Avaliação de genótipos de banana à sigatoca-amarela na amazônia ocidental
Avaliação de genótipos de banana à sigatoca-amarela na amazônia ocidental1INTRODUÇÃO
A sigatoca amarela causada por Mycosphaerella musicola (Pseudocercospora
musae), a sigatoca negra provocada por Mycosphaerella fijiensis (Paracercospora
fijiensis), juntamente com o mal-do-panamá (Fusarium oxysporum f. sp. cubensis)
e o moko da bananeira (Ralstonia solanacearum), são as mais importantes doenças
da bananeira do Brasil (Cordeiro & Kimati, 1997). A maior preocupação
fitossanitária atual da bananeira é o avanço da doença sigatoka negra, para
regiões tradicionais de cultivo, como o litoral sul e planalto do Estado de São
Paulo (Nogueira, 2000).
M. musicola encontra-se disseminado em todas as regiões produtoras de banana do
Brasil e do mundo, provocando consideráveis prejuízos na produção de frutos
(Fourè, 1994). As folhas atacadas exibem estrias ou manchas cloróticas e/ou
necróticas de coloração cinza-escura e halos amarelados no sentido das
nervuras. A resistência da planta, raça do patógeno e fatores edafoclimáticos,
como chuva, orvalho, umidade relativa do ar, temperatura, drenagem, acidez e
teor de fósforo do solo, influenciam no estabelecimento e desenvolvimento da
sigatoca amarela (Cordeiro & Kimati, 1997).
Mourichon (1987) comparou a morfologia e a patogenicidade de isolados de
Mycosphaerella causadores de patologias distintas, concluindo que as espécies
fúngicas podem ser separadas por eletroforese, sintomas e distribuição
geográfica. Smith et al. (1997), estudando aspectos epidemiológicos da
sigatoca-negra na Costa Rica, detectaram que a severidade varia pouco de um ano
para outro em pequenos plantios e correlaciona-se ao número de horas com
umidade relativa 100% e com o número de folhas infectadas.
O controle da sigatoca amarela pode ser feito com uso de agrotóxicos e óleos
(Stover, 1972), variedades resistentes (Silva et al., 1998) ou a combinação das
duas estratégias. O controle químico via aplicação foliar demanda elevados
custos e volumes de produtos, aumentando o risco de contaminação ambiental.
Ventura et al. (1994) relataram que três aplicações no solo com fungicida
sistêmico foram suficientes para o controle da sigatoca amarela. Washington et
al. (1998) reportaram excelente controle de sigatoca-negra, usando o fungicida
clorotalonil aplicado na face inferior da folha.
Cordeiro & Kimati (1997) afirmam que as principais estratégias de controle
da sigatoca amarela são válidas também para o combate à doença sigatoca-negra,
destacando-se medidas de exclusão, controle químico com uso de óleo, fungicidas
protetores e sistêmicos, medidas de controle cultural como drenagem, combate às
ervas daninhas e desfolha e o uso de variedades resistentes.
A avaliação de genótipos de bananeira em relação a Mycosphaerella sp. pode ser
realizada em campo ou em condições controladas. Herradura & Carreon (1997)
relataram que a inoculação de M. musicola em plântulas de banana, para
avaliação de genótipos, pode ser feita com auxílio de uma mecha de algodão
embebido em uma suspensão de esporos com remoção prévia de cera das folhas.
Mouchiron (1987) afirma que testes precoces de avaliação na fase de plântula
são uma ferramenta útil para triagem de materiais; no entanto, salienta que é
necessária a confirmação da reação em campo. Jones (1995) realizou trabalhos de
avaliação de 150 de genótipos de Musa spp. na Austrália, usando fragmentos de
micélio para inoculações em condições controladas, obtendo resultados de
resistência semelhantes aos do campo.
Cordeiro et al. (1999) avaliaram a resistência de genótipos a sigatoca amarela
em condição de telado por meio de inoculações com suspensão de inoculo, usando
11 genótipos, e classificaram o patossistema Musa - M. musicola como típico de
resistência vertical.
Sherpherd (1990) sugere que a resistência de banana à sigatoca amarela é
controlada por poligenes recessivos, alguns de efeito maior e outros de menor
efeito. Ortiz & Vuylsteke (1994) relataram três genes recessivos
controlando a resistência de banana em relação à sigatoca-negra, sendo um gene
de maior efeito e dois alelos aditivos de expressão menor. Os mesmos autores
relataram que o sistema genético proposto para a resistência à sigatoca-negra
pode aplicar-se ao patossistema banana ' sigatoca-amarela.
Balint et al. (2001) relataram que a resistência da banana à sigatoca negra
está relacionada à produção de uma fitotoxina (2, 4, 8 trihidroxitetralone) por
M. fijiensis. A produção de ceras pelas folhas e a densidade de estômatos na
cutícula são citados como mecanismos de resistência em genótipos resistentes
(Ortiz & Vuylsteke, 1994).
Os problemas fitossanitários são a maior ameaça para a cultura de banana no
Estado do Acre. O sistema de exploração atual de bananeira na região é
caracterizado pelo baixo emprego de tecnologia, problemas no plantio, ausência
de inspeção fitossanitária e escolha inadequada de cultivares. O uso restrito
de apenas três cultivares como 'Prata', 'Maçã' e 'Pacovan', suscetíveis às
sigatocas-amarela e negra, é um fato de grande risco para a cultura na região
(Ledo et al., 1994).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de onze genótipos de
banana, alguns portadores de resistência a Mycosphaerella fijiensis, em relação
à sigatoca-amarela no Estado do Acre.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado no Campo Experimental da Embrapa ' Acre, em Rio
Branco ' AC, entre abril e setembro de 1996. Foram implantadas 50 plantas de
cada genótipo, sendo usadas 24 plantas centrais para a avaliação da doença Os
espaçamentos utilizados foram 3 x 2m e 3 x 3m para genótipos de porte médio e
alto, respectivamente. Foram realizados todos os tratos culturais recomendados
para a cultura na região, e nenhuma medida de controle de doenças foi adotada.
Foram avaliadas as cultivares 'Yangambi km5' (AAA), 'Nam' (AAA), 'Pacovan'
(AAB), 'Mysore' (AAB), 'Thap Maeo' (AAB), 'Pelipita' (ABB), 'Prata-anã' (AAB) e
os híbridos 'Pioneira' = 'PA 03-22' (AAAB), 'JV 03-15' (AAAB), 'PA 12-03'
(AAAB) e 'PV-03-44' (AAAB). Os híbridos 'Pioneira', 'JV 03-15', 'PA 12-03' e
'PV 03-44' foram obtidos dos cruzamentos 'Prata-anã' vs. 'Lidi', 'Prata-java'
vs. 'Calcuttá', 'Prata-anã' vs. 'Lidi' e 'Pacovan' vs. 'Calcuttá',
respectivamente. Todo o material genético foi fornecido pela Embrapa - Mandioca
e Fruticultura, situada em Cruz das Almas-BA.
Os parentais 'Calcuttá' e 'Lidi' apresentam resistência a sigatoca-amarela,
sigatoca-negra e ao mal-do-panamá. As cultivares e 'Prata-anã', consideradas
suscetíveis a M. musicola, foram usadas como fontes de inóculo do patógeno
(Shepherd et al., 1992).
A primeira avaliação da doença foi realizada em abril, coincidindo com a época
de colheita do terceiro ciclo de produção da maioria das cultivares estudadas e
com o final do período chuvoso. A segunda avaliação foi realizada em setembro,
coincidindo com o final do período seco.
Nas avaliações de campo, utilizou-se de uma escala de severidade da doença
modificada em relação à adotada pela Embrapa-Mandioca e Fruticultura, sendo 1:
planta sem sintomas; 2: traços nas folhas velhas; 3: poucas lesões nas folhas
velhas; 4: muitas lesões apenas nas folhas velhas; 5: folhas velhas bastante
atacadas com traços nas folhas novas; 6: folhas velhas bastante atacadas e com
poucas lesões nas folhas novas; 7: folhas velhas e novas com muitas lesões; e
8: folhas velhas e novas com muitas lesões.
O índice de doença (ID) de cada genótipo foi obtido pela média ponderada de 24
plantas avaliadas. Desta forma, o ID = 8 representa alta severidade da doença e
o menor ID = 1, representa alta resistência da planta ao patógeno.
Neste trabalho, procurou-se também avaliar para o mal-do-panamá; no entanto,
não foram detectados sintomas internos ou externos da doença, sugerindo que a
área do experimento se encontrava isenta do patógeno. Na época das avaliações,
não havia sido constatada a ocorrência da sigatoca negra no Brasil.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da avaliação dos genótipos de banana em relação à sigatoca-
amarela, mostrando a freqüência das notas obtidas em duas avaliações e o índice
de doença, podem ser visualizados nas Tabelas_1 e 2.
Na Tabela_3, estão apresentados os índices de doença nas épocas de avaliação em
relação à sigatoca-amarela e a comparação com as reações relatadas na
literatura para as sigatocas-amarela e negra.
As cultivares 'Prata-anã', 'Pacovan', 'Nam' e o híbrido 'PA 12-03' mostraram-se
suscetíveis ao patógeno, apresentando altos índices de doença nas duas épocas
de avaliação. A cultivar 'Mysore' apresentou moderada resistência ao patógeno.
As cultivares 'Nam' e 'Mysore' apresentaram boa produção nos três ciclos de
produção com peso médio do cacho de 7,26 e 13,98 kg, respectivamente, sugerindo
um caso de tolerância à doença.
Os demais genótipos avaliados, 'Yangambi km5', 'Thap Maeo', 'Pelipita',
'Pioneira', 'JV 03-15' e 'PV 03-44', apresentaram baixos IDs, variando de 1,0 a
1,9, sendo classificados como resistentes ao patógeno.
Dos quatros híbridos testados, o 'PA 12-03' apresentou suscetibilidade ao
patógeno, apresentando índice de doença semelhante aos das cultivares
suscetíveis usadas como testemunha. O híbrido 'PA 12-03' foi anteriormente
classificado como resistente nas avaliações realizadas na Embrapa-Mandioca e
Fruticultura (Shepherd et al., 1992). A 'quebra' da resistência ao patógeno do
híbrido 'PA 12-03' pode ser explicada pela variabilidade na transmissão da
resistência nos materiais obtidos a partir do parental masculino 'Calcuttá',
associada à alta suscetibilidade ao patógeno da cultivar 'Pacovan', usada como
parental feminino (Shepherd et al., 1992). A hipótese da 'quebra' da
resistência provocada pelo surgimento de uma nova raça não pode ser descartada,
fato que precisa ser elucidado.
Os híbridos 'PV 03-44', 'JV 03-15' e 'PA 03 22' ('Pioneira') mostraram-se
resistentes à sigatoca-amarela no Estado do Acre, concordando com as avaliações
realizadas por Shepherd et al. (1992) e Cordeiro & Kimati, (1999). Os
primeiros autores verificaram que os híbridos de combinações oriundas do
parental 'Calcuttá' são promissores para resistência a sigatoca-negra em
avaliações realizadas na América Central e que os híbridos 'PV 03-44' e 'PA 03-
22' apresentaram boa resistência ao mal-do-panamá, em avaliações em solos
infectados com o patógeno.
Neste trabalho, usaram-se duas épocas de avaliação para a determinação da
reação dos genótipos de banana à sigatoca-amarela. No entanto, Shepherd et al.
(1992) relataram que a incidência da sigatoca amarela varia, entre um ano e
outro, dependendo do clima, principalmente, entre estações chuvosas e secas.
Considerando que no Estado do Acre prevalecem elevadas temperatura e umidade
relativa do ar durante o ano todo, favorecendo a incidência da doença, o
potencial de inóculo no local do experimento durante a implantação do
experimento foi elevado e que houve boa correlação entre os resultados das duas
épocas da avaliação, conclui-se que apenas as duas avaliações (período seco e
chuvoso) são suficientes na avaliação da reação dos genótipos à sigatoca-
amarela.
CONCLUSÕES
Os genótipos 'Nam' e 'Mysore' e 'PA 12-03' são suscetíveis ao patógeno,
enquanto os genótipos 'Yangambi km5', 'Thap Maeo', 'Pelipita', 'Pioneira' 'JV
03-15' e 'PV 03-44' são resistentes ao patógeno.
A metodologia utilizada para a avaliação da reação de resistência dos genótipos
de banana à sigatoca amarela é eficiente e discrimina genótipos suscetíveis e
resistentes.