Câncer de mama: o pensar e o fazer das mulheres
PESQUISA
Câncer de mama: o pensar e o fazer das mulheres
Cancer de mama: como piensa y actúa la mujer
Breast cancer: how women think and what do
Ana Virgínia de Melo FialhoI;Raimunda Magalhães da SilvaII
IEnfermeira, Professora Assistente da Universidade Estadual Vale do Acaraú,
Doutoranda em Enfermagem na UFC
IIIEnfermeira, Professora Titular da Universidade de Fortaleza e colaboradora
do Programa de Pós-Graduação da UFC
1 Introdução
A partir do envolvimento com a problemática das mulheres portadoras de câncer
de mama, percebemos com maior clareza a realidade enfrentada por elas, e os
inúmeros problemas físico, social, cultural e emocional que repercutem no
cotidiano. Nessa perpectiva verifica-se que o perfil de saúde da mulher
brasileira sofre influência também de fatores ideológicos e econômicos, e que
as causas de mortalidade feminina têm sido objeto de estudos epidemiológicos em
todo o mundo, mas identifica-se uma preocupação maior em quantificá-las do que
intervir com programas que evitem o sofrimento e tratem dignamente as mulheres,
acarretando a diminuição dos índices de morbi-mortalidade(1).
O índice de mortalidade por câncer de mama predomina nos casos de óbitos por
neoplasias, seguidos dos cânceres de pele e colo de útero. A estimativa de
casos novos de câncer de mama em 2001, foi de 21.250 casos na região sudeste
seguindo com 4.800 na região Nordeste, e no Estado do Ceará ocorreram 800 casos
sendo 460 em Fortaleza(2).
Na etiopatogenia do câncer de mama, segundo o Ministério da Saúde do Brasil,
muitos fatores de risco estão relacionados à menarca precoce, à menopausa
tardia, primeira gestação após os trinta anos, à nuliparidade, doenças
mamárias, história familiar de câncer de mama, dieta rica em gordura, entre
outros(3).
O câncer de mama, para muitas mulheres, têm um significado destrutivo,
ameaçador, depressivo e percebido como um processo de finitude. Portanto, a
busca da opinião das mulheres sobre o significado do câncer de mama poderá ser
um elemento facilitador para o repensar sobre a doença e suas conseqüências,
estimulando-as no desenvolvimento de ações para o autocuidado e para
transformações saudáveis em relação à saúde e ao seu corpo.
Entendemos que conhecer o significado do câncer de mama para a mulher, e como
ela age diante desse significado é imprescindível para implementação de ações
preventivas que poderão diminuir os agravos à sexualidade, à auto-imagem, ao
relacionamento afetivo, à auto-estima, entre outros decorrentes do diagnóstico
de câncer.
2 Base teórico-metodológica
Visando o aprofundamento da análise dos significados optamos por uma abordagem
interativa e comunicativa que assegurasse o desvelamento do significado do
câncer de mama para a mulher dentro do contexto social, comportamental e
ambiental. O Interacionismo Simbólico(4) possibilitou apreender os aspectos
envolvidos na interação com as mulheres, contemplando o objeto de estudo e
possibilitando o contato direto com os sujeitos e seus significados.
O significado tem um papel central tanto no processo social quanto inerente ao
objeto. O ser humano atribui idéias ou conceitos que as outras pessoas têm em
relação a ele e ao objeto, surgindo o significado como produto da vida social
ou seja da interação com outros seres humanos. Destaca-se a interpretação
consciente decorrente da reflexão interna diferenciada das teorias de
comportamento, pois estas não atribuíam um papel central no processo social.
Sobre os procedimentos metodológicos Blumer(4) ressalta que a investigação deve
ser profunda e próxima da realidade empírica, de forma criativa e disciplinada.
Destacando-se dois estágios do método científico, a exploração e a inspeção na
investigação naturalista. A exploração é uma técnica de sondagem minuciosa e
flexível que adota qualquer método ético para obtenção de informações, não
existindo diretrizes formais, e quaisquer procedimentos devem se adaptar à
situação, visando a compreensão da realidade. A inspeção é um exame mais
profundo e focal dos elementos usados na análise, ocorrendo após a determinação
da natureza geral do fenômeno(5).
A amostra foi aleatória e constituiu-se de 34 mulheres que procuraram o
Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará - IPCC, para atendimento ambulatorial
(6). A clientela atendida foi heterogênea, nos aspectos sócio-cultural,
econômico, idade, razões para procurar a Instituição, e procede de diferentes
localidades do Ceará e de estados vizinhos.
Utilizamos um roteiro de entrevista semi-estruturada, constituído de dados
pessoais e perguntas norteadoras sobre o significado do câncer de mama e as
ações desenvolvidas pelas mulheres, considerando as recomendações do Instituto
Nacional do Câncer e os fatores de risco estabelecidos na literatura para o
câncer de mama. As entrevistas em sua maioria precederam as consultas
ambulatoriais e foram desenvolvidas sob processo de interação. Adotamos para
coleta de dados, o exame clínico das mamas em todas as mulheres entrevistadas,
ensinamentos da técnica circular do auto-exame, e solicitamos que cada mulher
demonstrasse a técnica ensinada.
Para organizar e analisar os dados coletados, atribuímos nomes fictícios usando
a letra inicial da entrevistada e na busca dos significados manifestos nos
achados, escolhemos a técnica da análise temática(7). Dos depoentes obtivemos o
consentimento informado.
Na interpretação dos resultados, fizemos inferências embasadas na perspectiva
interacionista que possibilitaram a elaboração das áreas temáticas de
significado do câncer de mama e ações desenvolvidas para prevenção de fatores
de risco e detecção precoce do câncer de mama.
3 Apresentando e discutindo os resultados
Os resultados pertinentes aos objetivos propostos relacionam-se à compreensão
do significado do câncer de mama e das ações desenvolvidas para a prevenção dos
fatores de risco e detecção precoce.
As entrevistas com 34 mulheres revelaram o significado do câncer, e expressaram
sentimentos e as possíveis ações comportamentais, decorrentes do processo de
interpretação mental, independentemente de quaisquer experiências sobre
patologias mamárias ou de nível intelectual.
A maioria das mulheres respondeu que o câncer de mama significa uma doença
ameaçadora, devastadora, horrível, apavorante, perigosa, triste, preocupante,
incontrolável e geradora de desequilíbrio físico e mental, como mostram os
depoimentos:
Doença feia, incontrolável horrível, difícil de ser detectada. (Lúcia); [...]
Ficaria arrasada se acontecesse comigo (Elizabete).
Na concepção interacionista o sentido que as coisas têm para os indivíduos é
importante para determinação de comportamentos, e emerge do processo de
interação entre as pessoas(4). Daí a importância de conhecermos o que as
mulheres pensam sobre o câncer de mama, para elaborarmos estratégias de
controle a partir do significado construído pelas mesmas e da possibilidade da
mudança de comportamento.
A necessidade de orientação pode ser percebida com as expressões horrível e
arrasada, que revelam a dificuldade de aceitação do diagnóstico do câncer de
mama, e podem dificultar a prática do auto-exame e da procura pelo exame
clínico das mamas, como demonstrou Vânia, que apesar de ter receio de ter
câncer de mama, deixou-se levar pelas orientações leigas de integrantes do seu
grupo social, e só procurou o serviço de saúde devido a insistência da mãe
sobre a necessidade de avaliar uma alteração mamária. O medo de Vânia foi
demonstrado quando coloca: É muito triste, tenho medo, mas todos dizem que não
é. Às vezes tem até que tirar o seio.
Essa percepção do câncer assusta as mulheres provocando sentimentos de
rejeição, sendo que algumas preferem até não falar sobre o câncer, como:
Ah! não sei o que pensar nem falar, é horrível (Margarida); Penso que caroço no
peito é câncer. Ah!, é triste, não tenho palavras(Joana).
Dentre os sentimentos expressos, que surgiram no significado do câncer de mama,
o medo foi abordado sob diversas formas, destacando-se o medo da perda do seio
e da morte, como mais freqüentes: é perigoso, pode perder o seio. Tenho medo de
perder o seio ou morrer[...] (Rosa).
A possibilidade da morte decorrente de uma doença que causa tantas alterações
na vida da mulher, incluindo a transformação da imagem corporal, pode, por um
certo tempo fazer com que a mesma deixe de lado a luta pela vida,
desacreditando nas terapêuticas disponíveis e associando a idéia de finitude,
como expressaram: Doença devastadora, acho que se tem não fica boa, acho que se
tem que tirar o seio, não tem mais que poucos anos(Liana). Tenho medo desse
câncer de mama, de perder o seio, ter risco de morrer, acho que nunca fica boa
[...] (Fabiana).
O medo e a proximidade da morte podem causar muitas reações. Nenhuma reação(8)
é melhor ou pior que outra, mas os sentimentos associados a experiência devem
ser superados, como foi expresso por Mariana:Apavorante, tenho medo, tem que
cuidar cedo para ficar bem.
Podemos perceber que para Rosa o medo é ameaçador, mas não gera uma postura de
mudança, como ela mesma expressa: [...] se eu tiver câncer no seio por causa do
cigarro, eu vou morrer porque eu não consigo parar de fumar. Ressaltamos que
Rosa tinha 18 anos de idade, procurou o serviço queixando-se de um nódulo na
mama direita, descoberto por ela há seis meses. Relatou saber que o cigarro
causa câncer de mama, mas consome até doze cigarros por dia e expressou a
intenção de não parar de fumar.
Ao se falar de atitudes e de auto-estima da mulher, entendemos que as
experiências, quando vivenciadas satisfatoriamente, refletem nas atitudes e nos
comportamentos, seja pela segurança interior e confiança nas relações
interpessoais ou pelo senso de responsabilidade demonstrado em ações(8).
Ressaltamos o depoimento de Lorena que considerou o câncer uma doença perigosa
e que provoca medo. Disse ter recebido informações sobre o câncer de mama pela
televisão, e analisou a idéia de ser acometida pelo câncer como horrível, mas
não desenvolveu uma significação baseada em sua realidade, visto que a mesma
não havia percebido uma mastopatia grave em sua mama esquerda:É muito perigoso.
Fico com medo, sai muito na TV. Fico imaginando se eu tivesse isso como seria
horrível (Lorena).
Dentro do processo de reflexão mental, outras mulheres selecionaram alguns
significados, que foram reagrupados por orientações internas e vivências. Os
significados foram produtos da interação social e consigo mesma. A exemplo
temos a expressão de medo da perda ou da morte, percebida de formas diferentes:
[...] prefiro arrancar o seio para não morrer, isso não seria pior(Marta); O
pior não é perder o seio, é morrer, se fosse novinha, perder o seio era pior
(Júlia).
Júlia racionalizou a situação, e percebeu o medo da morte como mais ameaçador
que o medo da perda do seio. Ressaltamos que Júlia tinha 52 anos de idade, e
considerava a conservação da vida mais importante que a conservação do seio,
como percebemos em seu depoimento, que difere de Sandra, de 23 anos de idade,
que ao racionalizar o pensamento sobre o medo de perder o seio, considerou a
manutenção da beleza uma prioridade, como podemos observar em suas palavras: Se
for um câncer e perder meu peito, ficar doente e morrer. Não gosto de pensar.
[...] acho meus seios bonitos e não quero ficar como minha vizinha, que não tem
nada de um lado; e sempre tem que tomar remédio e não fica boa.
Percebemos no depoimento de Sandra, que a experiência negativa vivida com a
vizinha, fundamentou ainda mais o medo da doença, e que a imagem do corpo tem
um papel importante na formação da personalidade e no comportamento social
desta mulher.
A mulher vai introjetando modelos de beleza, durante todo o processo de
socialização, e a mama torna-se um símbolo de identificação sexual e do papel
feminino(9). A imagem corporal e a auto-estima são influenciadas pela condição
sócio-econômica, psico-espiritual e emocional da mulher e do ambiente social,
bem como do tipo de filosofia de vida adotada pela pessoa(8).
O conteúdo expresso nas falas de Júlia e Sandra revelou que a percepção
individual dessas mulheres sobre a imagem corporal está relacionada ao conceito
de auto-estima que cada uma tem de si(10). Na percepção de Júlia a imagem
corporal é um fator secundário, pois o fator idade influenciou em sua opção
pela manutenção da vida saudável, como foi expresso na fala: [...] se fosse
novinha, perder o seio era pior.
As reações da mulher frente à mutilação estão relacionadas à subjetividade, e
são determinadas pela maneira como ela vive e convive com seu corpo desde a
infância(11).
A idéia da perda dos seios para algumas mulheres pode desencadear um sentimento
de incapacidade e inutilidade devido a mudança da auto-estima, consideram-se
menos importantes que as outras, como relatou Fabiana: [...] Fica inútil
sofrendo, é melhor morrer.
Nas palavras de Sandra, o significado do câncer de mama é decorrente do
processo de interação social e reflete nas ações que a mulher desenvolveu para
o controle do câncer, como expressou: [...] A não ser que cuide logo, mas mesmo
assim tenho medo. Ressaltamos que Sandra foi acometida por uma mastopatia há
três anos, e necessitou de tratamento cirúrgico.
Assim, algumas entrevistadas preocuparam-se em fazer o diagnóstico precoce,
expressado pelo [...] se cuidar, cuidar cedo para viabilizar um tratamento
satisfatório. Acho que é uma doença muito perigosa. Fico preocupada mas tenho
que se cuidar. Não tem jeito câncer, tem que cuidar cedo(Damiana); Coisa
perigosa, horrível, tem que se prevenir para não morrer, câncer mata(Beatriz).
Entendemos que as mulheres percebem o câncer de mama associados à morte
iminente se não for diagnosticado cedo, e nessa percepção algumas fazem uma
análise comparativa com outras doenças como o câncer de útero, que Andréa
considerou como mais grave que o câncer de mama; Acho que morre, mas se tratar
no início pode ficar boa. Acho que pior é o câncer de útero [...] (Andréa).
O medo do diagnóstico de câncer de mama, provocou um reagrupamento de idéias em
Amália, que procurou o serviço após a descoberta de dois caroços na mama
direita, encontrando-se assustada com medo do nódulo [...] virar uma ferida e
aumentar atingindo todo o seio; Medo, é uma doençagrave. Pode criar uma ferida
e aumentar (Amália).
As mulheres faziam comparações com outras enfermidades tidas como severas,
devido ao caráter sombrio e imprevisível do câncer deixando claro a
inevitabilidade e as dificuldades de evitá-lo(12).
Simbolicamente, as mulheres compararam sentimentos decorrentes do câncer de
mama com a idéia de ineficácia terapêutica e sua fragilidade em combatê-la,
sendo evidente a gravidade do câncer de mama como o de útero, ambos ligados a
significações sociais, sexuais, morais e espirituais, como podemos perceber na
expressão Coisa que rói o seio da gente. Ave Maria, acho que vai morrer se
tiver enraizado. É uma coisa ruim (Camila).
O câncer por se disseminar desordenadamente, provoca medo, e este está
relacionado as conseqüências do tratamento, ao sofrimento e à dor. Socorro
disse que umas mulheres têm sorte em morrer no início da doença, não sendo
submetidas ao tratamento pois, para ela, o tratamento e o câncer implicam em
dor e sofrimento, como foi expresso em sua fala. Pode dá em mim. Tenho medo com
ela (a doença) e comigo. Coisa boa não é. Umas tem sorte e morrem logo, outras
ficam sofrendo com dor [...] (Socorro).
Socorro considerou a dor como uma forma de sofrimento, sendo decorrente do
processo mórbido do câncer e indissociável da morte. O conceito de dor ligada
ao câncer é tão valorizado pelas mulheres porque, culturalmente, a pessoa com
câncer sente dor e essa hipótese sempre é associada à recorrência ou a qualquer
sinal ou sintoma identificado como câncer(12).
Outra expressão do significado foram as alterações do cotidiano que geraram
pavor em Zélia ao associar as conseqüências do tratamento considerado doloroso,
reveladas na necessidade de tomar remédio, e na perda de cabelo, que é um dos
efeitos colaterais dos quimioterápicos (alopécia), como podemos observar na
fala em destaque. Tenho pavor. Nem penso, pode morrer, perder cabelo, tomar
remédio para sempre, é doloroso(Zélia).
Na perspectiva interacionista, entendemos que as mulheres agem em relação ao
câncer de mama com base no significado existente em suas vidas. Questionamo-as
sobre o modo de agir para detectar precocemente o câncer de mama.
Procurando conhecer as ações desenvolvidas pelas mulheres para detectar
precocemente o câncer de mama, constatamos que vinte e duas mulheres disseram
realizar o auto-exame das mamas, e duas referiram a procura do serviço de saúde
para exames, duas disseram que evitavam traumatismos nas mamas comopancadas
emordidas, e uma falou da realização de exercícios físicos, como ações de
prevenção.
Observamos que somente duas mulheres citaram a procura dos serviços de saúde.
Esta ação pode está associada a preocupação com a dificuldade de acesso aos
serviços públicos, tempo de espera para consultas e realização de exames e a
ausência de recursos pessoais para acessar o serviço privado.
Quanto ao auto-exame das mama (AEM) disseram realizar, embora de forma
assistemática, e apenas quatro souberam determinar o período em que faziam o
exame, entre o 5º e 7º dia do ciclo menstrual. A maioria examina a mama durante
o banho, e recebeu orientação sobre a técnica do AEM, através de médicos,
agentes de saúde e nos serviços de saúde, sem especificar qual o profissional
que prestou a informação. Quatro disseram que aprenderam a técnica através da
televisão.
Das entrevistadas que não faziam o AEM, alegaram que: não sei fazer, nunca me
ensinaram, tenho medo de encontrar alguma coisae me ensinaram, mas esqueço, às
vezes até faço, mas só quando dói.
Destacamos que algumas mulheres relataram tocar ou não tocar suas mamas no
período perimenstrual, com o intuito de examiná-las, devido a mastalgia, sendo
este um período desfavorável, devido ao edema e a maior sensibilidade dolorosa,
impossibilitando a detecção de nódulos.
Tais resultados evidenciam a dificuldade da detecção precoce do câncer de mama,
pois apesar das diversas campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde e
veiculadas nos meios de comunicação de massa, muitas mulheres desconhecem o
objetivo, a técnica e o período de realização do AEM.
Percebemos a contribuição dessas campanhas educativas, mas reforçamos a
necessidade de medidas mais eficazes e um maior empenho por parte dos
profissionais de saúde na sistematização do auto-exame e na orientação dos
fatores de risco para o câncer de mama.
Afirma-se(10) que o benefício do AEM é bem conhecido, porém, a realização
depende de outros fatores como o reconhecimento do valor do tratamento precoce
e da capacidade que a mulher tem de detectar um nódulo em estágio inicial.
Objetivando a sistematização do AEM solicitamos que as entrevistadas
demonstrassem o AEM, e constatamos que 29, das trinta e quatro mulheres
entrevistadas executaram a técnica de forma errônea. Então demonstramos a
técnica de palpação circular, e em seguida solicitamos que as mesmas
realizassem o AEM. A maioria desenvolveu satisfatoriamente a aprendizagem, três
ficaram constrangidas e apresentaram maior dificuldade, e duas não aprenderam
sendo preciso repetir a técnica de forma mais detalhada.
Ressalta-se(13) a responsabilidade profissional da Enfermagem em desenvolver
ações de prevenção que sejam eficazes e que venham a produzir impacto na
melhoria do quadro de morbidade por câncer de mama.
Sabemos que o Ministério da Saúde(14) preconiza o controle do câncer de mama
através das estratégias de detecção precoce que consistem no auto-exame das
mamas, no exame clínico e na mamografia. Mas, diante do problema do câncer de
mama surge a necessidade de elaborarmos estratégias de prevenção dessa doença
tão associada a medo, tristeza e desconhecimento e consideramos este o primeiro
passo, que é a conscientização de que podemos melhor informar a mulher sobre o
câncer de mama e seus riscos para que a mesma conheça seu corpo e possa optar
por desenvolver ações de prevenção e detecção dos fatores de risco.
4 Considerações finais
Entendemos que o câncer de mama é uma ameaça real ou potencial na vida das
mulheres e este estudo revelou aspectos significativos dessa problemática
relacionados a compreensão do significado do câncer de mama para as mulheres e
a maneira de agir diante deste significado.
Consideramos que toda ação surge de um processo interpretativo de significados,
sobre determinada situação ou objeto, sendo oriundo da interação social, como
preconiza a perspectiva interacionista(4).
Embasadas na perspectiva interacionista os resultados representaram a
compreensão do significado do câncer, como uma ameaça a imagem corporal e ao
equilíbrio emocional das mulheres, aproximando-as da morte. Despertando
sentimentos de medo, pavor, tristeza e repúdio. Algumas interpretaram e
relacionaram experiências de outras mulheres, que de alguma forma foram
compartilhadas e associadas à dor e ao sofrimento.
Observamos que as mulheres têm pouca informação sobre o câncer de mama, mas
entendem que devem desenvolver ações para detectar nódulos precocemente. Mesmo
diante da falta de conhecimento da realidade, algumas agem evitando fatores que
consideram de risco.
Entendemos que a atual estrutura de saúde inviabiliza as ações de prevenção e
detecção precoce, preconizadas pelos órgãos governamentais e divulgadas nos
meios de comunicação, visto que, muitas mulheres procuram os serviços com
alteração mamária, detectada pela mesma, apesar de desconhecer ou conhecer
pouco os sintomas do câncer, para obter informações ou diagnosticar a doença e
são desestimuladas pela demora no atendimento, falta de profissionais
qualificados e vagas nos serviços de saúde. Não observamos a participação
efetiva da enfermeira relacionada ao desenvolvimento de ações de autocuidado,
tornando esta mulher participativa, consciente de seu potencial e valorizando
sua cidadania.
Pretendemos contribuir para o desenvolvimento da prática dos profissionais de
saúde, particularmente, o profissional enfermeiro, pois entendemos que a
reflexão das mulheres pode levar à compreensão e agir efetivamente no cuidado
para a saúde.