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BrBRCVHe0034-71672004000300005

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variedadeBr
ano2004
fonteScielo

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O conhecimento produzido acerca da assistência à adolescente grávida PESQUISA

O conhecimento produzido acerca da assistência à adolescente grávida

Knowledge produced about assistance to pregnant adolescents

El conocimiento producido con referencia a la asistencia de la adolescente embarazada

Maria José ClapisI;Patrícia Wottrich ParentiII IEnfermeira. Professora Doutora do Departamento Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - EERP/USP IIEnfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - EERP/USP E-maildo autor: maclapis@eerp.usp.br

1 Introdução A gravidez na adolescência começou a despertar interesse entre os profissionais da saúde apenas 20 anos, devido ao fato desta fase passar a ser considerada como "categoria social" e, vem sendo alvo de estudo e preocupação por parte dos trabalhadores da área de saúde com o intuito de diminuir sua incidência. Sendo considerada como um problema de saúde pública, necessita do apoio dos meios científicos, sociais e econômicos(1).

O número de mães adolescentes, de 10 a 19 anos, vem crescendo, embora as taxas de fecundidade da mulher adulta tenham diminuído de maneira significativa a partir da década de 70. A Sociedade Civil do Bem-Estar Familiar no Brasil - BEMFAM(2), utilizando os dados obtidos através da Pesquisa Nacional Sobre Democracia e Saúde em 1996, relatou a existência de 11,5% de adolescentes com 15 anos e 42,5% aos 18 anos, com atividade sexual iniciada. Por outro lado, menciona que na década de 70 a taxa, respectivamente para 15 e 18 anos de idade, era de 6,2% e 225,5%.

As estimativas relacionadas à fecundidade da adolescente indicam cerca de 1.000.000 garotas brasileiras entre 10 e 20 anos de idade, dão à luz em cada ano(3). O Ministério da Saúde relata a ocorrência anual, no Sistema Único de Saúde, de 700.000 partos nesta faixa etária, representando o primeiro motivo de internação(4).

Emerge, portanto, frente a situação, a necessidade de reflexão e intervenção, por parte das enfermeiras, na saúde reprodutiva das adolescentes, devendo considerar os sentimentos e contexto sociocultural que permeiam esta fase.

A saúde da adolescente envolve um conjunto de conhecimentos, atividades interdisciplinares e a atuação multiprofissional. Entendemos que para trabalhar com a adolescente, as enfermeiras precisam ser aperfeiçoadas em seus conhecimentos, apresentando uma postura de ética, de modo que as adolescentes possam sentir-se à vontade para expor seus sentimentos, suas dúvidas, angústias e incertezas, destituídas de julgamento de valor moral por parte das profissionais.

Assim, acreditamos que analisar a produção científica acerca da assistência à adolescente grávida, pode trazer contribuições à busca de caminhos para uma assistência mais humanizada e eficaz; tendo por objetivo: identificar as características da produção cientifica sobre gravidez na adolescência realizada por enfermeiras, sob a forma de artigos indexados nacionais e internacionais, no período de 1996 a 2000.

2 Metodologia O nosso objeto de análise constituiu-se da produção científica sobre gravidez na adolescência em periódicos indexados nacionais e internacionais dos últimos cinco anos (1996 a 2000).

Os dados foram coletados através de levantamento bibliográfico, em três bases de dados: LILACS, MEDLINE e ADOLEC, utilizando as palavras-chave: gravidez, adolescência, enfermagem. Encontramos 292 artigos indexados, sendo 85 ocorrências no Adolec, 184 ocorrências no Medline e 23 artigos no Lilacs.

Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão dos artigos selecionados para amostra: tipo de publicação: periódicos indexados; procedência e idiomas: periódicos nacionais e internacionais publicados em português, espanhol e inglês; ano de publicação: de 1996 a 2000; elementos-chave: artigos que abordam a assistência à adolescente grávida, considerando no todo ou somente na parte que trata do assunto; artigos encontrados nas bibliotecas da Universidade de São Paulo - USP.

Cabe aqui ressaltar que vários artigos se repetem entre si nestes bancos de dados. Com isso, perfazemos um total de 27 artigos selecionados para a nossa amostra.

Dos 27 artigos selecionados, 02 eram de língua portuguesa e, 25 eram de língua inglesa. As publicações encontradas foram traduzidas na íntegra para a língua portuguesa.

3 Resultados e Discussões Após a coleta de dados, os resultados foram organizados em tabelas.

A tabela_1 refere-se à distribuição dos periódicos nacionais e internacionais, segundo o ano de publicação (1996-2000). Encontramos 15 periódicos contendo artigos indexados referentes à assistência à adolescente grávida. Observa-se que no Journal of obstetric, gynecologic and neonatal nursing encontra-se o maior número das publicações (17,24%). Observamos que 1999 foi o ano em que houve o maior número de publicações (31%), ressaltando uma crescente preocupação dos pesquisadores com a temática em estudo.

No que se refere ao tipo de estudo mais utilizado para abordar a assistência à adolescente grávida, o estudo bibliográfico foi à metodologia mais empregada, perfazendo um total de 7 artigos (25,96%), seguidos do estudo quantitativo (22,22%), qualitativo e epidemiológico (11,11%), proposta de programa (7,40%).

Convém mencionar, em relação à formação dos autores dos artigos, que não foi possível a caracterização destas, pois não constava em todos os periódicos.

Na tabela_2, a qual refere-se à distribuição das temáticas sobre assistência à adolescente grávida nos artigos analisados, verifica-se que a temática mais abordada foi Programas de intervenção à adolescente grávida e/ou seus bebês.

Dentre estes, encontramos um programa de visitação domiciliar de pré-natal e da primeira infância realizado por enfermeiras, sobre comportamento anti-social de crianças. Nas visitas domiciliares promoviam três aspectos referentes à maternidade: comportamentos positivos relacionados à saúde, durante a gravidez e primeiros anos de vida da criança; cuidado de suas crianças e desenvolvimento pessoal materno (planejamento familiar, realização educacional, participação na mão-de-obra).

Outro programa é mencionado, baseado na comunidade, onde a intervenção é para mães jovens envolvidas com o abuso de substâncias. O programa Mom Empowerment, too!foi desenvolvido em 1993 por enfermeiras de saúde pública, em um departamento de saúde de um município do oeste dos Estados Unidos. Mães solteiras e/ou adolescentes que abusavam de substâncias e suas crianças, que estavam em risco devido ao abuso de substância materna, foram a população alvo deste programa. Várias modalidades de intervenção, incluindo visitas domiciliares, foram usadas. Através da administração de casos, as enfermeiras de saúde pública proporcionaram apoio, indicações de recursos, e informações sobre necessidades básicas, tais como, alimento, abrigo, cuidado médico, fatores de saúde. Educação e apoio também foram oferecidos para suprir necessidades físicas, emocionais, intelectuais e espirituais. Sessões em grupo, conduzidas por uma enfermeira de saúde pública, incluíam discussão, atividades experimentais, demonstrações, música, comemoração de realizações pessoais, trabalhos manuais, aulas de arte culinária, e interpretação de papel. Tópicos da discussão incluíam os efeitos do uso de substância, informação sobre gravidez, nutrição, primeiros socorros, síndrome da abstinência do bebê, administração da raiva e maternidade responsável. O programa também apoiou experiências de vida, como tomada de decisão, resolução de problemas, solucionando enganos, redução de estresse, e normas de comportamento do trabalho.

O programa Early Intervention Program (EIP) for Adolescents Mothersfoi projetado para tratar prioridades de saúde nacionais, particularmente aquelas relacionadas à gravidez precoce, prematuridade, e morbidez do bebê. O EIP incluiu uma combinação única de grupos de preparação à maternidade e visitas domiciliares, por enfermeiras de saúde pública treinadas especialmente. As atividades foram planejadas para construir a competência social das mães, de maneira que elas possam administrar suas vidas mais efetivamente, e proporcionar o cuidado apropriado ao bebê e à criança. O enfoque das visitas pré-natais domiciliares foi promover o uso adequado de serviços de cuidados de saúde, procedimentos com os desconfortos da gravidez, autocuidado, sinais e sintomas de complicações da gravidez (hipertensão específica da gravidez, trabalho de parto prematuro) e preparação para o parto. Enfermeiras de saúde pública assistiam as adolescentes e identificavam fatores que poderiam afetar, positivamente ou negativamente, sua motivação para buscar e manter o cuidado pré-natal regular, ou o que poderia as causar caso não aderissem às atividades de autocuidado recomendadas; exemplos destes fatores incluíram experiências passadas com cuidado de saúde, e acessibilidade e aceitabilidade dos serviços.

Além disso, foi proporcionado aconselhamento relacionado às questões do papel materno, educação (metas, permanecer na escola), uso de substâncias, e saúde mental (depressão, manipulação de emoções). As visitas pós-parto forneceram às mães informação sobre autocuidado, cuidado do bebê (nutrição, banho e segurança), serviços de saúde para o bem-estar do bebê, e planejamento familiar. As intervenções de enfermagem foram planejadas para ajudar as mães desenvolverem experiências de comunicação e aprenderem como tratar as necessidade dos bebês, responderem à angústia, e interagirem reciprocamente com seus bebês.

O The Adolescent Parenting Program of the Essex Valley Visitting Nurse Associotion foi projetado para melhorar as experiências de maternidade e comportamentos de saúde maternos de alto risco de mães adolescentes. É um programa de visitação domiciliar utilizando paraprofissionais que são nativos à comunidade, sendo baseados em um modelo no qual o paraprofissional visitador domiciliar serve como um mentor, ou modelo de papel, para a mãe de alto risco, que proporciona apoio social e criação como também educação relativo a desenvolvimento infantil e maternidade.

O programa The Dollar-A-Day, foi estabelecido em 1990 para prevenir gravidezes subseqüentes em meninas com menos de 16 anos de idade, e que haviam dado à luz a uma criança. Conceitualizado por professores de enfermagem e usando princípios de teorias de desenvolvimento da adolescente e intercâmbio social, o programa foi planejado e implementado com a colaboração de enfermeiras.

Reuniões semanais eram realizadas, um programa informal enfocava as necessidades identificadas pelos membros, fixação de metas a curto prazo, e um prêmio de um dólar para cada dia que elas permanecessem não-grávidas. Depois de cinco anos de operação com uma série de concessões pequenas, 15% das 65 meninas que tinham sido associadas ao programa experimentaram gravidezes subseqüentes. O sucesso do programa convenceu funcionários do departamento de saúde a incorporar o programa The Dollar-A-Day em seu orçamento, como um serviço permanente para a população de adolescentes que eles servem.

O The Rochester Adolescent Materrnity Program (RAMP) foi um programa contínuo que proporcionou cuidado inclusivo para as adolescentes e foi projetado através de avaliação contínua, e assim, permitiu empreender múltiplos estudos experimentais. Incluíam dados pré-natais: demográfico, gravidez, apoio e estrutura familiar, arranjos de alojamento, freqüência escolar ou programas especiais; envolvimento do pai, problemas de risco na adolescente; e dados coletados pós-natais: resultados de nascimento, sistemas de apoio, indicações, seguro.

Com isso, percebe-se que a assistência à adolescente grávida tem sido alvo da preocupação de enfermeiras de saúde pública, comunidade e governo, sendo considerado não mais como um problema de saúde publica, mas sim um problema social. Os programas relacionados a essa população, abordam temáticas como a auto-estima, aconselhamento profissional, educação familiar, planejamento familiar, relações interpessoais e institucionais, sendo necessário para tanto envolvimento publico e compromisso contínuo.

no Brasil, dentre as políticas publicas relacionada à saúde da mulher, encontramos o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM - Ministério da Saúde. É um programa onde a saúde da mulher é trabalhada de forma globalizada, abrangendo todas as fases de seu desenvolvimento, desde a adolescência até o pós-climatério(5).

Relacionado especificamente à adolescente, temos o Programa de Atenção Integral à Saúde do Adolescente - PROSAD - Ministério da Saúde.

O PROSAD(4) teve como finalidade: Promover, integrar, apoiar e incentivar as práticas que visem à saúde dos adolescentes, tanto nos locais onde será realizada sua implantação, quanto onde estas atividades são desenvolvidas, nos estados e municípios, universidades, organizações não-governamentais e outras instituições, buscando a interação com outros setores, oferecendo tratamento adequado e reabilitação dos indivíduos dessa faixa etária, de forma integral, multi-setorial e interdisciplinar(4: 6).

Cabe aqui ressaltar que apenas dois artigos selecionados mencionaram a assistência à adolescente grávida no Brasil. O primeiro identifica os diagnósticos de enfermagem em uma adolescente grávida, baseado na teoria do autocuidado de Oren. O segundo, por sua vez, realiza um levantamento da produção dos enfermeiros sobre adolescência.

Considerando os artigos indexados analisados, o estudo revelou a quase inexistência de estudos nacionais acerca da assistência à adolescente grávida.

4 Considerações Finais Com o estudo pretendemos identificar modelos de atuação que ampliem a visão e estimulem a participação mais efetiva das enfermeiras na atenção à adolescente grávida.

As enfermeiras possuem um vasto campo de atuação na saúde do adolescente, mas ainda não despertaram para o grande potencial de seu trabalho, desde a educação sexual, até o cuidado à adolescente grávida, à mãe adolescente e seu bebê.

A assistência à saúde da adolescente deve acontecer antes destas se apresentarem grávidas. Para isto, devemos proporcionar serviços atraentes, que despertem interesse, onde são viabilizadas oportunidades de reflexão, discussão entre questões biológicas, sociais e educação para a sexualidade.

As intervenções de enfermagem precisam ser ampliadas para auxiliar as adolescentes grávidas e às mães adolescentes na realização do papel materno e na construção de projetos futuros, além do cuidado com o seu bebê.

Ao nos reportarmos aos artigos estudados, nos deparamos com a quase inexistência de trabalhos de enfermeiras brasileiras relacionadas á temática.

Não podemos afirmar que estas não desenvolvem, porém, se o fazem, não são divulgadas no meio científico, pois não são encontradas em banco de dados na forma de artigos indexados. Emerge com isto, o despertar de interesse e relevância por parte das enfermeiras, para a atenção especial à saúde das adolescentes.

O que vislumbramos é o encontro de alternativas, recursos, meios, que nos possibilitem desenvolver uma prática educativa e de cuidados a este grupo tão peculiar. Para isto, nos deparamos com a nossa formação, com a nossa construção do conhecimento acerca desta temática. E, não podemos negar a necessidade de aperfeiçoamento profissional e de diretrizes que conduzirão o nosso envolvimento e atuação.

Viabilizar programas de formação, orientação às enfermeiras pode ser um recurso que nos forneça outras alternativas de caminhos a serem trilhados.


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