicas assumem ou são levadas a assumir uma postura mais passiva esperando que os professores ou ainda, outros profissionais como enfermeiras e médicos digam o que deve ser feito. Dessa forma, quando se formam evidenciam a sensação de "estar sozinhas" gerando insegurança, além de dificultar o gerenciamento das ações de enfermagem e comprometer sua liderança perante a equipe. Mediante o exposto, a prevalência de um ensino autocrático, que mascara o processo dialógico e o pensamento crítico e reflexivo, pode corroborar com a ocorrência de tal situação.

Outro aspecto emergido nas discussões é o processo de ensino-aprendizado formal da liderança na Instituição de Ensino Superior, na qual 10 das 11 participantes realizaram a graduação em Enfermagem. Ao analisar o projeto pedagógico da Faculdade de Enfermagem em questão, pode-se identificar que o ensino formal da liderança é limitado aos últimos semestres da graduação, estando associado à disciplina de Administração.

[...] a gente chega totalmente despreparado. O tempo que o curso prepara é muito pouco, porque é no penúltimo semestre que começam a trabalhar isso contigo. (E10) De repente a gente se preocupa em ser um bom técnico. Não me preocupava em exercer a liderança. (E5) Na percepção das enfermeiras, o graduando tem sua formação voltada para o aprendizado das atividades técnicas e, somente próximo ao término do curso, é- lhe apresentado o real papel que irá desempenhar nos serviços de saúde, em especial nas instituições hospitalares.

Pode-se afirmar que os depoimentos acima, apresentam resquícios do início da institucionalização da enfermagem. Com a instrumentalização da clínica, o saber anátomo-fisiológico passa a enfocar como objeto de trabalho, dos profissionais da saúde, a recuperação e cura do corpo. E o agente que histórica e socialmente preside esse processo é o médico. Devido à complexidade do conhecimento e a ampliação da infra-estrutura das instituições hospitalares, outros trabalhadores agregaram-se a este profissional. Por intermédio da impregnação da cura como resultado do processo de trabalho, o saber da enfermagem desloca- se do cuidado e passa a centrar-se na execução de tarefas e procedimentos técnicos perdendo parte de sua identidade(10).

Durante a graduação, contata-se que alguns estudantes preocupam-se, excessivamente, em realizar atividades técnicas. Assim, é possível visualizar o tecnicismo na formação, a desvalorização de aspectos gerenciais, como a liderança, que muitas vezes, é lembrada quando o enfermeiro está inserido na prática profissional e necessita solucionar conflitos, além de coordenar uma equipe, que em geral, é constituída por profissionais com mais idade e experiência.

Diante disso, a liderança desponta enquanto competência profissional, considerada por alguns autores da enfermagem como um fenômeno de influência grupal, no qual é imprescindível agregar esforços individuais, para atingir os objetivos compartilhados pelo grupo(7,11).

Cabe destacar que o aprendizado da enfermagem, ainda hoje, está associado às atividades de natureza técnica, o que acaba influenciando o cuidado prestado pelos profissionais. Por conseguinte, este cuidado é realizado, na maioria das vezes, de forma mecânica, norteado por tarefas que obedecem rigidamente normas e prescrições(12).

Ainda identifica-se a desarticulação, do ponto de vista das participantes do estudo, entre o ensino da enfermagem oferecido pela universidade, da qual as enfermeiras participantes são egressas e as exigências do mercado de trabalho.

Eu acho que a faculdade te formou para uma coisa e a realidade te mostrou outra. Primeiro tu sai da universidade achando que tu és um líder, que tu vai chegar na unidade e vão te respeitar, mas te criam um mundo utópico, que não existe. (E4) A formação se refere a um conceito, que compreende educação como instituição em uma dada sociedade, ou seja, é o sistema educacional formal, público e privado, constituído pelas escolas e universidades regulamentadas por órgãos federais e estaduais(13).

No contexto atual, almeja-se a formação de enfermeiros capazes de atender as necessidades dos indivíduos e coletividades. Para tanto, torna-se essencial repensar as desarmonias existentes entre o ensino e às exigências do atual mercado de trabalho, sem olvidar que esse último, está engajado a um modelo econômico e social, competitivo, individualizado e alienante. Conforme o exposto, não dúvidas de que a responsabilidade das Instituições de Ensino Superior é formar líderes, críticos, reflexivos, politizados capazes de atuar de forma coerente, a fim de criar e recriar sua realidade.

A educação tem sido reforçada como um instrumento capaz de conduzir à formação de indivíduos que irão compor a "nova" sociedade, ainda em construção.

Sociedade está que demandaria e revalorizaria o desenvolvimento de uma cultura geral, na qual ensinar e aprender seriam processos que acompanhariam cada sujeito ao longo da vida; que aproximaria a escola da empresa; que transformaria as relações de trabalho e que interferiria diretamente na objetividade e na subjetividade do sujeito-trabalhador, a fim de responsabilizá-los por suas ações, bem como pelo desenvolvimento ou não de suas potencialidades(14).

Outro fator que, na percepção das participantes da pesquisa, dificulta o aprendizado da liderança é o distanciamento dos docentes da prática assistencial.

Na universidade têm professores que estão fora da prática muito tempo e criam um mundo para ti que não existe. (E4) [...] as professoras vivem baseadas em situações que elas pescam durante os estágios, mas experiência de liderança dentro da equipe, poucas ali têm para passar. (E11) Na contemporaneidade, o docente necessita assumir efetivamente uma posição diante dos desafios postos ao ser humano para o enfrentamento de uma nova era, cujas tendências exigem, do profissional do futuro, o perfil de uma pessoa capaz de investir no seu autoconhecimento, que seja ágil e criativo na resolução de problemas, que tenha conhecimento variado e com habilidades nas relações humanas(15).

A reflexão sobre como desenvolver o ensino-aprendizagem da liderança é imprescindível para a formação de enfermeiros com esta competência. Assim, as participantes consideram a experiência como um aspecto facilitador para o ensino da liderança que permite enriquecer os momentos de aprendizagem e, por consequência, aproximar as aulas teóricas da realidade, tornando-as mais atraentes para os estudantes. Além disso, a liderança pode ser trabalhada na graduação desde os semestres iniciais, tangenciando cada disciplina, porque indiferente da área de atuação, o enfermeiro irá executar ações gerenciais, que se tornarão mais acessíveis aos profissionais que dominam essa competência.

Para tanto, se faz necessário que os docentes conheçam a trajetória de vida do aluno, pois alguns poderão ter características que facilitem o exercício da liderança, enquanto outros necessitarão de mais estímulos para desenvolvê-la.

Sendo assim, a formação dos enfermeiros precisa semear a crítica, a reflexão, a autonomia e, consequentemente, a capacidade de liderar.

Papel da Instituição Hospitalar na educação permanente de enfermeiros-líderes A segunda categoria refere-se à contribuição da instituição hospitalar para o desenvolvimento da capacidade de liderança. Parte-se do pressuposto que a liderança é uma competência, pelo menos teoricamente, conhecida pelos enfermeiros. Seu aprendizado, contudo, não pode restringir-se à conclusão do ensino superior devendo ser aprimorado no dia-a-dia. Os depoimentos a seguir, exemplificam a conduta da instituição hospitalar relacionada ao desenvolvimento da liderança no ambiente de trabalho.

[...] não tem motivação para a gente estudar, fazer algum curso, para crescer profissionalmente. Não tem liberação do horário para estudar, e quando conseguimos algum título continuamos no mesmo lugar no hospital, a gente nunca vai crescer .(E3) Quando eu fui admitida eu tive a cobrança da chefia de enfermagem de ser uma líder e exercer a liderança, mas ao mesmo tempo a instituição nunca deu palestras, cursos de aperfeiçoamento, reuniões em relação a este tema específico. (E5) [..] não vejo a instituição estimular a capacitação da liderança.

Acho que tinha que ter mais reuniões, capacitações, trazer as pessoas para falar sobre o assunto, estimular a liderança. Na instituição eles não negam que tu faças cursos, que tu te especializes, mas ao mesmo tempo não tem liberação de horário [...] eu tenho vontade de estudar, mas me acomodo porque tenho que repor as horas, também não tem incentivo financeiro e nem a liberação do trabalho, isso me desmotiva. (E8) Identifica-se nos depoimentos acima a presença de certa contradição, pois mesmo criticando o ensino teórico da graduação, resultado apresentado na primeira categoria, as participantes solicitam da instituição hospitalar à implantação de estratégias de aperfeiçoamento, também teóricas, como palestras e cursos de capacitação. Diante dessa circunstância, a educação permanente desponta como uma proposta que visa problematizar a prática, disponibilizar soluções adequadas às características dos locais e trabalhadores, não se limitando a uma formação pontual. De acordo com os resultados obtidos, acredita-se que essa proposta carece diferir do processo ensino-aprendizagem oferecido pela instituição de ensino superior, pois o mesmo tem sido criticado pelas participantes do estudo, devendo sua replicação ser evitada na prática profissional.

Por outro lado, poucos enfermeiros, descrevem a instituição como um ambiente onde possibilidade de crescimento profissional, em virtude das experiências oferecidas em seu cotidiano.

Eu acho que a universidade até uma base, mas tu vai aprender mesmo como ser um líder dependendo do meio que tu te insere. (E2) A instituição acaba ajudando no teu dia-a-dia, com a cobrança. (E9) Através da análise destes depoimentos, aprender na prática da enfermeira E2 parece estar associado apenas em vivenciar a profissão numa idéia de ensino- aprendizagem individual. no segundo depoimento, aprender está ligado à cobrança, o que é típico do ensino tradicional e que vem sendo, constantemente, criticado. Mais uma vez, verifica-se a existência de contradições no posicionamento das participantes, as quais almejam mudanças tanto na formação acadêmica como profissional, que estão ainda alicerçadas ao modelo educacional clássico.

A fim de colaborar com a resolução desta problemática, destaca-se a educação permanente como uma estratégia que pode ser utilizada no ambiente de trabalho.

A educação permanente é compreendida como um processo educativo, que possibilita o surgimento de um espaço para pensar e fazer no trabalho. Também pode ser compreendida como uma ação que possibilita ao indivíduo maior capacidade de atuar dentro do mundo do trabalho, como ser que constrói e destrói sua realidade, norteado por valores políticos, culturais e éticos(16- 17).

A educação dos trabalhadores é fator essencial para o desenvolvimento da sociedade que vive em constantes transformações. No mundo do trabalho, a possibilidade de educação permanente deve contemplar a incorporação de novas tecnologias, e a própria pressão social deve desencadear processos que assegurem a cidadania. Dessa forma, a educação permanente em saúde requer um contínuo de ações de trabalho-aprendizagem que ocorre em um espaço de trabalho/ produção/educação em saúde, que parte de uma situação existente, geralmente uma situação-problema, e se dirige a superá-la, a mudá-la, a transformá-la em uma situação diferente e desejada(17).

Neste cenário, as instituições hospitalares são entendidas como locais propícios para o desenvolvimento profissional, as quais são consideradas sistemas complexos que absorvem grande parte dos profissionais da saúde e disponibilizam empregos para diversos trabalhadores que atuam na administração, higienização, manutenção entre outras áreas que se fazem necessárias(18).

Entretanto, o processo de trabalho dos profissionais de enfermagem desenvolvido em tais instituições é, comumente, executado de forma fragmentada, o que intensifica a lacuna existente entre as ações realizadas pelos profissionais de enfermagem, acarretando na compartimentalização da pessoa a ser cuidada.

Contribuindo para que o cuidado, tarefa profissional da enfermagem, seja alvo de críticas relacionadas à forma mecanicista e burocratizada como é desenvolvido, sofrendo, em contrapartida, questionamentos sobre os recursos e instrumentais utilizados para a sua consecução, os quais permanecem interligados a paradigmas tradicionais, que acabam ferindo o viver humano, em sua subjetividade e complexidade(19).

Por estes motivos, emerge a educação permanente como uma estratégia capaz de amenizar as condições atuais do trabalho nas instituições hospitalares, através do distanciamento desse modelo institucional que aliena os profissionais e transforma o trabalho em uma carga pesada e sofrida, substituindo-se por um local promotor de satisfação, desenvolvimento e capacitação pessoal. A adoção da educação permanente poderá contribuir positivamente para a modificação das condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais da saúde, em especial os da enfermagem(20).

Neste sentido, reforça-se a idéia de que a educação permanente tem por objetivo qualificar e promover qualidade de vida aos trabalhadores e, por conseguinte, oferecer uma assistência que atenda as reais necessidades da população. Sob esta ótica, deve-se ter claro que a responsabilidade pela formação profissional não recai exclusivamente nas unidades de ensino, pois, também necessita da participação das instituições onde são desenvolvidas as atividades práticas.

Salienta-se a importância do papel do enfermeiro como promotor de sua formação e qualidade de vida no trabalho. Nesse sentido, os enfermeiros necessitam considerar que o exercício da crítica não compete somente aos outros, mas fundamentalmente a si próprio, ao modo como tem norteado sua formação, bem como resgatado sua responsabilidade frente à busca de melhor qualificação profissional. Somente pode ser líder de uma equipe, a pessoa que promove seu autoconhecimento, traça metas e estratégias para seu crescimento pessoal e profissional, bem como de seus colaboradores, visando fortalecer as potencialidades do grupo e superar suas fragilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio do estudo foi possível conhecer na percepção das participantes, o papel de uma instituição de ensino superior e de uma instituição hospitalar na formação do enfermeiro-líder. Os depoimentos das enfermeiras expressam a existência de lacunas no processo de ensino-aprendizado da liderança durante sua graduação, lacunas estas evidenciadas pelo pouco tempo demandado ao ensino de tal competência e distanciamento dos docentes da prática assistencial.

Também se identificou o descontentamento das participantes no que tange o desenvolvimento permanente da liderança na instituição hospitalar, estando vinculado ao escasso incentivo destinado à participação das enfermeiras, principalmente, em cursos de pós-graduação. Contudo, apesar das várias queixas atribuídas ao sistema educativo percebe-se que é para esse mesmo sistema que as participantes gostariam de retornar, mediante sua inclusão em cursos de aperfeiçoamento profissional, capacitações e palestras.

Ainda, constatou-se que as enfermeiras estão pouco instrumentalizadas para exercer a liderança enquanto competência profissional. Mediante o exposto, cabe aos docentes sensibilizarem-se para a importância do ensino formal da liderança ao longo do curso de graduação, bem como, instigarem os discentes para a importância da liderança no seu processo de trabalho e para as facilidades que a mesma proporcionará ao enfermeiro-líder durante o gerenciamento da unidade e da equipe.

O estudo possibilitou a reflexão sobre a temática em pauta, no entanto, a discussão não se por encerrada, pois ainda existem questões que precisam ser exploradas. Todavia, o mesmo reforça a responsabilidade das instituições de ensino superior e hospitalares frente à formação e o desenvolvimento permanente de enfermeiros-líderes, pois além de potencializar as ações cuidativas, a liderança poderá auxiliar o enfermeiro na construção de uma ambiente de trabalho satisfatório, por meio do estabelecimento de vínculos profissionais saudáveis e de processos dialógicos entre o enfermeiro e os demais os integrantes da equipe de enfermagem.

Assim, poder-se-á disponibilizar ao mercado de trabalho enfermeiros-líderes críticos, reflexivos, criativos, éticos, os quais sejam capazes de aprender a aprender, de colaborar com a autonomia e co-responsabilização de seus colaboradores na tomada de decisões, no planejamento e na implementação das práticas assistenciais, com intuito de atender as demandas sociais.


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