Artigos esterilizados em calor úmido: validação do sistema de guarda
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Artigos esterilizados em calor úmido: validação do sistema de guarda
Items sterilized in humid heat: validation of the storage system
Esterilización de artículos en calor humedo: validez del sistema protector
Zilah Cândida Pereira das NevesI;Dulcelene de Sousa MeloII; Adenícia Custódia
Silva e SouzaIII; Anaclara Ferreira Veiga TippleIV; Márcia Alves Vasconcelos
RodriguesV
IEnfermeira. Especialista em Vigilância Sanitária e Epidemiológica e em
Controle de Infecção Hospitalar. Mestranda em Enfermagem da FEN/UFG. Enfermeira
do SCIH do Hospital Materno Infantil e da Coordenação Municipal de DST/AIDS
IIEnfermeira. Especialista em Controle de Infecção Hospitalar. Mestranda em
Enfermagem da FEN/UFG. Enfermeira Assistencial do Centro Cirúrgico do HC/UFG
IIIEnfermeira. Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás
IVEnfermeira. Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás.
VMicrobiologista. Professora Adjunto do Instituto de Patologia Tropical e Saúde
Pública da Universidade Federal de Goiás
E-mail do autor:zilahcandida@hotmail.com
1 Introdução
As infecções hospitalares têm grande importância no contexto social pela morbi-
mortalidade que acarreta e pelo elevado custo direto, indireto e intangível que
determina. Métodos de proteção anti-infecciosa devem ser implementados no
sentido de prevenir e controlar estas infecções, dentre eles o reprocessamento
de artigos.
Entretanto, algumas variáveis interferem nesse reprocessamento como: limpeza,
invólucro, adequação do artigo ao processo de esterilização, temperatura, tempo
de exposição ao processo de esterilização, acondicionamento, armazenamento,
qualificação pessoal, manutenção do processo de esterilização, etc. Além do
controle destas variáveis, disponibilizamos de parâmetros seguros que nos
comprovam a esterilização destes artigos.
Contudo, ainda temos dificuldades em determinar o tempo durante o qual
poderemos utilizar estes artigos esterilizados, principalmente, em unidades que
ainda não conseguem obedecer todas as recomendações para o processamento e
guarda destes artigos. E como saber a validade da esterilização, num contexto
onde se tem utilização de autoclaves gravitacionais e pré-vácuo, teste com
indicador biológico semanalmente, inexistência de manutenção preventiva, mão de
obra sobrecarregada, acondicionamento em invólucros inadequados, ausência de
testes de desempenho do equipamento durante o ciclo de esterilização?
Existem na literatura, registros quanto à normatização de prazos de validade de
artigos processados; embora, não haja consenso a este respeito. Recomenda-se
que cada instituição deva estabelecer o seu período de validade da
esterilização(1-5).
Sabendo que o perfil das instituições hospitalares é diferenciado, sofrendo
influências de variáveis próprias, não há como equiparar condutas sem antes
investigar as especificidades de cada realidade. Cada instituição deve
implementar a validação do seu processo de esterilização para garantir
qualidade compatível às exigências do atendimento ao cliente em condições
seguras. Assim, realizamos este estudo para verificar os prazos de validade dos
artigos esterilizados dada as condições do reprocessamento dos artigos
existentes em nossa realidade.
2 Objetivos
- Descrever as condições da esterilização dos artigos processados pelo método
de vapor saturado sob pressão em dois hospitais da Secretaria Estadual de Saúde
de Goiás.
- Identificar o tempo de validade da esterilização.
3 Material e métodos
Estudo realizado em dois hospitais públicos da Secretaria Estadual de Saúde em
Goiânia-Goiás, no período de agosto a outubro de 2000, nomeados de hospital A e
hospital B.
Após consentimento das duas unidades em estudo, as etapas operacionais da
esterilização dos artigos nos dois hospitais foram registradas por meio de
observação direta. Utilizou-se um check-list, previamente validado e testado,
para verificação das variáveis do estudo e para monitorização dos parâmetros
físicos das autoclaves.
O tempo de validade da esterilização pelo calor úmido foi avaliado através de
testes microbiológicos, com o apoio do Instituto de Patologia Tropical e Saúde
Pública da Universidade Federal de Goiás. Sendo que os dois hospitais
realizaram teste com indicadores biológicos de segunda geração nas autoclaves,
com leitura em 48 horas precedendo a carga teste, comprovando a qualidade da
esterilização.
3.1 Seleção do Material Amostrado
Foram utilizados para a análise 45 amostras de 9 cargas instrumentais
cirúrgicos em aço inoxidável de uso diário, processados nos hospitais A e B.
As bandejas testes foram esterilizadas sempre na primeira carga do período
matutino e armazenadas no setor de guarda até a realização dos testes nos dias
especificados, obedecendo ao cronograma de testes microbiológicos previamente
estabelecidos.
A limpeza, o preparo, a esterilização e a guarda dos pacotes teste seguiram
rigorosamente a rotina das unidades estudadas. As bandejas com instrumental
para teste, previamente identificadas, foram posicionadas na câmara da
autoclave de forma aleatória (por funcionário que não conhecia a
identificação). A identificação possibilitava a manutenção das bandejas na área
de guarda até o momento da semeadura para não serem usadas nos procedimentos
cirúrgicos de rotina.
3.2 Coleta das amostras e leitura dos resultados
O transporte dos instrumentais das centrais de material dos hospitais
pesquisados até o laboratório de microbiologia foi feito, utilizando-se fronhas
de Mayoesterilizadas ou saco plástico limpo para envolver os pacotes teste
minimizando-se os riscos de contaminação durante o percurso.
As amostras foram compostas por 30% de instrumentais de cada bandeja teste
selecionada aleatoriamente que foram imersos no caldo de cultura. O meio de
cultura escolhido foi o Mueller Hinton por ser rico para o crescimento
bacteriano e também por ser translúcido, o que facilita a observação dos
resultados. A coleta deu-se em capela de fluxo laminar previamente desinfetada
com álcool a 70%, com posterior acionamento da luz ultravioleta por 30 minutos.
Trabalhou-se com a chama do bico de Bunsen acesa.
As pinças de cada bandeja teste eram transferidas para os tubos de ensaio
contendo o meio de cultura, com auxílio de pinças ou luvas esterilizadas. Os
frascos eram fechados e levados à estufa a 37ºC, por 72 horas, com leitura em
24, 48 e 72 horas.
A leitura deu-se pela inspeção visual, através da manutenção da coloração
translúcida. Caso houvesse turvação que denotasse crescimento bacteriano, seria
realizado o repique em placas de ágar sangue pela técnica de esgotamento de
alça e estas incubadas a 37ºC fazendo-se a leitura em 24 horas.
Em todas as semeaduras realizou-se o controle do ambiente asséptico da câmara
de fluxo laminar na qual era colocado um tubo de ensaio contendo o Mueller
Hinton sem tampa, que ao término da coleta das amostras era incubado na estufa
a 37ºC por 72 horas. Um outro tubo de ensaio contendo o mesmo caldo, foi
utilizado como espião sendo incubado em conjunto com o material na estufa por
72 horas.
Os dados foram analisados considerando os resultados microbiológicos e as
condições de reprocessamento dos artigos em cada hospital.
4 Resultados e discussão
O estudo constou da análise do instrumental esterilizado em nove cargas
distintas, sendo três do hospital A e seis do hospital B, compreendendo 45
amostras.
A central de material esterilizado do hospital A é semi-centralizada. Possui um
fluxo linear de processamento com áreas distintas para as fases do processo.
Para a esterilização dos artigos utiliza como primeira escolha, o vapor
saturado sob pressão. Possui duas autoclaves automáticas a pré-vácuo com
barreira sanitária.
No hospital B o reprocessamento dos materiais médico-hospitalares é
centralizado. Também possui fluxo linear de processamento, sendo compartilhada
a área de esterilização e guarda. O método de esterilização utilizado com maior
freqüência é o vapor saturado sob pressão. Possui três autoclaves
gravitacionais, sendo uma semi-automática e duas manuais. Nenhuma possui
barreira sanitária.
Foram controladas as seguintes variáveis do processamento das bandejas teste:
material da mesma característica (instrumental cirúrgico em aço inoxidável),
limpeza, enxágüe, secagem, embalagem, monitoramento do ciclo de esterilização,
condições de armazenamento, uso de paramentação restrita ao local de guarda,
limpeza da área de guarda (terminal e concorrente).
5 O processamento do instrumental teste nos dois hospitais
5.1 Limpeza, enxágüe e secagem
A limpeza dos instrumentais cirúrgicos foi realizada manualmente com a
utilização do sabão enzimático e ação mecânica. Embora se saiba que a limpeza
manual não é o método de escolha para este fim, visto aumentar o risco de
acidente profissional com material perfurocortante, além de não ter o melhor
desempenho quando comparado com os métodos automatizados esta é a prática
observada nos hospitais estudados.
O enxágüe do instrumental ocorreu com água dura potável, fornecida pelo sistema
de abastecimento de água de Goiânia. Depois de enxaguados, os instrumentais
devem ser totalmente enxugados com a utilização de tecido de algodão macio e
absorvente ou jatos de ar comprimido(1). Deve-se evitar que os instrumentais
sequem ao natural para impedir que os elementos orgânicos presentes na água se
agreguem, causando danos ao material.
Nos hospitais estudados utiliza-se a secagem manual com tecidos de algodão cru
ou compressas cirúrgicas, sucedida da inspeção visual do material atentando-se
para os aspectos importantes requeridos para garantia da qualidade da
esterilização como: ausência de vestígios de resíduos, irregularidades e
deformidades.
5.2 Montagem das Bandejas (pacote teste)
Foram utilizados recipientes retangulares em aço inoxidável com profundidade de
0,5 a 3,5 cm para o acondicionamento dos instrumentais. As bandejas foram
forradas com um campo de tecido em algodão cru simples sobre o qual dispunha-se
os instrumentais cujo número de peças variou de 12 a 45, que eram cobertos com
o mesmo campo. Estas foram então embaladas com dois campos simples ou um campo
duplo. Algumas bandejas foram embaladas com três campos simples quando estes
possuíam qualidade inferior, conforme a rotina dos hospitais em estudo.
Nos hospitais estudados utilizou-se tecido de algodão cru, sobre o qual não se
tem controle nenhum no processo de compra, pois é adquirido por setor
independente da instituição hospitalar. No hospital A, a trama dos tecidos
variou de 38 a 56 fios/cm2. No hospital B, a trama têxtil esteve entre 30 a 51
fios/cm2. A verificação da trama ocorreu através de inspeção visual utilizando-
se uma lupa com a contagem dos fios por cm2. Não há consenso na literatura
quanto à trama têxtil adequada, ocorrendo variação de 40 a 56 fios/cm2(6).
Alguns problemas têm dificultado a qualificação do tecido de algodão cru como
embalagem, enquanto barreira microbiana. A eficiente filtração do algodão é de
34%, além de não se ter o controle acerca da permeabilidade e da avaliação da
quantidade máxima de processamento, bem como a manutenção da esterilidade
durante a estocagem, por ser vulnerável a contaminação(2).
Para que o invólucro de tecido mantenha as propriedades exigidas para
esterilização é recomendado que seja armazenado a uma temperatura ambiente de
18ºC a 22ºC e a uma umidade de 35% a 75% e ter sido lavado recentemente antes
do uso, para assegurar umidade suficiente às fibras do tecido prevenindo o
superaquecimento do pacote além de reduzir o risco de deterioração do material
(7,8). Tanto no hospital A quanto no hospital B os invólucros de tecido foram
lavados previamente. A área de armazenamento da roupa limpa na lavanderia,
assim como a de preparo da CME de ambos não é climatizada, contrariando as
condições adequadas ao armazenamento dos campos.
A validação dos campos de tecidos quanto à permeabilidade não tem sido feita
nos hospitais em estudo. Concorda-se que de fato o tecido de algodão não é um
invólucro adequado pelas limitações conhecidas. Entretanto, um grande
percentual das instituições de saúde brasileiras, adota esta prática por
questões de custo.
5.3 Esterilização
Hospital A: As bandejas foram esterilizadas em autoclave automática a vapor de
pré-vácuo, com ciclos pulsáteis sendo dotada de barreira sanitária e observado
todos os parâmetros recomendados para a esterilização.
Hospital B: As bandejas foram esterilizadas em autoclaves com operação manual a
vapor por gravidade, sem barreira sanitária com a observância dos parâmetros
recomendados.
Foram realizados testes microbiológicos nas autoclaves dos dois hospitais, 48
horas antes da realização da carga teste. O indicador biológico utilizado foi o
Attest® da 3M com leitura em 48 horas, que comprovou a qualidade da
esterilização destes aparelhos. Indicadores químicos de processo (classe I)
foram colocados nos pacotes teste, onde foi observado a viragem uniforme da
coloração.
O carregamento das autoclaves foi realizado de acordo com a rotina das unidades
de saúde estudadas, e observou-se que houve o seguimento das normas
preconizadas pelo Ministério da Saúde(9).
Houve a monitorização dos parâmetros físicos a cada 3 minutos do ciclo de
esterilização. Através desta observação não se constatou alterações que
comprometessem a qualidade do ciclo. Estes dados foram confirmados pelos testes
biológicos.
No hospital A, no qual a autoclave é a pré-vácuo, a pressão da câmara interna
variou de 31 a 39 kgf/cm2, com temperatura de 121ºC a 131ºC e a pressão da
câmara externa esteve entre 30 a 38 kgf/cm2 com período de 17 minutos de
exposição. Este perfil não é referido em literatura.
No hospital B cujas autoclaves são gravitacionais, com operação manual, a
pressão da câmara interna manteve-se em 1.2 atmosferas com temperatura de 121ºC
a 123ºC e a pressão da câmara externa manteve-se em 1.5 atmosferas com um
período de exposição de 30 minutos.
Orienta-se a leitura de temperatura e pressão a cada minuto no período de
esterilização propriamente dito (9). Alguns autores recomendam registrar o
início do pré-vácuo, tempo inicial e final da fase de esterilização, secagem e
uma tomada de tempo e temperatura de cada fase. Nas autoclaves microprocessadas
o registro deve ser a cada minuto(7). No presente estudo para ambos os
processos gravitacional e pré-vácuo, optou-se pelo monitoramento a cada 3
minutos em todas as fases do ciclo de esterilização.
O tempo de exposição no hospital B é o referido em algumas literaturas (8,2),
já em outras fontes este tempo poderia estar reduzido a 15 minutos, visto que
os instrumentais cirúrgicos são artigos processados no ciclo de superfície.
Apesar da monitorização dos parâmetros físicos da esterilização não se
constituir prática rotineira nas duas unidades, decidiu-se por sua realização.
Porque forneceriam dados adicionais, sem interferência direta no processamento
dos artigos.
O indicador classe II (teste Bowie & Dick) é recomendado para autoclaves a
pré-vácuo(8,10) que deveria ser a prática do hospital A. No entanto, tal
recomendação não é seguida devido as limitações operacionais observadas nos
equipamentos mais antigos. No hospital B, as autoclaves são gravitacionais o
que não justifica a realização de tal procedimento. Os indicadores de classe IV
(indicador multiparamétrico), V (indicador integrador) e VI (simuladores) não
são utilizados por nenhum dos dois hospitais estudados.
Outro aspecto importante durante a execução do ciclo é a qualidade do vapor que
está diretamente relacionada a fonte da água utilizada. A presença de impurezas
e minerais, em suspensão ou dissolvidos na água utilizada na produção do vapor,
assim como os valores altos de carbonatos poderão provocar manchas ou oxidação
em instrumentais e em utensílios de aço inoxidável; incrustação nas câmaras de
geração de vapor, de esterilização e nas resistências diminuindo a vida útil
dos materiais esterilizados e do equipamento(8).
Recomenda-se que a água deve ser desmineralizada. Os valores máximos de
contaminantes permitidos para água e vapor em contato com produto a ser
esterilizado e sua embalagem constam na norma ISO 11134/94(11).
Além disso, o ponto de saturação do vapor é um aspecto relevante, pois deverá
encontrar-se com título mais próximo possível de 01 que representaria a
situação ideal de 100% e 0% de condensado. Na prática é aceitável a utilização
de vapor com título acima de 0.95%(10). Vapor supersaturado deve ser evitado,
pois o excesso de condensado irá provocar manchas nos instrumentais cirúrgicos,
além de aumentar o tempo de secagem e muitas vezes invalidar a esterilização
(5,11).
Para avaliar o conteúdo de umidade, a Association for the Advancement of
Medical Instrumentation (AMMI) sugere que se pese o pacote antes e depois da
esterilização. O peso do pacote não deve ser superior a 3% do peso antes da
esterilização(8). Além disso, não deve ter nenhuma gota visível, manchas de
água ou evidência de umidade excessiva no interior ou sobre o lado externo do
pacote. Caso se detecte qualquer um dos sinais descritos no equipamento
validado deve ser realizada a manutenção corretiva(12,13). O vapor também não
deve ser super aquecido pois torna-se seco, deficiente em umidade resultando na
perda da umidade essencial necessária à esterilização(5,11).
O processo de avaliação da qualidade do vapor não é realizado sistematicamente
nas duas unidades estudadas a não ser pela observação de umidade visível nos
pacotes, o que é feito empiricamente. Em caso de verificação da ocorrência de
umidade nos pacotes é solicitado o reparo do equipamento. Em relação à água não
é feito nenhum controle, e observa-se pelas condições de apresentação dos
instrumentais e das câmaras das autoclaves, com a presença de incrustações e
oxidações, que a mesma contém substâncias indesejadas em nível elevado que
interferem na qualidade do processo.
Para a manutenção de condições aceitáveis para o funcionamento dos
equipamentos, preconiza-se um programa de manutenção preventiva e corretiva(3,
6, 8,11).Entretanto, nos hospitais estudados somente é realizada a manutenção
corretiva.
Nos hospitais estudados a validação do processo de esterilização se restringe a
qualificação do desempenho do esterilizador com indicador de classe I
(indicador de processo) e biológicos de segunda geração ( leitura em 48 h).
A qualificação do desempenho, que objetiva atestar se as condições de um
determinado processo de esterilização está garantindo a eficácia e a eficiência
da esterilização em si, requer a monitorização dos parâmetros físicos, o uso de
indicadores químicos classe I, II, IV, V, VI e de indicadores biológicos(8).
Portanto, as unidades estudadas não estão atendendo às orientações previstas.
5.4 Área de guarda das bandejas esterilizadas
Hospital A: A área destinada à guarda do material esterilizado é exclusiva e
restrita. Localiza-se no bloco cirúrgico com acesso pelo hall. Contém
prateleiras, abertas, em aço.
O uso de prateleiras abertas pode ser adotado, devendo merecer maior atenção no
que se refere ao controle de fluxo de pessoal, limpeza e ventilação(7,10). A
limpeza das prateleiras é executada, semanalmente, com água e sabão com a
posterior desinfecção com álcool a 70%. O fluxo de pessoal é controlado e a
funcionária faz uso de uniforme privativo, gorro, máscara e propés. A limpeza
terminal da área de guarda é executada, semanalmente, e a concorrente,
diariamente ou quando necessária.
No hospital A, o descarregamento dorack do material estéril é feito após os
mesmos terem retornado à temperatura ambiente conforme recomendado pela
Sociedade de Enfermeiros do Centro Cirúrgico e Central de Material(10). Os
pacotes testes permaneceram em conjunto com os demais pacotes em uso, sendo
manuseados na mesma proporção.
Hospital B: a área de guarda situa-se na área de esterilização, no bloco
cirúrgico sendo que o acesso se dá por esta mesma área. Os funcionários que
trabalham no preparo de material para a esterilização, são os mesmos que
executam as etapas de esterilização, guarda e distribuição do material sendo
uma área comum para todas estas atividades. O fluxo de pessoal fica restrito às
pessoas escaladas por cada período, estando estas, utilizando uniformes
privativos, gorros, máscaras e propés.
Os pacotes esterilizados são guardados em armários, fechados, de madeira com
revestimento em fórmica, que não comportam o volume total do material
processado, ficando uma parte sobre as bancadas, os quais são protegidos com
campos estéreis. A rotatividade é alta para o uso destes instrumentais, ficando
pouco tempo nestas condições. A limpeza terminais dos armários e bancadas é
semanal, com água e sabão com posterior desinfecção com álcool a 70%. A limpeza
terminal da área física é realizada uma vez por semana, e a concorrente é
executada duas vezes ao dia ou sempre que necessário.
Os pacotes testes, permaneceram em conjunto com os demais pacotes em uso sendo
manuseados na mesma proporção. O armazenamento e manuseio do material, no que
concerne à área de guarda é de extrema importância para a manutenção da
esterilidade, requerendo ambiente climatizado.
Nos dois hospitais, a área de guarda não possui climatização contrariando às
orientações para a manutenção de umidade relativa de 30% e 60% e temperatura em
torno de 25ºC(7,10). Ainda assim, verificou-se um aumento no tempo de guarda,
superior ao praticado, o que leva a crer que caso essa variável fosse observada
poder-se-ia obter um tempo superior de manutenção da esterilidade.
Diante das condições de processamento do instrumental e do sistema de guarda
existentes nos hospitais A e B, descritas anteriormente, encontrou-se o
seguinte resultado da análise microbiológica que fundamentaram a validação da
manutenção da esterilidade: das doze cargas avaliadas, as três primeiras
apresentaram contaminação devido a falhas associadas à coleta das amostras e à
semeadura, tendo, portanto sido desconsideradas. As amostras passaram a ser
coletadas em capela com fluxo laminar bem como a semeadura nas placas de ágar
sangue; o caldo foi esterilizado no próprio tubo destinado à inoculação da
amostra de instrumental.
Não houve crescimento nas demais semeaduras, exceto da terceira bandeja da
quarta carga teste, da autoclave II do hospital B, chegando-se a conclusão que
foi em decorrência de contaminação da luva da pesquisadora no momento da
transposição das pinças.
Os testes microbiológicos realizados demonstraram que embora muitas variáveis
não seguissem as recomendações preconizadas para a qualidade da esterilização,
ainda assim, constatou-se a esterilização do material que foi confirmada pelo
não crescimento de microrganismos no tempo zero. Estes dados confirmaram a
eficácia do teste biológico e das etapas operacionais do processamento.
Os resultados mostraram também, que a esterilidade do material manteve-se num
tempo superior ao recomendado pela literatura e praticado pelos dois hospitais,
que é de sete dias. Vale ressaltar que variáveis importantes como climatização
da sala de guarda e invólucros adequados, recomendados para a embalagem não
foram observadas na rotina das duas unidades. Acreditamos que a consideração de
mais estas variáveis possam aumentar, ainda mais, o tempo de guarda dos artigos
esterilizados. Infere-se, ainda que talvez os tempos pudessem ser prolongados
caso houvesse instrumentais suficientes para teste, fato este que limitou a
pesquisa. Observou-se que em nenhum dos tempos avaliados num período de 0, 7,
15, 20 e 25 dias, houve crescimento de microrganismos nas amostras coletadas,
evidenciado pela manutenção translúcida dos caldos de cultura. Devido a não
turvação dos meios de cultura não houve necessidade de repique em placas de
ágar sangue.
Estes resultados evidenciam que nas condições de guarda praticada nas duas
instituições em estudo, o material manteve sua esterilidade num período de até
25 dias.
O resultado deste estudo viabiliza as duas unidades a ampliarem o tempo de
guarda dos artigos esterilizados, da prática atual de sete dias, para 25 dias,
representando diminuição de custos sem prejuízos da qualidade.
6 Conclusão
Os dois hospitais estudados apresentaram o seguinte perfil quanto ao
processamento e condições de manutenção da esterilização dos artigos
processados pelo método vapor saturado sob pressão:
- A limpeza dos instrumentais foi manual com a utilização de
detergentes enzimáticos.
- O enxágüe foi realizado com água potável corrente fornecida pelo
sistema de abastecimento de água de Goiânia.
- A secagem foi executada utilizando compressa cirúrgica ou tecido de
algodão limpo.
- O invólucro utilizado foi o campo de algodão cru com 38 a 56 fios/
cm2 no hospital A e com 30 a 51 fios/cm2 no hospital B; foram
utilizados campos duplos ou dois campos simples.
- Os instrumentais foram colocados em bandejas retangulares em aço
inoxidável com profundidade de 0,5 a 3,5 cm nos dois hospitais.
- As autoclaves do hospital A, são do tipo pré-vácuo, automática e
possui barreira sanitária; as do hospital B são do tipo gravitacional
com operação manual, sem barreira sanitária. O carregamento manteve-
se entre 20 a 80 % da capacidade das câmaras nos dois locais, com
disposição adequada dos artigos.
- A temperatura e o tempo de exposição no hospital A foi de 121ºC a
131ºC por 17 minutos, e do hospital B de 121ºC a 123ºC por 30
minutos. A pressão da câmara interna da autoclave do hospital B foi
de 1,2 atm. e da câmara externa foi de 1,5 atm. A pressão verificada
na autoclave do hospital A foi de 30 a 38 kgf/cm2 na câmara externa e
31 a 39 kgf/cm2 na câmara interna.
- Os hospitais A e B utilizam indicadores químicos de processo classe
I (indicador de processo) em todos os pacotes e indicadores
biológicos de segunda geração (leitura em 48 horas). O teste
biológico no hospital A e B é realizado semanalmente.
- A área de guarda dos dois hospitais não é climatizada e o fluxo de
pessoal é controlado, sendo restrito aos funcionários do setor, que
utilizam o uniforme privativo. No hospital A, o uniforme privativo é
utilizado apenas na área de armazenamento e distribuição dos
materiais processados, no hospital B, a área de preparo é
compartilhada com o setor de esterilização.
- A limpeza terminal da área física é realizada, semanalmente, nos
dois hospitais.
- As prateleiras são de aço e abertas no hospital A, e do hospital B
são fechadas e de madeira revestida em fórmica. A limpeza terminal
ocorre, semanalmente, em ambos hospitais, utilizando água e sabão,
com a posterior aplicação de álcool a 70%.
- Os instrumentais cirúrgicos não apresentaram crescimento bacteriano
em nenhum dos tempos testados, evidenciando a manutenção da
esterilização em até 25 dias de guarda em todas as cargas testadas,
apesar das condições de esterilização e guarda não se adequarem
totalmente aos parâmetros recomendados pela literatura.
Concluímos que nos hospitais estudados, considerando as suas condições de
processamento dos artigos e da guarda dos mesmos até o momento do seu uso,
estes podem ser utilizados com segurança num período de 25 dias. Ressaltamos a
importância de cada serviço validar o tempo de esterilização dos seus artigos.
O conhecimento da validade do tempo de esterilização é de vital importância
para o serviço. Gera economia de tempo, dos bens permanentes e de consumo, de
energia elétrica e de mão de obra, que pode ser revertida para outros
investimentos.
Consideramos que outras investigações necessitam ser realizadas envolvendo um
período maior de tempo, na qual pode-se verificar as interferências no tempo de
validade dos artigos esterilizados a vapor decorrentes das variações de
temperatura e umidade ocorridas nas quatro estações do ano.