O Projeto Político Profissional da Enfermagem Brasileira e as presidentes da
ABEn-Paraná entre 1980 e 2001
HISTÓRIA DA ENFERMAGEM
O Projeto Político Profissional da Enfermagem Brasileira e as presidentes da
ABEn-Paraná entre 1980 e 2001
The Brazilian Nursing Political Professional Project and the ABEn-Paraná
presidents between 1980 and 2001
El Proyecto Politico Profesional de la Enfermería Brasilera y las presidentes
de la ABEn-Paraná entre el 1980 y el 2001
Simone Aparecida PeruzzoI;Gelson Luiz de AlbuquerqueII; Ana Maria DyniewiczIII
IEnfermeira lotada no Departamento de Enfermagem da UFPR, Curitiba, PR. Mestre
em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Presidente da ABEn-
PR; Presidente do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba; Coordenadora Adjunta
do Curso de Enfermagem da UniBrasil
IIEnfermeiro; Doutor em Filosofia da Enfermagem; Professor do Departamento de
Enfermagem e Programa de Pós graduação em Enfermagem da UFSC, Florianóplois,
SC. gelsonalbuquerque@yahoo.com.br
IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem
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1. INTRODUÇÃO
O eixo nuclear de ação da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) é a
consolidação da Enfermagem como prática social, essencial na promoção, na
organização e no funcionamento dos serviços destinados à prestação da
assistência aos agravos sofridos por pessoas e coletividades. Com este
compromisso ético, político e técnico propõe-se a defender políticas públicas e
programas que visem à melhoria da qualidade de vida da população brasileira,
bem como um maior grau de resolutividade de problemas e que garantam o acesso
universal e equânime aos bens e serviços promotores de saúde(1).
O Projeto Político-Profissional da Enfermagem Brasileira (PPPEB), iniciado nos
anos 80 é apontado como o principal objetivo de trabalho da gestão 2001-2004 da
ABEn Nacional. É fruto do trabalho associativo e resultado da construção de um
conhecimento coletivo, mediante diretrizes contemporâneas para a classe, no
entanto sua divulgação ocorre mais recentemente entre os associados que
vivenciam a ABEn, aqui chamados de "abenistas."
Materializado por ocasião do 51º CBEn, realizado em Florianópolis, o PPPEB é um
processo que, além de clarificar, nortear e demarcar a posição da Enfermagem
nas áreas de Assistência e Educação, busca co-reponsabilizar e integrar o
profissional da Enfermagem às demandas sociais da sociedade em que está
inserido. Além de uma diretriz, o projeto é a busca da Associação na
capacitação política da Enfermagem brasileira, seguida da tomada de decisão
responsável.
Entretanto há diversos fatores que têm dificultado a sua execução, tais como: a
pouca participação dos associados inclusive dos membros da diretoria nas
instâncias decisórias da entidade, número de associados diminuto, fator gerador
de uma permanente instabilidade financeira, uma representação restrita, dentre
outros. Conhecendo e convivendo com esta realidade, houve o interesse em
estudar o PPPEB, historiciando sua trajetória no Paraná, para melhor atuar na
Associação e contribuir para sua consolidação.
Aliado a isto, a proximidade do cinqüentenário da ABEn PR e os 80 anos da ABEn
Nacional em 2006, serviram de estímulo para a realização desta pesquisa, bem
como melhorar nossa atuação na Associação.
Diante do exposto este estudo centra-se em historicizar a construção do PPPEB
na Associação Brasileira de Enfermagem Seção Paraná (ABEn-PR), sob a ótica de
ex-presidentes, no período compreendido entre 1980 e 2001, buscando elucidar
uma questão: A indagação: A ABEn-PR tem contribuído para conformar e consolidar
o PPPEB? Esta poderá colaborar para que o PPPEB seja implementado e tenha
impactos junto à Enfermagem brasileira?
2. METODOLOGIA
2.1 Contextualização do locus do estudo: ABEn - Paraná
A ABEn- Seção Paraná inicialmente denominada Distrito da ABEn, seção Paraná,
foi fundada em 18 de abril de 1956 nas dependências da Escola de Enfermagem
Madre Leoní, em Curitiba. A diretoria foi composta pelas enfermeiras Alice
Michaud presidente; Maria Leda Vieira - secretária e Irmã Maria Turkiewicz-
tesoureira.
Em quase 50 anos de existência, a ABEn- PR teve 18 presidentes, entre eles, 17
mulheres. Quatro enfermeiras, Rosi Maria Koch, Alice Michaud, Maria Leda Vieira
e Ir. Eugênia Polakowski são falecidas. Compõem o quadro dos presidentes da
ABEn-PR os Enfermeiros: Alice Michaud (1956-1959); Terezinha Beatriz G. de
Azeredo (1959-1961); Ir. Verônica Tarfas (1961-1963); Gerda Mitt (1963-1965);
Elisabeth Maria Koester (1965-1967); Maria Leda Vieira (1967-1969); Ir. Eugênia
Polakowski (1969-1970); Vilma Balielo (1970-1972); Alice de Lima (1972-1976);
Rosi Maria Koch (1976-1980); Gláucia Borges Seraphim (1980-1984); Maria
Aparecida P. M. Moreira (1984-1986); Lídio José Leonardi (1986-1989); Sandra
Terezinha da Silva (1989-1992); Jussara Harmuch (1992-1995); Olga Laura Geraldi
Peterlini (1995-1998); Alaerte Leandro Martins (1998-2001); Simone Aparecida
Peruzzo (2001-2004 e 2004-2007).
Desde sua criação os trabalhos da associação se concentraram, inicialmente, na
organização e elaboração da Semana da Enfermeira; capacitação dos profissionais
de enfermagem; na conquista da classificação de enfermagem no grau técnico-
cientifico; discussões sobre o código de ética e emendas estatutárias de
interesse da profissão.
Nos anos seguintes a ABEn-PR colabora arrecadando dinheiro para a construção da
sede própria da ABEn Central em Brasília; discute a criação do Distrito de
Londrina e o Distrito Curitiba da ABEn (extinto em 1982); convoca seus sócios
para instalação dos Conselhos Regionais de Enfermagem; coordena Jornadas de
Enfermagem e Encontros de Enfermagem Regionais, participa dos Movimentos de
Oposição Movimentação (pela democratização do Sistema COFEN/COREN's) e
Participação (democratização da ABEn Nacional), sob a liderança da Enfermeira
Rosi Maria Koch ; busca articulação política e estabelece contratos com o
Estado e Município visando a qualificação dos trabalhadores, bem como
estabilidade financeira da associação, passa a ocupar de maneira pró-ativa os
espaços de Controle Social, segmento trabalhador; vende e adquire um novo
imóvel comercial com valores arrecadados no CBEn de 2001; articula e estabelece
um contrato específico com a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba para
implantar a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde
Coletiva (CIPESC) no prontuário eletrônico da rede básica, seguido da
qualificação dos enfermeiros do município e região metropolitana.
Em 50 anos de história a ABEn Paraná tem buscado reforça a natureza da
Associação, por meio do desenvolvimentos de atividades culturais, sociais,
científicas e políticas, em defesa e consolidação da Enfermagem como prática
social, essencial para a organização e o funcionamento dos serviços de saúde.
2.2 A coleta e análise de dados: pesquisa histórica e história oral
A pesquisa histórica nos pareceu mais adequada aos objetivos aqui definidos.
Partimos do princípio de que o PPPEB aborda questões relacionadas com a
natureza social; relações entre indivíduos e sociedade, entre ação, estrutura e
significados; entre sujeitos e objeto; entre fato e valor; entre realidade e
ideologia e a possibilidade do conhecimento, visto sob o prisma de algumas
correntes sociológicas(2), reforçaram a opção metodológica.
Minuciosamente foram estudados os seguintes documentos: a) 6 Livros Ata das
gestões de 1980 a 2001; b) 11 Livros Relatório de Atividade da Gestão das
Gestões de 1980 a 2001, elaborados pela Seção Paraná e encaminhados anualmente
à ABEn Nacional.
Concomitantemente foi realizada História Oral Temática(3)como a que mais se
aproxima de um assunto e previamente estabelecido, comprometendo-se com o
esclarecimento ou a opinião do entrevistado sobre um evento específico.
O evento em questão buscou compreender e desvendar fatos sob o ponto de vista
de Enfermeiros, no cargo de presidente da Associação, referente a participação
da entidade na construção do PPPEB.
No período de outubro a dezembro de 2005 foram entrevistados 07 Enfermeiros,
ex-presidentes da Associação Brasileira de Enfermagem-Seção Paraná (ABEn-PR),
entre 1980 a 2001 e que se dispuseram a participar do estudo assinando o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
Entre os 07 entrevistados 06 são mulheres, na faixa etária entre 40 e 60 anos e
na sua maioria são servidores ativos do serviço publico municipal (02),
estadual (03) e federal (01 docente inativo). Com exceção de 01 colega, todos
os demais iniciaram sua militância junto a ABEn ainda quando estudantes de
Enfermagem.
Foi realizada entrevista com instrumento semi-estruturado, contendo os dados do
PPPEB, além do relato de fatos e ações desenvolvidas no período de gestão na
ABEn-PR. O material depois de transcrito foi devolvido para os entrevistados
para as devidas alterações, acréscimos ou supressões. O método para tratar os
dados documentais em conjunto com as entrevistas transcritas foi a Análise de
Conteúdo de característica temática, nos seguintes passos: Pré-análise;
Exploração do material; Inferência e Compreensão(4).
3. APRESENTAÇÃO E ANALISE DE CATEGORIAS
Os dados apresentados a seguir referem-se às duas categorias e subcategorias,
desveladas no processo de investigação, tal como mostrado a seguir:
CATEGORIA 1A NECESSIDADE TRANSFORMADA EM AÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DA ABEn-PR PARA
CONFORMAR O PROJETO
Subcategorias:
1.1 - O Papel do Movimento Participação
1.2 - Desenvolvimento Histórico do Projeto
1.3 - Dificuldades na Construção do Projeto
CATEGORIA 2OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELA ABEn-PR NA CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO
Subcategorias:
2.1 - Participação nos Movimentos Sociais
2.2 - Participação nas Instâncias de Controle Social
2.3 - Ações Locais Referentes aos Eixos Norteadores do Projeto
2.4 - A Socialização do Projeto
A seguir apresenta-se a análise das categorias e subcategorias do estudo.
CATEGORIA 1A NECESSIDADE TRANSFORMADA EM AÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DA ABEn-PR PARA
CONFORMAR O PPPEB
Os sinais de demanda por um projeto para a Enfermagem podem ser percebidos no
início dos anos 80 pela postura de alienação adotada dos profissionais de
enfermagem, decorrente do fato de conhecer parte do seu fazer dissociado da
visão de conjunto no dia-a-dia. Neste cenário, o enfermeiro é acompanhado de um
sentimento de desvalorização e ausência de estímulo. O novo chega por meio do
processo de redemocratização do País e com ele nasce o movimento de oposição à
ABEn Nacional, denominado de Movimento Participação, provocando o embate de
idéias e rearticulação da categoria de enfermagem(5,6).
Há na fala de enfermeiras entrevistadas este cenário e demanda:
O projeto é o resultado de uma necessidade que nós sentíamos de uma
meta, um norte, de forma que todas as presidentes falassem uma mesma
linguagem e trilhassem um mesmo caminho(Enf. 6).
Uma participação efetiva era o que queríamos e pleiteávamos e estava
previsto no PPPEB(Enf. 3).
Talvez este sentimento de demanda contemplado nesta categoria, e que permeia as
demais, possa ser considerado uma busca da Enfermagem em ampliar a sua
atividade científica, evitando que esta produção de conhecimento permanecesse
restrita aos pequenos grupos de intelectuais(7) e assim pudesse elevar o nível
intelectual da massa.
Neste sentido, a massa atua "praticamente", sem consciência teórica de sua ação
e lembra que o homem é possuidor de uma consciência teórica implícita na sua
ação e na de seus pares, capaz de transformar a prática da realidade e uma
consciência explícita ou verbal, herdada do passado e acolhida sem crítica por
um determinado grupo social. Dependendo do grau de intensidade de informações e
de estímulos que essa consciência é submetida há a possibilidade da a mesma
atingir a contraditoriedade da consciência. Este estado é capaz de gerar
determinada paralisia em que nenhuma ação ou escolha ocorra(7).
Nessa linha de pensamento o sentimento de demanda/necessidade por um projeto
partiu de um determinado grupo social de Enfermeiros com diferentes graus de
consciência teórica implícita e explicita. Apesar de suas ações, mesmo como
formadores, estarem voltadas para a prática da Enfermagem em consonância com o
mercado de trabalho, buscavam mudanças.
A dificuldade encontrada pelo grupo/movimento em mobilizar as pessoas, pode
estar relacionada com a pouca consciência teórica do Enfermeiro, relativa à sua
ação como profissional, vinculada a uma consciência herdada do passado e
acolhida sem crítica e com grandes dificuldades em unir a prática e a teoria.
Todas estas dificuldades impossibilitam a construção de uma consciência
política e o desenvolvimento de uma autoconsciência.
Relembramos no entanto que: a) o Movimento Participação nasceu da vontade de um
grupo de profissionais e estudantes, decididos em mudar a atuação da
Associação, estando o Paraná entre os estados que primeiro se organizaram; b)
que a idéia de elaborar um projeto próprio para Enfermagem para a assistência e
organização dos serviços de saúde partiu de um dos eixos norteadores do
programa da "Chapa Participação"; c) a chapa vencedora buscou nos estados
subsídios para seu plano de gestão, sendo que das 22 seções, somente sete
encaminharam sugestões, entre elas a Seção Paraná. Esses fatos demonstram o
envolvimento da Seção perante a necessidade e ou demanda em se ter um projeto
(5).
Importante mencionar a liderança da professora, colega e ex- presidente da
ABEn-PR (Gestão 1976-1980) Rosi Maria Koch no Movimento Participação,
estimulando e socializando as informações junto a categoria de enfermagem.
Subcategoria 1.1: O Papel do Movimento Participação
O Movimento Participação, da década de 1980, foi um movimento social e político
da Enfermagem, organizado e de oposição, em sintonia com o movimento geral
vivenciado pela sociedade da época, atrelado ao descontentamento de alguns, à
postura adotada de outros e refletidos nas ações executadas pela ABEn Nacional.
O Movimento surge com o intuito de criar uma nova visão sobre a profissão
Enfermagem, formada por trabalhadores especializados em um determinado campo do
saber técnico e científico, que desenvolveram a competência de cuidar de
indivíduos e grupos em seus diferentes ciclos de vida e que compreende esta
prática como parte de um contexto histórico social pela qual é constituída e
constituinte(5).
Um ex-presidente relata sobre aquela época:
A ABEn Nacional era mera concordante do Governo e sem uma linha de
trabalho que discutisse e participasse dos projetos nacionais da
época e na defesa dos interesses da profissão de forma concreta(Enf.
3).
Esse apontamento se referem ao tipo de relação piramidal estabelecido entre a
ABEn Nacional e a seção, consolidado pelo regime de ditadura militar adotado no
país, contudo com o advento do Movimento Participação, o objetivo torna-se
democratizar a entidade, questionando seu papel tradicional como entidade de
natureza cultural e assistencial, buscando por articulação da organização da
Enfermagem à classe trabalhadora, engajando-a nos demais movimentos sociais e
da área de saúde(8).
Um relato mostra esta caracterização:
O Movimento Participação, como uma ação democrática e cidadã,
contrária a ABEn Nacional da época, atrelada totalmente ao Governo
(Enf. 3).
Conhecido como "Grupo Participação", esta ação coletiva avança estrategicamente
para disputar as eleições da ABEn e explicita sua natureza a partir do 31º
Congresso Brasileiro de Enfermagem, em 1979 em Fortaleza, CE. Segundo o folheto
informativo da Chapa Participação de 1986: "Esse movimento surge com o
propósito de desencadear um processo de democratização no seio das entidades de
Enfermagem e definir as formas concretas de luta pela valorização da profissão
tendo em vista a Identidade, a Competência e a Autonomia Profissional"(9).
Os Enfermeiros entrevistados tiveram também este entendimento:
Era fato a existência de dois grupos políticos distintos de
Enfermeiros. O grupo que se identificava com as idéias do projeto e o
grupo que buscava manter as idéias/concepções históricas da entidade.
Os dois projetos para a Enfermagem estavam consolidados nos grupos
que concorriam às eleições.(Enf. 4)
O Movimento Participação, além da mudança da estrutura da ABEn, tinha como
objetivo maior a transformação da Enfermagem no plano nacional em busca de um
reconhecimento social, bem como a luta por melhores condições de trabalho,
processo de decisão compartilhado, maior e efetiva integração com as Seções,
com vistas à compreensão de que somos uma única entidade(9).
A análise das falas dos enfermeiros mostra esta compreensão:
Reconhecíamos o movimento de oposição (Movimento Participação) como
forte, responsável e com muita consciência política.(Enf. 1)
Era ativa a participação do Movimento Participação e da entidade, por
ocasião das discussões e propostas para a 8ª Conferência Nacional de
Saúde de 1986, bem como a preocupação com o atendimento mais
coletivo.(Enf. 3)
No Paraná, especificamente em Curitiba, a integração ao Grupo Participação
ocorreu durante o Encontro de Enfermagem da Região Sul (ENFSUL) de 1981,
realizado na cidade de Porto Alegre, RS. Na seqüência, foi constituída uma
chapa de oposição que concorreu e venceu as eleições na ABEn Seção Paraná em
1984.
Um enfermeiro relata sobre esse episódio:
Buscávamos como gestão do Movimento Participação no Paraná,
demonstrar, por meio de nossa fala, que a ABEn, os Enfermeiros e as
equipes de saúde, deveriam se apropriar de questões como: a
importância dos hospitais de ensino, as ações integradas, a formação
de RH nos municípios, a ampliação da visão dos estudantes de
Enfermagem com relação à saúde no Brasil, bem como as mudanças
democráticas que ocorriam em nossa sociedade [...] Nossa fala
vislumbrava tornar os hospitais e universidades nossos parceiros.
(Enf. 2)
Tal fato não se repetiu nas eleições da ABEn Nacional devido a um processo
eleitoral questionável e o grupo de oposição, apesar de não concordar com a
posse, se fez presente no 36º CBEn em Belo Horizonte, MG, em 1984, por ocasião
da solenidade realizada no Clube dos Oficiais de Minas Gerais, como descreve um
ex-presidente:
Foi difícil assumir a ABEn Paraná. Não concordávamos com a posse da
ABEn Nacional que nos foi imposta por um processo eleitoral duvidoso
(Enf 1).
As pessoas contrárias ao Movimento de renovação/democratização na
Enfermagem entendiam que os Enfermeiros não tinham nada que ver com
as lutas da sociedade, mas que deveriam permanecer voltados às
questões que diziam respeito à categoria.(Enf. 2)
Consideramos pertinente a metáfora utilizada pelo entrevistado ao definir em
sua percepção a contribuição do Movimento Participação para a categoria:
A contribuição do Movimento Participação foi ter tirado a ABEn de
dentro do seu quartinho, fazendo com que ela passeasse pela sala,
pela cozinha e pelo banheiro de sua própria casa.(Enf. 4)
Na ABEn-PR este caminhar que passou a exigir articulação junto aos novos atores
sociais do cenário democrático se refletiu principalmente com a ocupação dos
espaços de participação conquistados pelos movimentos organizados,
representando nos conselhos da UFPR a comunidade externa e nos espaços de
controle social do estado e município o segmento trabalhador.
Subcategoria 1.2: Desenvolvimento histórico do projeto
Em meados de 1976, a Associação percebe-se distanciada de seus diretores, das
diretorias das Seções e de seus associados e, para mudar esse quadro, busca
apoio do Conselho de Classe e dos sindicatos, somando-se à luta pela
emancipação dos profissionais Enfermeiros e sua integração na equipe
multiprofissional do setor saúde(10).
Um entrevistado que participou do ENFSUL do RS nos anos 80 reforça esta
percepção ao referir:
Por meio de uma reunião com a presidente da ABEn Nacional,
solicitamos mudanças visando maior abertura, capaz de diminuir o
distanciamento entre a Nacional, a Seção e seus associados para a
obtenção de melhorias. Estavam presentes pessoas da Seção e do
Movimento Participação(Enf. 2).
A Chapa Participação, vitoriosa no processo eleitoral de 1986, cria por ocasião
do 40° CBEn, realizado em Belém, PA, em 1988, o Fórum Nacional de Entidades de
Enfermagem (FNEEn), um compromisso assumido durante as eleições, de forma a
unificar e consolidar um programa de lutas, respeitando a autonomia de cada
entidade, entendendo a diversidade das mesmas(10).
O compromisso se transforma em ação e a nova gestão busca junto as Seções
subsídios para a elaboração de seu plano de gestão. A Seção Paraná participou
desse processo por meio da formação de comitês da "chapa Participação", cabendo
à diretoria da ABEn Nacional a organização do material recebido, do qual foram
extraídos cinco eixos norteadores entre eles a construção de um projeto próprio
da Enfermagem para a assistência e a organização dos serviços de saúde(11).
Enfermeiros entrevistados rememoram estes fatos:
A idéia do PPPEB partiu do Movimento Participação..as pessoas que
compunhamo movimento foram responsáveis pela grande virada da ABEn
(Enf.6)
O Movimento Participação puxava as idéias que constituíram o projeto
desde a gestão passada [...]. O PPPEB é o resultado de um trabalho
iniciado há muito tempo, polêmico, acompanhado de discussões
fervorosas e sintetizado no CBEn de Florianópolis em 1999.(Enf. 4)
Foi em 1999, no 51º CBEn de Florianópolis, SC, que as propostas foram
sistematizadas em duas diretrizes, denominadas de Eixos (Eixo 1- Políticas para
a Prática de Enfermagem e Eixo 2 - Políticas de Formação e Produção de
Conhecimento) e o projeto político denominado de PPPEB(12).
A fala de um Enfermeiro retoma esta fase do PPPEB:
As idéias iniciais da construção de um projeto político próprio diz
respeito a uma Enfermagem de visão ampliada, inserida no contexto da
saúde e num projeto de sociedade [...]. A idéia principal do projeto
político era que a Enfermagem enxergasse além do seu próprio umbigo.
(Enf. 4)
Impossível dissociar o desenvolvimento do projeto político do movimento social,
denominado de Movimento Participação, afinal, ao honrar seu compromisso de
campanha, o grupo de oposição desencadeou a organização e a criação de um
espaço de discussão no Fórum Nacional de Entidades de Enfermagem (FNEEn),
seguido do estabelecimento de diretrizes, estratégias e responsabilidades,
assumidas pelas entidades e articuladas com outros atores e movimentos sociais.
Subcategoria 1.3: Dificuldades na construção do projeto
As primeiras dificuldades sentidas pelo grupo componente do FNEEn ocorreu na
execução do Plano Estratégico do Projeto Político em seus Estados, em
conseqüência da visível desmobilização e da falta de participação dos
Enfermeiros em suas entidades gerando dificuldades para as várias ações e
atividades a serem desenvolvidas para sua conformação e consolidação(10).
A fala do colega entrevistado reproduz este cenário:
Considero que o processo de redemocratização não foi bem trabalhado
pelo Movimento Participação, fato que gerou alguns afastamentos
[...]. Os Enfermeiros estavam despreparados para enfrentar um
movimento de oposição(Enf. 1)
O FNEEN buscou incentivar a criação e ou a consolidação de instâncias estaduais
como estratégia de discussão política e de encaminhamentos conjuntos das
questões da Enfermagem no âmbito da entidade.
No Paraná, em Curitiba, a Seção informa em seus relatórios a realização de
reuniões mensais, juntamente com o COREN, uma vez que o Sindicato dos
Enfermeiros havia sido "extinto". Aponta no Relatório de Atividades, Seção
Paraná, Livro VII (p.65-69), no item Participação em Lutas e Movimentos, a
elaboração e publicação de uma nota: "Manifesto de Repúdio" no Jornal Gazeta do
Povo, em 3/7/1994, sobre a contratação de Agentes Comunitários de Saúde em nome
do Fórum Estadual de Entidades de Enfermagem do Paraná(13).
A falta da participação dos membros da diretoria da entidade e a pouca
participação dos associados da ABEn-PR, se traduz na fala de todos os colegas
entrevistados, tal como um discurso selecionado de um entrevistado:
A participação pelos interessados era variável, tendo os alunos como
convidados e voluntários na entidade (...). Havia a dificuldade de
mobilizar pessoas, apesar da realização de reuniões mensais e
assembléias, ficando as discussões restritas às reuniões de diretoria
(...), o sentimento de isolamento enquanto presidente, com uma
diretoria momenta-neamente ausente e a entidade sem secretaria.(Enf.
1)
Além das dificuldades internas da Associação, apontadas no livro III, Relatório
de Atividades, Seção Paraná, Gestão 1989-1992, (p.74), como precárias condições
de infra-estrutura, incompatibilidade entre a elaboração e ou implementação de
projetos e os poucos recursos financeiros, a pouca experiência na elaboração de
projetos capazes de captar recursos, quadro de associados flutuante, morosidade
na comunicação entre as ABEns, bem como a falta de profissionalização da
entidade, haviam as dificuldades externas, decorrentes da nova postura adotada
pelos dirigentes eleitos da ABEn Nacional e Seção, pertencentes ao Grupo e ao
Movimento Participação(14).
Essas mudanças se faziam presentes no dia-a-dia da Associação e nos CBEns, tal
como conta o Enfermeiro:
A ruptura inicial, muito radical, com os laboratórios e empresas
hospitalares multinacionais era idéia proposta pelo Movimento
Participação (...). Essa ruptura, foi traduzida de diferentes formas
e refletiu diretamente no CBEn da época por meio de um boicote ao
evento. Esse fato gerou inúmeras dificuldades, todas superadas pela
organização do evento.(Enf. 4)
A nova diretoria da Chapa Participação redefiniu a relação com as
multinacionais, buscando responder aos reclamos da categoria e preservar a
autonomia da entidade, que encontrava-se prejudicada tendo em vista, por
exemplo, a definição de bancas examinadoras para os prêmios científicos durante
os CBEns. A manutenção do relacionamento foi condicionada à participação com
conteúdos tecnológicos relevantes para a Enfermagem brasileira(15).
Sob outro aspecto, uma dificuldade relata nas entrevista trata do contexto das
condições de trabalho. O cenário atual é composto de trabalhadores que atuam
nas áreas da assistência e do ensino em sua maioria com duplo vínculo
empregatício motivados pela política de salários reduzida. A indisponibilidade
dos profissionais em participar de suas entidades é uma conseqüência e
contribui para o despreparo político ainda hoje. A crise provocada pelas
inúmeras denúncias envolvendo a autarquia, bem como a centralização do poder,
são empecilhos para o desenvolvimento político da enfermagem brasileira.
Entre as dificuldades enfrentadas na época, a multiplicidade de entidades é
relembrada pelos entrevistados das seguintes maneiras:
A mudança, na época, para um mesmo espaço físico, propiciou um
trabalho conjunto entre as três entidades (ABEn, COREn e sindicato),
bem como a discussão sobre a Entidade Única.( Enf. 2)
Perante a tentativa de diluir a luta da oposição, na época, uma outra
discussão, extremamente forte, ocorreu, baseada no fato de não ser
prudente, econômica e politicamente, manter-se três entidades, mas,
sim, criar a Entidade Única. A ABEn tem condições de assumir este
desafio.(Enf. 4)
Os problemas vivenciados atualmente com a autarquia inviabiliza sua
participação, bem como a solução de outras demandas.(Enf. 7)
Na época as dificuldades presentes na organização da enfermagem brasileira
desencadearam discussões sobre a criação de uma Entidade Unitária tanto no
cenário nacional quanto estadual de maneira a congregar a ABEn, os sindicatos e
o Sistema COFEN e COREN's de maneira a fortalecer a representação da
Enfermagem.
No transcorrer do processo ponderou-se que o conselho por se tratar de uma
autarquia ligada ao Ministério do Trabalho, seguido na última década da adoção
de seus dirigentes de posturas antidemocráticas, acompanhadas de processos
eleitorais questionáveis, agravado pelas inúmeras denúncias sobre corrupção e
assassinatos que resultaram na prisão de seu dirigente federal em 2005 e
condenação em 2006, a autarquia, não poderia compor esta entidade. Importante
salientar que este cenário exigiu que as entidades representantes da Enfermagem
brasileira concentrassem seus esforços e trabalhos em busca dos devidos
esclarecimentos, a socialização dos fatos e a solicitação de medidas cabíveis
junto as inúmeras instâncias de poder objetivando a Intervenção no Sistema.
Esta luta ainda hoje longe de terminar, impediu o avanço da discussão coletiva
sobre a Entidade Unitária.
CATEGORIA 2:OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELA ABEn-PR NA CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO
A consolidação do projeto surge a partir do Movimento Participação enquanto uma
demanda e ou necessidade de mudanças apesar da atuação da Enfermagem na época
caminhar em consonância com o mercado de trabalho. Esta necessidade
inicialmente de alguns passa a exigir o envolvimento de todos de forma a
acompanhar as mudanças de uma sociedade democrática e participativa com
reflexos importantes na área da saúde.
A importância da consolidação do PPPEB está no fato de que o projeto traz
consigo a diretriz política para as áreas de assistência e do ensino capaz de
nortear as ações dos profissionais em defesa ao SUS, valorizando e ampliando
suas atuações, aumentando a visibilidade da profissão e conformando a autonomia
profissional do enfermeiro.
Especificamente as ações realizadas pela ABEn-PR para a consolidação do projeto
no período pesquisado pode ser agrupadas da seguinte forma: 1) Capacitação,
Cursos, Oficinas, Debates e Ações de Educação Permanente. 2) Eventos
realizados. 3) Parcerias, Articulações, Colaborações. 4) Representação em
Comissões, Comitês, Fóruns e Espaços de Controle Social e 5) Contribuições,
Recomendações, Lutas e Conquistas.
Subcategoria 2.1: A Participação nos Movimentos Sociais
Apesar de não dispormos de material analítico adequado para aprofundar o estudo
da relação entre este processo vivido na Enfermagem e o Movimento Geral da
Sociedade, consideramos que o mesmo sofreu a influência da mobilização de
massas acontecido no Brasil, no final da década de 70 e meados de 80, o qual
ensejava novas formas de ação coletiva que proliferaram em todo o País,
constituindo os movimentos sociais urbanos(11).
As falas das entrevistadas traduzem esse momento:
As ações de nossa gestão foram direcionadas para o político, afinal,
a sociedade estava mudando e o fato do Enfermeiro não estar
acompanhando esse processo era preocupante.(Enf.2)
O momento na época, era da questão sindical. Como ponta de lança,
este era o eixo norteador de nossas ações como ABEn, que defendia as
conquistas trabalhistas, tais como: jornada de trabalho de 30 horas
semanais, piso mínimo para o Enfermeiro e a negociação coletiva de
trabalho.(Enf. 3)
Na época (1986) a presidência da ABEn Nacional era exercida pela colega
paranaense Enfermeira Maria Goretti David Lopes que devidamente articulada com
seus pares, demais representantes da enfermagem brasileira e parlamentares,
desencadeou uma mobilização nacional em favor da Jornada de 30hs para a
categoria. Esta luta permanece em pauta até os dias de hoje.
Especificamente, o apoio da ABEn-PR e colaboradores foi responsável pelo
recolhimento do maior números de assinaturas nos abaixo assinados referente ao
tema que, uma vez recebidos pela ABEn Nacional, foram entregues ao gabinete
presidencial. Esta luta presente no discurso dos dirigentes e abenistas de
ontem se mantém nos dias atuais.
Há falas dessa fase com as seguintes expressões:
No período pós-ditadura militar e em pleno processo democrático, as
pessoas temiam as lideranças e eram elitistas. O envolvimento da
Enfermagem com o movimento maior da sociedade, que defendia a
participação popular, era polêmico (...). Foram dois anos de muita
luta e com muita participação em todas as instâncias, discutindo a
Reforma Sanitária e os movimentos da sociedade.(Enf. 2)
A preocupação com a formação da cidadania e o direito a saúde estava
traduzida na nossa participação na 8ª Conferência Nacional de Saúde,
Constituição de 1988, Assembléia Nacional Constituinte e as Diretas
Já. A Constituição de 1988 tomou conta de toda a sociedade e o
sindicato e o conselho participaram também desse processo (...) O
destaque de nossa gestão foi o momento político de mudança da
sociedade, bem como a eleição do grupo do Movimento Participação para
a ABEn Nacional, em 1996.(Enf. 3)
Subcategoria 2.2: A Participação nas Instâncias de Controle Social
Instâncias institucionalizadas pelas Conferências e Conselhos de Saúde, a
partir das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), contempladas na
Constituição de 1988 têm o objetivo de avaliar e propor diretrizes para
determinada política nas três esferas do Governo(17).
O ato de criação do Conselho de Saúde, sua composição, organização, estrutura e
competência deverão ser estabelecidas por lei estadual ou municipal. O Conselho
Municipal de Saúde de Curitiba atualmente é constituído por 36 membros
titulares e 36 suplentes. A primeira gestão deste conselho ocorreu em 1991 e a
ABEn-PR, segmento trabalhador, está presente desde então. Atualmente a gestão
do conselho municipal de Curitiba é de dois anos e a presidência, conforme
regimento interno aprovado em plenária, tornou o cargo eletivo entre os
integrantes do conselho(16).
Importante salientar que no ano de 2005 a ABEn-PR está em seu segundo mandato
na presidência do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e no final de seu primeiro
mandato na presidência do Conselho Estadual de Saúde (CES).
A fala do entrevistado relata o fato:
Em consonância com o PPPEB, nossa gestão, cuja palavra de ordem era
"Participação", trabalhou para o fortalecimento e visibilidade do
profissional de Enfermagem dentro do SUS, bem como da ABEn,
discutindo as condições de trabalho do SUS e a política de Recursos
Humanos no SUS.(Enf. 6)
Nesta perspectiva, a consolidação do SUS presente nas metas do Projeto Político
e nos propósitos da Associação estão atrelados. As estratégias da entidade para
o desenvolvimento social e político do conjunto dos trabalhadores de Enfermagem
são coerentes com as atividades de promoção, prevenção e recuperação da saúde
em universalidade, eqüidade e integralidade do SUS em benefícios da saúde da
sociedade(17).
Os Enfermeiros relatam suas lembranças sobre as instâncias de controle social:
A ABEn participava dos conselhos de saúde e dos conselhos da UFPR,
como representante da comunidade.( Enf. 5)
Participei como presidente da ABEn-PR durante a gestão do conselho
municipal e estadual de saúde (vaga de titular e suplente). Entendo
que esta participação se relaciona ao PPPEB no item que aborda a
cidadania.(Enf. 6)
A participação do Enfermeiro da ABEn-PR segmento trabalhador no Conselho
Municipal de Saúde de Curitiba, em conformidade com a Lei nº 8.142 de 1990 que
dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde,
cita a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde como as instâncias colegiadas
do Sistema Único de Saúde, garantindo a representação dos usuários de forma
paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos(18).
Um dos resultados proveniente dessas ações pode ser traduzido com o exemplo
abaixo:
A ABEn, ao participar dos movimentos, possibilitou a criação de
consciência em toda a diretoria, traduzida quando, membros da
diretoria, que desconheciam e não prestavam atendimento ao SUS,
passaram a interessar-se pela questão(Enf.6)
Subcategoria 2.3: Ações Locais Referentes aos Eixos Norteadores do Projeto
As ações da ABEn Seção Paraná estão presentes no cenário desde sua fundação em
18 de abril de 1956. Em seus primeiros vinte anos a Seção participou ativamente
dos seguintes eventos: Lei n°4.544/52 que trata da Classificação de Cargos do
Serviço Civil do Poder Executivo, sendo os Enfermeiros classificados no nível
superior e da criação da carreira do Auxiliar de Enfermagem; na Comissão do
Plano de Estruturação do Curso de Enfermagem da UFPR, bem como a coordenação do
Departamento de Enfermagem; a criação do Serviço de Enfermagem do Departamento
de Saúde da Secretaria de Saúde e da Seção de Enfermagem na Divisão Técnica do
Departamento de Unidade Sanitária; da criação do Serviço de Enfermagem da
Divisão Hospitalar de Previdência do Estado; a criação do Curso Técnico de
Enfermagem da Escola Catarina Labouré; na criação do Curso de Licenciatura em
Enfermagem Madre Leoní e assessorou concursos públicos para auxiliares de
enfermagem inclusive da Assembléia Legislativa(19).
Ações semelhantes foram agrupadas por temas baseado na fala dos entrevistados e
nas fontes de registros pesquisados. São eles: 1. Capacitação, Cursos, Debates,
Oficinas e Ações de Educação Permanente; 2. Eventos Realizados; 3.Parcerias,
Articulações e Colaborações; 4. Participação, Representação em Comissões,
Conselhos, Comitês, Fóruns e Espaços de Controle Social, e 5. Contribuições,
Recomendações, Conquistas e Lutas. As tabelas foram complementadas com
informações extraídas dos Livros Ata da ABEn Seção Paraná e dos Relatórios de
Atividades elaborados anualmente pela Seção para a ABEn Nacional.
As fontes de registro pesquisadas continham a redação de suas ocorrências do
tipo pontual. Essa característica dificultou traçar com maior precisão a
historicidade da ABEn Seção Paraná, no período de 1980 a 2001 e deve servir de
alerta para as próximas gestões.
Resultados provenientes destas ações podem ser traduzidos com a seguinte
declaração:
As capacitações realizadas em parceria com a Gestão de Recursos
Humanos e Enfermagem do Estado do Paraná, estabelecida por meio de um
convênio com a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, contribuíram
para a melhoria da qualidade do profissional e a visibilidade da
entidade e da categoria.(Enf. 6)
Alguns dos relatos sobre as ações locais foram enfáticos quando acompanhados de
lembranças e constatações relacionadas a área de ensino:
Quem introduziu a preocupação com as diretrizes curriculares foi a
ABEn e o projeto está presente nas reformas curriculares. A ABEn tem
uma parcela importante na formação profissional.(Enf. 4)
Temas como a nova LDB(Lei de Diretrizes e Bases),cursos seqüenciais e
noturnos, dentre outros, foram responsáveis pela articulação da ABEn
com as escolas de ensino médio e superior. O cenário da época
demandava a organização das pessoas (...) Urge que a ABEn, por meio
do Fórum de Escolas, somada à parceria já consolidada com o
Ministério da Educação, reveja a abertura de novos cursos de
graduação de Enfermagem, prática esta estimulada pela política neo-
liberal vigente.(Enf. 7)
O Livro III, Relatório de Atividades, Seção Paraná, 1989-1992 afirma que apesar
de todo trabalho, este não tem produzido ou mesmo incentivado um aumento
efetivo do número e ou a participação dos associados(14).
Esse conjunto de ações e muitas outras fortalecem politicamente a entidade, mas
não representa ainda intervenção organizada da categoria, capaz de causar
impacto nas questões relevantes da Enfermagem, saúde e sociedade. A fala dos
entrevistados traduz este sentimento:
Infelizmente as pessoas desconhecem o grau de contribuição da ABEn.
(Enf. 4)
Percebo que a necessidade em discutir as questões políticas para
buscar melhorar e ou compreender as questões profissionais, ocorre
somente com o amadurecimento.(Enf. 6)
Subcategoria 2.4: A Socialização do Projeto no Ensino e na Assistência
Na fala os entrevistados se referem a necessidade da socialização do projeto
(PPPEB). A palavra socialização está conceituada como sendo "um processo pelos
quais os seres humanos são induzidos a adotar os padrões de comportamento,
normas, regras e valores do seu mundo social"(20). Ainda, estudos recentes das
ciências sociais conceituam a socialização como "um processo de interação e
conflito, entre necessidades e pressões externas, com a finalidade de
identificar possíveis mudanças na agencia socializante, em vez de individuais"
(20).
No âmbito do ensino as falas são:
A socialização do PPPEB só será possível utilizando as instâncias
formadoras (escolas técnicas e de graduação) de forma que o assunto
não estivesse inserido em uma ou duas disciplinas mas um assunto
transversal e contemplado no currículo (...). A participação dos
alunos na ABEn, deve ser incentivada pelas escolas e propiciada pela
entidade por meio de um projeto de inserção discente.(Enf. 6)
A socialização do PPPEB deve ocorrer na escola durante a formação do
aluno.(Enf. 7)
No âmbito da assistência são elas:
A socialização do PPPEB só ocorrerá por meio de um trabalho
itinerante e de corpo-a-corpo da ABEn junto a categoria de
Enfermagem.(Enf. 1)
Considero a capacitação dos Enfermeiros assistenciais da Secretaria
Municipal de Saúde para o uso da CIPESC como produção de metodologia
e conhecimento (contemplada pelo PPPEB), uma ferramenta importante de
conquista, visibilidade perante a equipe multiprofissional,
comunidade e sociedade. Esta ação foi capaz de levar as idéias para
fora dos espaço ocupados somente por Enfermeiros (...).(Enf 2)
A própria consolidação da entidade ocorre ao final dos anos 40 por meio dos
trabalhos desenvolvidos na época pela Comissão de Educação capazes de gerar
subsídios valiosos que envolviam o currículo de Enfermagem e outras disposições
legais e que resultou na promulgação da Lei 775/49, regulamentada pelo Decreto
27.426/49, que dispunha sobre o ensino de Enfermagem no País, tornando o curso
de Enfermagem de nível superior e criava o curso de Auxiliar de Enfermagem, uma
demanda da época(19).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao ouvir os sete sujeitos dessa pesquisa, dirigentes da Entidade na época, em
sua maioria trabalhadores do serviço público, lotados na área de saúde
coletiva, bem como os diversos documentos que tive acesso na Seção, buscou-se
historiciar a construção do PPPEB na ABEn-PR.
Identificamos no transcorrer da pesquisa, duas categorias e sete subcategorias
que emergiram após a organização da análise e que buscam demonstrar, sob a
ótica dos colegas, em que circunstâncias e de que maneira a ABEn Seção Paraná
contribuiu para conformar e consolidar o PPPEB a partir dos anos 80 e quais as
perspectivas de ação para as futuras gestões.
Assim sendo, apontamos que os sujeitos entrevistados no período de 1980 a 2001:
Demonstraram ter conhecimento da origem e da existência do PPPEB, apesar de
confessar não dominar na totalidade o conteúdo contemplado pelo roteiro
apresentado na entrevista (PPPEB sistematizado); Associaram imediatamente a
origem do PPPEB ao Movimento Participação; Relacionaram a conformação e a
consolidação do PPPEB espontaneamente ao conjunto de ações desenvolvidas
durante suas gestões, facilitadas ou dificultadas pelo cenário sócio-político
da época, bem como a participação da diretoria e associados; Abordaram em
alguns momentos os temas contemplados pelo PPPEB como sendo da natureza da
ABEn, em outros, como eixo norteador do projeto; Realizaram uma série de ações
locais das gestões, referentes aos eixos norteadores do projeto que foram
analisadas, identificadas e agrupadas em grupos, tendo como base as entrevistas
e a análise documental.
Entretanto, é necessário ponderar que apesar do notório envolvimento com as
mudanças da ABEn, seguida de inúmeras ações, os sujeitos da pesquisa deixaram
transparecer ao pesquisador as seguintes dificuldades: Apesar de não haver
contradição entre a natureza da ABEn e o PPPEB, pois ambos são regidos pelos
mesmos princípios, a dificuldade demonstrada pelos entrevistados em relacionar
as ações desenvolvidas com o projeto contribuiu para uma efetiva apropriação do
mesmo pela categoria; A diretoria da ABEn historicamente é pouco participativa
e tal fato é gerador de um constante sentimento de solidão verbalizado por
todas os entrevistados; A discreta participação e ou envolvimento das escolas
nas ações desenvolvidas pelas gestões da ABEn Seção Paraná se reflete na
formação do aluno de Enfermagem; As escolas formadoras priorizam o aprendizado
técnico, baseado no modelo doença e dissociado do contexto sócio-político-
cultural da sociedade em que vivemos; Apesar das mudanças ocorridas nesses
últimos anos na Associação, persiste com um número de sócios reduzido e
flutuante, fato que gera: pouca participação nas instâncias decisórias da
Entidade, dificuldades de representação e mobilização da categoria e uma
permanente fragilidade financeira; A conformação e a consolidação do PPPEB são
dificultadas pela falta de participação das pessoas; A maioria da categoria de
enfermagem desconhece e pouco valoriza as ações políticas, de representação,
bem como as articulações com outros setores e atores. Verificou-se entre os
sujeitos da pesquisa: Grande senso de responsabilidade comum, seguido de um
forte comprometimento com a categoria, a Associação e a população usuária do
SUS, perante um trabalho voluntário e poucas vezes facilitado, com a dispensa
do dirigente; Entendimento que a ABEn é um local de grande aprendizagem e rico
em possibilidades, sejam essas, em adquirir novas experiências, novos contatos
e enfrentar novos desafios; Reconhecimento de que a ABEn é capaz de projetar e
dar visibilidade a categoria e suas lideranças; Sentimento de orgulho em
participar da entidade e relacionam tal fato à respeitabilidade conquistada
pela entidade, mediante um trabalho sério e comprometido dos colegas ao longo
dos anos.
Apesar da conduta pró-ativa da ABEn-PR, as ações não foram geradoras de impacto
no quantitativo de associados que se mantém reduzido e flutuante gerando
dificuldades para a consolidação do projeto. Esta flutuação dificulta a própria
condução política que sofreu mudanças muito provavelmente relacionadas aos
eventos ocorridos, denunciados, divulgados, investigados e julgados envolvendo
a autarquia nesta última década.
Enfim, a ABEn-PR demonstra ser um espaço para o enfrentamento de desafios de
forma a consolidar o PPPEB visando mudanças na formação, na conscientização da
importância da vida associativa com reflexos à consubstancialidade da
Enfermagem como prática social.