Resposta de mudas de goiabeira à aplicação de zinco
Resposta de mudas de goiabeira à aplicação de zinco1INTRODUÇÃO
Estudos da FAO (1998) indicam que a demanda por frutas no mundo vem crescendo a
exemplo do mercado consumidor de frutas tropicais, que está em franca expansão,
atingindo crescimento anual da ordem de 3 a 6%.
O Brasil é o maior produtor mundial de frutas in natura. Entretanto, apesar
deste destaque, ocupa o 12o lugar nas exportações (Fachinelo et al., 1996).
Existe, pois, um grande potencial para o crescimento das exportações de frutas.
Porém, a metade de todo o volume produzido concentra-se num só produto: a
laranja. Desta forma, a diversificação de frutíferas torna-se importante.
Dentre as opções indicadas de fruteiras aptas para serem cultivadas no estado
de São Paulo, apresentando boas perspectivas, estaria a goiabeira.
Na implantação de um pomar, a qualidade das mudas torna-se fundamental para
garantir a homogeneidade, uma rápida formação e um início precoce de produção.
Para obter mudas de boa qualidade, o estado nutricional da planta é de extrema
importância, visto que os viveiristas utilizam o subsolo (camada de 0-4m),
ácido, e de baixa fertilidade para compor o substrato, atendendo às exigências
do Ministério da Agricultura para produção de mudas certificadas (Brasil,
1977), as quais devem estar livres de ervas daninhas e patógenos. Por outro
lado, é conhecido que os solos tropicais, devido ao intemperismo, apresentam
baixo teor de micronutrientes, especialmente de zinco.
Assim, para a produção de mudas de forma eficiente, o uso agronômico de zinco
pode favorecer a obtenção de plantas com qualidade e estado nutricional
adequado. Como a quantidade de Zn aplicada por muda é muito pequena, tem-se
alta relação benefício/custo, com maior sustentabilidade nos sistemas de
produção. Algumas indicações do benefício do Zn no crescimento e redução de
doenças foliares em goiabeiras adultas são encontradas em Vasudeva &
Raychaudhuri ( 1954) e Prasad et al. (1966).
O zinco é um elemento essencial, podendo afetar o crescimento e o metabolismo
normal de espécies vegetais, quando o ambiente apresenta níveis tóxicos ou
insuficientes (Marschner, 1995). As plantas apresentam concentrações tóxicas de
Zn distintas em função da espécie, sendo a faixa de 100 a 400 mg kg-
1 considerada tóxica para o crescimento da maioria das plantas (Kabata-Pendias
& Pendias, 1985). Entretanto, existem espécies mais tolerantes à toxidez de
Zn, como o eucalipto, variando de 698 a 853 mg dm-3 de Zn (Soares et al.,
2001).
Considerando a falta de informações sobre o assunto, procurou-se avaliar o
efeito da aplicação de zinco no substrato de produção das mudas de goiabeira e
acompanhar os efeitos no desenvolvimento, no estado nutricional e na produção
de matéria seca das plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido em um viveiro comercial de mudas, telado, localizado
na Rodovia Washington Luiz, km 333,8, no município de Taquaritinga-SP. Como
substrato, utilizou-se o subsolo de um Argissolo Vermelho-Amarelo (camada 30-
300 cm). Realizaram-se análises químicas do substrato, antes da calagem e após
30 dias de incubação, por ocasião do plantio (Tabela_1).
Utilizaram-se vasos com 2,8 dm3 de substrato, os quais receberam mudas de
goiabeira (Psidium guajava L.) cv. Paluma, propagadas vegetativamente a partir
de estacas herbáceas.
Tendo em vista as condições de acidez do substrato, realizou-se a calagem,
objetivando elevar a saturação por bases a 70%, indicada como ideal para a
goiabeira (Santos & Quaggio, 1996). Para isto, foi utilizado o calcário
calcinado tipo D, com as seguintes características: CaO = 420 g kg-1 ; MgO =
250 g kg-1; PN = 137 %; RE = 96 % e PRNT = 131 %. A dose de calcário calculada,
1,12 t ha-1 ou 1,6 g por vaso de 2,8 dm3; foi homogeneamente aplicada ao
substrato 30 dias antes do transplante das mudas e da aplicação dos
tratamentos, para que o corretivo tivesse tempo suficiente para a neutralização
da acidez do solo.
O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, com cinco
tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram doses crescentes de zinco,
na forma de sulfato de zinco (22% de Zn), considerando-se como parâmetro a dose
média de 5 mg dm-3 de Zn, indicada como adequada para experimentos em condições
de vasos, segundo recomendação geral de Malavolta (1981). As doses foram
calculadas como segue: D0 = zero de Zn; D1 = 2; D2 = 4; D3 = 6; D4 = 8 mg dm-
3 de Zn. Estas doses corresponderam a: 0; 27,3; 54,5; 81,8 e 109,1 mg de
sulfato de zinco por vaso, respectivamente.
Ainda por ocasião do plantio, cada unidade experimental recebeu doses de
nivelamento para P (100 mg dm-3) conforme indicação de Kanegae (1998), N (300
mg dm-3), K (150 mg dm-3) e B (0,5 mg dm-3), de acordo com a recomendação de
Malavolta (1981), na forma de superfosfato triplo (41 % de P2O5), sulfato de
amônio (20 % de N), cloreto de potássio (60 % de K2O) e ácido bórico (17 % de
B), respectivamente. O N e o K foram parcelados em quatro aplicações: no
plantio e após 30, 45 e 60 dias. Os adubos P e B foram adicionados em dose
total por ocasião do plantio.
A irrigação foi mantida continuamente durante a condução do experimento,
tomando como base a umidade correspondente a 70% da capacidade de campo do
solo.
Aos 135 dias após o plantio, foram avaliados os parâmetros biológicos
indicativos do desenvolvimento das plantas, como: altura, índice de área
foliar, matéria seca da parte aérea e das raízes das plantas. Na mesma ocasião,
o estado nutricional das plantas foi avaliado, dividindo-se as mudas em parte
aérea e raízes. As determinações dos teores de macronutrientes e do zinco no
tecido vegetal seguiram a metodologia de Bataglia et al. (1983). Amostragens de
solo foram realizadas na mesma época, e as determinações analíticas seguiram as
recomendações de Raij et al. (2001).
Com base nos resultados obtidos, realizaram-se análises de variância para os
diversos parâmetros estudados e análise de correlação entre os tratamentos, e
as determinações no solo e na planta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeito dos tratamentos no solo
A aplicação do calcário ao substrato promoveu a adequada neutralização da
acidez do solo, elevando a saturação por bases a 67%, bem próxima do calculado
(70%) e, ainda, como esperado, reduziu a disponibilidade do zinco, ou seja, de
0,2 mg dm-3 de Zn antes da calagem, para 0,1 mg após a calagem; entretanto,
ambos os valores para solos são considerados baixos (<0,7 mg dm-3), segundo
Raij et al. (1996).
Conforme se esperava, houve incremento linear da concentração de zinco no
substrato em função da sua aplicação no Argissolo Vermelho-Amarelo (Figura_1).
Pelos resultados, observa-se que o aumento foi de 0,2 (na dose zero) para 3,7
mg (na dose de 8 mg dm-3). Assim, obteve-se uma excelente correlação
(R2=0,99**) entre as doses de zinco aplicado e o Zn determinado no solo,
indicando a adequabilidade do DTPA na extração do micronutriente.
A recuperação do zinco foi de 47%, valor esse superior ao obtido por Barman et
al. (1998), que foi de até 31%, usando o mesmo extrator. Esta diferença se
deve, possivelmente, ao uso de solos distintos. Salienta-se, ainda, que,
segundo Raij et al. (1996), os teores baixo, médio e alto de Zn no solo
correspondem a <0,7; 0,7-1,5 e >1,5 mg dm-3, respectivamente. Portanto, espera-
se que solos com concentração de Zn abaixo de 0,7 mg dm-3 apresentem alta
probabilidade de resposta das plantas à aplicação do micronutriente.
Efeito dos tratamentos na altura, área foliar e produção de matéria seca das
mudas de goiabeira
Houve efeito positivo e significativo das doses de zinco sobre a área foliar e
a altura das mudas de goiabeira (Figura_3a). Pelo estudo das regressões,
observou-se que a área foliar e a altura das plantas atingiram o máximo
desenvolvimento com as doses de 1,8 e 2,5 mg dm-3 de Zn, respectivamente. Nas
maiores doses de zinco, as plantas apresentaram decréscimo da área foliar e
clorose geral com pigmentos pardo-avermelhados, sintomas estes descritos por
Malavolta et al. (1997) como toxidez de zinco, em várias espécies. Além disso,
nas maiores doses de Zn, houve decréscimo considerável no volume do sistema
radicular das mudas de goiabeira (Figura_2).
A matéria seca da parte aérea e das raízes das mudas de goiabeira aumentou, até
certo ponto, com o incremento das doses de zinco (Figura_3b), em função do
desenvolvimento das plantas em altura e em área foliar (Figura_3a). Efeitos
positivos do Zn em doses moderadas foram observados, tanto no crescimento da
parte aérea como do sistema radicular de algumas espécies, por Grunes et al.
(1961), devido à conhecida função deste metal na síntese de auxina, que
estimula o desenvolvimento e alongamento das partes jovens das plantas
(Malavolta et al., 1997).
Da mesma forma que ocorreu com a área foliar e a altura das mudas, a maior
produção de matéria seca da parte aérea e das raízes esteve associada às doses
entre 2,0 e 2,5 mg dm-3 de Zn (correspondendo a 1,0-1,2 mg dm-3 no substrato),
bastante próximas daquelas observadas na Figura_3a.
Tendo em vista a importância do sistema radicular para o estabelecimento das
plantas, determinou-se a dose crítica de toxidez de Zn no solo que, para as
mudas de goiabeira, foi de 3,0 mg dm-3. De acordo com Soares et al. (2001),
esse valor reflete a dose de zinco aplicada ao solo que reduz em 10% a matéria
seca das raízes. Portanto, doses de Zn acima da dose crítica de toxidez podem
afetar o desenvolvimento radicular das mudas e, conseqüentemente, sua
qualidade, podendo influenciar nas taxas de pegamento e homogeneidade do pomar
a ser estabelecido.
Segundo Malavolta et al. (1997), a explicação para a redução na produção de
matéria seca em plantas com toxidez de Zn é que, no xilema, acumulam-se tampões
("plugs") contendo o elemento, os quais dificultam a ascensão da seiva bruta.
Efeitos dos tratamentos no estado nutricional das mudas de goiabeira
Através dos resultados obtidos com a aplicação de zinco, observa-se que as
características avaliadas foram depreciadas pelas maiores doses do metal. Assim
sendo, buscou-se estabelecer relações entre o Zn aplicado no solo e a absorção
e acúmulo de Zn e dos macronutrientes, com o intuito de levantar informações
que fundamentem os efeitos da adubação na produção de mudas de goiabeira.
A absorção e acúmulo de zinco na matéria seca da parte aérea e das raízes
aumentaram progressivamente com a elevação das doses de Zn aplicadas (Figura
4). Isto demonstra a habilidade das mudas de goiabeira na absorção do elemento
do solo. Os teores de zinco considerados adequados em folhas de goiabeiras
adultas situam-se entre 20-40 mg kg-1 de Zn (Natale et al., 1996). No entanto,
no presente estudo, os teores de Zn atingiram valores superiores na parte aérea
das mudas (Figura_4a), podendo estar em níveis tóxicos, o que poderia explicar
o decréscimo na produção de matéria seca. Deve-se ressaltar, porém, que os
tecidos vegetais amostrados e analisados são distintos, sendo o indicado por
Natale et al. (1996) um par de folhas específico de árvores adultas, enquanto,
no presente estudo, avaliou-se toda a parte aérea das mudas. Nota-se, ainda,
que o Zn se concentra mais na parte aérea da planta, atingindo cerca de 69% do
total. O mesmo fato foi observado por Salvador et al. (1999), relatando que 65%
do total de Zn se concentrava na parte aérea.
O acúmulo de zinco na planta (parte aérea + raízes) descreveu um comportamento
quadrático (Figura_4b), indicando que o excesso de Zn no solo provocou
decréscimo no acúmulo do metal na planta. Este fenômeno é explicado pela
redução linear do índice de translocação de Zn, que foi de 75% na testemunha
para 48% na dose máxima do elemento (Figura_5). Portanto, doses excessivas de
Zn prejudicam mais os processos de translocação que os de absorção. De acordo
com Vansteveninck et al. (1987), o fenômeno da redução de translocação do Zn
pode ser explicado pelo mecanismo das plantas em aumentar a tolerância à
toxidez de zinco, pois, nestas condições, tem-se maior acúmulo de Zn nos
vacúolos das células do córtex da raiz.
Resultados semelhantes na queda do índice de translocação de Zn, com doses
excessivas do metal, foram observados em mudas de outras plantas perenes, como
eucalipto (Soares et al., 2001) e cafeeiro (Souza et al., 1999).
O acúmulo de macronutrientes na parte aérea e nas raízes das mudas de goiabeira
foi significativamente influenciado pelas doses de zinco aplicado, exceto o N
na parte aérea (Figura_6). Observa-se, inicialmente, um acréscimo e, depois,
uma redução no acúmulo dos macronutrientes nas plantas, em função do incremento
nas doses de Zn aplicadas ao solo, à semelhança do ocorrido com a produção de
matéria seca. Nota-se que as raízes são mais tolerantes às doses de Zn, uma vez
que, na parte aérea, doses superiores a 1,2-1,8 mg dm-3 de Zn causaram
decréscimo no acúmulo dos macronutrientes, ao passo que, nas raízes, estas
doses corresponderam a 2,4-3,4 mg dm-3 de Zn. Entre os macronutrientes, o Ca e
o P foram mais sensíveis à aplicação de zinco, pois doses maiores que 1,2 e 1,4
mg dm-3 de Zn, respectivamente, já foram suficientes para causar redução no
acúmulo desses elementos na parte aérea das mudas. Na literatura, tem sido
relatado que o excesso de Zn pode diminuir a absorção de P (Malavolta et
al.,1997) e de Ca (Brown et al., 1995) pelas plantas.
CONCLUSÕES
1) As mudas de goiabeira responderam à aplicação de zinco em substrato com
baixo teor de Zn.
2) O maior desenvolvimento das plantas esteve associado à dose próxima de 2 mg
dm-3 de Zn, o que corresponde a cerca de 1 mg dm-3 de Zn no solo (extrator
DTPA).
3) Doses iguais ou superiores a 4 mg dm-3 de Zn (cerca de 2 mg dm-3 de Zn no
solo) provocaram redução significativa no desenvolvimento e acúmulo de
macronutrientes nas mudas de goiabeira.