Cultivos intercalares e controle de plantas daninhas em plantios de maracujá-
amarelo
Cultivos intercalares e controle de plantas daninhas em plantios de maracujá-
amarelo1INTRODUAÇÃO
A cultura do maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.)
enfrenta uma série de problemas de natureza técnica, que contribuem para
reduzir a margem de lucro dos produtores. Dentre as alternativas capazes de
ampliar a lucratividade e o rendimento da cultura, destacam-se a utilização de
cultivos intercalares e os métodos integrados no controle de plantas daninhas,
práticas que apresentam uma série de vantagens sob os pontos de vista técnico e
econômico.
Não foram encontrados trabalhos sobre o uso de culturas intercalares e métodos
integrados de controle de plantas daninhas na cultura do maracujazeiro. As
poucas informações existentes são oriundas de observações empíricas, sem
metodologia científica, portanto, sem embasamento técnico.
De acordo com Leihner (1983), a maior estabilidade que apresentam os sistemas
intercalares na produção de cultivos alimentares, é de fundamental importância
para o pequeno produtor, uma vez que lhe assegura o sustento e diminui o risco
da perda total nas suas colheitas. O uso de culturas intercalares em pomares é
uma prática típica de pequenas propriedades. Esse cultivo simultâneo de duas ou
mais culturas, além de assegurar uma subsistência mais estável em termo de
renda e alimento, permite minimizar os riscos decorrentes do monocultivo
(Coelho et al., 1994).
Poucos são os métodos utilizados para elevar a produção de alimentos, e a
solução mais viável é optar pelo uso mais intensivo da terra durante o mesmo
ano agrícola, utilizando sistemas de plantios consorciados (Mattos & Souza
1987).
A utilização das leguminosas feijão-de-porco e soja perene e/ou feijão vigna,
como adubo verde complementar e/ou como alternativa para a adubação mineral de
citros, provocou competição com a planta cítrica e levou à redução do diâmetro
do tronco, altura das plantas, circunferência da copa, percentagem de suco,
altura, diâmetro e espessura da casca do fruto; entretanto, características do
solo, como pH, CTC, saturação em bases, matéria orgânica e microporosidade,
foram aumentadas, bem como a acidez total e brix (Magalhães, 1994).
No estudo realizado por Barbosa (1994), sobre métodos integrados de controle de
plantas daninhas em abacaxizeiro, associando-se à capina manual, o uso de
herbicidas ou de tração animal evidenciou a maior eficiência e economicidade do
tratamento herbicida + capina manual em relação aos demais tratamentos, com
maior relação benefício/custo.
De modo geral, os herbicidas aplicados na cultura do maracujazeiro em pré-
emergência, com bons resultados, são o diuron, o bromacil e o DCPA. Todos
apresentam seletividade toponômica em relação à cultura, ou seja, permanecem na
camada superficial do solo sem atingir um grande volume de raízes e,
conseqüentemente, com pequena absorção e translocação pela planta (Durigan
1987).
Segundo Silva & Rabelo (1991), os produtores têm usado o Gramoxone® ou
Roundup®, em alguns plantios de maracujazeiro do Triângulo Mineiro e de São
Paulo, na dose de 1,5 a 2,0 l/ha, em aplicações dirigidas nas entrelinhas, para
manter a cobertura morta.
Lima et al. (1999), verificando a seletividade dos herbicidas aplicados em pré-
emergêcia diuron, oxyfluorfen, alachlor e atrazine+metolachlor, em mudas de
maracujá-amarelo, constataram que apenas atrazine+metolachlor, nas doses de 6,0
e 12,0 kg/ha, causou efeito adverso (forte injúria) às mudas, enquanto os
demais se mostraram promissores para utilização em campo.
Objetivou-se, nesse trabalho, identificar culturas intercalares e métodos
integrados de controle de plantas daninhas para o maracujá-amarelo como fatores
que viabilizem sua produção e rentabilidade, com maiores retornos para os
produtores.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no período de maio de 1999 a abril de 2000,
utilizando-se do maracujá-amarelo, conduzido em espaldeira vertical com um fio
de arame a 2,0 m do solo, no espaçamento de 2,5m x 5,0m. A área experimental
estava situada na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia,
Município de Cruz de Almas-BA, situado no Recôncavo baiano, que apresenta
altitude de 220 metros acima do nível do mar, índices médios anuais de 24,7 0 C
de temperatura, precipitação anual média de 1.240 mm e umidade relativa do ar
média anual de 80%. O solo é franco argilo-arenoso, relevo plano, com as
seguintes características químicas na camada de 0 a 20cm: pH em água = 5,0; P
(Mehlich) 2,0 mg dm-3; K+1 (Mehlich) 73,0 mg dm-3; Ca+2 = 1,0 cmmolc dm-3;
Mg+2= 0,6 cmmol dm-3; Na+1= 0,05 cmmolc dm-3; Al= 0,3 cmmolc dm-3; S= 1,84
cmmolc dm-3; CTC= 4,48 cmmolc dm-3; V = 41%; e MO = 11,6 g kg-1.
Foi utilizado o delineamento experimental de blocos casualizados, com seis
tratamentos e quatro repetições, sendo T1: milho (Zea mays L. - BR 106) como
cultura intercalar; T2: feijão (Phaseolus vulgaris L. - cultivar Pérola) como
cultura intercalar; T3: feijão-de-porco nas entrelinhas e capina com enxada nas
linhas; T4: feijão-de-porco nas entrelinhas e controle químico nas linhas
(glifosate a 1,5 kg/ha); T5: planta daninha controlada quimicamente na área
total com alachlor a 2,8 kg/ha + diuron a 1,2 kg/ha em pré-emergência e
glifosate a 1,5 kg/ha em pós-emergência; e T6: testemunha (capina com enxada em
área total). A parcela experimental constou de cinco plantas em 62,5 m2,
enquanto a parcela total, de 14 plantas em 175 m2.
O milho foi semeado em linhas espaçadas de 1,0 m entre si e a 0,75 m da linha
do maracujazeiro. Dentro da linha, foram plantadas duas sementes por cova
espaçadas de 0,40 m. O feijão foi semeado em linhas espaçadas de 0,5 m entre si
e a 0,75 m da linha do maracujazeiro. Dentro da linha, foram plantadas duas
sementes por cova, espaçadas de 0,20 m. O feijão-de-porco foi semeado a lanço a
1,00 m da linha do maracujazeiro.
Os tratos culturais (capina manual e controle de pragas e doenças) e a adubação
(cova e cobertura) foram utilizados para cada cultura intercalar.
No tratamento T5, os herbicidas em pré-emergência, alachlor a 2,8 kg/ha +
diuron a 1,2 kg./ha, foram aplicados com um pulverizador costal, equipado com
bico Teejet 110.03 e consumo de calda de 285 litros/ha. A aplicação do
herbicida em pré-emergência foi realizada logo após o transplantio das mudas,
em maio de 1999, e em pós-emergência, glifosate a 1,5 kg/ha foi aplicado com um
pulverizador costal, equipado com bico Teejet 110.03 e consumo de calda de 228
litros/ha. A infestação era de 30 a 40% de plantas daninhas nas parcelas, em
setembro de 1999. A testemunha, com controle realizado por capina manual
(enxada), seguiu o mesmo critério (capina com infestação de 30-40% de plantas
daninhas nas parcelas) .
A eficiência de controle dos herbicidas sobre as plantas daninhas foi avaliada
visualmente por três observadores, e utilizada a média para análise dos
resultados. Foram feitas aos 45 e 90 dias após a aplicação, utilizando-se da
escala de Frans & Talbert (1977). A ação dos herbicidas sobre as plantas de
maracujá foi avaliada por meio do vigor expresso pelo diâmetro do caule a 20 cm
do solo, aos 90, 180 e 270 dias após o plantio.
A calagem realizada antes do plantio e as adubações seguiram as recomendações
da Comissão Estadual de Fertilidade do Solo (1989).
As seguintes variáveis foram avaliadas durante o período de maio de 1999 a
abril de 2000: produtividade total, produtividade ("in natura" e para a
indústria), peso médio e tamanho (altura e diâmetro) de frutos, sólidos
solúveis totais, acidez, rendimento em suco e relação sólidos solúveis totais/
acidez . As colheitas dos frutos foram realizadas três vezes por semana (2a, 4a
e 6a feira). Para a avaliação dos caracteres físicos e químicos foram
utilizados 10 frutos por tratamento, no mês de janeiro, considerado o mais
quente do ano.
As plantas daninhas mais freqüentes na área experimental durante a aplicação
dos herbicidas em pré e pós-emergência foram: beldroega (Portulaca oleracea L),
café-bravo (Croton lobatus L.), poaia-branca (Richardia brasiliensis Gomez.) e
capim-açu (Digitaria insularis (L.)Mea ex Ekman).
Os dados foram submetidos à análise de variância (teste F) e as médias dos
tratamentos comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A mistura de diuron a 1,2 kg/ha + alachlor a 2, 8 kg/ha aplicada em pré-
emergência não mostrou efeito fitotóxico sobre as plantas de maracujá-amarelo,
por ocasião das avaliações visuais, realizadas aos 45 e 90 dias após a
aplicação da mistura dos herbicidas. Os valores encontrados foram de 0%, que,
segundo Frans Talbert (1977), são sem efeito, ou seja, sem dano ou injúria da
cultura. Também os valores encontrados para diâmetro do caule mostraram que o
controle químico das plantas invasoras não promoveu desenvolvimento
diferenciado das plantas de maracujazeiro, uma vez que não houve diferença
significativa entre o tratamento químico e os demais tratamentos (Tabela_1). No
trabalho realizado com herbicida, aplicado em pré-emergência x pós-emergência
em viveiro de seringueira, Lima (1994) obteve também a não-ocorrência de efeito
tóxico sobre as plântulas enviveiradas. Resultados semelhantes foram obtidos
por Pereira, em 1987, com o herbicida imazypar, não apresentando efeitos
fitotóxicos aparentes às plantas da seringueira. Por outro lado, os valores
encontrados de 69% e 53% para 45 e 90 dias, respectivamente, com a mistura em
pré-emergência para o controle das plantas daninhas, indicam efeito deficiente
a moderado. Assim, doses maiores para os herbicidas aplicados em pré-emergência
devem ser testadas para conseguir-se controle eficiente e mais prolongado de
plantas daninhas. A aplicação sucessiva de um herbicida em pós-emergência, após
um aplicado em pré-emergência, pode proporcionar controle mais eficiente de
plantas daninhas nessa cultura.
Observa-se, pela Tabela_2, que no período de produção, de maio de 1999 a abril
de 2000, não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos para
produtividade (indústria), peso médio, comprimento e diâmetro dos frutos.
Contudo, houve significância para produtividade total e in natura, com destaque
para a utilização do feijão como cultura intercalar, proporcionando
produtividade total para o maracujazeiro de 12,8 t/ha. Apesar de não haver
diferença estatística entre os tratamentos, houve tendência de o tratamento T4
( feijão-de-porco x controle químico) proporcionar menor produtividade total.
Para os caracteres físicos e químicos, observa-se que não houve diferenças
significativas para acidez e sólidos solúveis totais entre os tratamentos. Por
outro lado, o tratamento 5 (controle químico em área total) apresentou menor
rendimento em suco (28,75%), diferindo estatisticamente do tratamento 2 (feijão
como cultivo intercalar) 39;75%. Para relação sólidos solúveis totais/acidez, a
maior relação (5,41) foi obtida com o tratamento feijão como cultura
intercalar, diferindo estatisticamente do tratamento 3 (cobertura do solo com
feijão-de-porco) (4,28) (Tabela_3).
A relação benefício/custo mostrou que, para cada real investido na atividade,
tem-se um retorno médio de R$ 1,72, considerando os tratamentos 1; 2; 3 e 4. O
tratamento 5 é que apresentou o menor retorno médio (R$ 1,49). O tratamento 6
apresentou um retorno médio de R$ 1,82.
Concluiu-se então que:
a) Os herbicidas alachlor a 2,8 kg/ha + diuron a 1,2 kg/ha aplicados em pré-
emergência com aplicação seqüenciada do herbicida glifosate a 1,5 kg/ha, em
pós-emergência, foram seletivos para a cultura do maracujazeiro-amarelo no seu
primeiro ano de cultivo.
b) O milho (Zea mays L. - BR 106) e o feijão (Phaseolus vulgaris L. cv. Pérola)
podem ser recomendados como culturas intercalares no primeiro ano de cultivo do
maracujá-amarelo.
c) O manejo da cobertura vegetal com utilização de herbicidas mostrou-se
economicamente viável para o produtor.