Coeficientes de repetibilidade genética de caracteres em pupunheira
Coeficientes de repetibilidade genética de caracteres em pupunheira1INTRODUÇÃO
O Brasil é o maior produtor, exportador e consumidor de palmito do mundo,
atingindo um consumo de 100 mil toneladas/ano, que se baseia principalmente na
extração de palmáceas nativas de espécies do gênero Euterpe, como a juçara (E.
edulis) e o açaí (E. oleracea), apesar de poder ser extraído de grande número
de gêneros e espécies de palmeiras. Nos últimos anos, o cultivo da pupunheira
(Bactris gasipaes Kunth), visando à produção de palmito, tem sido crescente no
Brasil. O interesse pela pupunheira, além de ser uma cultura perene, deve-se a:
precocidade, rusticidade, perfilhamento, palatabilidade e não-escurecimento do
palmito após o corte (Bovi, 1994; Tonef et al., 1999).
Nos estudos com progênies ou cultivares, compreendendo sucessivas avaliações
com vistas ao lançamento de novas cultivares ou à escolha de parentais para
recombinação, é possível estimar os coeficientes de repetibilidade das
variáveis estudadas e quantificar o número de determinações que devem ser
realizadas em um caráter para obter-se uma avaliação fenotípica mais eficiente,
em menor espaço de tempo e com menos custo. Portanto, o conhecimento da
repetibilidade é importante para orientar programas de melhoramento genético,
principalmente envolvendo espécies perenes.
O conceito de repetibilidade pode ser enunciado como sendo a correlação entre
as medidas de determinado caráter em um mesmo indivíduo, cujas avaliações foram
repetidas no tempo ou espaço. Expressa a proporção da variância total, que é
explicada pelas variações proporcionadas pelo genótipo e pelas permanentes
atribuídas ao ambiente comum (Cruz & Regazzi, 1994) e, de acordo com
Falconer (1981), representa o limite superior do coeficiente de herdabilidade.
Valores altos da estimativa da repetibilidade do caráter indicam que é possível
predizer o valor real do indivíduo com um número relativamente pequeno de
medições (Cruz & Regazzi, 1994); isto indica que pouco ganho em acurácia
haverá com o aumento do número de medições repetidas. A repetibilidade tem sido
utilizada com certa freqüência em diversas espécies perenes e semiperenes:
seringueira (Gonçalves et al., 1982; Vasconcelos et al., 1985), cana-de-açúcar
(Bressiani, 1993), Pínus (Cornacchia et al., 1995), cajueiro (Cavalcanti et
al., 1999), alfafa (Pereira et al., 1998; Ferreira et al., 1999), aceroleira
(Lopes et al., 2001), com a finalidade de elevar o índice de eficiência dos
métodos de seleção.
O objetivo deste trabalho foi estimar os coeficientes de repetibilidade dos
caracteres altura da planta, diâmetro da planta à altura do colo e peso líquido
do palmito, e determinar o número mínimo de avaliações capaz de proporcionar
níveis de certeza da predição do valor real dos indivíduos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em janeiro de 1998, no Campo Experimental do
Matapi, pertencente ao Centro de Pesquisa Agroflorestal do Amapá - CPAF/AP. As
31 progênies consideradas provieram do Centro Nacional de Pesquisa da Amazônia
Ocidental - CPAA, Manaus. As sementes foram obtidas a partir de polinização
aberta de matrizes sem espinho, sendo, portanto, progênies de meios-irmãos. O
teste de progênie foi plantado no Campo Experimental do Matapi, do CPAF/AP, da
Embrapa. A área apresenta topografia plana, cobertura com vegetação de
capoeira, clima tipo Ami, segundo a classificação de Köppen, com temperatura
média anual de 27º C, umidade relativa do ar média de 82% e precipitação média
anual de 2.700 mm. O solo é do tipo Latossolo Amarelo textura média.
As progênies foram avaliadas em experimento delineado em blocos casualizados,
com três repetições, parcelas lineares de cinco plantas, espaçadas em 2,0 m x
1,0 m e bordadura composta por uma fileira em torno do experimento. As
progênies foram avaliadas aos 15 meses (1ª avaliação), 26 meses (2ª avaliação)
e 37 meses (3ª avaliação) do plantio, coletando-se dados de altura da planta
(medida do solo até o ponto de inserção da folha-guia e a primeira folha
expandida), diâmetro da planta à altura do colo e peso líquido do palmito
(palmito tipo exportação), conforme recomendações de Clement & Bovi (2000).
Não houve manejo de perfilhos, de tal modo que, na segunda e terceira
avaliações, em muitos casos, foi avaliada mais de uma planta por touceira.
O coeficiente de repetibilidade (r) foi estimado por três procedimentos
estatísticos, de tal forma que foi possível avaliar a consistência da
estimativa obtida. Os métodos foram: análise de variância (ANOVA), componentes
principais e análise estrutural. O número mínimo de medições necessárias para
predizer o valor real dos indivíduos, com base em coeficiente de determinação
genotípica (R2) preestabelecido (0,80, 0,90 e 0,95), foi estimado de acordo com
a expressão fornecida por Cruz & Regazzi (1994). Todas as análises
estatísticas foram realizadas utilizando o programa computacional GENES (Cruz,
1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As estimativas dos coeficientes de repetibilidade obtidas pelos diferentes
procedimentos estatísticos são apresentadas na Tabela_1. As estimativas foram
divergentes entre os procedimentos empregados. Observa-se que as estimativas do
coeficiente de repetibilidade obtidas pelo método da análise de variância
(ANOVA) são sempre iguais ou inferiores às estimativas obtidas pelos métodos
multivariados (análise estrutural e componentes principais) e que, pelo método
dos componentes principais (baseado na matriz de co-variância) as estimativas
foram sempre superiores às obtidas pelos demais métodos. Resultados semelhantes
foram obtidos com Vasconcelos et al. (1985), Cornacchia et al. (1995) e
Ferreira et. al (1999), que verificaram ser a repetibilidade melhor estimada
por meio de métodos multivariados para as características produção de borracha
em seringueira, volume em pínus e produção de matéria seca em alfafa,
respectivamente.
As estimativas do coeficiente de repetibilidade, de maneira geral, são
consideradas baixas, inferiores a 0,4, revelando as dificuldades existentes
para o melhorista em identificar os melhores valores genotípicos a partir da
análise das médias fenotípicas obtidas, considerando apenas os três cortes
efetuados. Em outras palavras, essas estimativas indicaram irregularidades na
repetição do caráter entre uma avaliação e outra. Uma possível causa para as
baixas estimativas obtidas pode ser a ausência de manejo da touceira, haja
vista que ocorreu intensa competição entre as plantas dentro da touceira, o que
afetou a expressão dos caracteres na segunda e terceira avaliações. Segundo
Bovi (1994), para as condições de São Paulo, não há necessidade de promover-se
o manejo dos perfilhos.
Na Tabela_2, encontram-se as estimativas do número de avaliações necessárias
para ter-se diferentes valores de predição do valor real da população (ou
coeficiente de determinação genotípico), obtidos a partir dos coeficientes de
repetibilidade estimados pelo método dos componentes principais baseado na
matriz de co-variância. Para o caráter altura da planta, três avaliações, na
mesma touceira, são necessárias para ter-se predições com confiabilidade de
80%. Para o mesmo percentual de confiabilidade, são necessárias seis avaliações
para os caracteres diâmetro à altura do colo e peso líquido do palmito. Tal
fato era esperado, haja vista que esses dois últimos caracteres são altamente
correlacionados (Farias Neto, 1999)
CONCLUSÕES
1. As estimativas dos coeficientes de repetibilidade das características
estudadas apresentaram baixa regularidade na superioridade das progênies de uma
avaliação para outra. Para o caráter altura da planta, três avaliações são
necessárias para ter-se predições com confiabilidade de 80%. Para os caracteres
diâmetro à altura do colo e peso de palmito, há a necessidade de seis
avaliações, para que a seleção possa ser praticada com o mesmo percentual de
confiabilidade.
2. Foram verificadas diferenças entre as estimativas dos coeficientes de
repetibilidade obtidas pelo método da ANOVA e pelo método da análise estrutural
(co-variância e correlação) com as obtidas pelo método dos componentes
principais (co-variância).