Produtividade do meloeiro em função de cutivares e épocas de semeadura
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
FITOTECNIA
Produtividade do meloeiro em função de cutivares e épocas de semeadura1
Melon productivity as a function of different cultivars and sowing seasons
Paulo Sérgio Lima e SilvaI; Keny Henrique MarigueleII; Paulo Igor Barbosa e
SilvaII
IEng. Agr., Dr.; Prof. Adjunto, Esc. Sup. Agric. Mossoró (ESAM). Cx. Postal 137
- 59625-900 Mossoró-RN. Fone: (084) 312-2100. E-mail: paulosergio@esam.br
IIEstudante de Agronomia da ESAM. Cx. Postal 137 - 59625-900 Mossoró-RN. Fone:
(084) 312-2100. E-mail: paulosergio@esam.br
A região nordestina brasileira é responsável por mais de 90% da produção de
melão Inodorus, representado pelos tipos Amarelo, Pele-de-sapo e Orange flesh,
do país. O Estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor brasileiro e, em
1998, contribuiu com 91% da produção (Menezes et al., 2001). A região
compreendida pelos municípios Mossoró-Açu apresenta relevante importância no
que se refere à produção de melão. Nessa região, encontra-se uma grande
variação no que se refere aos sistemas de produção do meloeiro. Existem desde
pequenos produtores a grandes empresas agrícolas. Os níveis tecnológicos,
incluindo cultivares e práticas culturais, são também bastantes variáveis. Na
realidade, muitas das tecnologias praticadas com o meloeiro e com outras
culturas foram importadas de outras regiões, até porque a citada cultura tem
sido relativamente pouco estudada no Rio Grande do Norte. Assim, muitas
práticas culturais são adotadas após tentativas por vários agricultores.
Na referida região, o meloeiro é cultivado fora do período das chuvas, mais ou
menos de junho/julho a novembro/dezembro, com irrigação por gotejamento. Como a
cultura apresenta ciclo em torno de 60 dias, vários cultivos podem ser feitos
em cada ano. Na região, durante o citado período, as variações dos fatores
climáticos não são grandes, mas existem, sugerindo a possibilidade de efeito de
época de semeadura sobre o comportamento do meloeiro. Aliás, os agricultores
informam que, aparentemente, existem variações no rendimento, nas dimensões dos
frutos e em outros atributos dos frutos do meloeiro, durante os vários períodos
de cultivo.
Não foram encontrados, na literatura consultada, muitos trabalhos sobre os
efeitos da época de semeadura no meloeiro. Um dos fatores que contribui para
isto certamente é o fato de que, em muitas regiões, por limitações climáticas,
o meloeiro é cultivado uma só vez por ano. Saglan e Yazgan (1997) verificaram
que a produtividade (t ha-1), o número de frutos/planta e o peso médio do fruto
do meloeiro Cucumis melo var. flexuosus Naud, foram alterados pela época de
semeadura. Rezende et al. (2003) verificaram efeito de época de plantio no
desempenho de dois híbridos de melão rendilhado, em cultivo protegido. Em
melancia (Citrullus lanatus Thunb.), Rajput et al. (1990) verificaram que a
época de semeadura promoveu alterações na produtividade (t.ha-1) da cultura, em
razão de alterações no peso médio de frutos, número de frutos por planta e
número de ramos por planta. Também em outras frutíferas verificou-se efeito de
época de plantio (Cunha et al., 1993).
Diante do exposto, realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar os
efeitos de épocas de semeadura (19/8, 9/9 e 29/9 de 1999) e de cultivares
(Rochedo, AF 646, Gold Pride, Gold Mine e Goldex) sobre a produtividade da
cultura do meloeiro.
Realizou-se o experimento na empresa "Agrícola Cajazeira", localizada no
município de Tibau-RN, distante 30 km da sede do município de Mossoró-RN
(latitude 5º 11'S, longitude 37º 20'W e altitude de 18 m, aproximadamente),
principal cidade da região Oeste Potiguar. Dados sobre os fatores climáticos
ocorridos na região durante o período do semeio à colheita para cada época de
semeadura avaliada encontram-se na Tabela_1.
O solo, um Argissolo Vermelho-Amarelo (Podzólico Vermelho-Amarelo), foi
preparado com uma aração e duas gradagens e recebeu, como adubação de plantio,
cerca de 10 t/ha de esterco bovino curtido, em sulcos com a profundidade
aproximada de 0,20 m. Após a aplicação do esterco, os sulcos foram cobertos com
solo. A análise do solo indicou: pH = 7,5; em cmolc/dm3: Ca = 6,80; Mg = 0,90;
K = 0,38; Na = 0,29; Al = 0,00; P = 43 mg/dm3. A semeadura foi feita à
profundidade de 1,0 cm, em covas abertas onde foi aplicado o esterco. Aos cinco
dias após a semeadura realizou-se um replantio para redução do número de
falhas.
As cultivares Gold Mine, Rochedo, Gold Pride, AF 646 e Goldex foram semeadas em
três épocas, de 20 em 20 dias, a partir de 19/08/1999. São cultivares híbridas
muito semelhantes no que se refere a hábito de crescimento (indeterminado) e
florescimento (de 28 a 35 dias). As cultivares Gold Mine e Rochedo possuem
ciclo em torno de 65 dias. Nas outras cultivares o ciclo varia de 60 a 65 dias.
Todas possuem frutos com formato redondo-ovalado (os da Gold Pride são mais
arredondados), casca de cor amarela-dourada levemente enrugada. Utilizou-se o
delineamento de blocos completos casualizados com parcelas subdivididas e três
repetições. Cada parcela ficou constituída por três fileiras com 6,6 m de
comprimento. Como área útil, considerou-se a ocupada pelas plantas da fileira
central, eliminando-se uma planta em cada extremidade.
Utilizaram-se as práticas culturais adotadas na empresa, isto é, a densidade de
plantio foi de 13.774 plantas/ha, adotando-se o espaçamento de 2,2 m x 0,33 m,
com uma planta/cova; irrigação por gotejamento, espaçando-se os gotejadores em
0,33 m na linha de plantio. A água de irrigação foi aplicada durante 2 horas do
10 ao 50 dia após o plantio (DAP); 1 hora do 60 ao 120 DAP e do 140 ao 160 DAP;
1,5 horas nos 180 , 200 e 220 DAP; 2 horas no 250 DAP; 2,5 horas do 260 ao 300
DAP; 3,5 horas do 310 ao 350 DAP; 4,0 horas do 360 ao 400 DAP; 5,0 horas do 410
ao 56 0 DAP e 3,5 horas do 570 ao 630 DAP. A quantidade d'água aplicada por
hora foi de 23 m3/ha. Os adubos (Tabela_2) foram aplicados via água de
irrigação. As pragas e doenças foram controladas por pulverizações realizadas
aos 12, 15, 20, 33 e 41 dias após a semeadura.
Duas colheitas foram realizadas no período de 60 a 67 dias após cada semeio.
Foram avaliados os números e pesos de frutos, total e comercial, o comprimento
e a largura dos frutos comercializáveis. Como comercializáveis foram
considerados os frutos sem manchas e evidências aparentes de problemas
fisiológicos ou do ataque de doenças e pragas. O comprimento e a largura dos
frutos foram estimados medindo-se, com um paquímetro, todos os frutos
comercializáveis de cada parcela. Os dados foram analisados pelo método da
análise de variância e as médias comparadas a 5 % de probabilidade, de acordo
com as recomendações de Zar (1999).
Não houve efeito significativo da interação cultivares x épocas nas
características avaliadas. Ao contrário do observado, Gurgel (2000) e Sena
(2001), trabalhando sob condições semelhantes, verificaram efeito da interação
genótipos de meloeiro x ambientes. Entretanto eles avaliaram grupos maiores de
híbridos em maiores amplitudes ambientais.
As cultivares Rochedo e AF 646 apresentaram maior número total de frutos/ha,
mas superaram apenas as cultivares Gold Mine e Goldex (Tabela_3). As cultivares
Rochedo, AF 646 e Gold Pride foram as melhores quanto ao peso total de frutos,
mas diferiram apenas da cultivar Goldex, a menos produtiva (Tabela_3). A
cultivar AF 646 mostrou-se a mais produtiva em termos de número de frutos
comercializáveis, mas somente diferiu significativamente da cultivar Goldex, a
menos produtiva (Tabela_3). Também não houve diferenças entre cultivares quanto
ao peso de frutos comercializáveis (Tabela_3). A cultivar Gold Mine superou
todas as demais cultivares quanto ao comprimento médio dos frutos
comercializáveis (Tabela_3). O menor comprimento foi apresentado pela cultivar
AF 646. As demais cultivares apresentaram frutos com comprimento intermediário.
A cultivar Rochedo suplantou a todas as demais cultivares quanto ao diâmetro
dos frutos, as quais não diferiram entre si (Tabela_3).
A cultivar AF 646 mostrou-se superior em todas as características avaliadoras
do rendimento de frutos. A cultivar Rochedo também apresentou comportamento
promissor, exceto quanto ao número de frutos comerciais, em que ela não diferiu
da cultivar menos produtiva (Tabela_3). As diferenças entre cultivares são
devidas às diferenças genéticas, que manifestam-se em respostas distintas aos
fatores ambientais, inclusive aos ataques de doenças e pragas. A superioridade
das cultivares AF 646 e Rochedo foi observada por outros autores, na mesma
região. Gurgel (2000) e Sena (2001) concluíram que ambas apresentam
adaptabilidade ampla e estabilidade produtiva, mas que a cultivar Rochedo tende
a apresentar menor produtividade (Sena 2001).
A semeadura mais tardia proporcionou maior número de frutos/ha que os plantios
mais precoces, mas somente diferiu significativamente da primeira época de
semeadura (Tabela_4). Temperaturas elevadas (entre 20 e 30 oC), associadas à
alta luminosidade e baixa umidade do ar, proporcionam as condições climáticas
favoráveis à boa produtividade da cultura e frutos de ótima qualidade (Pedrosa,
1992). Nas três épocas de cultivo avaliadas, as médias das temperaturas máximas
foram superiores a 30 oC e, portanto, superiores aos limites mencionados por
Pedrosa (1992). Contudo, as temperaturas ocorridas na primeira época foram, no
geral, maiores que aquelas ocorridas na segunda época e estas, maiores que as
da terceira época. Portanto, as menores temperaturas ocorridas a partir da
terceira semeadura podem ter sido mais favoráveis à produtividade das
cultivares. Por outro lado, os valores da umidade relativa do ar foram maiores
durante o cultivo da terceira época e menores que aqueles da primeira época,
enquanto os valores do cultivo da segunda época foram mais ou menos
intermediários aos dos outros dois cultivos. Portanto, em termos de umidade
relativa do ar e de acordo com as informações de Pedrosa (1992), a terceira
época seria menos favorável à produtividade do meloeiro. Deve ser ressaltado
que esses fatores climáticos interagem, dificultando uma análise isolada da
ação de cada um deles sobre o comportamento do meloeiro (Whitaker e Davis,
1962). Apesar da tendência de semeaduras mais tardias propiciarem maiores pesos
totais de frutos, as diferenças observadas não foram significativas (Tabela_4).
Não houve diferenças entre épocas de semeadura sobre o número, peso,
comprimento e diâmetro dos frutos comerciais.
À semelhança do observado no presente trabalho, Saglan e Yazgan (1997),
trabalhando com melão Inodorus, observaram efeitos de época de semeadura sobre
o peso (t/ha) e o número de frutos/planta, mas não sobre o comprimento dos
frutos. Por outro lado, diferentemente do observado neste trabalho, eles
constataram efeito de época de semeadura sobre o diâmetro do fruto.
Não houve efeito da interação épocas de semeadura x cultivares, sobre as
características avaliadas.
A cultivar AF 646 mostrou-se a mais promissora quanto às características do
rendimento de frutos.
As cultivares Gold Mine e Rochedo produziram frutos com maiores comprimento e
diâmetro, respectivamente.
A semeadura realizada ao final de setembro propiciou melhor número total de
frutos que a semeadura em épocas anteriores, mas a época de semeadura não
influenciou outras características avaliadas.