Comercialização de caju in natura na região noroeste do estado de São Paulo
Comercialização de caju in natura na região noroeste do estado de São Paulo1INTRODUÇÃO
O cajueiro é cultura de grande importância econômica, tanto pelo fato de ser
consumida in natura como pela industrialização de seus frutos, resultando em
sucos e outros produtos bastante consumidos nos mercados interno e externo.
Atualmente é cultivado em diversos países, destacando-se pela produção Índia,
Brasil, Moçambique e Tanzânia (Nehmi et al, 1998).
No Brasil, os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte produziram em 2000,
aproximadamente, 166 mil toneladas de castanha de caju (100% da produção
nacional) em uma área de 597 mil hectares. Em 1999, o Brasil exportou mais de
24 mil toneladas de castanha de caju, no valor aproximado de US$ 142 milhões.
Os Estados Unidos consomem 60 % de toda a castanha de caju negociada no
comércio mundial, e o Brasil, por sua vez, coloca nesse país cerca de 25% de
sua produção exportável (Nehmi et al, 2000).
A produtividade do cajueiro é expressiva na região Nordeste do Brasil, onde a
EMBRAPA, através do Centro Nacional de Pesquisa em Agroindústria Tropical
(CNPAT) localizada em Pacajus-CE, vem desenvolvendo várias pesquisas. A
novidade é a variedade "anão-precoce" que deverá, ao longo do tempo, substituir
o caju comum, que apresenta baixa produtividade e dificuldades na colheita,
devido à multiplicação por sementes, à polinização cruzada, ao manejo
inadequado da cultura e também por serem muito altos, podendo chegar a até 14
metros.
Além da EMBRAPA, algumas empresas do Nordeste também estão investindo em
pesquisas para melhorar a produção de caju desta região, com o objetivo de
direcionar a produção para a comercialização in natura. Atualmente, a produção
vem para a região Sudeste, em caminhões-frigorífico, que fazem o percurso de
mais de três mil quilômetros em três dias. A venda in natura reverte a tradição
apontada nas estimativas oficiais de desperdício de mais de 95% da safra de
pedúnculo do caju, em detrimento da castanha, que a indústria de suco não pode
aproveitar (Araripe, 2000).
Com a difusão desta variedade ("anão precoce") outros Estados vêm interessando-
se pela cultura, como Mato Grosso do Sul e São Paulo. Na região Noroeste do
Estado de São Paulo, a empresa ASADA - Empreendimentos Agroindustrial-
localizada no município de Mirandópolis, introduziu a cultura do cajueiro em
1994, quando trouxe o primeiro lote de mudas enxertadas produzidas no Ceará. O
projeto CAJUNOR, denominação da ASADA para seu empreendimento com caju, tinha
por objetivo implantar, até o ano 2003, mais de 1 milhão de pés de cajueiro-
anão-precoce (em uma área aproximada de 2000 alqueires), estimativa esta que
deverá ser alcançada somente em 2007. Nesse empreendimento, estão incluídos
desde a produção de mudas até a instalação de indústrias para processamento da
castanha, do caju em passas, sucos e ração.
Com relação à cultura do cajueiro no Estado de São Paulo, são poucos os
resultados de pesquisa colocados à disposição dos agricultores, no que diz
respeito à produtividade, comercialização e aos aspectos ligados à
economicidade, como custo de produção e análise de investimentos. Esses
indicadores são importantes subsídios na tomada de decisão pelos agricultores
no planejamento da produção.
O objetivo geral do presente trabalho foi descrever e caracterizar a produção e
o mercado interno da cultura do caju. São objetivos específicos: a) estimar os
custos de comercialização; b) analisar o comportamento de mercado da fruta; e
c) verificar a produção e a procedência em diferentes mercados.
MATERIAL E MÉTODOS
A região de Mirandópolis, pertencente ao EDR de Andradina, destaca-se na
produção de frutas, principalmente com goiaba, abacaxi e manga. Segundo dados
apresentados por Mereti (2001), Mirandópolis apresenta o melhor desempenho na
geração de renda, quando comparado com outros municípios desta região. A
explicação está na composição da produção, o valor agregado pela exploração
frutífera, com destaque para a produção de goiaba que, em 1999, apresentou o
maior valor R$7.681.000,00, representando quase 26% do valor total das
explorações em Mirandópolis. Nos últimos dois anos, os produtores,
desestimulados com os preços recebidos pela indústria, estão abandonando e/ou
erradicando a cultura da goiaba na região, e apostando em outras frutíferas,
como, por exemplo, na cultura do cajueiro.
Segundo ASADA Empreendimentos Agroindustrial
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(2002), a cultura do cajueiro-anão-precoce vem expandindo-se pela região
Noroeste do Estado de São Paulo, onde o EDR de Andradina se destaca em termos
de pés novos, com 14.377. Isto pode ser explicado pelo fato de o município de
Mirandópolis fazer parte deste EDR, local onde foi introduzida a cultura pela
empresa ASADA Empreendimentos Agroindustrial.
Para estimar e analisar os custos de comercialização, foram realizadas
entrevistas com produtores, técnicos da extensão rural, agentes intermediários
e pesquisadores de órgãos públicos. Também foram levantadas informações na
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP).
O levantamento dos dados necessários à realização do trabalho, nos aspectos
ligados à tecnologia, produção e preços, foi efetuado junto a dois produtores
rurais do município de Mirandópolis, onde a cultura já se encontra em produção.
Esses produtores podem ser considerados representativos dessa atividade na
região por adotarem bom nível tecnológico e obterem produtividade e qualidade
da fruta. Os custos de comercialização foram estimados até o centro atacadista
do Entreposto Terminal do Jaguaré em São Paulo, não abrangendo, portanto, os
segmentos pós-atacado da cadeia de comercialização, considerado o mercado mais
significativo do Brasil, com grande movimentação comercial dos produtos
hortifrutícolas brasileiros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comercialização e seus custos
As formas mais praticadas de comercialização da fruta na região Noroeste de São
Paulo são a de preço em consignação e a de preço combinado, feitas com
atacadistas diretamente na propriedade rural. A forma predominante é a do preço
em consignação, em que o produto é enviado para empresas (atacadistas)
localizadas nas CEASAs ou CEAGESP-SP, e que são responsáveis pela sua
comercialização, repassando aos produtores como preço líquido o preço de venda
recebido pela fruta, descontadas as despesas envolvidas. Nesse tipo de venda, o
agricultor envia seu produto sem saber o preço que irá receber.
Outro tipo de comercialização, ainda pouco praticado na cultura do caju, é a
venda através do preço combinado. Neste sistema, os produtores recebem a visita
em sua propriedade de profissionais que trabalham com compra e venda de
produtos, com os quais negociam o valor de venda da fruta, que é repassado ao
produtor, geralmente após 30 dias.
O caju produzido nesta região pode ser destinado a: venda direta a atacadistas,
atuando na CEAGESP (a maioria) ou em outras CEASAs venda direta na porteira
para intermediários; venda direta para representantes de indústrias para
produção de sucos e doces; ou, ainda, a venda direta a feirantes, supermercados
e quitandas da região.
O caju in natura é comercializado em pequenas caixetas de papelão, com 4
bandejas de PVC, com capacidade média para 1,5 kg (Figuras_02 e 03). Depois,
esta caixeta é revestida com filme plástico treta-pak, possibilitando uma maior
conservação da fruta.
O transporte é feito por transportadoras da região de Mirandópolis-SP, até a
cidade de São Paulo, e em função da distância do local de produção, neste caso
de 600 km, o valor do frete é de R$ 0,55/cx ou US$ 0.27/cx5 por caixa.
Geralmente, estas transportadoras levam até o Entreposto Terminal da CEAGESP,
em São Paulo, vários outros produtos além do caju. Com isto, o preço da caixa a
ser transportada é sempre o mesmo, independentemente da quantidade.
Para o descarregamento, é cobrado um valor de R$0,10/caixa ou US$0.05/caixa. A
comissão do atacadista é de 17,50% sobre o preço médio da caixa de caju no
atacado, e as despesas com a Seguridade Social (2,2%) estão embutidas no valor
da comissão.
Os custos de comercialização pela venda em consignação da caixa de caju de 1,5
kg, pelos produtores da região de Mirandópolis-SP, em outubro de 2001, foi de
R$1,53/caixa. Desse valor, 58% referem-se às despesas com comissão, 36% com
frete e 6% com custo de descarga. Dessa forma, o produtor recebe pela caixa de
caju R$3,50/caixa (US$1.70), que é obtido, descontando-se os custos de frete,
descarga e comissão do atacadista, do preço médio da caixa de caju no atacado.
Deve-se ressaltar que o produtor é responsável por todas as despesas de
produção, colheita, seleção e embalagem.
Considerando o custo total de produção obtido por Petinari (2002), verifica-se
que os custos de comercialização representam cerca de 76% do custo total, valor
este considerado elevado pelos produtores.
Comportamento de mercado
Para a análise do comportamento de mercado do cajueiro, foram levantados dados
referentes às quantidades e preços do kg de caju in natura comercializadas na
CEAGESP de São Paulo, referentes ao período de 1992 a 2000.
Verifica-se que, de janeiro até a primeira quinzena de junho, as quantidades de
caju (pseudofrutos) comercializadas na CEAGESP são menores, em virtude de
corresponder ao período de entressafra nas grandes regiões produtoras do
Nordeste do Brasil. A partir da segunda quinzena de junho, observa-se um
aumento no volume comercializado, que tende a diminuir no final do ano.
Os preços recebidos pelos produtores rurais da região Noroeste do Estado de São
Paulo são referentes à comercialização do caju in natura na CEAGESP de São
Paulo, durante a safra 2000-01.
Observa-se claramente que os maiores preços ocorrem de janeiro até a primeira
quinzena de julho, correspondendo à época de menor quantidade de frutos. Em
janeiro, março, abril e maio, ocorre um grande aumento de preços, pelo fato de
haver menor quantidade de frutos ofertados no mercado atacadista de São Paulo.
Atualmente, a utilização da irrigação vem permitindo a colheita por um período
maior, cerca de 8 meses no ano, que, aliada a estudos de poda, poderá
direcionar toda produção para o primeiro semestre, alcançando melhores preços.
Procedência e destino da produção
Com a finalidade de determinar-se a procedência e o destino do caju in natura
comercializado na CEAGESP, no ano de 2000, foram levantadas as regiões de
procedência, suas quantidades e também a porcentagem com que cada região
participa no volume comercializado na CEAGESP.
A maior parte da fruta do caju comercializada na CEAGESP, em engradados com
capacidade para 3,0 kg, é originária do Estado do Piauí, com cerca de 75.313 kg
(63%), seguido pelo Rio Grande do Norte (22%), do total comercializado6. O
Estado de São Paulo aparece em terceiro lugar, com destaque para a região de
Bauru, que é a principal produtora, porém outras áreas dentro do Estado vêm
aumentando a produção, como é o caso da região Noroeste.
Em termos gerais, os destinos são os mais variados possíveis, com destaque para
as feiras livres, CEASAs regionais, supermercados e sacolões, que
comercializam, respectivamente, 29%, 19%, 17% e 13% do total comercializado na
CEAGESP.
CONCLUSÕES
1 - Os custos incidentes na comercialização do caju na CEAGESP são altos, muito
embora representem hoje a única forma de comercialização da fruta in natura.
2 - Em função da predominância da comercialização pelo sistema de preço
consignado, fica evidente ao produtor que o ideal seria buscar caminhos
alternativos visando a reduzir principalmente os custos com a comissão do
atacadista, o que não é fácil.
3 - O início da operação de uma indústria na região que pretende processar a
castanha e o pedúnculo do caju, deverá aumentar a competitividade pela fruta.
4 - Para o produtor da região Noroeste do Estado de São Paulo, o ideal seria
direcionar sua produção para os meses de janeiro a junho, garantindo assim
melhores preços.