Acúmulo de nutrientes em mudas de aceroleira adubadas com fósforo e zinco
Acúmulo de nutrientes em mudas de aceroleira adubadas com fósforo e zinco1INTRODUÇÃO
Em função de seu altíssimo teor de vitamina C e da importância dessa vitamina
na medicina mundial, a aceroleira (Malpighia glabra L.) é hoje, em termos
relativos e com tendência a expansão, uma das principais culturas de exportação
da fruticultura brasileira. Está sendo consumida, de forma crescente,
principalmente pelos japoneses, europeus e norte-americanos. No Brasil,
destacam-se as regiões Norte e Nordeste como as principais produtoras desta
fruta, e os Estados da Bahia e Pernambuco ocupam a primeira e segunda posições,
respectivamente (Tittoto et al., 1998).
A propagação da aceroleira pode ser feita com emprego de sementes, estaquia ou
enxertia ( Marty & Pennock, 1965; Amaral, 1992). Por meio de sementes, é
bastante utilizada, pois, sendo a aceroleira uma planta autofértil, podem-se
obter plantas praticamente idênticas (Simão, 1971). Porém, em plantio em grande
escala, essa modalidade de propagação requer que as sementes sejam provenientes
de frutos colhidos em área formada com plantas uniformes, portadoras das
melhores características produtivas e comerciais, pois, desse modo, reduz-se o
risco da geração de matrizes geneticamente indesejáveis (Gonzaga Neto &
Soares, 1994).
Apesar de a aceroleira ser uma planta rústica, facilmente adaptável aos mais
variados tipos de solo, ela requer um manejo correto da adubação e nutrição das
plantas, principalmente em pomares orientados para exportação (Gonzaga Neto
& Soares, 1994).
Com relação a estudos sobre nutrição e adubação mineral da aceroleira, poucos
trabalhos têm sido citados na literatura. Estes restringem-se apenas à
composição química de nutrientes nos frutos e à parte vegetativa da planta
adulta em fase produtiva (Alves, 1987) .
Os primeiros estudos referentes à interação entre o fósforo e o zinco
iniciaram-se por volta de 1936, sendo bastante destacada nos trabalhos de Olsen
(1972). Este mesmo autor relata que diversas causas estão envolvidas na
caracterização da interação entre o fósforo e o zinco, destacando-se quatro
possíveis causas como as mais relevantes: a) a interação P e Zn no solo; b) a
diminuição da taxa de translocação do zinco para a parte aérea; c) simples
"efeito de diluição" sobre a concentração de Zn na parte aérea devido ao
crescimento em resposta à adição de fósforo, principalmente quando o solo é
pobre em fósforo e zinco; e d) desordem metabólica no interior das células da
planta, relacionada ao desequilíbrio entre fósforo e zinco, ou à excessiva
concentração de fósforo, que interferiria na função metabólica do zinco em
certos sítios celulares.
O problema da interação entre o fósforo e o zinco tornou-se bastante
preocupante, principalmente nas regiões originalmente sob vegetação de cerrado,
onde a ocorrência de deficiências de fósforo e de zinco são bastante comuns. A
adubação fosfatada é convencional e a recomendação de adição de zinco às
fórmulas de adubação está tornando-se rotina nestas regiões (Oliveira, 2000).
A interação entre o fósforo e o zinco influenciou positivamente nas
características de crescimento: matéria seca da folha, diâmetro do caule e
altura da muda, bem como na sua nutrição, proporcionando aumento nas
quantidades acumuladas dos nutrientes na matéria seca da parte aérea e das
raízes de mudas de maracujazeiro-amarelo e na nutrição de mudas de mamoeiro,
tendo efeito positivo sobre as características de crescimento: matéria seca da
folha, diâmetro do caule e altura da muda, bem como aumentos nos acúmulos de P,
Ca, S, B e Zn no caule e P, K, Ca, Mg, S, B, Cu e Zn nas folhas (Machado, 1998;
Oliveira, 2000).
A aplicação de doses de superfosfato simples (3,0; 6,0 e 9,0 kg m-3 de solo) na
formação de mudas de maracujazeiro-amarelo proporcionou acréscimos nos teores
de nitrogênio, potássio e magnésio na matéria seca da parte aérea em relação à
ausência do fósforo (Peixoto, 1986).
Conduziu-se este experimento em Lavras-MG, no período de junho a setembro de
1996, com o objetivo de avaliar o acúmulo de macro e micronutrientes na matéria
seca da folha e caule, em mudas de aceroleira adubadas com fósforo e zinco.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em casa de vegetação situada no pomar do
Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em
Lavras-MG, nos meses de julho a setembro de 1996. A cidade de Lavras está
situada a 21°14' 06" de latitude Sul e 45° 00' 00" de longitude Oeste, e a uma
altitude média de 913 metros. De acordo com Vilela e Ramalho (1979), adotando-
se os critérios propostos por Köeppen, o clima da região é de transição entre
Cwb e Cwa, temperatura suave (mesotérmico), caracterizado por inverno seco, com
verãos brandos e chuvosos, também denominado clima tropical de altitude.
O material utilizado constou de sementes de frutos maduros oriundos de pomar
comercial localizado na região. Após a retirada dos frutos, as sementes foram
lavadas e semeadas em canteiros com areia lavada e, posteriormente, repicadas
para vasos com capacidade de 2 dm-3, sendo colocado 1 kg do solo em cada vaso,
utilizando-se, como substrato, de amostras de solo da camada de 0-20 cm de um
Latossolo Roxo coletadas no município de Lavras-MG. Após análise do solo, cujos
resultados da análise química se encontram na Tabela_1, efetuou-se a correção
do pH para 50% de saturação por bases, conforme descrito por Quaggio (1983),
usando-se carbonato de cálcio e de magnésio p.a., na relação 4:1. A calagem foi
efetuada 20 dias antes da repicagem das mudas.
O delineamento utilizado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 4 x 3,
com duas plantas por parcela e quatro repetições, totalizando 96 plantas . Os
fatores consistiram das seguintes doses de fósforo (0; 150; 300 e 450 mg dm-
3 de P), aplicadas na forma de superfosfato triplo e de zinco (0; 5 e 10 mg dm-
3 de Zn), na forma de sulfato de zinco. O superfosfato triplo foi finamente
moído em gral e misturado ao solo, até completa homogeneização. O sulfato de
zinco foi dissolvido na água e aplicado via solução.
Os demais nutrientes a as doses empregadas foram: N (400 mg dm-3); K (200 mg
dm-3); Mg (36,0 mg dm-3); Cu (1,5 mg dm-3); Mo (0,1 mg dm-3); e B (0,5 mg dm-
3). Os nutrientes N e K foram aplicados parceladamente em 4 doses, sendo a
primeira na repicagem das mudas e as demais aos 30; 60 e 90 dias. Como fontes
de N, foram utilizados o sulfato de amônio e a uréia, alternadamente, e a fonte
de K usada foi o cloreto de potássio.
A umidade nos vasos foi mantida em torno de 60 % do V.T.P. (volume total de
poros), com aplicações de água desmineralizada, sendo o controle efetuado por
pesagens diárias dos vasos.
Após cem dias da repicagem das mudas, as plantas foram colhidas e, em seguida,
foram colocadas para secar em estufas a 60oC, até a obtenção do peso constante.
Posteriormente, procederam-se a pesagem da matéria seca do caule e folhas,
trituração do caule e das folhas, separadamente, e determinou-se o acúmulo dos
nutrientes: N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, conforme metodologia
proposta por Malavolta et al. (1989) Os extratos da matéria seca dos tecidos
foram obtidos mediante digestão nitroperclórica, exceto para o boro, que foi
por incineração da amostra e determinação por colorimetria (método da
curcumina). As concentrações dos outros elementos foram assim determinadas: Ca,
Mg, Cu, Mn, Zn e Fe por espectrofotometria de absorção atômica, P por
colorimetria, K por fotometria de chama, S por turbidimetria. Os teores de N
foram determinados pelo método semimicro Kjeldahl.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se, na Figura_1, um efeito linear crescente das doses de P no acúmulo
de nitrogênio no caule e folha, sendo o acúmulo de nitrogênio na folha
relativamente maior que no caule, em todas as doses de fósforo.
Marques (1990) e Barbosa (1994) também encontraram respostas ao fósforo, cuja
ação isolada influenciou nas concentrações de nitrogênio no caule,
respectivamente, em mudas de seringueira e aroeira-do-sertão, demonstrando a
diferença comportamental na exigência nutricional entre espécies.
Para Malavolta (1980), a alta taxa de quantidades acumuladas de nitrogênio está
correlacionada diretamente ao desenvolvimento vegetativo em plantas novas, isto
porque os processos de multiplicação e diferenciação celulares mantêm-se sempre
em fluxos contínuos.
As quantidades acumuladas de fósforo na folha e caule de mudas de aceroleira
foram crescentes em resposta às aplicações deste nutriente (Figura_2), e a
resposta ajustou-se a modelo com comportamento também linear, o qual permite
relatar que a dose de 450 mg dm-3 de P foi a que proporcionou os maiores
acúmulos de fósforo. Ainda na Figura_2, observa-se também o efeito linear
crescente das doses de fósforo no acúmulo de enxofre na folha e caule, sendo o
maior acúmulo deste nutriente na folha (4,68 mg.parcela-1) e caule (1,77
mg.parcela-1) apresentado na dose de 450 mg dm-3 de P.
Estes acréscimos nos teores de fósforo na matéria seca de folhas e caules da
aceroleira foram proporcionados pelas crescentes adições do mesmo no substrato
solo, aumentado sua disponibilidade na solução do solo, favorecendo assim uma
maior absorção pelas raízes, ocasionando aumentos deste nutriente nos órgãos da
planta.
Na Figura_3, observa-se que o acúmulo de potássio na matéria seca da folha e
caule teve suas equações de regressão ajustadas a modelos de comportamento
linear crescente, independentemente das doses de zinco, em relação às doses de
fósforo. O maior acúmulo de K no caule (44,12 mg parcela-1) e na folha (46,41
mg parcela-1) foi na dose de 450 mg dm-3 de P, resultados estes que se
assemelham aos de Barbosa (1994), Machado (1998) e Oliveira (2000) com mudas de
aroeira-do-sertão, maracujazerio e mamoeiro, respectivamente.
Este aumento no acúmulo de potássio pode caracterizar em parte um consumo de
luxo, provavelmente pelas altas concentrações de fósforo na solução do solo, o
qual em parte ficaria indisponível, favorecendo a absorção de potássio,
trazendo resistência das mudas ao acamamento.
As respostas do acúmulo de Ca na folha e caule são apresentadas na Figura_4, na
qual se observa que, na folha, houve interação entre P e Zn para o acúmulo de
Ca, com um comportamento linear e, no caule, resposta significativa apenas para
as doses de fósforo. O maior acúmulo de Ca na folha (43,75 mg parcela-1) foi
alcançado na dose de 0 mg dm-3 de Zn e 450 mg dm-3 de P, e o menor acúmulo
(4,23 mg parcela-1) foi na dose de 0 mg dm-3 de Zn e 0 mg dm-3 de P. No caule,
o acúmulo só foi influenciado pelas doses de fósforo, sendo a melhor resposta
para o acúmulo de Ca (25,54 mg parcela-1) na dose de 450 mg dm-3 de P.
O aumento da quantidade acumulada de cálcio pode ser em parte explicado pela
aplicação no solo do superfosfato triplo, o qual contém, em sua composição
química, em torno de 13 % de cálcio, podendo assim ter contribuído para o
aumento dos teores do mesmo na solução do solo.
Estes resultados assemelham-se aos encontrados por Oliveira (2000) que,
aplicando as mesmas doses de P e Zn em mudas de mamoeiro, encontrou interação
destes nutrientes na quantidade acumulada de cálcio na matéria seca da folha.
Porém, no caule, este mesmo autor encontrou interação P e Zn num comportamento
quadrático para o acúmulo de cálcio no caule. Marques (1990) também detectou
respostas somente com as aplicações do fósforo no acúmulo de cálcio na matéria
seca do caule em mudas de seringueira.
Verificou-se que as quantidades acumuladas de magnésio na matéria seca da folha
e caule (Figura_5) sofreram variações em função apenas das doses de fósforo,
que apresentou um ajuste com comportamento linear crescente, com a melhor
resposta para o acúmulo de magnésio na folha ( 14,59 mg parcela-1) e caule
(4,64 mg parcela-1) quando se aplicou a dose de 450 mg dm-3 de P. Este
nutriente é de suma importância no desenvolvimento e na produção para as
plantas, pois, além de estar diretamente relacionado ao nutriente fósforo e ao
metabolismo energético dos vegetais, é um dos componentes da molécula de
clorofila (Malavolta, 1980).
As quantidades acumuladas de boro na folha e caule foram influenciadas apenas
pelas doses de fósforo, que apresentou um efeito também linear crescente com o
maior acúmulo na folha (166,97 mg parcela-1) e caule (186,34 mg parcela-1) na
dose de 450 mg dm-3 de P (Figura_6). Este maior acúmulo de boro no caule deve-
se ao seu efeito não competitivo à absorção de zinco, aumentando a sua
concentração na solução do solo e, conseqüentemente, diminuindo a do fósforo
(Malavolta et al., 1989).
O comportamento das quantidades acumuladas de cobre na matéria seca da folha e
caule é apresentado na Figura_7. Observa-se que o acúmulo de cobre, tanto na
folha como no caule, ajusta-se de maneira linear , e a dose de 450 mg dm-3 de P
é a que proporcionou os maiores acúmulos de cobre nas mudas de aceroleiras.
Estes resultados discordam dos encontrados por Barbosa (1994), Machado (1998) e
Oliveira (2000), os quais detectaram a influência da interação entre doses de
fósforo e zinco nas quantidades acumuladas de cobre em diversas partes das
plantas: aoreira-do-sertão, maracujazeiro-amarelo e mamoeiro, respetivamente,
denotando que as plantas que apresentarem maior taxa de crescimento,
apresentarão maior conteúdo de cobre na matéria seca.
Nas Figuras_8 e 9, são apresentadas as respostas das quantidades acumuladas de
ferro e zinco, nas quais observa que o ferro acumulado na matéria seca da folha
foi influenciado pela interação fósforo e zinco. Já o acúmulo de zinco na
matéria seca da folha foi influenciado pelas doses de fósforo e, na matéria
seca do caule, pelas doses de fósforo e zinco que apresentou um efeito também
linear (Figura_9). Estas respostas indicam que a absorção de zinco pelas
plantas foi afetada pelas dose de P, o que concorda com as observações
encontradas por Barbosa (1994), que pode ser explicada pelo "efeito de
diluição" de zinco, como conseqüência do maior crescimento da planta em
resposta ao fósforo.
Com relação ao manganês (Figura_10), observa-se que, para o acúmulo na matéria
seca da folha, houve influência da interação fósforo e zinco, sendo o maior
acúmulo (388,59 mg parcela-1) observado na dose de 450 mg dm-3 de P e 0 mg dm-
3 de Zn. Já o acúmulo no caule foi influenciado apenas pelas doses de fósforo,
com a melhor resposta para o acúmulo de manganês na dose de 450 mg dm-3 de P.
A dose máxima de fósforo usada, 450 mg dm-3 de P, parece ter sido insuficiente
para interferir sobre o acúmulo da maioria dos nutrientes estudados, uma vez
que a maioria dos nutrientes apresentaram comportamento linear crescente.
Porém, foi nesta dose que as mudas tiveram maior desenvolvimento em altura,
diâmetro do caule, número de folhas, massa seca de raiz e massa seca de parte
aérea (Tabela_1).
CONCLUSÕES
1. A interação entre os nutrientes fósforo e zinco afetou positivamente nos
acúmulos de Ca, Cu, Fe e Mn na matéria seca de folhas de aceroleira, com um
comportamento linear.
2. O nutriente zinco teve efeito positivo no acúmulo de zinco na matéria seca
do caule.
3. O acúmulo dos demais nutrientes, na matéria seca de folha e caule, só foi
influenciado pelo nutriente fósforo com a dose de 450 mg dm-3 de P,
proporcionou o maior acúmulo de todos os nutrientes na folha e caule,
proporcionou também a obtenção de mudas aptas para o plantio, com altura
superior a 33 cm, e diâmetro do caule a 5 cm do solo acima de 4,00 mm..