Indicadores de gênero da assistência de enfermagem às mulheres
PESQUISA
Indicadores de gênero da assistência de enfermagem às mulheres
Gender indicators of nursing care for women
Indicadores de género de la asistencia a las mujeres
Enilda Rosendo do NascimentoI;Talita Andrade OlivaII
IEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora adjunta do Departamento de
Enfermagem Comunitária (DECOM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail
do autor: enilda@ufba.br
IIAluna de Graduação em Enfermagem/ UFBA. Bolsista de Iniciação Científica
PIBIC/ UFBA.
1 Introdução
O conceito de indicadores de gênero começou a ser discutido, no Brasil, ao lado
das discussões sobre qualidade da assistência à saúde da mulher, a partir de
meados da década de noventa em meio à crescente discussão levada a termo por
organismos internacionais preocupados com a eliminação das desigualdades de
acesso aos bens e serviços de saúde por parte das mulheres e outros grupos
excluídos da sociedade global.
De um modo amplo, indicadores de gênero podem ser entendidos como instrumentos
capazes de explicitar os resultados das relações desiguais de gênero, nos
vários âmbitos da sociedade ou aspectos da vida.
A construção de indicadores de gênero teve início, então, a partir da crescente
conscientização da importância de desenvolver sistemas de informações a partir
da variável sexo, tornando explícitos os resultados das construções de gênero
nos vários contextos sociais. Isto se deu tanto no mundo das ciências sociais
como na área de formulação das políticas públicas; são, portanto, instrumentos
úteis para medir as conseqüências das políticas públicas e avaliar a evolução
da situação social das mulheres, quando comparadas com os homens ou mesmo entre
mulheres quando se articula o gênero com outras categorias como a classe e a
cor/raça/etnia, por exemplo; são apresentados, em geral, quantitativamente,
através de percentuais, proporções, índices ou taxas de ocorrência dos
fenômenos.
O caráter quantitativo de grande maioria dos indicadores de gênero existentes
os leva a expressar uma parte importante de um fenômeno sem, entretanto, de
descrevê-lo, mas sim indicar e alertar sobre em que sentido evolui(1).
Os indicadores de gênero em saúde podem estar relacionados a três níveis de
formulação: (a) ligado à estrutura social, indicando a situação social das
mulheres (e dos homens, se for o caso), e servindo para comparar graus de
desigualdades de gênero entre espaços históricos determinados; (b) ligados à
implementação das políticas públicas, medindo as características do acesso das
mulheres aos serviços assistenciais; (c) e, relacionados à assistência ou ao
cuidado(2), sendo este último aspecto, o foco central deste estudo.
Os indicadores de gênero da assistência ou do cuidado estão constituindo os
instrumentos capazes de medir a contribuição das ações de enfermagem na
eliminação das desigualdades de acesso das mulheres aos serviços de saúde,
entendendo acesso como um atributo do serviço assistencial de saúde que o torna
universal, integral e equânime. Os indicadores de gênero devem ser capazes,
também, de indicar o modo e as condições nas quais a assistência é prestada,
tendo, portanto, um caráter qualitativo ou quantitativo, a depender da
abordagem utilizada na sua construção.
Para a construção dos indicadores referidos neste estudo utilizou-se uma
abordagem qualitativa, tomando o gênero como categoria de análise. Nesta
perspectiva, gênero é entendido como uma construção social baseada nas
diferenças percebidas entre os sexos e como forma de significar as relações de
poder. Utilizar gênero como categoria de análise, significa analisar os fatos
sociais colocando a opressão/ subordinação de gênero como o centro da indagação
histórica(3). Partiu-se, portanto, do princípio de que em nossa sociedade
existem desigualdades na distribuição/acesso aos bens materiais ou simbólicos,
que as relações de classe, cor/raça/etnia e, principalmente, as relações de
gênero estruturam a organização social, de modo que os grupos/ pessoas que
reúnem características percebidas como mais relevantes ocupam os espaços
privilegiados, onde se inclui o acesso aos bens materiais ou simbólicos
considerados mais relevantes e que em nossa sociedade atual os grupos
representados pelas mulheres pobres e negras apresentam maiores dificuldades de
acesso aos referidos bens sociais, quando comparadas aos homens, sendo
necessário, portanto, desenvolver ações, em todos os âmbitos da sociedade,
pautadas em processos de autonomia/ autodeterminação dos grupos ou pessoas
subjugadas, contribuindo para diminuir as desigualdades sociais. Neste sentido,
os indicadores da assistência de enfermagem são construídos a partir dos
seguintes conceitos: dignificação, autonomia e participação.
A dignificação da assistência de enfermagem corresponde ao provimento e
utilização de condições necessárias ao desenvolvimento do amor-próprio,
respeito a si mesma (o) e aos outros e, elevação da auto-estima da clientela; a
autonomia é considerada como um processo que se estabelece nas interações das
mulheres com os serviços assistenciais de saúde e consigo mesmas, capazes de
atuar na modificação das relações de poder, nas situações de atendimento; e, a
participação tem relação com os meios através dos quais as mulheres podem atuar
criativamente na assistência de enfermagem, co-gerindo seus interesses nesse
atendimento(4,5).
O presente estudo tem como objeto, portanto, a construção de indicadores de
gênero da assistência pré-natal de enfermagem, e como objetivo geral: construir
indicadores de gênero para a assistência de enfermagem às mulheres no pré-
natal. Para atender o objetivo geral, estabeleceu-se os seguintes objetivos
específicos: analisar as concepções de mulheres sobre a assistência pré-natal
de enfermagem em uma unidade de saúde de Salvador, Bahia, e identificar as
ações de enfermagem que atuam no desenvolvimento de processos de dignificação,
autonomia e participação das mulheres em relação a esse atendimento; e, a
partir dos objetivos anteriores.
2 Metodologia
O estudo foi desenvolvido em uma unidade assistencial de saúde de Salvador,
Bahia, localizada em uma área caracterizada como de baixo capital econômico e
cultural, significa que habita no local uma população onde se observa maior
proporção de chefes de família que recebem até dois salários mínimos por mês, e
a escolaridade não ultrapassa sete anos de estudos.
Participaram, como informantes da pesquisa, quatorze mulheres usuárias de um
serviço público de assistência pré-natal prestada por enfermeiras que
obedeceram aos seguintes critérios: aceitar participar do estudo e já ter sido
atendida por uma enfermeira em gravidez (es) anterior (es) ou durante a
gravidez atual.
A maioria das entrevistadas residia na área de abrangência da unidade de saúde
do estudo, tinha grau de escolaridade correspondente ao primeiro grau
incompleto, vivia em união estável, não possuía renda própria, e estava
exercendo as seguintes atividades no momento da entrevista: empregadas
domésticas, manicures, vendedoras informais, vendedoras de acarajé, donas de
casa, e sem ocupação. As mulheres que declararam não ter ocupação são as mais
jovens ou estudantes, e residem com os pais ou vivem com o namorado e sua
família.
A coleta de dados foi realizada em março de 2001, e incluiu: as entrevistas e a
análise de documentos referentes ao local de estudo. Os dados originaram-se de
fontes orais e escritas. Os relatos orais foram captados através de entrevista
temática, semi-estruturada, com perguntas abertas, iniciadas por dados de
identificação; foram gravados em fitas magnéticas e apoiados em um roteiro com
os seguintes tópicos: identificação, processo de socialização/ educação,
experiência com o atendimento em saúde, concepções sobre assistência pré-natal
de enfermagem.
O sigilo das informações prestadas pelas mulheres foi assegurado através da
identificação das falas por pseudônimos. Para isto, foram obedecidos os
critérios éticos e legais presente nas Normas para Pesquisa envolvendo seres
humanos - Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sendo garantido o
anonimato dos entrevistados após os mesmos optarem por participar desta
pesquisa através da assinatura de um termo de consentimento.
As fontes escritas foram representadas por documentos, decretos e relatórios
relativos à organização e atendimento na unidade de saúde onde se desenvolveu a
pesquisa.
O tratamento dos dados foi processado em cinco etapas principais: a) reprodução
escrita das gravações das entrevistas, envolvendo a digitação de todo o
conteúdo das fitas magnéticas; b) leitura minuciosa de todo o material
transcrito; d) destaque das idéias centrais trazidas pelas entrevistadas; e)
identificação dos elementos que compõem as categorias de análise: dignificação,
autonomia e participação.
3 Apresentação e discussão dos dados
3.1 Indicadores de gênero da assistência de enfermagem
A partir dos conceitos de dignificação, autonomia e participação foram
construídos dois grupos de indicadores de gênero, denominados Indicadores
Práticos e Indicadores Estratégicos de Gênero da assistência de enfermagem,
classificação utilizada(2) no estudo intitulado "A assistência de enfermagem na
perspectiva de gênero: concepções de mulheres em um centro de saúde - Salvador,
Bahia". No presente estudo introduzimos uma subclassificação ao apontar para
critérios de medida desses indicadores. Deste modo, os indicadores práticos e
estratégicos de gênero podem ser positivos ou negativos, conforme atendam ou
não as necessidades ou interesses das mulheres. Essa classificação é útil, na
medida em que poderá facilitar processos de avaliação da assistência de
enfermagem, permitindo comparações e acompanhamento de determinadas situações
de atendimento.
3.2 Indicadores práticos de gênero da assistência pré-natal de enfermagem
Os Indicadores Práticos de Gênero da Enfermagem representam as variáveis que
estimam em que medida as ações de enfermagem contribuem para o atendimento das
necessidades de saúde das mulheres, e para o modo como as práticas de saúde
estão organizadas de forma a atuar na qualidade da assistência, incluindo a sua
estrutura física e administrativa, bem como na elevação da auto-estima das
mulheres e do respeito mútuo nas relações de atendimento.
Essas ações foram denominadas neste estudo, de ações dignificantes da
enfermagem e foram extraídas dos depoimentos das mulheres sobre a assistência
pré-natal de enfermagem a elas prestada na unidade de saúde do estudo. Em
alguns casos, as ações foram identificadas diretamente nos depoimentos, em
outros, essas ações foram identificadas teoricamente, a partir do que se espera
de uma assistência de qualidade.
As ações dignificantes da enfermagem foram representadas, neste estudo, pela
prontidão na realização e resultados de exames laboratoriais, facilidade na
marcação de consultas subsequentes, máximo tempo de espera para ser atendida ou
marcar consulta e ausência de longas filas de espera. Os trechos dos
depoimentos abaixo são indicativos da necessidade de orientar a assistência de
modo a atender as necessidades práticas das mulheres.
Meus exames eu faço em vários lugares. Quando tem eu faço aqui sabe?.... Aqui
nem todos têm, olhe só porque o preventivo, quando você está grávida, faz
porque quer saber logo o resultado, eles aqui passam pra fazer em outro lugar.
Eu tive que fazer em outro lugar porque demorava um mês pra receber e eu queria
saber o resultado logo. Aqui tinha o preventivo só que demorava um mês, dois
pra receber o resultado no outro era mais rápido(Renata).
Tem um monte de lugar que tava tudo fechado por isso, eu vou no ICS e no Lacen.
Eu preferia que fosse aqui, porque a gente sai cedinho, tem vezes que a gente
sai 4:00h da manhã, tudo escuro, 5:00h, e quando chega lá a gente pega um
número 200, 150 e fica ali na fila, sente mal e tudo porque é muita gente no
LACEN e no ICS (Neusa).
Como componente importante da assistência de enfermagem de qualidade, as
mulheres fizeram referência ao modo como é desenvolvida a consulta de
enfermagem, indicando seu conteúdo, como demonstram os relatos abaixo:
Perguntou meu nome, aí ela mandou eu deitar, mediu meu peso, a barriga, me deu
conselho pra depois desse filho que era pra eu me prevenir. Disse que estava
sentindo uma dor no pé da barriga e dor na coluna, aí ela passou só um remédio
pra mim, e me explicou porque eu tava sentindo dor(Carmem).
Eu gostei ela observa gente, ela examina agente direitinho, tira a pressão,
é... ela tirou o peso também da gente, mediu altura. Porque geralmente quando a
gente vem pro posto de saúde e os médicos, geralmente, metade nem pressão da
gente não tira(Conceição).
A partir da identificação destas ações promotoras de dignificação, foram
construídos os seguintes indicadores práticos de gênero da enfermagem:
a) Dirigir-se à cliente pelo seu nome, tornando o atendimento mais
individualizado possível, para construção de vínculo.
b) Período de tempo para obtenção dos resultados dos exames
Este indicador é positivo se os resultados forem emitidos em até quinze após a
sua realização.
c) Acesso facilitado aos locais para realização de exames complementares
Este indicador é positivo se a unidade dispor de laboratório devidamente
equipado para realizar exames de rotina ou se houver um laboratório nas
proximidades da unidade de saúde onde o pré-natal está sendo desenvolvido.
d) Tratamento diferenciado às mulheres gestantes no que diz respeito ao sistema
de marcação de consultas.
Esse indicador está relacionado e é positivo se:
- Existem filas organizadas para marcação de consultas: fila exclusiva para
gestantes, onde elas possam esperar com um mínimo de conforto possível
(sentadas em bancos ou em cadeiras confortáveis);
- Houver atendimento de toda a demanda;
- Oferecimento de atendimento pré-natal de enfermagem com hora marcada;
- Remarcação de consultas na própria sala de atendimento.
e) Período de tempo entre a marcação de uma consulta pré-natal e a sua
realização.
Este indicador é positivo se a consulta se efetivar no mesmo dia em que for
marcada, ou se a consulta for agendada de acordo com as necessidades ou
preferência da mulher.
f) Tempo máximo da gestante na sala de espera.
Um indicador positivo está relacionado a um máximo de uma hora de espera.
g) Competência técnica da enfermeira.
Este indicador é positivo se a consulta de enfermagem inclui, pelo menos,
segundo às mulheres do estudo: verificação da pressão arterial e do peso, exame
físico completo, medida da altura uterina, aconselhamento nutricional, ausculta
dos batimentos cardíacos fetais, avaliação dos resultados dos exames,
prescrição de vitaminas e outros medicamentos. Estas ações de enfermagem no
pré-natal, fazem parte do exame físico geral e gineco-obstétrico e devem ser
realizados desde a primeira consulta(6).
3.3 Indicadores estratégicos de gênero da assistência pré-natal de enfermagem
Os Indicadores Estratégicos de Gênero da Assistência de Enfermagem englobam as
variáveis que verificam em que medida as ações de enfermagem incluem a promoção
dos processos de autonomia e participação das gestantes na assistência em
saúde.
As ações de enfermagem que atuam na promoção da autonomia das mulheres em
relação ao pré-natal, são aquelas consideradas capazes de atuar na modificação
das relações de poder nas situações de atendimento e no acesso às informações
sobre o estado de saúde das próprias mulheres e sobre os modos de prevenir ou
tratar desconfortos da gravidez.
Pra mim, o que eu vi também, o que elas fizeram comigo pra mim foi tudo certo,
normal. Ela examinou agente direitinho, o que a maioria nem faz isso só faz só
pegar os exames. Ela aconselhou agente sobre alimentação, perguntou se eu tinha
alguma coisa pra dizer, orientou e me perguntou também se eu tinha mais alguma
coisa pra dizer. Eu acho que tá bom (Conceição).
Aí eu marquei em outro lugar e a moça me explicou, passou remédio pra mim, me
explicou que eu estava com uma bactéria, que era pegado ou do meu marido, aí
ela passou um remédio pra mim e pro meu marido, quer dizer já gostei mais do
atendimento dela, ... ela explica tudo direitinho até as manchas da barriga que
eu tive na minha primeira gravidez e foi verdade quando eu tive minha filha
sumiu tudo. Ela justifica assim porque é, eu gostei do atendimento dela
(Renata).
Todas as minhas dúvidas são esclarecidas, discuti comigo as minhas experiências
com as gravidezes anteriores, é aberta às dúvidas, esclarecimentos... (Eliete).
A autonomia ainda pode ser promovida por ações de enfermagem relacionadas ao
ensino do cuidado do recém nascido e à amamentação, de modo que as mulheres
possam desenvolver o auto-cuidado, como pôde ser depreendido do seguinte
relato:
Eu acho que devia explicar até como vai cuidar do bebê, né? Tudo sobre a
gestação, após o parto, como deve cuidar, a amamentação. Sobre a amamentação eu
sei que é importante amamentar o meu bebê, mas deveria explicar mais sobre o
bebê, como o obstetra, os cuidados como é que vai ser, cuidado com o umbigo
(Paula).
A participação das mulheres em relação ao atendimento pré-natal apresentou-se
neste estudo como: possibilidade de discussão e escolha de condutas
terapêuticas de cuidado que permitam lidar com instrumentos utilizados na
consulta como o sonar para ausculta dos batimentos cardíacos fetais e a
utilização de uma balança digital.
É interessante relatar que nas falas das entrevistadas surgiram algumas
características que as enfermeiras devem possuir, que podem ser entendidas como
estratégias de relacionamento interpessoal que levam à participação das
mulheres nas consultas pré-natais, como demonstrar alegria, mostrar-se
disponível, ser atenciosa e explicar o significado dos achados do exame físico,
como foi possível observar no relato a seguir:
A pessoa tem que ser assim: ser aberta, ser alegre, também porque se você vê a
pessoa assim triste você fica até com receio de contar o que tem, algum
problema, alguma coisa. Eu nunca tive caso assim não, mas eu falo porque tem
gente que fica com vergonha quando a pessoa não é aberta, fica com a cara
fechada. Aí a gente fica com medo de falar, com receio, acho que a pessoa deve
ser assim mais alegre para atender o paciente, ser atenciosa, explicar como ali
é pegado, como é, como deve fazer (Renata).
A partir da identificação das ações promotoras de autonomia e participação,
foram elaborados os seguintes indicadores estratégicos de gênero da assistência
de enfermagem:
a) Desenvolvimento de relações interpessoais livres de coerção. Este indicador
é positivo se:
- O atendimento é realizado com base em relacionamentos interpessoais pautados
no respeito, cordialidade, sinceridade e amizade;
- A enfermeira demonstra interesse, alegria, compromisso pelo trabalho e é
atenciosa.
b) Acesso às informações. Este indicador é positivo se na consulta pré-natal a
enfermeira:
- Fornece explicações das alterações do organismo provocadas pela gestação;
- Esclarece as dúvidas e informa sobre os achados dos exames físico e
laboratoriais;
- Promove o ensino do auto-cuidado e do cuidado ao recém-nascido;
- Desenvolve atividades educativas individuais na própria sala de atendimento;
- Desenvolve atividades educativas em grupo nos horários compatíveis com as
consultas de enfermagem;
- A clientela conhece os procedimentos necessários para uma consulta de
qualidade.
c) Participação das gestantes no atendimento. Esse indicador é positivo se:
- São utilizados equipamentos, instrumentos que permitam a participação ativa
das mulheres na hora do atendimento: sonar, balança digital;
- A fala das mulheres é estimulada através de perguntas para enfocar a
assistência baseando-se nas respostas;
- Condutas diagnósticas e terapêuticas são discutidas com as próprias mulheres
e suas opiniões são respeitadas, na maioria das vezes;
- São utilizadas técnicas de trabalho em grupo que permitam a participação
ativa das mulheres nas discussões e troca de experiências no grupo.
4 Considerações finais
A prática de enfermagem, em centros de saúde, distingue-se da enfermagem
hospitalar, em muitos aspectos. É mediada mais pela fala e pelas relações
interpessoais do que pela alta tecnologia de equipamento; exige maior tempo de
interação porque nesse nível da assistência, os serviços de saúde podem
exercer, também uma função de ordem política; permite um conhecimento mais
aprofundado das reais condições de existência da clientela, pois atende,
prioritariamente, as pessoas que residem nas proximidades da unidade de saúde.
Os indicadores práticos e estratégicos da assistência de enfermagem são
construídos, neste estudo, como instrumentos que cumprem a finalidade de
orientar a organização da assistência ou do cuidado de modo a elevar sua
qualidade, além de representarem novos instrumentos de avaliação da
assistência. A construção desses indicadores deve partir, sempre, do ponto de
vista das mulheres, de modo a contribuir para uma nova versão da história
social, que tem excluído a maior parte de suas "atoras" da produção do
conhecimento. Sendo histórico, os indicadores de gênero da assistência de
enfermagem são construídos a partir das demandas de mulheres inseridas em
contextos específicos, e dependem do lugar que as mulheres ocupam como grupo
social. Há que se considerar, portanto, as determinações de classe, gênero,
raça/cor, geração e outros, para o levantamento das necessidades e interesses
das mulheres.
Finalmente, a distinção entre Indicadores Práticos e Indicadores Estratégicos
de Gênero da Enfermagem funciona mais como uma estratégia de demarcação de
limites entre uma assistência puramente humanizada, que não leva à crítica, e
outra que, além disto, contribua para as transformações sociais, a partir da
promoção de valores de emancipação ou autodeterminação que carregam em si todo
o potencial político da mudança.