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BrBRCVAg0100-29452003000300036

BrBRCVAg0100-29452003000300036

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2003
Issue0003
Article number00036

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Enraizamento de estacas herbáceas de quatro clones de umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) durante o inverno ameno, em Jaboticabal-SP PROPAGAÇÃO

Enraizamento de estacas herbáceas de quatro clones de umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) durante o inverno ameno, em Jaboticabal-SP1

Rooting of herbaceous cuttings of four mume clones (Prunus mume Sieb. et Zucc.) during soft winter, in Jaboticabal, São Paulo state, Brazil

Newton Alex MayerI; Fernando Mendes PereiraII IEng. Agr., M.Sc., Doutorando em Agronomia, Departamento de Produção Vegetal, FCAV/UNESP - Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane Km05 s/n, CEP 14884- 900, Jaboticabal-SP. e-mail: namayer@fcav.unesp.br IIEng. Agr., Dr., Professor Titular do Departamento de Produção Vegetal da FCAV/UNESP, Campus de Jaboticabal-SP. e-mail: fmendes@fcav.unesp.br

INTRODUÇÃO No Brasil, a cultura do pessegueiro ocupa área de 22.039 hectares, destacando- se o Rio Grande do Sul como o principal produtor, com 14.344ha, seguido pelos Estados de Santa Catarina (3.056ha), São Paulo (2.133ha), Paraná (1.796ha) e Minas Gerais (696ha) (Agrianual, 2003).

Embora o Rio Grande do Sul seja o maior produtor brasileiro, a produtividade média neste Estado é muito baixa, em torno de 6 a 7 toneladas.ha-1 (Raseira & Nakasu, 1998). Um dos fatores que poderia contribuir para o aumento da produtividade na cultura seria o adensamento dos pomares, tendência observada para a maioria das culturas perenes no Estado de São Paulo (Caser et al., 2000). Em frutíferas de caroço, segundo estes autores, houve aumentos na densidade de plantio em 57,1% para o pessegueiro destinado ao mercado in natura, 35,7% no pessegueiro com fins industriais, 69,0% nas nectarineiras e 32,1% na ameixeira, em relação aos indicadores anteriormente adotados, o que pode influenciar diretamente o rendimento das operações de cultivo, os níveis de produtividade e o custo de produção da cultura. Para viabilizar tecnicamente o adensamento dos pomares, uma das alternativas seria a utilização de porta- enxertos menos vigorosos ou ananizantes.

O umezeiro ou damasqueiro-japonês (Prunus mume Sieb. et Zucc.) desperta grande interesse pela pesquisa brasileira em função das seguintes características: rusticidade, sanidade e adaptação ao inverno brando (Campo Dall'Orto et al., 1995/1998). Segundo Sherman & Lyrene (1983), o umezeiro apresenta altos níveis de resistência a nematóides de galhas, o que foi comprovado posteriormente para Meloidogyne incognita e para M.javanica (Rossi et al., 2002; Mayer et al., 2003), características estas desejáveis em um bom porta- enxerto e que devem ser exploradas na fruticultura.

Estudos envolvendo o umezeiro como porta-enxerto para pessegueiro e nectarineira revelaram a compatibilidade entre estas espécies, com as vantagens de redução do vigor das copas em até 50%, produtividade compatível com esse menor porte e frutos com maior massa e teor de sólidos solúveis, realçando a pigmentação vermelha da película, quando comparados aos frutos produzidos pelos mesmos cultivares enxertados sobre o cv. Okinawa (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994; Nakamura et al., 1999). Entretanto, nestes estudos, observou-se variabilidade do porte entre plantas de um mesmo cultivar-copa, em decorrência da propagação por sementes do umezeiro, o que sugere a necessidade de propagação vegetativa, objetivando a uniformidade do pomar e a manutenção dos caracteres da planta-matriz.

Dentre os métodos de propagação vegetativa, a estaquia herbácea em câmara de nebulização intermitente durante o outono tem apresentado resultados satisfatórios para o umezeiro (Nachtigal et al., 1999; Mayer et al., 2002).

Melhores resultados foram observados na primavera (Mayer et al., 2001), com porcentuais de enraizamento variando de 78,13 a 93,75%, o que viabiliza a propagação em nível comercial da espécie por este método. Estacas herbáceas de umezeiro com 12cm apresentam resultados satisfatórios, permitindo maior rendimento de estacas por planta-matriz em relação às estacas com 25 cm (Mayer et al., 2002). A realização de dois cortes superficiais opostos na base das estacas herbáceas de umezeiro é uma prática desnecessária por não ter influenciado a porcentagem de enraizamento, além de que estacas sem lesão apresentaram satisfatória qualidade de raízes (Mayer & Pereira, 2002).

Estes estudos revelaram que, em função do inverno ameno na região noroeste do Estado de São Paulo e das podas drásticas realizadas nas plantas matrizes, é possível a obtenção de ramos herbáceos de umezeiro para a estaquia em qualquer época do ano.

Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi estudar o enraizamento de estacas herbáceas de quatro clones de umezeiro sob condições de inverno ameno, em Jaboticabal-SP.

Materiais e Métodos Plantas matrizes de umezeiro (Prunus mume Sieb. et Zucc.) dos Clones 02, 05, 10 e 15, selecionadas a partir de material em cultivo na Estação Experimental de Jundiaí-IAC, foram mantidas em vasos plásticos de 20 litros sob ripado com 50% de sombreamento, pertencente ao Departamento de Produção Vegetal da FCAV/UNESP, Campus de Jaboticabal-SP. O município localiza-se a 21º 15'22" de latitude Sul e 48º 18' 58" de longitude Oeste, com altitude média de 595m, acima do nível do mar. Segundo a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo Cwa, ou seja, subtropical úmido com estiagem durante o período de inverno.

Os ramos foram coletados de plantas matrizes com um ano de idade no começo de junho (90 dias após a poda de renovação). As estacas foram preparadas com 12cm de comprimento, permanecendo de 3 a 5 folhas por estaca. As folhas do terço inferior foram retiradas para aplicação do regulador de crescimento e enterrio no substrato. Todas as estacas foram tratadas com IBA a 2.000mg.L-1 (Mayer et al., 2001) e como substrato utilizou-se a vermiculita de grânulos médios. Para a contenção da vermiculita foram utilizadas caixas brancas de plástico perfuradas com as seguintes dimensões: 37,5cm x 27cm x 9,5cm (comprimento x largura x altura).

O experimento foi conduzido em câmara de nebulização intermitente acionada por um temporizador ("timer"), o qual controlava a abertura e fechamento de uma válvula solenóide. Os períodos de nebulização e desligamento do sistema foram de 5 e 40 segundos, respectivamente, os quais foram determinados por observações visuais, de modo a manter uma fina camada de água sobre a superfície das folhas, sem causar escorrimentos. Os aspersores foram dispostos em linha, com distância de 1,5m entre si e 2,0m entre linhas, sendo que os bicos nebulizadores encontravam-se a 0,70m do nível do solo.

Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições, sendo cada parcela constituída por 20 estacas. Os tratamentos foram constituídos dos quatro clones testados (Clone 02, Clone 05, Clone 10 e Clone 15). Aos 70 dias após a estaquia, as estacas foram retiradas das caixas para avaliações das seguintes variáveis: porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de estacas com calo, porcentagem de estacas mortas, porcentagem de estacas vivas brotadas, número de raízes por estaca e comprimento médio das cinco maiores raízes. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. As variáveis expressas em porcentagem foram transformadas para arco seno , onde P significa o valor observado, sendo que as demais não foram transformadas.

Resultados e discussão As respostas dos diferentes clones de umezeiro nas variáveis porcentagens de estacas enraizadas, estacas com calo, estacas mortas e estacas vivas brotadas são apresentadas na Tabela_1. Pelo teste F observou-se uma diferença altamente significativa entre os clones quanto à porcentagem de estacas enraizadas. O maior porcentual de enraizamento foi observado no Clone 15 (75,00%), mostrando- se bastante promissor ao enraizamento adventício. Os Clones 10 e 02 apresentaram, respetivamente, 58,75% e 42,80% de enraizamento e o Clone 05 a menor média, com 30,0%. Estes resultados discordam dos obtidos por Nachtigal et al. (1999), que verificaram não haver diferenças estatísticas entre os mesmos clones do presente estudo, durante o outono, cujos valores obtidos encontraram- se entre 14,01 e 36,8% de estacas enraizadas. Segundo Mayer et al. (2001), a porcentagem de enraizamento do Clone 15 foi superior ao observado no Clone 02 durante a primavera, sendo que os Clones 05 e 10 comportaram-se como intermediários.

Para Reuveni & Raviv (1981), a influência do material genético na propagação vegetativa pode ser devida à maior capacidade de retenção foliar dos materiais mais promissores. O número de folhas retidas também se correlacionaria positivamente com a velocidade de enraizamento. Embora não tenham sido realizados estudos de correlação entre retenção foliar e enraizamento no presente estudo, visualmente foi observado que praticamente 100% das estacas enraizadas apresentavam, pelo menos, uma folha oriunda do ramo que deu origem à estaca. A ausência de folhas resultou, em praticamente todos os casos, em estacas com calo ou mortas. Segundo Hartmann & Loreti (1965), os dias curtos do outono e inverno, a baixa intensidade luminosa e as baixas temperaturas do ambiente influenciam no processo fotossintético, sendo estas as causas dos piores resultados observados nestas estações em relação à primavera e verão. De acordo com Muñoz & Valenzuela (1978), a porcentagem de enraizamento diminui à medida que se avança na estação de crescimento. Essa diminuição se deve às variações do conteúdo de cofatores e/ou à formação e acumulação de inibidores do enraizamento.

Com relação à porcentagem de estacas com calo também foi observada diferença estatística altamente significativa entre os clones, segundo o teste F. As maiores porcentagens foram observadas nos Clones 05 (32,5%), que foi semelhante ao Clone 02 (19,41%), mas superior aos Clones 10 (7,5%) e 15 (5,0%). Nesta variável, o Clone 02 foi semelhante aos Clones 05 e 10, mas superior ao Clone 15. Segundo Erez (1984), o processo de formação de calo estaria ligado às baixas temperaturas. Em estacas lenhosas de pessegueiro, exposições por 60 dias, a temperaturas iguais ou inferiores a 9ºC, apresentaram formação de calo com ausência de raízes. Portanto, as menores temperaturas observadas durante a condução do presente estudo pode ter sido o fator responsável pelos maiores porcentuais de estacas com calo em relação ao relatado por Mayer et al. (2001).

Embora não tenha sido detectada diferença estatística entre os clones quanto à porcentagem de estacas mortas, os porcentuais variaram de 18,75% (Clone 15) a 35,0% (Clone 05) e considerados como valores perfeitamente aceitáveis para a espécie. Nachtigal (1999) cita o baixo índice de enraizamento, a permanência prolongada na câmara de nebulização e o excesso de umidade do ambiente e do substrato como fatores que podem elevar a mortalidade das estacas.

Também não foi detectada diferença estatística significativa na porcentagem de estacas brotadas em função dos clones testados, cujos valores situaram-se entre 19,63 e 36,25%. Esta semelhança estatística concorda com Mayer et al. (2001), entretanto, os valores observados por estes autores foram todos superiores a 80% para os mesmos clones, em função da época do ano (primavera). A brotação da estaca durante o período de enraizamento é comum em estacas herbáceas de umezeiro e pode auxiliar na sobrevivência das estacas enraizadas após a retirada da câmara de nebulização, em função de não interromper o processo fotossintético.

Os valores referentes ao número de raízes por estaca e comprimento de raízes são apresentados na Tabela_2. Observou-se diferença altamente significativa entre os clones, no número de raízes por estaca. O Clone 10, com média semelhante ao Clone 15, mas superior aos Clones 02 e 05. O Clone 15, com média semelhante ao Clone 10 e ao Clone 02, mas superior ao Clone 05. Os Clones 02 e 05 apresentaram médias semelhantes para número de raízes por estaca. Para Nachtigal et al. (1999) e Mayer et al. (2001) não houveram diferenças entre os clones para o número de raízes por estaca. Entretanto, segundo estes autores, a imersão da base das estacas em solução de IBA a 2.000mg.L-1 por cinco segundos teria influência nesta variável, aumentando o número de raízes.

Para a variável comprimento médio das cinco maiores raízes foram observadas diferenças estatísticas entre os clones, sendo que o Clone 10 foi superior aos Clones 15, 05 e 02. Estes resultados também não concordam com Nachtigal et al.

(1999) e Mayer et al. (2001), os quais relatam a ausência de diferenças significativas entre os mesmos clones para essa característica. Um aspecto importante em estudos de enraizamento refere-se a análise conjunta das variáveis número e comprimento de raízes, pois não é de interesse prático uma estaca que produza uma única raiz longa ou várias raízes de pequeno comprimento. Portanto, deve-se buscar uma determinada condição ou tratamento que resulte no equilíbrio destas variáveis, ou seja, uma estaca que produza várias raízes com um bom crescimento, em um curto espaço de tempo, o que aumenta as chances de sobrevivência após a retirada da câmara de nebulização.

Conclusões Nas condições experimentais em que o trabalho foi conduzido pode-se concluir que: 1) É viável a propagação dos Clones 02, 05, 10 e 15 de umezeiro por estacas herbáceas, sob condições de inverno ameno, com porcentuais de enraizamento superiores a 30%; 2) Existem diferenças entre os clones quanto à porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de estacas com calo, número e comprimento de raízes.

3) A análise conjunta das variáveis estudadas apontam os Clones 10 e 15 como os mais efetivos para a propagação por estacas herbáceas no inverno.


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