Análise da demanda por defensivos pela fruticultura brasileira 1997-2000
Análise da demanda por defensivos pela fruticultura brasileira 1997-20001INTRODUÇÃO
No consumo de defensivos, a agricultura brasileira destaca-se, posicionando-se
em 3o lugar, precedida por Estados Unidos e Japão. Mundialmente, em 1999, as
vendas de defensivos alcançaram US$ 19,40 bilhões e, no Brasil, US$ 2,35
bilhões (12,11% do total mundial). Em 2000, os dispêndios totais com
defensivos, no País, foram de US$ 2,50 bilhões, uma elevação de 6,38% em
relação aos gastos totais em 1999 (SINDAG, 2001).
Esta posição de destaque deve-se, em parte, ao tamanho da área cultivada e das
culturas plantadas num país com dimensões continentais. Quando se analisa o
volume consumido de princípio ativo por hectare pelos principais países, em
2000, o Brasil perde algumas posições, situando-se em 8o lugar, após diversos
países europeus, em cujas áreas, bem menores do que a brasileira, a agricultura
se desenvolveu há séculos (Tabela_1).
No Brasil, essa posição de destaque no consumo, em termos de dispêndios
efetuados e consumo de princípio ativo deve-se, principalmente, aos grãos,
cereais e fibras e, mais especificamente, às culturas direcionadas a
agroindústrias e exportações. Para a fruticultura, em termos de dispêndios
totais, a participação relativa dos defensivos tem ficado entre 6 e 8% (Tabela
2) e variando de 13 a 17% no volume total consumido de princípio ativo (Tabela
3), ambos dependendo, ainda, do desempenho da citricultura.
No Brasil, esta participação ainda pequena da fruticultura, principalmente nos
dispêndios totais com defensivos, está fortemente associada ao tamanho da área
cultivada que, nos últimos anos, tem permanecido entre 4,0 e 4,5% do total
brasileiro (Tabela_4).
Associando-se dispêndios totais e volume total consumido de princípio ativo
pela fruticultura no País, as frutas brasileiras poderiam ganhar expressividade
caso se determinasse a demanda relativa (quantidade gasta em US$ ou volume
consumido de princípio ativo em kg, por unidade de área cultivada por hectare).
Este estudo visa analisar a demanda relativa da fruticultura brasileira, tanto
em termos de dispêndios (US$/ha), como em volume de princípio ativo (kg/ha), e
sua evolução no período de 1997 a 2000.
Apoiando-se em outras pesquisas, efetua-se, também, uma análise comparativa da
demanda relativa das principais culturas brasileiras com as obtidas neste
estudo, em termos de dispêndios totais e volume total consumido de princípio
ativo no Brasil. Como informação adicional, apresenta-se, para a fruticultura,
os dispêndios totais e o consumo total de princípio ativo por classe de
defensivos, para o período de 1997 a 2000.
MATERIAL E MÉTODOS
São utilizados dados secundários obtidos junto ao Sindicato Nacional da
Indústria de Produtos para Defesa Agrícola-Sindag, para os dispêndios totais e
os volumes de princípio ativo, totais e por classe de defensivos, para o
Brasil, e à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-Fibge,
para a área cultivada com cada cultura agrícola no País.
Faz-se um cruzamento de dados e estatísticas do Sindag e da Fibge, para o
período de 1997 a 2000, estabelecendo-se uma relação entre dispêndios totais
(Tabela_2) e volumes totais consumidos de princípio ativo no Brasil (Tabela_3)
com a área total cultivada no País, por fruta considerada (Tabela_4). Para a
análise, o ponto de partida é 1997, pois foi neste ano que se estabeleceu a
disponibilidade de dados para maçã, uva e laranja, e, desde 1999, para melão e
banana. Outras frutas ainda aparecem agregadas nas estatísticas, sendo elas:
abacate, abacaxi, caju, caqui, coco-da-baía, figo, goiaba, mamão, manga,
maracujá, marmelo, melancia, pêra e pêssego. Para 1997 e 1998, banana e melão
estão agregados em "Outras frutas".
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela_5 traz os volumes obtidos para a demanda relativa, medida em
dispêndios por unidade de área cultivada (US$/ha).
Verifica-se o expressivo gasto (US$/ha) para a maçã, seguida por melão, uva e
laranja, sempre acima de US$ 100,00/ha. Por sua vez, a banana apresenta valor
pouco significativo, abaixo de US$ 10,00/ha.
Para evidenciar a expressividade da demanda relativa em termos de dispêndios/ha
das frutas maçã, melão, uva e laranja, basta fazer uma comparação com as
principais culturas brasileiras (Neves et al., 2001). Neves et al. (2002), para
o ano 2000, em termos absolutos, constataram que soja, milho, cana e café
despenderam em defensivos, por hectare, US$ 64,24, US$ 19,78, US$ 38,01 e US$
70,54, respectivamente, enquanto maçã gastou US$ 494,24/ha, melão US$ 178,11/
ha, uva US$ 151,91/ha e a laranja, US$ 118,33/ha, todas estas acima de US$
100,00/ha.
Como a área cultivada total é importante componente para os dispêndios em
termos absolutos, quando se determina a demanda relativa por unidade de área,
os valores assumidos se diferenciam. Por exemplo, tomando-se o ano 2000, dos
US$ 2,5 bilhões despendidos com defensivos no Brasil, soja, milho, cana-de-
açúcar e café gastaram US$ 879,5 milhões (35,18%), US$ 250,18 milhões (10,01%),
US$ 185,5 milhões (7,42%) e US$ 161,5 milhões (6,46%), respectivamente,
perfazendo o percentual de 59,07% do dispêndio total com defensivos no País.
Porém, como a área cultivada em 2000 foi de 13,69 milhões de hectares para a
soja; 12,65 milhões para o milho; 4,88 milhões para a cana; e 2,29 milhões de
hectares para o café, a demanda relativa (US$/ha) cai bastante no comparativo
com as frutas.
A Tabela_6 mostra a demanda relativa por princípio ativo. Neste caso, para as
frutas, a ordem se altera, quando comparada com a demanda relativa que mensura
volumes/ha. Em 2000, a laranja posicionou-se em 2o lugar (16,89 kg/ha),
precedida pela maçã (48,99 kg/ha), enquanto ocupou o 4o lugar na análise
anterior (Tabela_5).
Apoiando-se em Neves et al. (2002), pode-se inferir que a demanda derivada (kg
de princípio ativo/ha) é maior nas frutas do que nas outras culturas analisadas
(soja, milho, cana-de-açúcar e café). Em termos absolutos, para um total de
140,423 mil t, os consumos de princípio ativo por hectare por soja, milho,
cana-de-açúcar e café foram de 46,274 mil t (32,95%), 21,201 mil t (15,10%),
11,337 mil t (8,07%) e 9,085 mil t (6,47%), respectivamente, perfazendo 53,59%
do volume total brasileiro consumido de princípio ativo no ano 2000. Quando é
determinada a demanda relativa, os valores para café, cana-de-açúcar, soja e
milho foram, em kg/ha, de 3,97; 3,38; 2,32; e 1,68, respectivamente. Como a
demanda relativa de princípio ativo foi de 48,99 kg/ha para a maçã, 16,89 kg/ha
para a laranja, 10,60 kg/ha para a uva e 6,75 kg/ha para o melão, verifica-se
que a quantidade consumida de princípio ativo por estas frutas, por unidade de
área cultivada, é bem maior do que a de 4 culturas importantes da economia
brasileira (soja, cana, café e milho).
Outro resultado interessante foi a determinação da participação relativa da
fruticultura nos dispêndios totais em US$ (Tabela_7) e no consumo total de
princípio ativo em toneladas (Tabela_8) por classe de defensivo, para o período
1997-2000. Pela Tabela_7, verifica-se que a fruticultura, mesmo detendo apenas
4,0 a 4,5% da área cultivada total brasileira, teve dispêndios com fungicidas
variando de 10% (2000) a 13% (1997) do total gasto no Brasil e, com acaricidas,
aquisições de 92% (2000) a 96% (1997). Assim, fica evidenciado que a indústria
de defensivos da classe dos acaricidas depende bastante da fruticultura,
principalmente do desempenho da citricultura, cujos valores despendidos com
acaricidas e fungicidas se retraíram nos anos 1999 e 2000, devido,
principalmente, aos preços pouco remuneradores recebidos pelos citricultores.
Ao se tratar da participação relativa da fruticultura no consumo total
brasileiro de princípio ativo por classe de defensivo (Tabela_8), verifica-se
que sua quantidade demandada nos fungicidas é mais elevada na fruticultura do
que no conjunto de outras culturas, chegando a ser quase 5 vezes maior, se
comparada à área brasileira cultivada. Enquanto a área total com frutas não
passou dos 4,5% no período analisado (1997-2000), o consumo total de princípio
ativo na classe dos fungicidas pela fruticultura ficou entre 20,8% (2000) e
22,8% (1999). Enfocando-se a classe dos acaricidas, verifica-se que o consumo
da fruticultura brasileira por princípio ativo ficou ao redor de 95% do total
consumido por todas as culturas brasileiras, o que corrobora a grande
importância das fruteiras para esta classe de defensivos.
A Tabela_8 evidencia a significativa participação da fruticultura na classe de
defensivos denominada "Outros", constituída por antibrotantes, reguladores de
crescimento, óleo mineral e espalhante adesivo, indispensáveis no uso de quebra
de dormência em fruticultura temperada, no raleio de frutas, na melhoria da
qualidade dos frutos e no fato de o óleo mineral ser utilizado na
bananicultura, no controle de doenças fúngicas, entre outros. Verificaram-se
variações no total demanda do de princípio ativo na classe de defensivos
"Outros" (a menor porcentagem na demanda total de princípio ativo foi de 6,76%
em 1998, mas atingiu 27,18% deste consumo em 1999), mas para o período
analisado, na média, o consumo destes produtos pelas fruteiras foi de 20% do
total demandado no Brasil, cerca de 5 vezes mais quando relacionada a
participação percentual da fruticultura na área total cultivada no País.
Estes resultados, por classe de defensivos, acabam sendo bons sinalizadores da
demanda da fruticultura por defensivos e facilitadores no dimensionamento do
potencial de tamanho e volume de produção da indústria frente às variações ou
evoluções da área cultivada com fruteiras no Brasil.
Algumas limitações, principalmente as referentes à não-disponibilidade de
estatísticas e informações desagregadas, impediram análises mais detalhadas e
específicas sobre a demanda por fatores de produção (no caso, os defensivos)
pela fruticultura.
Esta deficiência é explicada por diversos fatores. Primeiro, a importância
econômica da fruticultura ainda é relativamente pequena, exceção à
citricultura, quando comparada com a economia de outras culturas (grãos,
cereais, fibras), que ganham espaço não somente pela extensão da área
cultivada, mas também pela relevância na economia do agronegócio e na balança
comercial do País, carreando consideráveis divisas, e pelos impactos
socioeconômicos, alocativos e distributivos. A área com fruteiras não
ultrapassa, ainda, 4,5% da total cultivada no Brasil.
Segundo, as características próprias da fruticultura brasileira, por ora
preferencialmente voltada ao mercado interno, estabelecem diversos sistemas de
produção, tanto para a fruticultura tropical, quanto para a temperada, com
considerável diversidade de espécies, cultivares e variedades, impondo, de
acordo com as condições edafoclimáticas e topográficas, sistemas regionais
diferenciados de condução e manejo, tanto em escalas de subsistência como
comerciais.
É esperado, mediante o desenvolvimento de uma cultura exportadora para as
frutas de mesa, a aplicação de técnicas gerenciais modernas e de qualidade,
buscando atingir os gostos e as preferências dos consumidores internacionais.
Isto já vem ocorrendo, vide o salto de 100% nas exportações brasileiras de
frutas de mesa, que, em apenas 5 anos, passou de US$ 109 milhões em 1997 para
US$ 215 milhões em 2001, com o predomínio das mangas (US$ 50,8 milhões, 23,63%)
e dos melões (US$ 39,3 milhões, 18,28%), tendendo a intensificar-se nos anos
subseqüentes.
Desta forma, esta importância que a fruticultura brasileira vem ganhando,
começa a chamar a atenção de órgãos, empresas e entidades relacionados aos seus
sistemas de produção, pois o avanço tecnológico e o crescimento na área
plantada com frutas são importantes sinalizadores para estudos e análises das
especificidades de cada fruta, do potencial do volume de produção e das
estratégias de mercado das indústrias de insumos. Daí a dificuldade momentânea
de compreender as especificidades das frutas de importância econômica nos dias
de hoje e que se encontram, por enquanto, agrupadas em "Outras frutas".
Mesmo diante destas limitações, este estudo sinaliza que maiores atenções
particulares devem ser dadas a determinadas frutas, devido à força que adquire
quando se analisam suas características individuais na demanda por fatores de
produção. Foram os casos de maçã, laranja, melão e uva, que, num comparativo
com importantes culturas comerciais, como soja, cana-de-açúcar, milho e café,
despendem mais, na média, em defensivos, e requerem maior volume de princípio
ativo por hectare, principalmente nas classes acaricidas, fungicidas e "Outros"
(reguladores de crescimento, antibrotantes, óleo mineral e espalhante adesivo)
do que as culturas relacionadas. Estas ganham importância, em termos absolutos,
nos valores despendidos e no consumo de princípio ativo devido, principalmente,
ao tamanho da área cultivada no Brasil. Estas culturas (soja, cana-de-açúcar,
milho e café), no ano 2000, ocuparam 63% do total da área cultivada no Brasil,
estimada em 53 milhões de hectares.
Ademais, este estudo atenta para um esforço conjunto de agregar pesquisadores
das áreas biológicas e tecnológicas da fruticultura com os das áreas sociais,
principalmente os da economia e administração para melhor interpretação,
compreensão e cooperação na análise de estatísticas e economias da
fruticultura.