Gerenciamento de Enfermagem e administração das organizações do Terceiro Setor
PESQUISA
1. INTRODUÇÃO
Nunca houve época em que a mudança não representasse um desafio para os que se
desenvolvem no trabalho gerencial e organizacional(1). O ritmo das mudanças
modificam-se de acordo com a época e a sociedade, e atualmente as organizações
do terceiro setor, as vem vivenciando .
O primeiro setor é o Estado e o segundo, a iniciativa privada. O crescimento
das organizações não-governamentais, sem fins lucrativos é grande, uma vez que
o Estado não consegue prover todos os serviços sociais, uma vez que o número de
pessoas que precisam de ajuda também cresce de forma constante.
Todavia, há uma série de organizações que não podem ser classificadas como
pertencentes ao Estado nem ao mercado. Estas novas organizações fazem parte de
um Terceiro Setor não-lucrativo e não-governamental, que depende de doações de
pessoas, empresas ou de ajuda do governo para poder existir.
Atualmente o terceiro setor está se tornando cada vez mais importante para
manter os diferentes interesses da sociedade dentro de uma só coesão. Vem
despontando como uma área de reconhecida eficácia nos processos de gestão,
principalmente no uso dos recursos. Assim, busca cada vez mais o aprimoramento
de seus serviços através da qualificação de seus recursos humanos, fazendo com
que as pessoas envolvidas neste setor procurem aperfeiçoar-se para tangibilizar
o conhecimento. Desta forma, as inovações em gestão orientada para os
resultados, torna-se relevante para o desenvolvimento de competências
gerenciais, visando o conhecimento, habilidades e atitudes no desempenho do
gerenciamento destas organizações.
Na área da prestação de serviços, notadamente na de saúde, estas organizações
tem se destacado e competido no mercado, com qualidade. O enfermeiro como um
trabalhador desta área, deve pois, estar preparado para responder a essas
demandas, pois tem um papel importante neste contexto.E para tanto, necessitam
desenvolverem-se como gestores voltados à busca de resultados, trabalhando em
equipe e fortaleçendo o trabalho multiprofissional(2).
Este estudo objetivou traçar uma revisão da literatura sobre o gerenciamento
das organizações do terceiro setor, refletindo sua interface com a Enfermagem.
2. METODOLOGIA
Tratou-se de revisão da literatura realizada sobre gerenciamento de enfermagem
e administração do terceiro setor, realizada nas base de dados MEDLINE
(Literatura Internacional em Ciências da Saúde) e LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), e materias de Bibliotecas de
Universidades (Estadual de Londrina-UEL, Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo PUC, e Norte do Paraná UNOPAR). Utilizaram-se como descritores
Enfermagem, administração não governamental, gerenciamento e administração em
Enfermagem, administração do Terceiro Setor. O período de levantamento foi de
1993 a agosto de 2005 (12 anos). Foram localizados 388 referências que após
seleção para este estudo, reduziram-se a 321. Os textos foram separados por
categorias e analisados conjuntamente. Os resultados permitiram apresentar os
comentários em três grandes enfoques a seguir: Atualidades e Tendências , O
Terceiro Setor no Brasil, O Gerenciamento em Enfermagem
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Administração do Terceiro Setor - Atualidades e Tendências
Terceiro setor entende-se a sociedade civil que se organiza e busca soluções
próprias para suas necessidades e problemas, fora da lógica do Estado e do
mercado. A expressão terceiro setor é, assim, utilizada em contraposição à
idéia de que o primeiro setor é constituído pelo Estado, e de que o segundo
setor é formado pelas empresas privadas(3).
Entre todas as expressões em uso, é o termo que vem encontrando maior aceitação
para designar o conjunto de iniciativas provenientes da sociedade, voltadas à
produção de bens públicos, como por exemplo, a conscientização para os direitos
da cidadania. Apesar de ser uma tendência a prevalecer, no Brasil a expressão
divide o palco com uma dezena de outros: não-governamental, sociedade civil,
sem fins lucrativos, filantrópicas, sociais, solidárias, independentes,
caridosas, de base, associativas, Ongs, fundações(4).
Estas caracterizam-se por serem organizadas, ter algum grau de lucro; serem
privadas, institucionalmente separadas do governo; não fazer distribuição de
lucros, serem autogovernáveis;terem algum grau de participação voluntária,
mesmo que apenas no conselho diretor.
O progresso tecnológico, a comunicação e a informação fazem com que a
necessidade de mão-de-obra pelas empresas tenda a diminuir. Paralelo a essa
situação, constata-se que os governos têm-se tornado mais fracos e
incompetentes, sendo que a contratação de mão-de-obra está ficando cada vez
menor, ou seja, eles estão deixando de ter a função de contratantes de última
instância. Com isto, a diminuição da jornada de trabalho liberaria, mais horas
de lazer e, o trabalho no Terceiro Setor seria uma opção interessante, pois
rompe com a lógica utilitarista e insaciável do apego ao dinheiro e às suas
possibilidades de consumir cada vez mais. A economia de mercado, medida em
termos de Renda e Produto, estaria sendo substituída por uma economia social,
que considera ganhos econômicos indiretos e grau de solidariedade em uma região
(5).
A sociedade estaria entrando numa era pós-capitalista ou pós-mercado, na qual o
fator de produção mais importante passa a ser o conhecimento, no lugar da mão-
de-obra, da terra e do capital.
O Terceiro Setor é uma alternativa para refazer a integração social nesse
sentido, historicamente, a comunidade era obra do destino. Na sociedade pós-
capitalista, a comunidade precisa se tornar um compromisso(6,7).
Levantamento feito por pesquisador e uma análise de dados econômicos como a
capacidade do setor de gerar empregos e de movimentar renda e comparações entre
vários países, possibilitou definir o setor não-lucrativo como sendo formado
por organizações estruturadas, privadas, que não distribuem os seus lucros para
os seus diretores ou acionistas, que são autogovernadas, que envolvem
indivíduos voluntários, que são não-religiosas e não-políticas e que atendem o
público.
Entende-se que o Terceiro Setor, ou setor não-lucrativo, pode receber outros
nomes, como setor da caridade, setor independente, setor voluntário, entre
outros, mas deve diversificar suas origens de recursos para que não tenha que
depender tanto do governo para funcionar, passando a ser um parceiro deste na
provisão de serviços sociais(8).
O Estado forte, patrimonialista e autoritário numa sociedade como a brasileira
contribuiria para a disseminação de organizações informais, devido às
dificuldades colocadas pelo Estado (obtenção de benefícios, autorizações,
regulamentos, subvenções, etc). Essas dificuldades estimulariam a informalidade
fazendo com que as organizações informais, ou seja, abaixo da linha d'água,
provessem serviços sociais para a população sem possuir autorização formal do
Estado(8,9).
Estas organizações do Terceiro Setor, à medida que crescem em escala e
complexidade, ficam vulneráveis a todas as limitações que afligem outras
instituições burocráticas: indiferença, criação de obstáculos, rotinização e
falta de coordenação. Isso mostra que, à medida que as organizações do Terceiro
Setor vão crescendo, na área saúde e social, surge a necessidade de uma pessoa
para organizar as suas atividades a fim de que não se perca o controle e que o
crescimento não cesse. Essa pessoa tem o perfil de um gerente, de um
administrador, como o enfermeiro. Uma vez que o talento dos enfermeiros
desempenha um papel imediato na criação de valor para o cliente, tornando
irrefutável que a organização dependa cada vez mais da lealdade de seus
colaboradores(10).
As tendências modernas das organizações do terceiro setor do Brasil têm
percebido que o impacto social gerado pelos seus trabalhos pode ser
potencializado se suas ações forem articuladas em redes de maior abrangência
técnica ou geográfica.
As instituições do terceiro setor têm procurado desenvolver ações conjuntas,
operando nos níveis local, regional, nacional e internacional, contribuindo
para uma sociedade mais justa e democrática(11).
Sabe-se que tem havido um crescimento representativo no mundo no que se refere
a atividades voluntárias organizadas e na criação de organizações privadas sem
fins lucrativos ou não-governamentais (Ongs). Dos países desenvolvidos da
América do Norte, da Europa e da Ásia até as sociedades em desenvolvimento na
África, na América Latina e no antigo bloco soviético, surgem associações,
fundações e instituições para prestar serviços sociais, promover o
desenvolvimento econômico local, impedir a degradação ambiental, defender os
direitos civis e procurar realizar inúmeros outros objetivos da sociedade ainda
não atendidos ou deixados sob a responsabilidade do Estado(12).
Nos últimos 15 anos assistiu-se ao incremento quantitativo do universo das
entidades sem fins lucrativos no país. Esse crescimento tornou ainda mais
complexa a questão de como definir e caracterizar essas organizações. A
necessidade de as organizações do terceiro setor superarem suas deficiências de
gestão, a pressão para buscarem sua auto-sustentação financeira, a escassez de
fontes de apoio técnico(13).
As tendências modernas são a profissionalização do terceiro setor, que tem um
enorme significado para todos que lideram processos de mudança em nosso país. É
importante, pois deixar claro que os dirigentes de Organizações Não-
Governamentais devem ter duas funções primordiais para a sustentabilidade de
suas organizações: exercer o seu papel de liderança e ser gestor competente
(14). A caracterização de um profissional é dada por um corpo de conhecimentos
específicos que a instrumentaliza de modo a permitir desempenho com
independência, competência e responsabilidade(15).
3.2 O Terceiro Setor no Brasil
Pode-se afirmar que a sociedade civil brasileira é um ente ainda em formação. O
brasileiro médio não consegue enxergar as políticas sociais como um direito
seu, mas sim como uma dádiva das elites; ele não consegue perceber que tem o
direito e a potencialidade de se fazer valer enquanto ator do jogo social. Mas,
por que isto ocorre? Porque essa sociedade civil enfraquecida trouxe reflexos
no próprio papel desempenhado pelo Terceiro Setor na história brasileira. Na
maioria das vezes, a face do Terceiro Setor que mais se mostrava atuante era
justamente aquela ligada às estruturas assistencialistas e de ajuda mútua, ou
seja, a caridade. Além disto, a ação dos segmentos do Terceiro Setor esteve
quase sempre condicionada às conveniências do Estado(9).
Esgotados os limites, com uma demanda social enorme e vivendo a chamada crise
da ruptura de paradigmas, os movimentos sociais e as Organizações Não-
Governamentais passam a abrir o diálogo e estabelecer parcerias com o governo,
com os empresários e até mesmo com as tradicionais associações de ajuda mútua e
assistência. Surgiram então iniciativas integradas como a Campanha da Ação da
Cidadania contra a Fome e pela Vida. Muitas outras interações têm sido
estabelecidas.
3.3 Gerenciamento de enfermagem na área de saúde e seus desafios
Não foram localizados artigos que abordassem especificamente a gestão de
enfermagem neste setor. Assim, analisou-se o contexto dos serviços de saúde e
as organizações do terceiro setor. Estas estão crescendo e surge a necessidade
de pessoas preparadas para organizar as suas atividades a fim de que não se
perca o controle e que o crescimento não cesse. Necessita-se repensar o enfoque
estratégico e as práticas do planejamento das ações nestas organizações
construindo as competências de enfermagem(16).
Os enfermeiros precisam ter habilidades específicas e responsabilidades que não
são usuais. É freqüentemente dito que os gestores de enfermagem no Terceiro
Setor devem possuir um contato real com a missão da organização, devem ter
feeling político. O gestor, concebido como trabalhador com o conhecimento, a
habilidade e a atitude, aplica e cria as condições para resolver problemas
específicos das organizações. Há um virtual consenso entre estudiosos e pessoas
envolvidas no cotidiano de organizações sem fins lucrativos de que, no Brasil,
a deficiência no gerenciamento destas organizações é um dos maiores problemas
do setor, e que o aperfeiçoamento da gestão, através da aprendizagem e da
aplicação de técnicas oriundas das lideranças, é um caminho necessário para o
atingir melhores resultados. O problema fundamental do terceiro setor, nesta
visão, é um problema de gerenciamento(11).
É possível concluir que o Terceiro Setor ainda tem muito para crescer, em
tamanho, em conhecimento, em profissionalização, em número de funcionários
contratados e principalmente em número de pessoas atendidas, em número de
projetos executados com sucesso e também no aumento da qualidade de vida da
população. Logo, cada vez mais profissionais, dentre eles enfermeiros serão
contratados por essas organizações de saúde, educação, e assistência social,
atuando na assistência, na educação, como gestores, gerentes, auditores,
consultores, e conseqüentemente o Terceiro Setor será um campo que constituirá
uma ótima oportunidade de carreira para esses profissionais.
O fato de vivermos na era da globalização exige dos profissionais uma postura
que seja compatível com as mudanças e necessidades deste novo tempo, o que nos
sugere que a gestão do enfermeiro deva contemplar as competências que o
instrumentalize para uma ação também globalizada, principalmente quando se
trata do trabalho em equipes e na coordenação destas organizações.
Neste sentido, é esperado que o enfermeiro seja capaz de desempenhar um papel
de gerenciador do trabalho, dentro de uma perspectiva participativa, onde o
objetivo é atingido pelo esforço de todos e não mais pela a união de esforços
individuais(2).
4. CONCLUSÕES
Através de uma revisão foram analisados os artigos de periódicos que abordavam
a gestão nas organizações do Terceiro Setor e suas interfaces com a área de
saúde. Nesta ótica procurou-se, na falta de referencial específico, analisar a
gestão em enfermagem nestes setores e a necessidade dos enfermeiros dos
enfermeiros gestores se prepararem para fazerem frente às novas demandas desta
gestão, cada vez mais crescntes no país.
Sabe-se que a economia de mercado, medida em termos de Renda e Produto, cada
vez mais está sendo substituída por uma economia social, que considera ganhos
econômicos indiretos e grau de solidariedade em uma região. Nestes aspectos, o
Terceiro Setor é importante pois serve de força aglutinante e elo social para
manter os diferentes interesses de uma sociedade dentro de uma identidade
social coerente, unida e justa.
Nos aspectos do gerenciamento de enfermagem, as pessoas envolvidas no Terceiro
Setor buscam profissionalização para que possam gerir os talentos humanos das
organizações, uma vez que se constatou, ser necessário tangibilizar o
conhecimento das pessoas de forma sistematizada e orientada para os resultados
que se almeja obter. Os gestores de enfermagem das organizações sem fins
lucrativos precisam ter habilidades específicas e responsabilidades que não são
usuais pois além de ter contato real com a missão da organização, são eles que
aplicam e criam conhecimento para resolver os problemas surgidos.
Não resta dúvida que o terceiro setor, cada vez mais está sendo valorizado como
forma de promoção social nos três seguimentos: saúde, educação e assistência
social, reunindo indivíduos e instituições, de forma participativa, em torno de
causas afins. Mas, a administração deste setor é tão complexa, pois ao mesmo
tempo em que é uma organização não-lucrativa, depende de verbas para subsistir
e realizar seus projetos, assim como também depende de pessoas de boa vontade
para atuar na busca de resultados sociais. E estas ações envolvem não só
conhecimentos administrativos, mas também a utilização da tecnologia e dos
conceitos do mundo globalizado, para que se possa chegar às metas propostas.
Um dos grandes apoios na administração moderna do Terceiro Setor é a sua
formalização, divulgação e educação em rede, e as tendências da informatização
conseguem chegar rapidamente ao maior número de pessoas possíveis, expandindo
idéias, dividindo responsabilidades e principalmente pulverizando a
responsabilidade social entre cada cidadão.