(Des)conforto de trabalhadores de enfermagem: uma questão de (in)justiça social
(Des)conforto de trabalhadores de enfermagem: uma questão de (in)justiça social
(Des)confort de trabajadores de enfermería: una cuestion de (in)justicia social
Nursing workers´(dis)comfort: a matter of social (in)justice
Silvana dos Santos BarretoI; Maurílio Nunes PereiraII; Jaqueline do Amaral
SantosIII; Eloita Pereira NevesIV
IEnfermeira do Hospital do Câncer IV - INCA, mestranda FENF/UERJ
IIEnfermeira, Mestre em Enfermagem, chefe da unidade de Clínica Médica do HUPE/
UERJ
IIIEnfermeira, Mestre em Enfermagem, chefe de unidade do HUPE/UERJ
IVEnfermeira-doutora, professora titular aposentada UFSC, professora visitante
FENF/UERJ. E-mail do autor:sil_barreto@yahoo.com.br
1 Introdução
Eventos sociais, políticos e econômicos têm sido responsabilizados pelo
sucateamento das instituições de saúde no Brasil, podendo-se observar a
existência de problemas estruturais e funcionais nos hospitais públicos que,
sem dúvida, resultam em ambientes pouco ou nada saudáveis para a realização do
trabalho dos profissionais que lá atuam. Inúmeras iniciativas, como o Programa
Nacional de Humanização Hospitalar do Ministério da Saúde - PNHAH(1) têm sido
implementadas, embora ainda em pequena escala, no sentido de favorecer a
melhoria da qualidade dos serviços prestados. Alerta o referido documento:
É necessário pensarmos num conjunto de ações que atendam três dimensões: a
humanização do atendimento ao usuário; a humanização das condições de trabalho
do profissional de saúde; o atendimento da instituição hospitalar em suas
necessidades básicas, administrativas, físicas e humanas.
No que pese a importância da realização deste conjunto de medidas, entendemos
ser necessário identificar as necessidades dos profissionais que atuam nestes
serviços, em particular dos profissionais de enfermagem que permanecem expostos
por um período longo e continuado, submetidos a estímulos dos mais variados,
durante a realização do processo de cuidar(2,3). Por isso são necessários
estudos que visem fornecer subsídios para viabilizar a luta por melhores
condições de trabalho na enfermagem(2-4).
A partir destas premissas, as professoras da Disciplina de Cuidar e o Processo
de Trabalho em Enfermagem, do curso de mestrado em Enfermagem da Faculdade de
Enfermagem da UERJ realizaram, juntamente com os alunos da quarta turma de
mestrado e enfermeiros do hospital, um levantamento que visou identificar
condições de trabalho, saúde, conforto. E discutir os direitos humanos dos
trabalhadores de enfermagem das unidades de clínica médica de um hospital
universitário do Rio de Janeiro.
O presente estudo faz parte deste levantamento mais amplo, e tem por objetivo
identificar os níveis de conforto, os motivos pelos quais os participantes se
sentem confortáveis ou desconfortáveis em relação ao trabalho e ao cuidado
recebido pelo cliente bem como suas necessidades e propostas para aumentar seu
nível de conforto. Assim, o estudo das condições de vida e de trabalho a que
estão submetidos os trabalhadores de enfermagem permitirá identificar as suas
necessidades e, entre elas, aquelas que poderão ser alcançadas através da
implementação de um processo de cuidar da saúde deste trabalhador(5).
O conforto é um conceito subjetivo e abstrato que envolve aspectos de bem-estar
físico, espiritual, psíquico e socioeconômico, não se limitando apenas a
satisfação das necessidades fisiológicas, de modo que apenas o próprio
indivíduo pode determinar o nível de conforto que está experienciando. Podem-se
atribuir valores para os níveis de conforto, denominado-os como nível alto,
médio ou baixo. O resultado do conforto é a pessoa recuperar sua força ou poder
vital, experienciar ânimo, bem-estar e crescimento, ser capaz de mobilizar
mecanismos para enfrentamento de problemas, poder funcionar melhor nos seus
papéis usuais, melhorando assim sua qualidade de vida(6). Por ser um conceito
global, que depende de vários aspectos, a não satisfação de algum desses
aspectos levará a um baixo nível de conforto, que pode ser entendido como
desconforto, que pode ser definido como tensão criada pela continuação da
situação de não satisfação de necessidades básicas(6).
Acreditamos que com este estudo estaremos contribuindo na luta pela melhoria
das condições de trabalho de enfermagem, pois para cuidar ou ajudar a crescer a
idéia do cuidado e conforto para promoção da saúde, é preciso exercitar: a fé,
a esperança, a paciência e, sobretudo a coragem para decidir buscar uma saída
para a situação de descaso, descuidado e desconforto que todos estamos
enfrentando, principalmente nas situações que envolvem saúde e trabalho(5).
2 Caminho metodológico
Trata-se de estudo de natureza exploratório-descritiva, do qual participaram 52
trabalhadores de enfermagem (auxiliares, técnicos, enfermeiros, enfermeiros
residentes, distribuídos em 4 unidades de clínica médica, de um hospital
universitário no município do Rio de Janeiro, que estavam no exercício da
função na época da coleta dos dados. Para estes foi utilizado um único
instrumento, elaborado pelos professores da disciplina Cuidar e o Processo de
Trabalho em Enfermagem do curso de Mestrado em Enfermagem da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FENF/UERJ), constituído
por quatro partes, como segue: a) Caracterização dos trabalhadores; b)
Condições de trabalho; c) Saúde; e d) Conforto. Para obtenção dos dados sobre
conforto em relação ao trabalho no setor e ao cuidado que o cliente recebe, foi
utilizado um instrumento(6) que consiste em uma escala graduada, colada em copo
descartável, com valores de 0 a 10, onde o participante preenchia com água até
o nível que indicasse o quanto confortável ele estava se sentindo em relação ao
que era perguntado1.
Os dados do estudo foram coletados pelos alunos da 4ª. turma do curso de
mestrado em Enfermagem da FENF/UERJ. Divididos em quatro grupos, ficando cada
um com a responsabilidade de coletar dados em uma das unidades de Clínica
Médica selecionadas para o estudo. A análise dos dados foi realizada segundo
Strauss e Corbin. (7)
A presente investigação foi realizada com a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa do hospital. As entrevistas foram feitas nas unidades, tendo cada
sujeito concordado em participar do estudo por meio da assinatura de um termo
de consentimento livre e esclarecido(8).
3 Apresentação e análise dos resultados
3.1 Conforto e desconforto em relação ao trabalho
Dentre os 52 trabalhadores que foram solicitados a atribuir um valor numérico
ao nível de conforto que estavam experienciando em relação ao trabalho no
setor, 21 (40%) foram considerados em nível médio, pois atribuíram valores
entre 5 e 7; 20 (38%) foram considerados em nível alto, pois atribuíram valores
entre 8 e 10; e 11 (22 %) em nível baixo já que atribuíram valores de zero a 4.
Consideramos este último como desconforto.
Todos os respondentes apontaram em suas falas frases que foram por nós
caracterizadas como representativas de conforto ou de desconforto. No que se
refere a conforto no trabalho no setor emergiram três categorias centrais: a)
relacionamento harmônico no trabalho; b) oportunidade para atuação e
crescimento profissional; e c) gostar do trabalho e da profissão. E quanto ao
desconforto por eles experienciado no trabalho foram identificadas duas
categorias temáticas, as condições de trabalho e os resultados desfavoráveis à
manutenção da qualidade do trabalho. A categoria condições de trabalho se
expressa através de três sub-categoriais: a) precária estrutura física e
recursos humanos para a realização do trabalho, b) deficiência de material,
equipamentos e mobiliários e, c) dificuldades no desenvolvimento do processo de
trabalho.
Cada categoria inclui sub-categorias, as quais foram sintetizadas nas
descrições que apresentamos a seguir e que nos ajudam a identificar as razões
pelas quais os trabalhadores se sentem confortáveis e/ou desconfortáveis.
Os trabalhadores de enfermagem sentem-se confortáveis em relação ao trabalho no
setor por quê: a) experienciam relacionamento harmônico com chefe e colegas de
equipe envolvidos no trabalho os quais demonstram receptividade e lhes fazem se
sentir seguros e animados; b) sentem-se felizes pela maneira como realizam seu
trabalho; c) gostam da profissão de enfermagem, da possibilidade de doar-se e
estar presente atuando e colaborando mesmo face às dificuldades do setor; d)
consideram o setor de trabalho como extensão de sua casa e referem que o
trabalho não é totalmente ruim, pois é uma experiência enriquecedora que
oportuniza o crescimento pessoal e profissional.
Por outro lado, os trabalhadores de enfermagem sentem-se desconfortáveis devido
às más condições de trabalho referentes a: a) precária estrutura física e
recursos humanos para a realização do trabalho, b) deficiência de material,
equipamentos e mobiliários; c) dificuldades nos desenvolvimento do processo de
trabalho tais como, deficiências organizacionais e ausência de resolutividade,
preocupação com a biossegurança dos profissionais e dos clientes, desgaste com
o trabalho, e d) por experienciarem uma diversidade de sentimentos
desconfortáveis, dentre eles mencionam insatisfação, cansaço, estresse, sentir-
se desrespeitado, incomodado, desvalorizado, desmotivado, discriminado,
injustiçado, impotente para resolver os problemas devido ao descaso dos
dirigentes para com o setor. Além disso, consideram que o sistema de hierarquia
existente no hospital impede a progressão da conquista dos direitos dos
trabalhadores. Como resultado das deficiências apontadas referem a diminuição
da qualidade dos serviços que prestam à clientela.
3.2 Conforto e desconforto dos trabalhadores de enfermagem em relação ao
cuidado que o cliente recebe no setor
No que diz respeito ao nível de conforto em relação ao cuidado que o cliente
recebe no setor, 23 (44%) trabalhadores de enfermagem se situaram em nível
médio de conforto - representado pelos valores atribuídos de 5 a 7; 21 (40 %)
em nível alto, com valores de 8 a 10; e 8 (16%) em nível baixo, valores de 0 a
4, compatíveis com o desconforto.
Os trabalhadores apontaram em suas falas, frases que foram por nós
caracterizadas como representativas de conforto ou de desconforto. No que se
refere a conforto em relação ao cuidado recebido pelo cliente emergiram três
categorias centrais: a) equipe qualificada que ultrapassa os limites para poder
cuidar, b) confiança e reconhecimento por parte do cliente e, c) bom
atendimento. E quanto ao desconforto por eles experienciado no que se refere a
conforto em relação ao cuidado recebido pelo cliente emergiram quatro
categorias: a) estrutura precária para cuidar, em relação aos aspectos de
estrutura física e recursos humanos, b) insumos insuficientes e inadequados
para cuidar, c) processo de cuidar referente ao cliente a ao cuidador
profissional e, d) conseqüências desfavoráveis.
Cada categoria inclui sub-categorias, as quais foram sintetizadas nas
descrições que apresentamos a seguir e que nos ajudam a identificar as razões
pelas quais os trabalhadores se sentem confortáveis e/ou desconfortáveis.
Os trabalhadores se sentem confortáveis em relação ao cuidado que o cliente
recebe no setor porque no seu entendimento: a) a equipe é qualificada,
dedicada, competente, comprometida, responsável, atenciosa, afetiva; b) tem
sentimento humanitário; c) tem boa intenção, d) cuidam bem; e) comunicam-se
adequadamente com os clientes; f) ultrapassam os seus limites para assegurar
atenção de qualidade e promover o conforto possível face às deficiências da
estrutura do setor; g) os clientes gostam de se internar no setor porque
confiam na equipe e manifestam seu reconhecimento ao pessoal de enfermagem; h)
sentem que os clientes melhoram o quadro clínico; i) além disto sentem-se
confortáveis pelo fato de ser permitido ao cliente ter acompanhante e receber
visitas diárias. É interessante destacar que ocorreu uma afirmação de um
trabalhador considerando o atendimento bom se comparado a outros hospitais
públicos.
Por outro lado os trabalhadores se sentem desconfortáveis em relação ao cuidado
que o cliente recebe porque não dispõem de instalações adequadas e recursos
humanos suficientes para cuidar, bem como, de material de consumo e mobiliário
suficientes e adequados para realizar o cuidar. Referem experienciar uma
variedade de sentimentos de desconforto tais como: a falta de estímulo,
motivação e impotência diante à estrutura hospitalar, bem como, dificuldades na
organização das condições para cuidar e inexperiência do pessoal em formação,
para desempenhar o cuidado. Ainda no processo de cuidar no que diz respeito ao
cliente referem sentirem-se desconfortáveis porque percebem negligência,
indiferença e falta de paciência de alguns membros da equipe de saúde que
colocam o cliente em segundo plano, além de considerarem que, devido às
condições de trabalho, os aspectos humanitários não são valorizados. Como
conseqüência referem que o cuidado é negligenciado, causando prejuízo tanto ao
cliente quanto à imagem da profissão de enfermagem.
3.3 Necessidades de conforto dos trabalhadores de enfermagem
Para se sentirem mais confortáveis em relação ao seu trabalho e ao cuidado que
o cliente recebe nos quatro setores de clínica médica estudados, os
trabalhadores de enfermagem destacaram as seguintes necessidades: a) ter
melhores condições de trabalho; b) receber estímulo e valorização por parte dos
chefes, dos outros profissionais e colegas; c) ver os problemas resolvidos para
elevar o conceito do hospital na comunidade; d) ver todos os serviços
estruturados e funcionando melhor; e e) proporcionar assistência adequada e de
qualidade.
Ter melhores condições de trabalho implica em: ter material adequado e
suficiente; ter pessoal em número e categoria adequados; melhorar as condições
de uma maneira geral; ter mobiliário e equipamento adequado para atender o
cliente; contar com melhoria na planta física no que diz respeito construção de
instalações para a higienização dos pacientes e do pessoal bem como do material
utilizado para efetuar os procedimentos técnicos; dispor de instalações e
estrutura adequadas para efetuar tratamentos, como, por exemplo, contar com
oxigênio canalizado à cabeceira do leito, além de outros requisitos como
regularidade no fornecimento de material, resolução dos problemas de
biossegurança para clientes e pessoal, ter menos sobrecarga no trabalho.
Receber estímulo e valorização por parte dos chefes, dos outros profissionais e
colegas significa que o trabalhador de enfermagem necessita ser estimulado para
cuidar melhor, dispor de mais tempo para cuidar do cliente, ter atendida a
preferência de horário de trabalho, ter mais conhecimento e experiência e ter
vínculo empregatício.
Ver os problemas resolvidos para elevar o conceito do hospital na comunidade,
embora tenha sido referido por apenas três respondentes, contém indicadores
bastante significativos de necessidades, tais como: ver o setor de Clínica
Médica tratado com maior cuidado e carinho por parte dos superiores; ver o
hospital voltar a ser o que era há 8 anos; e saber que existe uma equipe
atuante para facilitar a resolução dos problemas dos pacientes.
Ver todos os serviços do hospital estruturados e funcionando melhor englobou as
seguintes necessidades dos trabalhadores de enfermagem: contar com melhor
funcionamento dos serviços de apoio; poder permanecer no setor sem ter que se
deslocar para buscar material, ver o setor mais organizado e com mais
disciplina, contar com melhor estruturação do trabalho da enfermagem e da
medicina.
Proporcionar assistência adequada e de qualidade representa as necessidades que
os trabalhadores manifestaram no sentido de: ver os colegas cada vez mais
conscientes sobre o papel de cuidar, ver o paciente receber o cuidado a que tem
direito, ver o paciente ser colocado em primeiro lugar, executar o real papel
de cuidar e prestar cuidado digno.
3.4 Propostas para aumentar o nível de conforto dos trabalhadores
Tomando como base as necessidades apontadas pelos trabalhadores e as medidas
por eles sugeridas para alcançar maiores níveis de conforto em relação ao seu
trabalho e ao cuidado recebido pelos clientes, propomos a realização de
discussões entre os trabalhadores para definir atividades e estratégias que
visem: a) resgatar a essência da profissão de enfermagem, estimulando os
profissionais a desempenhar suas reais funções, favorecendo assim a otimização
do cuidado prestado; b) elevar o conceito do hospital na comunidade; c)
proporcionar material de qualidade para prestar assistência adequada; d)
sensibilizar as diferentes categorias profissionais e os dirigentes para a
resolução dos problemas apontados no estudo; e) exigir das autoridades
governamentais maiores investimentos para melhorar as condições de realização
do cuidado; f) sensibilizar a comunidade para participar na luta para conseguir
maiores investimentos no hospital a fim de que possa resgatar a qualidade dos
serviços antes prestados; g) adequar a planta física para melhor cuidar; h)
reestruturar o processo de trabalho da enfermagem e dos diversos setores
correlatos a fim de otimizar a qualidade do cuidado aos clientes das Clínicas
Médicas; i) despertar o senso humanitário nos profissionais de saúde envolvidos
na assistência aos clientes do hospital; j) promover a integração da equipe
multidisciplinar; k) incentivar o cultivo do amor a si e ao próximo; l)
resgatar a motivação do pessoal de enfermagem melhorando as condições de
trabalho para que eles possam ver o cliente receber o cuidado a que tem
direito; m) promover intercâmbio entre as diversas especialidades clínicas a
fim de que juntos os profissionais possam decidir pela melhor forma de
atendimento aos clientes internados em clínicas diferentes das de origem; n)
valorizar o trabalhador de enfermagem ouvindo-o e atendendo às suas
necessidades, a fim de que ele se sinta motivado para o cuidado humanizado.
4 Discussão
Tomando como pressuposto que conforto e qualidade de vida no trabalho são
conceitos que se relacionam à percepção do indivíduo sobre seu bem-estar,
podemos afirmar que os resultados deste estudo confirmam os achados da
investigação realizada com enfermeiras de um hospital universitário sobre
qualidade de vida e sua relação com trabalho, educação e saúde(9). Para os
participantes deste estudo, a qualidade de vida estava relacionada a estar bem
consigo mesmo e com as pessoas com quem se relacionam; ter uma vida
profissional produtiva; a melhoria da qualidade de vida do cliente através de
uma assistência humanizada, valorizando educação em saúde, e com a melhoria das
condições de trabalho da equipe; e a valorização do grupo para melhoria da
qualidade de vida da equipe de enfermagem.
Um estudo sobre qualidade de vida no trabalho realizado com 279 trabalhadores
de enfermagem de um hospital universitário (HU) em Santa Catarina encontrou
resultados semelhantes: os trabalhadores vêem o trabalho no HU como uma forma
de satisfação pessoal e profissional; número insuficiente de profissionais
levando à sobrecarga de trabalho; falta de funcionários para serviços de apoio;
falta de grupo de apoio aos funcionários; descaso no atendimento à saúde do
trabalhador e sua família; falta de comunicação entre a equipe, e organização
das tarefas; dificuldade de liberação para participar de atividades
relacionadas à capacitação profissional(2).
Em outro estudo, sobre motivação no trabalho da equipe de enfermagem, os
resultados indicaram que os sentimentos de felicidade em relação ao trabalho
estavam relacionados as suas tarefas ou eventos que indicavam sucesso ou
possibilidade de crescimento profissional, ao passo que os sentimentos de
infelicidade não estavam associados ao trabalho, mas às condições que o
envolviam(10). Estes achados foram semelhantes aos encontrados em nosso estudo,
uma vez que o conforto em relação ao trabalho e em relação ao cuidado estava
relacionado ao relacionamento harmônico com a equipe, gostar do trabalho e da
profissão, reconhecimento por parte do cliente, enquanto que o desconforto
estava relacionado principalmente às condições precárias de trabalho.
5 Conclusão
Podemos concluir que embora os trabalhadores de enfermagem relatem que as
condições de trabalho sejam inadequadas no que se refere à estrutura física,
disponibilidade de materiais, recursos humanos, acomodações para o cliente e
para a equipe de enfermagem, a maioria indicou estar confortável por fazer o
que gosta, ter um relacionamento harmônico com a chefia e com os colegas,
sentir-se útil, poder doar-se apesar das dificuldades, ter uma relação de afeto
com o paciente. Os resultados deste estudo confirmam o que preconiza o PNHAH(1)
de que o indivíduo capacitado e respeitado como profissional e pessoa, que tem
espaço para ser ouvido e que possui recursos adequados às exigências de seu
trabalho está mais apto a cuidar com eficiência e qualidade, e certamente
alcançará maior conforto e satisfação em seu trabalho, resultando em maior
produtividade.
É importante que, como enfermeiros envolvidos no cuidado ao outro, atentemos
para o significado de cuidar da saúde do trabalhador: cuidar implica nos
interessarmos pelo bem-estar dos trabalhadores, melhorando suas condições de
trabalho e encaminhando a resolução dos problemas institucionais que geram
incertezas e tensões, aumentando o desconforto(5).
Assim com este estudo esperamos contribuir para a implementação de melhorias
que possam tornar o ambiente de trabalho um ambiente de cuidado, que é um
ambiente em que os valores morais e a ética favorecem a preservação da
dignidade, respeito e solidariedade entre os trabalhadores(5).