Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condomínio de empresas de
alta tecnologia
PESQUISA
Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condomínio de empresas de
alta tecnologia
Work ability among workers from a condominiun of high technology companies
Capacidad de trabajo entre trabajadores en un condominio de empresas de alta
tecnología
Ângela Cristina Puzzi FernandesI; Maria Inês MonteiroII
IEnfermeira. Mestre em Enfermagem, Enfermeira do Trabalho da Fundação CPqD,
Campinas, SP. puzzi@cpqd.com.br
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, SP. Orientador da
Dissertação. inesmon@fcm.unicamp.br
1. INTRODUÇÂO
A globalização é o conjunto de transformações de ordem política e econômica que
vêm acontecendo nas últimas décadas, no qual qualquer mercado tem acesso a bens
e serviços produzidos em qualquer país, o que coloca a maioria das empresas
brasileiras em competição com empresas de qualquer ponto do globo. As empresas
passam a ser avaliada através de indicadores de desempenho como: custo,
qualidade, prazo de entrega, resposta rápida às solicitações, entre outros.
A empresa de tecnologia da informação estudada é a maior do hemisfério sul,
concentra grande parcela do conhecimento tecnológico em telecomunicações do
país, sendo responsável por algumas conquistas notáveis: a criação das centrais
eletrônicas digitais; o desenvolvimento da fibra óptica brasileira, além de
numerosos avanços nas comunicações via satélite, na comunicação de dados e em
softwares.
Entretanto, na empresa estudada, a precarização do trabalho também acontecia,
em paralelo, pois os serviços de apoio, como os de limpeza, manutenção,
jardinagem, vigilância e restaurante estavam terceirizados, desde 1976, através
de contratos com empresas que formam a rede de subcontratação(1).
Para suportar os processos que influem diretamente nos seus resultados, a
empresa passou a ser extremamente rigorosa nas exigências de desempenho,
escalibilidade* e disponibilidade dos sistemas de missão crítica.
Por um lado, a população tende a crescer, pelo aumento da expectativa de vida e
pelas melhorias generalizadas das condições de saúde e a demanda por
trabalhadores tende a diminuir (mecanização e informatização intensivas;
automatização; robotização). A sobrevivência no mercado de trabalho, o
crescimento pessoal e o sucesso profissional passam a exigir dos trabalhadores
maior empenho e envolvimento pessoal, com custo e reflexos diretos na saúde das
pessoas.
No Brasil há duas modalidades de terceirização: "a primeira é aquela que é
identificada como parte das mudanças nas práticas de gestão e organização do
trabalho com a reestruturação produtiva em curso no plano mundial: a
terceirização justificada pela busca da produtividade, qualidade e
competitividade (...)" e a segunda modalidade é "(...) determinada pela redução
de custos, que contraria a idéia de qualidade, de modernização empresarial e
tem precarizado as condições de trabalho e de emprego, comprometendo, inclusive
a qualidade do produto"(1).
Os trabalhadores terceirizados, em geral, têm menor acesso a oportunidades de
carreira nas empresas, pela menor escolaridade ou por ser essencialmente
operacional. Esse grupo tende a caracterizar-se por uma alta taxa de
rotatividade, o que torna as reduções da força de trabalho relativamente
fáceis, por desgaste natural.
O mercado de trabalho passou por uma radical reestruturação. Diante da forte
volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das
margens de lucro, os patrões tiram proveito do enfraquecimento do poder
sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados e
subempregados) para impor regimes e contratos de trabalhos mais flexíveis(2).
O conceito de promoção da saúde envolve tanto atitudes que implicam em
diminuição de risco de adoecimento, como também na melhoria da qualidade de
vida. A promoção da saúde no local de trabalho propõe uma abordagem mais ampla
no estudo do ser humano no trabalho, com uma estratégia nova e integrada: a
relação pessoas saudáveis em organizações saudáveis.
Pesquisadores finlandeses realizaram estudos sobre capacidade para o trabalho,
tendo em vista, a importância da preservação e manutenção da saúde dos
trabalhadores. O estudo utilizando o Índice de Capacidade para o Trabalho ICT -
realizado na Finlândia, entre 1981 e 1992, com 6.259 trabalhadores municipais
de diferentes ocupações, teve como objetivo a prevenção de doenças e da
incapacidade para o trabalho entre trabalhadores em envelhecimento e também a
análise de meios para a manutenção da saúde e da capacidade para o trabalho(3).
O Índice de Capacidade para o trabalho é composto pelos seguintes itens:
Capacidade para o trabalho Objetivos das medidas
Baixa 7-27 Restaurar a capacidade para o trabalho
Moderada 28-36 Melhorar a capacidade para o trabalho
Boa 37-43 Melhorar a capacidade para o trabalho
Ótima 44-49 Manter a capacidade para o trabalho(4).
Estes autores concluíram que a capacidade para o trabalho pode estar diminuída
antes mesmo da aposentadoria, devido à presença de doenças e da organização do
trabalho, desfavoráveis à saúde dos trabalhadores, como o ambiente de trabalho,
ergonomia, relacionamento entre trabalhadores e supervisores(3).
"Nos países em desenvolvimento, a faixa etária dos trabalhadores em
envelhecimento a ser considerada deve ser inferior a 45 anos, sendo que a
promoção para o trabalho deve iniciar na faixa etária entre 30 a 35 anos"(5).
Os pesquisadores finlandeses trabalham com o conceito de que o se trabalhador
mantiver sua capacidade para o trabalho e para a vida, terá, após sua
aposentadoria, mais 10 a 20 anos de "vida significativa, independente e ativa"
(6). Os trabalhadores com demanda de trabalho mental consumiam maior quantidade
de álcool semanalmente que os trabalhadores com demanda física e mista; e os
com demanda de trabalho predominantemente física e mista fumavam maior
quantidade de cigarros que os com demanda predominantemente mental(3).
A intensificação da prática de esportes e de atividades físicas, em geral, dos
trabalhadores com demanda mental foram as grandes mudanças no estilo de vida.
Os trabalhadores com demanda mental utilizavam seu tempo livre para realizarem
atividades físicas mais do que aqueles com demanda física. Os sujeitos com
trabalho mental eram mais ativos, no estudo, em atividades sociais, enquanto
que aqueles com trabalho físico apresentavam maior afinidade com o artesanato.
Os trabalhadores com demanda mental estavam mais satisfeitos com sua situação
de vida. A satisfação dos sujeitos mais velhos (com idade maior ou igual a 49
anos, em 1981) era maior que a dos mais jovens (com idade menor que 49 anos, em
1981)(3).
Estudo realizado com 807 servidores forenses, para avaliar o envelhecimento
funcional e condições de trabalho desses trabalhadores, que utilizou o ICT e a
Análise Ergonômica do trabalho encontrou que 75% dos entrevistados possuíam
nível superior de escolaridade e 61,1% deles precisavam ter sua capacidade para
o trabalho melhorado ou restaurado(7).
Estudo realizado em um hospital privado relata que "a equipe de enfermagem
apresentava 1,9 vezes mais chances de perda de capacidade para o trabalho que
os outros funcionários; que as mulheres apresentaram maiores chances de
perderem a capacidade para o trabalho mais precocemente; e que os trabalhadores
de higiene hospitalar e da manutenção apresentavam mais chances de perda da
capacidade para o trabalho do que os outros trabalhadores"(8).
Outro estudo entre trabalhadores de enfermagem, realizado no Pronto Socorro de
um Hospital Universitário público, do interior do Estado de São Paulo; com 54
trabalhadores, com idade entre 23 a 53 anos a média do ICT foi de 42 pontos.
Observou-se uma perda precoce para o trabalho mais acentuada nos trabalhadores
mais jovens(9).
Pesquisa realizada junto aos trabalhadores não terceirizados, do Serviço de
Higiene e Limpeza de um Hospital Universitário público, com 69 trabalhadores,
evidenciou que 21,7% tinham ótima capacidade para o trabalho; 31,9% boa; 31,9%
moderada e 14,5% baixa. As doenças com diagnósticos médicos mais freqüentes
foram às lesões por acidentes, as músculos-esqueléticos, cardiovasculares,
respiratórias e emocionais leve(10).
O ICT aplicado em pequena população de jovens trabalhadores de uma empresa de
telecomunicações, com idade entre 16 e 17 anos, identificou capacidade para o
trabalho moderada em 5%; boa, em 40% e ótima em 55% da amostra(11).
Estudo realizado em empresa de tecnologia da informação e telecomunicação com
173 sujeitos, sendo 60,1% homens, com idade entre 21 a 62 anos; 72,8% tinham
concluído a faculdade; 78,5% trabalhavam na companhia há mais de dez anos. A
capacidade para o trabalho foi moderada para 9,2% dos entrevistados; boa para
42,2% e ótima, para 48,6%(12).
Em pesquisa realizada com trabalhadores de enfermagem do plantão noturno de um
Hospital Universitário público, com 312 sujeitos, dos quais 83,7% eram do sexo
feminino, idade média de 39,7 anos (DP7, 39), foi avaliada que a capacidade
para o trabalho foi baixa para 2,6%, moderada para 25,6% dos entrevistados; boa
para 47,4% e ótima, para 24,4%(13).
Estudar as diferenças de perspectivas do ICT comparando estagiários e
profissionais terceirizados permite antever como eles irão envelhecer no mundo
do trabalho globalizado. Esses estarão sob menor proteção da legislação de
aposentadoria e sofrerão impactos sobre a saúde, requerendo alternativas que
possam minorar as conseqüências negativas que se exteriorizam na forma de
doenças e acidentes de trabalho.
Este estudo teve por objetivo avaliar a capacidade para o trabalho, perfil
sociodemográfic e morbidade referida em grupos de trabalhadores com demandas
laborais e em estagiários.
2. MÉTODO
Estudo epidemiológico transversal realizado em condomínio empresarial de
empresas de tecnologia da informação e telecomunicações em uma cidade do
interior do Estado de São Paulo de grande porte, com três grupos distintos de
pessoas trabalhadores que estão focados num único produto; estudantes que
trabalham através de bolsa-estágio e trabalhadores terceirizados de um
condomínio empresarial de alta tecnologia. Posteriormente, para fins de análise
estatística, foram divididos em dois grupos: estagiários e trabalhadores
terceirizados/ vinculados à empresa originária.
Os instrumentos utilizados foram o ICT(6), a Análise Ergonômica do Trabalho AET
(14) e um questionário com dados sociodemográficos, estilo de vida e condições
de trabalho**.
Os dados da pesquisa foram colhidos no período de junho a novembro de 2002,
durante o qual foram realizadas visitas nas áreas de trabalho, para observação
e análise ergonômica, que foi finalizada em setembro de 2003.
A amostra foi composta por 190 sujeitos - 77 estagiários, 23 da empresa
originária e 90 terceirizados - de um total de 321, com taxa de resposta de
59,1%.
Para a análise estatística, foi utilizados o Programa SAS (Statiscal Analysis
System), versão 6.12 e o banco de dados foi digitado no Programa Excel. Para
descrever os grupos foram apresentadas tabelas de freqüência das variáveis
categóricas e medidas de posição e dispersão das variáveis contínuas; para
verificar a associação entre o ICT e outras variáveis foram utilizados os
testes Qui-quadrado ou exato de Fisher (se o valor esperado era menor do que
5), para variáveis categóricas e o teste de Mann-Whitney, para variáveis
contínuas. O nível de significância adotado foi de 5%, ou seja, p<0, 05.
Na análise de regressão linear múltipla entre os itens do ICT, ajustados para
idade e sexo, foi utilizado o critério Stepwise para seleção das variáveis mais
significativas, conjuntamente.
Para avaliação ergonômica do trabalho, foram selecionadas três funções de
acordo com as cargas de trabalho e exigências físicas, mentais, mistas e
utilizou-se o método de Rohmert e Landau(14).
Como já foi referido, o estudo foi desenvolvido junto a dois grupos de
trabalhadores (trabalhadores terceirizados, trabalhadores de empresa agregada)
e um grupo de estagiários com bolsa-estágio, de um condomínio empresarial
gerenciado por uma empresa de alta tecnologia, no ramo de telecomunicações e
tecnologia da informação, na região de Campinas, Estado de São Paulo, que
iniciou suas atividades em 1976 e que atua no Brasil e no exterior prestando
consultoria, desenvolvendo sistemas e produtos relativos a telecomunicações e
tecnologia da informação.
Como alternativa para tentar sobreviver à globalização e à concorrência
acirrada do mercado, esta empresa transformou sua área física em um condomínio
empresarial de alta tecnologia, na década de 2000, com a agregação de outras
empresas.
O condomínio empresarial possui infra-estrutura para implantação e
funcionamento das empresas que estão ou serão instaladas neste local, como duas
agências bancárias, uma agência de viagem, uma locadora de carros, uma
biblioteca, três restaurantes e um clube recreativo e ocupa uma área física de
360.000 m2, com 50.000 m2 de área construída. Existe um controle de acesso de
trabalhadores e de pessoas externas ao condomínio, para preservar o sigilo
empresarial e a segurança física dos condôminos e do patrimônio.
Há um Serviço de Saúde Ocupacional, que pertence à fundação de direito privado,
ao qual tem acesso os trabalhadores e estagiários, além dos próprios
trabalhadores e estagiários pertencentes à empresa originária da fundação.
As demais empresas instaladas neste condomínio podem ter acesso aos serviços
prestados pelo Serviço de Saúde Ocupacional mediante contratos de prestação de
serviço.
Este serviço está instalado há mais de duas décadas, com um quadro de pessoal
formado por dois médicos do trabalho, uma enfermeira do trabalho, uma
estagiária de enfermagem, um engenheiro do trabalho e uma menor aprendiz;
desenvolve atividades de Saúde Ocupacional como exames admissionais,
periódicos, demissionais, avaliações ergonômicas e programas de promoção à
saúde.
O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP,
tendo sido aprovado. Foi utilizado o consentimento livre e esclarecido, sendo
garantido aos sujeitos da pesquisa que a não participação não acarretaria
nenhum prejuízo em relação ao seu trabalho.
O presente estudo integra o projeto de pesquisa "Capacidade para o trabalho
entre trabalhadores de diferentes ramos produtivos", desenvolvido junto ao
Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde e trabalho Departamento de Enfermagem da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, coordenado
pela Profa. Dra. Maria Inês Monteiro.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados encontrados nos sujeitos estudados evidenciam que, em sua
maioria, os estagiários eram solteiros e quase metade dos trabalhadores
(50,46%) eram casados.
Em relação ao número de filhos a maioria dos estagiários (97,53%) não tinha
filhos, enquanto que aproximadamente metade dos trabalhadores (49,54%) tinha
filhos. Essa situação era até previsível, visto que os estagiários não têm
garantia de emprego, e seu contrato de trabalho é encerrado no dia que termina
o seu vínculo com a universidade, além do fato de que a maioria dos estagiários
(81,48%) tinha entre 20 e 29 anos e a metade (50,46%) dos trabalhadores tinha
idade maior ou igual a 30 anos, situação essa também esperada, devido ao fato
dos estagiários ainda estudarem.
A maioria dos estagiários (87,7%) cursava a educação superior, enquanto que no
grupo de trabalhadores (trabalhadores terceirizados e os da empresa originária)
46,8% tinham pelo menos 11 anos de estudo e 40,4% ensino fundamental incompleto
ou eram analfabetos.
Entre os trabalhadores apenas 16,5% ocupavam cargos de chefia, mostrando que
existe uma tendência a horizontalização da hierarquia nas organizações.
Em relação ao estilo de vida apenas 4,9% dos estagiários referiram ser
tabagistas, bem como 19,3% dos trabalhadores. Estes dados se devem ao fato que
é desenvolvido um programa de prevenção ao tabagismo há mais de duas décadas na
empresa privatizada. O referido programa já foi premiado, por duas vezes, pelos
Ministérios da Saúde e do Trabalho (1994/1997). Em estudo em empresa
semelhante, com trabalhadores permanentes, 12,1% dos trabalhadores eram
tabagistas(12). Só é permitido fumar no condomínio fora dos ambientes fechados.
Quanto à ingestão de bebidas alcoólicas foi referida apenas por 38% dos
trabalhadores e 42% dos estagiários. Este dado é concordante com outro estudo
(12) realizado com trabalhadores do ramo de tecnologia da informação e
telecomunicações e encontrou que 50,3% dos entrevistados tinham o hábito de
ingerir bebidas alcoólicas.
As atividades físicas foram referidas por 70,4%, dos estagiários e 56,9% dos
trabalhadores, que são fatores primordiais em relação à manutenção e melhora da
capacidade física(3).
Entre os entrevistados, 83,2% (158) realizavam pelo menos uma atividade de
lazer diariamente; no grupo dos estagiários 43,8% (35) realizavam mais que dez
diferentes atividades de lazer, enquanto que no grupo dos trabalhadores, este
percentual limitou-se a 17,6%. As atividades de lazer também são importantes
para a manutenção da capacidade para o trabalho(3). Valores semelhantes foram
encontrados em relação à freqüência das atividades de lazer realizadas por
trabalhadores do ramo de tecnologia da informação e telecomunicações(12).
A realização de tarefas domésticas foi referida por 48,2% dos estagiários e
pela maioria dos trabalhadores (71,6%).
O ICT categórico foi ótimo para a maioria dos estagiários (56,79%) e dos
trabalhadores (63,3%); bom, para 43,21% dos estagiários e 31,19% dos
trabalhadores; moderado para 5,5% dos trabalhadores e nenhum estagiário. Não
houve trabalhador ou estagiário na categoria baixa, de modo semelhante ao que
foi encontrado em pesquisa semelhante(12) e de modo contrário ao encontrado em
estudos realizados com trabalhadores do Setor de limpeza que apresentaram
valores de ICT na categoria "baixa capacidade para o "trabalho"(7,10)".
Os estudos transversais em epidemiologia ocupacional excluem o possível doente
levando ao efeito do trabalhador saudável(15).
Em relação ao ICT categórico houve uma ligeira diminuição entre os
trabalhadores com 40 anos ou mais, sendo corroborado pelos estudos finlandeses
(3), os quais mostraram que, os trabalhadores de maior idade tendem a ter a
capacidade para o trabalho diminuída, com o decorrer dos anos, quando não são
realizados programas de preservação e manutenção para o trabalho.
Em relação à "capacidade atual para o trabalho", a média de pontos dos
estagiários foi de 8,6 (DP 1,2) e a dos trabalhadores 8,9 (DP 1,17) (teste de
Mann-Whitney, p= 0,0499), indicando que os estagiários estão com a capacidade
para o trabalho pior que a dos trabalhadores terceirizados. Deve aqui ser
considerado que os estagiários, além da jornada de trabalho na empresa ainda
cursam faculdade/ensino médio.
Embora os estagiários e parte dos trabalhadores (principalmente, os da empresa
originária) realizem trabalho com exigência mental, a capacidade para o
trabalho em relação às exigências mentais foi referida como muito boa por
apenas 32,5% (estagiários) e 44,0% (trabalhadores) e como boa por 62,5%
(estagiários) e 51,4 (trabalhadores). A capacidade para o trabalho sofre
influências das condições laborais e de saúde, do estilo de vida e do
envelhecimento biológico(4).
As questões relativas às condições de trabalho (ambiente físico, organização,
relações etc) podem ter repercussões negativas sobre a vida psíquica do
trabalhador e devem ser consideradas com atenção, pois não se trata
simplesmente de identificar e tratar uma doença, mas, de promover a saúde e a
qualidade de vida do trabalhador, isto é, prevenir, evitar o sofrimento, o
desgaste, a doença ou a morte e retomar o trabalho como atividade fundamental
na constituição do sujeito e da vida digna.
A capacidade atual para o trabalho em relação às exigências físicas foi
referida muito boa por 55% dos estagiários e 58% dos trabalhadores; como boa
por 42,5% (estagiários) e 36,7% (trabalhadores) e moderada para 2,5 %
(estagiários) e 9,17% (trabalhadores), como moderada. Deve ser considerado que
parte dos trabalhadores realiza atividades laborais com exigência
predominantemente física.
Em relação às "doenças na própria opinião", 49,4% dos estagiários e 51,4% dos
trabalhadores responderam afirmativamente a esta questão (p= 0,7858, Teste de
Qui-quadrado).
No grupo dos estagiários, 38,3% apresentaram "doenças com diagnóstico médico",
bem como 49,5% dos trabalhadores (p= 0,7858, Teste de Qui-quadrado).
Em relação à ausência no trabalho devido aos problemas de saúde, 78% dos
trabalhadores não tiveram afastamentos e 46,9% dos estagiários ficaram de um
até nove dias afastados. Durante as entrevistas os trabalhadores e estagiários
relataram existir um banco de horas, no qual são computadas as horas extras de
trabalho e que são transformadas em dias de descanso e não pagas em
remuneração, sendo que os contratos dos estagiários podem durar um ano ou mais
e eles não têm direito a férias. Os trabalhadores utilizavam o banco de horas
para consultas médicas e resolver assuntos familiares e os estagiários, em
geral, para usufruir períodos de descanso. Porém, os estagiários não tinham
banco de horas e isto pode justificar os dados mencionados anteriormente, em
relação aos dias de afastamentos, cuja maior porcentagem foi entre os
estagiários.
Em relação ao "prognóstico próprio da capacidade para o trabalho daqui há dois
anos", todos os estagiários e 86,1% dos trabalhadores referiram ser "bastante
provável". Estes dados são concordantes com os de pesquisa em empresa do mesmo
ramo (97,7%)(12).
A maioria dos trabalhadores (70,7%) referiu ser capaz de apreciar suas
atividades diárias sempre e a metade dos estagiários (50,6%), quase sempre.
A maioria dos trabalhadores (68,8%) e menos que a metade dos estagiários
(45,7%) referiu sempre se "sentir ativo e alerta". Este dado pode ser
evidenciado pelo fato dos estagiários terem uma sobrecarga de atividades (oito
horas de estágio, em geral, e mais uma média de cinco horas de atividades de
estudo diárias) causando uma fadiga física e mental.
Pesquisa realizada com estudantes do ensino fundamental constatou que o
trabalho estava associado ao cansaço no fim do dia, baixa concentração no
estudo, acidentes, sono durante as aulas, dores no corpo, menor número de horas
de sono, entre outros(16).
A maioria dos trabalhadores (69,7%) e a metade dos estagiários (50,6%)
referiram "sentir-se continuamente cheios de esperança para o futuro".
Na análise de regressão linear simples do grupo dos estagiários, na qual o ICT
foi considerado como variável dependente, as seguintes variáveis independentes
tiveram significância estatística: tempo na empresa: de 1,0 a 1,9 (p=0,0056) e
se tempo maior ou igual a dois anos p=0,0003; realização de atividade física
(p=0,0014); atividade física maior ou igual a 120 minutos por semana
(p=0,0012); tempo de deslocamento (p=0,0427) e ouvir música diariamente
(p=0,0235).
4. CONCLUSÕES
Em relação às transformações que têm ocorrido na inserção e relações do
trabalho, devem ser consideradas a globalização da economia, a sociedade da
informação, o desemprego estrutural e de longa duração, os novos riscos para
saúde e o bem-estar, as novas formas de trabalho (terceirização, trabalho
temporário, trabalho informal), a evolução sociodemográfica, a femininização da
força de trabalho e o envelhecimento, entre outros aspectos. A noção de
empregabilidade não pode ficar reduzida às qualificações profissionais, à
educação e a formação para a vida laboral.
A partir do objetivo desta pesquisa, que foi estudar os trabalhadores de uma
empresa do ramo de telecomunicações e tecnologia da informação e de empresas
agregadas, bem como os seus estagiários em relação à sua capacidade para o
trabalho e suas características sociodemográficas, constatou-se, em relação ao
estilo de vida, que os estagiários (96,06%) fumam menos que os trabalhadores
(80,27%), mas ingerem mais bebidas alcoólicas.
O Índice de Capacidade para o Trabalho ótimo foi menor entre os estagiários.
Em síntese, os novos conhecimentos e competências são exigidos cada vez mais
dos trabalhadores e para manter a capacidade para o trabalho é fundamental a
promoção à saúde no trabalho.