Arquitetura e dimensão do sistema radicular de sete porta-enxertos de videira
no Norte do Estado do Paraná
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
BOTÂNICA E FISIOLOGIA
Arquitetura e dimensão do sistema radicular de sete porta-enxertos de videira
no Norte do Estado do Paraná1
Architecture and extension of roots of seven grapevine rootstocks in North of
Paraná State
Ivan BordinI; Carmen Silvia Vieira Janeiro NevesII; Mateus Carvalho Basílio de
AzevedoI; Werner GentaIII; Thiago Luiz Ragugnetti FurlanetoIV
IMestrando em Agronomia. UEL, C.P. 6001, CEP 86051-990, Londrina, PR. Bolsista
CAPES
IIEnga.Agr.a., Profa. Dra., Dep. de Agronomia, UEL, Londrina, PR. E-mail:
csvjneve@uel.br
IIIEngo.Agr.o.,Associação Norte Paranaense de Estudos em Fruticultura ANPEF,
Marialva, PR
IVGraduando em Agronomia, UEL, Londrina, PR. Bolsista PIBIC/CNPq
O sucesso da produção de uvas de mesa depende da cultivar de porta-enxerto
utilizada devido às características que cada uma delas apresenta quanto à
adaptação às condições do solo, clima, facilidade de enraizamento, vigor,
longevidade, resistência a pragas e capacidade de absorver nutrientes (Kishino
& Mashima, 1980). Para isso é essencial que uma planta tenha uma boa
arquitetura radicular que permita o melhor estabelecimento e exploração do solo
e absorção de água e nutrientes, resistindo a possíveis deficiências hídricas
(Reis et al., 1996).
O conhecimento sobre a quantidade e distribuição das raízes é importante para a
produção agrícola por fornecer informações úteis às práticas de manejo, como
espaçamento de plantio, culturas intercalares, manejo do solo, irrigação e,
principalmente, a otimização da distribuição de adubos (Neves et al., 2001).
Segundo Fregoni (1980), a nutrição das videiras, além da marcada influência na
produção, atua ainda na maturação, formato, firmeza da polpa, cor, tamanho,
uniformidade, concentração de açúcares e acidez das bagas.
A propagação dos porta-enxertos por estaquia permite ao sistema radicular da
videira apresentar-se fasciculado, com a particularidade de emitir raízes a
cada gema da estaca, distribuindo-se em uma ou mais camadas, influenciando na
formação da arquitetura radicular (Redondo, 1970). Devido à escassez de
informações sobre a arquitetura do sistema radicular de videiras, o presente
trabalho objetivou avaliar a conformação das raízes de sete porta-enxertos,
utilizando o método da escavação, nas condições do Norte do Paraná.
O experimento foi realizado na primeira quinzena de agosto de 2002 no Município
de Marialva - PR, localizado a 23º 27'S, 51º 47' W, altitude de 600 m, em um
Latossolo Vermelho distroférrico (LVdf) de textura muito argilosa.
Foram avaliadas sete variedades de porta-enxertos (IAC 572, Kobber 5BB,
Rupestris du Lot, IAC 313, IAC 766, Ripária do Traviú e 420 A), que estavam
plantadas no espaçamento de 4 x 4 m há cinco anos, sendo avaliadas quatro
plantas por variedade. As mudas foram propagadas por estaquia em sacos
plásticos de 2 L e plantadas em covas abertas com broca mecânica de diâmetro de
20', com adição de 20 L de esterco de curral suplementado com 0,6 L de adubo
químico da formulação 0-20-20. O manejo das plantas foi limitado a roçadas. As
plantas não receberam irrigação, adubação ou enxertia depois de transferidas
para o campo.
Os porta-enxertos foram expostos por escavação (Böhm, 1979), delimitando-se um
círculo, ao redor de cada planta, de 1,2 m de raio. O solo foi cuidadosamente
retirado partindo-se da periferia para o centro da área assim delimitada, a fim
de evitar-se o corte de raízes próximas ao tronco, até a profundidade de 60 cm.
Os sistemas radiculares foram levados a um galpão e suspensos e fotografados,
nas posições lateral e superior. As fotografias foram avaliadas pelo Sistema
Integrado de Análise de Raízes e Cobertura do Solo (SIARCS 3.0) (Crestana et
al., 1994) e as variáveis comprimento e área avaliadas. Os dados obtidos foram
submetidos à análise de variância e as médias ao teste Tukey, com 5% de
probabilidade.
Para avaliar a arquitetura dos sistemas radiculares foi utilizado um diagrama
de notas, onde a nota zero foi atribuída aos sistemas radiculares com melhor
conformação e a nota 10, às piores conformações (Mason, 1985). A avaliação da
possível influência dos recipientes plásticos sobre as deformações das raízes
foi determinada através da freqüência de raízes enoveladas, atribuindo-se nota
zero para a ausência de raízes em espiral próximas ao tronco e aumentando-se as
notas à medida que o número de raízes enoveladas aumentava. A nota 10 foi
atribuída quando todas as raízes apresentavam-se espiraladas. As notas foram
submetidas ao teste de Kruskal-Wallis.
Os porta-enxertos 'IAC 572' e 'Rupestris du Lot' tiveram a área radicular, nas
imagens laterais, superiores ao '420 A', igualando-se aos demais (Tabela_1).
Para a área referente às imagens superiores, o 'IAC 572' superou o '420 A', não
se diferenciando dos demais.
Quanto ao comprimento das raízes referentes às imagens laterais (Tabela_1),
observou-se também que o porta-enxerto 'IAC 572' foi superior o 'Kobber 5BB' e
'420 A', não se diferenciando das variedades Rupestris du Lot, IAC 313, IAC 766
e Ripária do Traviú. Para as imagens superiores, o comprimento das raízes dos
porta-enxertos 'IAC 572', 'Rupestris du Lot', 'IAC 313' e 'Ripária do Traviú'
não se diferenciaram de 'IAC 766' e 'Kobber 5BB', superando apenas o '420 A'. O
desempenho apresentado pelo porta-enxerto '420 A' pode ser explicado pelo seu
vigor médio e sua dificuldade de desenvolver-se em solos ácidos (Terra et al.,
1993). A maior extensão apresentada pelos sistemas radiculares das plantas de
'IAC 572' e 'Rupestris du Lot' pode ser muito útil quando sob condições de
falta de água no solo, por permitir a estas plantas a exploração de um maior
volume do solo, reduzindo o estresse hídrico, caracterizado pelo fechamento dos
estômatos, e conseqüente diminuição da difusão de CO2 para o mesófilo foliar.
Esse último processo acaba por causar a queda na intensidade de fotossíntese,
ocasionando a redução no tamanho das bagas, atraso no amadurecimento, afetando
a coloração e provocando queimaduras pelo sol (Souza et al., 2001).
Segundo Iannini (1984), os porta-enxertos apresentam grande variação no vigor
em conseqüência das diferentes exigências nutricionais e capacidade de absorção
de água e nutrientes, devido a uma seletividade radicular na absorção de íons
da solução do solo. Este fato foi observado por Alburquerque & Dechen
(2000), que em sistema de hidroponia, confirmaram o maior vigor do porta-
enxerto 'IAC 572', quanto à capacidade de acumular nutrientes, do que as
variedades IAC 313, IAC 766, Dog Ridge, Salt Creek e Harmony na extração de N,
P, K e Ca e igual ao 'IAC 313' na extração de Mg, resultando maior exigência
nutricional e capacidade de produção de biomassa.
Quanto às médias das notas atribuídas às imagens laterais dos porta-enxertos
(Tabela_2), observa-se que ocorreram diferenças não significativas entre eles,
o que indica que, apesar das diferenças na extensão das raízes, a arquitetura
radicular foi semelhante em todos os porta-enxertos. As médias das notas da
arquitetura nas imagens superiores (Tabela_2) também apresentaram diferenças
que não foram significativas entre os tratamentos.
Em relação à freqüência de raízes enoveladas, o porta-enxerto 'IAC 572' foi
superior ao 'Kober 5BB' e ao '420-A', não se diferenciando dos demais (Tabela
2). Estes resultados condizem com as maiores extensões de raízes e, portanto,
maior vigor apresentados pelo 'IAC 572' (Tabela_2), demonstrando um
enovelamento próximo ao tronco devido à limitação oferecida pelos recipientes
ao desenvolvimento radicular, principalmente para as cultivares mais vigorosas.
Este fato é importante a ser considerado no planejamento e plantio dos pomares,
sendo que os porta-enxertos mais vigorosos devem ficar menos tempo nos
recipientes antes do plantio no local definitivo. Dentre os vários problemas
que podem ser ocasionados pelas partes deformadas do sistema radicular,
destacam-se a interferência na partição de hidratos de carbono, produção e
transporte de reguladores de crescimento e absorção de água e nutrientes (Hay
& Woods, 1978), que tendem a se intensificar à medida que aumenta a
deficiência hídrica (Reis & Hall, 1987).
Pode-se concluir que o porta-enxerto 'IAC 572' apresenta o maior comprimento de
raízes, enquanto que o '420-A' apresenta o menor. Os porta-enxertos avaliados
não apresentam diferenças no que diz respeito à arquitetura do sistema
radicular. Os porta-enxertos mais vigorosos apresentam maior proporção de
raízes enoveladas.