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BrBRCVHe0034-71672004000300023

BrBRCVHe0034-71672004000300023

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
ano2004
Issue0003
Article number00023

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Desafios na implementação do currículo por competências RELATO DE EXPERIÊNCIA

Desafios na implementação do currículo por competências

Challenges in the implementation of a curriculum by competencies

Desafíos en la implementación del currículo por competencias

Evanísia Assis Goes AraujoI; Valquíria Bezerra BarbosaII IEnfermeira. Mestre em Saúde Pública, Professora e Coordenadora do Curso Técnico em Enfermagem do CEFET-PE/Unidade de Pesqueira IIEnfermeira. Mestre em Bioquímica. Professora do Curso Técnico em Enfermagem do CEFET-PE/Unidade de Pesqueira E-maildo autor: evanisia@terra.com.br

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico regem-se por um conjunto de princípios que incluem o da sua articulação com o ensino médio, desenvolvimento de competências para a laboralidade, a flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização na organização curricular, a identidade dos perfis profissionais de conclusão, a atualização permanente dos cursos e seus currículos, e a autonomia da escola em seu projeto pedagógico(1).

Sobre o princípio da flexibilidade afirma-se que se reflete na construção dos currículos em diferentes perspectivas: na oferta de cursos, na organização de conteúdos por disciplinas, etapas ou módulos, atividades nucleadoras, projetos, metodologias e gestão dos currículos. Essa concepção de currículo implica em contrapartida, maior responsabilidade da escola na contextualização e na adequação efetiva da oferta às reais demandas das pessoas, do mercado e da sociedade(2).

Partindo-se destas definições, pretende-se analisar a experiência vivenciada pela equipe pedagógica e corpo docente do curso técnico em enfermagem de uma escola pública pernambucana, durante a implementação do currículo por competências a partir da Resolução CNE/CEB.

O curso técnico em enfermagem foi reestruturado fazendo-se a transição entre o currículo tradicional e o que preconizava a proposta curricular oficial: o currículo por competências. Essa transição também pressupunha a adoção do currículo integrado, em contraposição a compartimentação dos saberes proporcionada pelas disciplinas.

Neste processo de reestruturação, as maiores mudanças ocorridas foram as relacionadas às práticas pedagógicas e ao sistema de avaliação, que geraram resistência por parte de docentes e discentes, tornando-se desta forma um desafio à superação dos paradigmas que norteavam a educação profissional até então. Essa resistência foi entendida como etapa essencial ao movimento de construção coletiva do novo currículo escolar, uma vez que os atores envolvidos haviam vivenciado no decorrer de sua formação, num processo histórico, o currículo por disciplinas(2).

Para quer estas mudanças fossem incorporadas ao cotidiano escolar, fazia-se necessária à qualificação de todos os sujeitos envolvidos direta ou indiretamente no processo de ensino, e ainda, a adequação da organização didática da instituição, a fim de que viessem a dar suporte às novas práticas educativas.

Em realidade, não houve qualificação da equipe escolar, mas sim várias discussões que não esclareceram a contento a forma de elaboração e implementação dos projetos pedagógicos, em função da inexistência de experiências consolidadas no âmbito nacional que pudessem servir como referência.

Contudo, em meio às dificuldades, houve também muitos avanços ao se tentar trabalhar com o currículo por competências. O grupo de docentes do curso técnico em enfermagem resolveu unir suas forças em torno da construção do novo currículo, tendo sido realizadas várias reuniões assessoradas pela pedagoga da instituição.

O curso foi estruturado por módulos sem terminalidade, com base no Referencial Curricular Nacional para os Cursos Técnicos em Enfermagem, adotando-se uma concepção crítica de educação profissional e a pedagogia de projetos como metodologia central, sem restringir a possibilidade de adoção de outras abordagens metodológicas participativas, ativas e problematizadoras para o ensino dos conteúdos técnico-científicos e para o desenvolvimento das habilidades e competências profissionais que habilitarão o formando a um exercício profissional crítico e transformador(3).

Objetivando a adaptação dos alunos a esta nova realidade ao ingressarem no curso, visto que tinham sido formados até ali pelos ditames da educação bancária, ainda tão arraigada no sistema escolar, passaram a serem utilizadas no primeiro módulo do curso, as técnicas ativas de ensino. Esta metodologia permite ao aluno expressar-se, trabalhar em grupo, discutir e propor soluções, buscar ativamente o conhecimento e avaliar resultados, habilidades consideradas como básicas para o êxito nos módulos subseqüentes.

O segundo módulo passou a abordar os conteúdos relativos à promoção da saúde individual e coletiva, no nível de atenção primária, atendendo às mudanças nos paradigmas do cuidado de enfermagem advindas da transição entre os modelos curativo e preventivo de atenção à saúde, a partir da reforma sanitária, e da consolidação no Brasil do Sistema Único de Saúde.

Os terceiro e quarto módulos passaram a ter como objetivo a construção das competências necessárias à assistência de enfermagem nos níveis secundário e terciário de atenção à saúde.

Durante os três primeiros anos da implementação do novo currículo, observou-se a sobreposição e omissão de conteúdos ao se trabalhar sem as disciplinas, o que demonstrou que a organização do currículo por disciplinas, a princípio, permitia um melhor controle escolar. Houve também dificuldades quanto ao registro das atividades das avaliações por competências, uma vez que não houve a padronização dos instrumentos de registro e a organização didática da escola não havia sido reformulada. Esta reformulação ocorreu efetivamente cerca de três anos após o início da implementação do novo currículo; uma de suas propostas foi então que as competências fossem agrupadas por disciplinas e realizados projetos de trabalho interdisciplinares, visto que a equipe pedagógica e docente não havia conseguido trabalhar sem o norte da disciplina e de forma integrada.

Entre os resultados obtidos pode-se destacar o crescimento do corpo discente em termos qualitativos evidenciado pela crescente autonomia na busca e construção dos conhecimentos; pela postura crítica, reflexiva e compromisso ético. O corpo docente também cresceu assumindo um novo perfil, deixando de ser um mero transmissor do conhecimento para tornar-se orientador e coordenador do processo educativo, provocador de dúvidas, em atitude de cooperação junto aos alunos.

Trocou, portanto a posição de depositário único do conhecimento disciplinar para a de aprendiz tanto dos temas em estudo como das metodologias de abordagem dos mesmos.

O currículo ganhou autonomia à medida que pode ser atualizado sempre que novas tecnologias surgem e são incorporadas às práticas da equipe de saúde. Por outro lado, a escola tem sua autonomia limitada pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Um dos desafios do currículo por competências refere-se à certificação da formação profissional, pois o mercado de trabalho não se encontra preparado para compreender a nova linguagem adotada, isto é, conceitos avaliativos substituindo o registro numérico. Embora esta substituição traduza com mais fidedignidade os resultados da construção da aprendizagem, os profissionais responsáveis por processos seletivos tendem a supervalorizar as "notas" durante a seleção de candidatos a emprego, fato que pode dificultar a inserção do profissional egresso no mundo produtivo.

2 Considerações Finais Entendendo a mudança como um processo composto por etapas seqüenciais de avanços, mas também de retrocessos, e que toda mudança implica em reações as mais diversas que vão desde a negação à aceitação, torna-se mais fácil compreender o movimento por que tem passado a educação profissional brasileira.

É mister afirmar-se que as verdadeiras reformas sempre partem do íntimo do ser humano e adquirem daí, um ritmo próprio. Neste sentido, é imprescindível persistir na (re)construção de uma escola ideal que objetive um ensino profissional de qualidade, oferecendo aos egressos oportunidades de inserção no mercado de trabalho, que exige cada vez mais um profissional cidadão qualificado.


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