Projeto pedagógico do curso de graduação em enfermagem/UFAL: adequações às
diretrizes curriculares
Projeto pedagógico do curso de graduação em enfermagem/UFAL: adequações às
diretrizes curriculares
Pedagogical project for the graduate nursing program at UFAL: adaptations to
curricular guidelines
Proyeto pedagogico del curso de enfermería/UFAL: adecuaciones y distanciamentos
Regina Maria dos SantosI; Francisco da Silva BrandãoII; Rosimar Camilo
ValverdeIII; Maria Cristina Soares Figueiredo TrezzaIV
IEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Professor Adjunto IV Dep. Enf/UFAL, Membro
do Colegiado do Curso de Graduação Enf/UFAL
IIEnfermeiro, Mestre em Enfermagem, Professor Adjunto IV Dep. Enf/UFAL,
Coordenador do Curso de Graduação Enf/UFAL
IIIEnfermeira, Mestre em Enfermagem Saúde da Mulher, Professora Substituta
Depto Enf./UFAL
IVEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Professor Adjunto IV Dep. Enf/UFAL. E-mail
do autor:luhska@uol.com.br
1 Introdução
O Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas foi
criado em 1974, no bojo do movimento pela ampliação dos cursos de graduação em
Enfermagem proposta pelo Ministério da Educação e Cultura, com influência de
fatores locais como a visão do Reitor à época, Prof. Nabuco Lopes e a presença
no porto de Maceió do Navio Hope, navio escola norte americano durante todo o
ano de 1973. O trabalho das enfermeiras neste Navio foi marcante, a ponto de
ser sua presença reclamada pelos médicos, que passaram a exigir que os
hospitais locais contratassem esses profissionais e a incentivar a UFAL a criar
o curso(1).
Na sua trajetória, o curso de graduação em Enfermagem sofreu várias avaliações
e ajustes de grade curricular, passando no período entre 1985 e 1986 por um
processo avaliativo juntamente com outros cursos da UFAL, num projeto ampliado
e financiado pelo Projeto MEC/BIRD III. Os resultados desta avaliação foram
discutidos e evidenciaram a necessidade de uma reforma curricular mais ampla
que foi imediatamente iniciada(2). Em 1986, ao tempo em que, em nível local, o
Colegiado do curso coordenava este projeto, a Associação Brasileira de
Enfermagem - ABEn Nacional deflagrou uma discussão em todo o país sobre a
formação de enfermeiros, cuja norma vigente, o Parecer 163/72, vinha sendo
vista como inadequada para os avanços que a profissão havia conquistado.
A reforma que o curso de enfermagem da UFAL iniciou em 1986 concluiu sua
primeira etapa em 1990 e em 1991 foi iniciada a primeira turma da nova proposta
curricular, enquanto prosseguiam, com representação deste curso em todos os
momentos, as discussões em nível regional e nacional, para a elaboração de uma
nova diretriz para a formação de enfermeiros.
Concluída a primeira turma, foi realizada uma avaliação e várias modificações
foram sugeridas, em relação a conteúdos, estratégias e problemas de
operacionalização, tendo sido aprovada, entre outras coisas, mudanças
significativas no Estágio Curricular e a duração do curso foi alterada para 05
anos, quando a proposta inicial foi de 04 anos . Neste momento também foi
acrescentada a exigência da entrega do Trabalho de Conclusão de Curso como
requisito para a formatura. Essas reformulações foram feitas tendo como
referencial os documentos resultantes do trabalho coordenado pela ABEn
Nacional, já na versão que foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação e
que resultou, depois de muitas dificuldades, nas Diretrizes Curriculares que
agora estão em vigor.
Passados seis anos desta primeira avaliação do currículo implantado, havendo o
Conselho Nacional de Educação aprovado e publicado as atuais Diretrizes
Curriculares - o Colegiado do curso entendeu ser agora o momento de promover
uma segunda avaliação, nos mesmos moldes anteriores, reunindo para isso os
professores do curso, os alunos e enfermeiros das Unidades de Saúde onde são
desenvolvidas as atividades práticas e de estágio, até porque tornou-se
necessário analisar as aproximações e os distanciamentos entre o curso e a
norma vigente.
Iniciando esta avaliação, sentiu-se a necessidade de melhor explorar a
Resolução atual para a graduação em Enfermagem, em relação ao curso da UFAL, o
que foi feito por um processo de análise comparativa. Essa exploração se
justificou porque, embora se compreenda "currículo" numa perspectiva dinâmica,
em contínua atualização, sabe-se que deve guardar princípios capazes de
sustentar-se por um período mínimo que permita a avaliação de seus resultados.
Assim, no momento de avaliar a Proposta Pedagógica do Curso de Enfermagem da
UFAL, conhecer e compreender as Diretrizes Curriculares é um pré - requisito
para uma avaliação produtiva. Daí emerge a relevância deste trabalho, uma vez
que é uma contribuição para o processo de revisão que se inicia, com vistas aos
necessários reajustes.
Destarte, a pretensão desta análise foi verificar se o Projeto Político
Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da UFAL(3) atende às Diretrizes
Curriculares fixadas pelo Conselho Nacional de Educação para organizar a
formação do profissional enfermeiro no Pais, pela rede pública e privada, de
forma que ficassem evidentes os pontos de coincidência entre os dois documentos
e aqueles que estavam a requerer do Projeto Pedagógico local mais aproximação
da norma em vigor.
Para proceder a verificação proposta, inicialmente se fez uma leitura geral do
documento, seguida de uma leitura comparativa entre cada Artigo ou tópico dos
dois documentos, destacando-se as coincidências e os distanciamentos detectados
relativos aos aspectos que foram julgados pelos autores como essenciais, em
vista de que conformam a matriz sobre a qual o modelo curricular é construído.
Em seguida foram acrescentados comentários sobre os achados, expondo as
dificuldades encontradas para implementar o desenho curricular adotado pelo
curso e os seus pontos positivos em relação à norma em vigor.
2 Desenvolvimento
A leitura do documento que contém as Diretrizes fez compreender que o seu
propósito é "definir Princípios, Fundamentos, Condições e Procedimentos para
formação do enfermeiro"(4), diferentemente do Parecer 163/72 que estabelecia
detalhes de carga horária e conteúdos que uniformizavam a mesma grade
curricular para todo o Brasil(5). As atuais Diretrizes podem ser consideradas
como avançadas neste aspecto, haja vista o conteúdo desses primeiros artigos,
evidenciando que é uma norma construída numa visão suficientemente ampla para
respeitar as diversidades regionais do nosso "País-Continente" ao mesmo tempo
em que encerra a essência da formação do enfermeiro, mantendo-a como capaz de
preservar a identidade da formação deste profissional em todo o Brasil.
As Diretrizes Curriculares, principalmente no seu Artigo 3º estabelecem o
perfildo Enfermeiro Brasileiro como Generalistae Licenciado. Diz-se
"principalmente" no Artigo 3º porque, ao longo da descrição de princípios e
fundamentos, vai se completando o delineamento do perfil do profissional que a
comunidade brasileira de enfermeiros definiu. Este perfil generalista foi um
ponto de convergência pois, o curso de Enfermagem da UFAL sempre entendeu que a
realidade brasileira e alagoana necessita de enfermeiros com uma visão ampliada
do trabalho e da profissão. Além disso, desde seu início este curso não cumpriu
com o Parecer 163/72 que estabelecia habilitações, considerando esta etapa como
uma especialização precoce o que não era desejo da sua comunidade.
No entanto, este mesmo Artigo traz em sua redação, uma dúvida quanto à
obrigatoriedade de oferecer a todos a licenciatura ou se algum curso pode
permanecer construindo o enfermeiro generalista sem a licenciatura, como é o
caso da UFAL. A redação, tal como está, sugere que pode haver a formação só de
bacharéis ou só de licenciados. Inicialmente, na primeira grade curricular
implantada, o curso se propunha a formar enfermeiros generalistas e já
licenciados, sendo este conteúdo ministrado em conjunto com a graduação. Esta
proposta não chegou a ser finalizada, em decorrência da legislação em vigor à
época, o que foi visto como um fato lamentável.
Pode-se dizer que formar o enfermeiro com licenciatura é importante porque
compete privativamente ao enfermeiro o ensino das matérias específicas da
formação de pessoal de enfermagem. Além do mais, cumprindo a sua função
educativa, o enfermeiro necessita estar preparado para desenvolver atividades
tanto de educação em saúde para as pessoas nas mais diversas circunstâncias
como para desenvolver atividades de educação continuada, uma vez que é
responsável pela atualização da equipe de enfermagem. No PPP.Enf/UFAL, optou-se
pela formação do Enfermeiro Bacharel Generalista, garantindo-se no desenho do
marco operacional conteúdos relativos à preparação deste profissional para o
exercício de sua função educativa, sem assegurar-lhe, porém, o título de
Licenciado.
Não obstante, o assunto "Licenciatura em Enfermagem" continua em discussão, uma
vez que há uma demanda reprimida para esta modalidade de curso e o desejo do
Departamento de Enfermagem em propiciar a oportunidade para os enfermeiros do
estado se licenciarem. Aguarda-se uma ocasião mais propícia para novamente esta
questão ser discutida. Enquanto esse momento não chega, observa-se a oferta de
cursos de metodologia do ensino nas mais diversas circunstâncias e com variados
enfoques. Na verdade, essa questão da licenciatura, abordada também no artigo
13 encerra um desejo que o PPP/ENF/UFAL não conseguiu realizar, pelo menos até
o momento.
Para continuar esta análise, de forma que se tornasse menos cansativa, ao mesmo
tempo pensando na organização das idéias que fluíram, decidiu-se prosseguir
invertendo a ordem dos Artigos da Resolução, discutindo primeiro as
concordâncias e discordâncias de princípiose condições, abordando em seguida os
fundamentos, e por fim os procedimentos(6), pontos que consumirão maior esforço
de detalhamento dos conteúdos do curso para verificar se atende ao que
preconiza a legislação em vigor.
Em relação aos Princípios e Condições, observou-se que o Projeto Pedagógico do
curso foi construído coletivamente, com a participação de professores,
instituições de classe, alunos, enfermeiros de serviço, representantes de
instituições que servem de campo de prática, como recomenda a Resolução, no seu
Artigo 9°.
Entende-se que qualquer processo de avaliação e/ou modificação de um projeto
pedagógico que assim foi construído não poderá ser levado a efeito sem a
participação dos grupos que o elaborou. A decisão de (re)discutir e avaliar o
curso em oficinas, portanto, vem atender a este princípio de construção
coletiva, considerando que, após dez anos de implantação e tendo decorrido seis
anos da primeira avaliação parcial, é tempo de se proceder a análise proposta,
não só com intenção propedêutica mas como aval para propor, implantar e
implementar modificações.
Em relação ao que prescreve os artigos 11 e 12, o PPP/ENF/UFAL adotou o sistema
Seriado Anual, sistema adotado pela UFAL, instituiu o TCC cujas normas estão
aprovadas e em funcionamento, que foram revistas no primeiro bimestre do ano
letivo de 2002, em função da atualização da ABNT e outros critérios colocados
pelos professores orientadores.
Quanto à estrutura do Curso, fixadas pelo Artigo 14, alguns princípios não
estão sendo levados plenamente em conta na execução do projeto, porém avanços
importantes foram conseguidos, sendo hoje implementados, como:
- Atividades Teóricas e Práticas desde o primeiro ano;
- Introdução de atividades de pesquisa durante o curso. O primeiro contato com
a metodologia científica se dá no primeiro ano, encerrando-se com a elaboração
do TCC no quinto ano. A dificuldade a ser superada é a inserção de uma escala
de aprofundamento e aplicação de projetos e pesquisas nos 2º e 3º anos, afim de
manter nos alunos a consciência da aplicabilidade do conteúdo desta competência
na vida profissional, consolidando o entendimento de que a prática de
enfermagem é fonte de produção de novos conhecimentos e de tecnologia desde a
mais simples até a mais sofisticada. Assim, é esperado que transportem para o
seu cotidiano o hábito de produzir cientificamente, cumprindo o princípio da
articulação entre ensino/pesquisa/extensão
- Algum incremento às atividades de extensão, tendo sido ampliado o número de
projetos encaminhados e implementados pelo Departamento de Enfermagem junto com
a Pró-Reitoria de Extensão, como é o caso do Projeto de participação de
docentes e alunos em Unidades Docente-Assistenciais do Programa saúde da
Família, em Unidades de Maceió e de Rio Largo; Projeto de Preparação da
gestante para o parto, desenvolvido no Município de Atalaia, contando ainda com
participação ainda em iniciativas nacionais como o Projeto Comunidade
Solidária;
- Adoção da metodologia problematizadora por algumas disciplinas ou grupo de
professores, o que aponta para o respeito ao princípio de articulação entre o
saber, saber ser, saber aprender, saber fazer, saber conviver
- Desenvolvimento de dinâmicas de grupos que favorecem a discussão em classe e
as relações interpessoais
- Cumprimento do Estágio Curricular nos moldes previstos na legislação, a
partir da adaptação do antigo estágio final às normas vigentes, tendo sido
discutida e aprovada a sua regulamentação, conforme a Portaria 1721 de 15/12/
1994, em vigor até 2001.
Não obstante se reconheça os avanços proporcionados pelo currículo atual, é
necessário discutir coletivamente os pontos de estrangulamento internos do PPP/
Enf/UFAL e associá-los aos pontos das diretrizes que não foram contemplados.
Nesta análise foi possível perceber que não se trata essencialmente de
conteúdos, condições de funcionamento ou carga horária. Trata-se principalmente
de atitudes e de perspectivas que estão localizadas no que se chamou, nesta
análise, de "currículo oculto", aquele que se desenvolve no espaço da sala de
aula, na relação professor/aluno, onde o determinante é a concepção de mundo,
de educação, de processo ensino-aprendizagem, de enfermagem e do trabalho da
enfermeira que cada um possui e que se impõe sobre as Diretrizes e sobre o
Projeto Político Pedagógico do Curso.
Este problema é dos mais relevantes, correspondendo ao que está exposto no
Artigo 10 da Resolução. A atitude do professor é fundamental no processo de
formação de qualquer profissional e o que se deseja é que este professor tenha
o projeto pedagógico como correspondente à sua visão de educação, tornando-se
co-autor, assumindo compromissos, compartilhando estratégias, tornando-se
crítico atento, substituindo a posição de centro de informações para colocar-se
como cúmplice no processo de trocar experiências. Por outro lado, uma atitude
desta exige engajamento e um processo contínuo de atualização, capacitação
específica e realmente vontade de aceitar um projeto coletivo. No caso em tela,
a necessidade de atualização, capacitação dos docentes para o desenvolvimento
de estratégias de vivência do novo currículo ainda é muito forte.
Quanto aos Fundamentos do Currículo, as Diretrizes definem, no Artigo 4º,
Competências e Habilidades que os enfermeiros formados devem possuir, divididas
em dois grupos, sendo um grupo de Competências Gerais, comuns aos cursos de
Enfermagem, Medicina e Nutrição, reunidas em seis subgrupos e Competências
específicas do profissional, num grande bloco. Os Grupos de Competências Gerais
são:
- Atenção à Saúde
- Tomada de Decisões
- Comunicação
- Liderança
- Administração e Gerenciamento
- Educação Permanente
Neste particular, o PPP/ENF/UFAL tem mais aproximações do que distanciamentos
das atuais Diretrizes.
As competências específicas, reunidas num único bloco, guardam consonância com
a Lei 7498/86 do Exercício Profissional da Enfermagem no Brasil, referência
para as descritas no PPP/ENF/UFAL avançando no que diz respeito ao processo de
trabalho, às relações profissionais e à visão social do Indivíduo e
Coletividade, implicando na revisão do conteúdo teórico e prático para que
possibilitem serem adquiridas pelos estudantes ao longo do curso.
É necessário rediscutir as competências constantes no PPP/ENF/UFAL à luz das
Diretrizes curriculares, posto que foram diferentes os referenciais dos dois
documentos. As Diretrizes foram além do projeto local, utilizando mais outros
documentos como referência, tais como o SUS como Política Nacional de Saúde, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, A Declaração de Vancouver, devendo o
curso agora reavaliar sua proposta para incluir o que porventura não estiver
incluído, como é o caso de algumas competências daquelas relacionadas nas
Diretrizes como gerais, comuns à área da saúde.
O Artigo 6° estabelece os Conteúdos Essenciais, entendidos como aqueles que são
imprescindíveis, não incluindo aqueles que atendem ao princípio do respeito à
diversidade e peculiaridades locais e regionais, a saber:
- Ciências Biológicas e da Saúde
- Conteúdos de Anatomia, Fisiologia, Biofísica, Patologia, Citologia,
Microbiologia, Parasitologia, Imunologia, Genética, Farmacologia, Embriologia ,
Histologia e Bioquímica
- Ciências Humanas e Sociais
- Conteúdos de Sociologia, Antropologia, Psicologia, Ecologia, Ética,
Legislação. Nesta área, o PPP/ENF/UFAL inclui a Antropologia Filosófica e o
conteúdo de Sociologia e Psicologia é abordado como sendo Aplicado à Saúde
- Ciências da Enfermagem
- Conteúdos de:
- Fundamentos da Enfermagem
- Assistência de Enfermagem
- Administração de Enfermagem
- Ensino de Enfermagem
A distribuição deste conteúdo, no PPG/ENF/UFAL, poderá ser vista no quadro de
equivalência que é apresentado ao final destas reflexões.
É possível reconhecer nas Diretrizes Curriculares o direcionamento dos
conteúdos para a preparação de profissionais aptos a atuarem na multiplicidade
da natureza do trabalho da enfermagem, quais sejam a natureza assistencial, a
administrativa, a educativa e a investigativa, sendo que esta última pode ser
visualizada no estabelecimento das competências gerais, como capacidade de
comunicação e nas competências específicas como visualização da prática de
enfermagem como geradora de novos conhecimentos e práticas alternativas.
Neste particular, o Projeto Pedagógico deste curso entende que a natureza
investigativa do trabalho da enfermagem deve estar explícita, correspondendo-
lhe o conteúdo da metodologia científica e da assistência de Enfermagem além de
especificidades da metodologia da pesquisa, cujo produto final é o Trabalho de
Conclusão de Curso.
Ainda assim, seria interessante promover uma discussão sobre outras estratégias
de incentivo à formação do habitus científico do enfermeiro alagoano, inclusive
verificando uma distribuição de trabalhos desta natureza entre as disciplinas,
de preferência envolvendo pelo menos os enfermeiros que trabalham nos campos de
prática, de forma que uma por ano se responsabilize por um estudo científico e
assim o aluno possa melhor desenvolver esta habilidade.
Outro aspecto abordado pelas Diretrizes Curriculares é a necessidade de
contemplar, no conteúdo específico da ciência da Enfermagem, conhecimentos que
permitam ao profissional formado atuar com segurança, prestando cuidados de
acordo com as especificidades de cada fase da vida, observando o contexto
social e que possua capacidade de tomar decisões. Será que isto é observado em
cada disciplina, em cada aula? Deve a formação conferir-lhe terminalidade e
capacidade profissional. Será que alcançamos este nível de formação?
Neste sentido, vale acrescentar o princípio explicitado no escopo do Artigo 6º
da Resolução que dá sentido à escolha do conteúdo e das estratégias do curso,
qual seja:
"Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Enfermagem
devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão,
da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e
profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em
enfermagem."(3)
O PPP/ENF/UFAL enfatiza a realidade social como um marco de referência, não só
para a escolha do conteúdo, mas vai além, ao tomá-la como princípio norteador
da disciplina Processo Saúde Doença cujo conteúdo deflagra a abordagem das
questões epidemiológicas e das desigualdades sociais bem como da questão
política que se encontra por traz das propostas governamentais de assistência à
saúde dos grupos humanos. Entretanto, o grupo da UFAL tem clareza de que não
bastam estas providências para que este princípio seja atendido. Resta então
questionar qual o entendimento do grupo sobre integralidade das ações de saúde,
maximização das experiências práticas, o que implica na definição do número e
qualidade dos campos de prática e do tempo de permanência dos alunos nas áreas
essenciais(7).
Da mesma forma, as Diretrizes são enfáticas ao estabelecer como princípio que o
enfermeiro, ao educar-se e educar as pessoas para a saúde, deve fazê-lo para o
exercício da cidadania e para a participação plena na sociedade. Como se pode
garantir o respeito a este princípio? Não parece ser uma questão de conteúdo
mas de atitude. Assim, cabe refletir: se a participação na vida associativa
fosse um parâmetro, seria necessário repensar este aspecto, desenvolvendo ações
que levassem os alunos a precocemente se envolverem com a ABEN, como monitores
de eventos, participantes de grupos de estudo, sócios especiais ou bolsistas. O
objetivo destas atividades seria desenvolver no acadêmico, ao longo de sua
formação o sentido de pertença e a identidade coletiva de categoria
profissional. A consciência da necessidade de pertencer a uma classe venceria a
dificuldade financeira para manter-se quites com sua associação e mais que
isso, motivaria o comparecimento às atividades propostas pela Associação de
Classe.
Um aspecto recomendado pelas Diretrizes é que o enfermeiro se reconheça como
coordenador da equipe de enfermagem. O que o curso desenvolve neste sentido,
tem promovido esta visão de si? Ao diagnosticar as condições de saúde de uma
coletividade ou de um indivíduo, o profissional oriundo deste curso o faz
levando em conta os condicionantes e determinantes daquela situação? Os
enfermeiros egressos do curso usam com habilidade e competência os instrumentos
de trabalho que lhe são próprios? Tomam para si a responsabilidade de requerer
melhores condições de trabalho para sua equipe? Ou seja, o curso tem a
responsabilidade de, no espaço de cinco anos, conformar um líder de equipe com
características de compromisso social, compromisso com os seus coordenados e
com os seus clientes, em condições de agir com base em reflexões, conhecimento
de causa e visão de conjunto da sociedade. Julgamos que esta não é algo fácil
de se fazer.
Outra fonte de reflexão é o que aborda os Incisos X e XXIV e o Parágrafo 2º do
Artigo 6º, sobre a responsabilidade do enfermeiro em promover, participar de
programas de formação e qualificação contínua de pessoal de enfermagem,
colocando-se mesmo como co-responsável por esta processo.
Isto implica também numa responsabilidade do curso ou da Instituição de Ensino
Superior em promover os cursos que serão procurados pelos egressos, pois sabe-
se as dificuldades dos profissionais de serviço em distanciarem-se de suas
unidades de trabalho para atualizarem-se.
Experiências de convênios já foram desenvolvidas e podem subsidiar uma
discussão sobre que atividades/cursos compõem a demanda de cursos de pós-
graduação, atualização e treinamentos. As principais entidades/instituições já
conveniadas foram o Ministério da Saúde e a ABEn/AL. Resta proceder uma
avaliação das experiências de pós-graduação vivenciadas pelo curso para dar
prosseguimento a esta atividade.
3 Conclusão
Levando-se em conta os objetivos propostos para este documento, pode-se
considerar que foram atingidos, uma vez que o PPP/Enf/UFAL foi colocado lado a
lado com as Diretrizes Curriculares constantes na Resolução CNE/CES N.° 03/200.
Desta análise resultaram mais aproximações do que distanciamentos, sendo
possível trabalhar as diferenças através de oficinas sequenciadas como o
próprio grupo decidiu fazer, tendo iniciado este processo em março de 2002.
Contudo, o que se percebeu nesta breve análise foi que, ao descrever perfil,
competências e habilidades, ao prescrever princípios e fundamentos, as
diretrizes acabam por conformar também um perfil do professor e da instituição.
Este aspecto, por ser mais complexo, vem exigindo reformulações na política
departamental, de forma que seja possível criar a necessária estrutura para o
desenvolvimento de planos de pesquisa, pós-graduação e extensão coerentes e
capazes de produzir os efeitos desejados, onde se possa, inclusive, ampliar a
participação do curso de enfermagem da UFAL nas instâncias de planejamento,
organização, execução e avaliação da secretarias estadual e municipais de saúde
do estado, a partir da intensificação da interiorização de atividades de
estágio e práticas curriculares.
Como se observa, cumprir as Diretrizes Curriculares não se resume a adequar
conteúdos e carga horária, mas implica no desenvolvimento de uma postura
acadêmica que reuna atitudes como as recomendadas por essas Diretrizes. Isso se
faz com discussão, treinamentos, grupos de trabalho, pesquisa e ações
desenvolvidas em programas de extensão. Exemplo disso é o desenvolvimento de
pesquisas para levantar as áreas de enfermagem onde o Departamento tem
condições de investir, através da realização de cursos de pós-graduação lato-
senso, atualizações pontuais ou programas de ações conjuntas em nível de
extensão.
Por fim, esta análise não se propôs a trazer um pensamento concluído. Trata-se
mais de um instrumento que estimule as pessoas a questionar, colocar sua
prática em evidência, expor sua problemática em relação ao PPP/Enf/UFAL e que
possibilite responder:
- Neste processo de formar enfermeiros, qual a minha participação?
- Em que momento e em que situação eu me insiro neste processo?
- Por que parte deste todo eu sou responsável?
- Minha participação é coerente com o perfil e estratégias adotadas?