Caracterização do ataque da broca dos frutos do pequizeiro
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
DEFESA FITOSSANITÁRIA
Caracterização do ataque da broca dos frutos do pequizeiro1
Characterization of the attack of the pequi fruit borer
Paulo Sergio Nascimento LopesI; Júlio César de SouzaII; Paulo Rebelles ReisII;
Juvenal Mendes OliveiraIII; Isis Daniely Ferreira RochaIV
IProfessor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Campus
"Montes Claros", CP: 135, CEP: 39.404-006, Montes Claros - MG. psnlopes@ufmg.br
IIEngenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária
de Minas Gerais (EPAMIG - CTSM/EcoCentro). Lavras - MG. epamig@ufla.br
IIIEng. Florestal do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Montes Claros - MG
IVAcadêmica do curso de Biologia da Universidade de Montes Claros (UNIMONTES).
Montes Claros - MG
O cerrado é um bioma que possui inúmeras espécies de plantas identificadas como
importantes fontes de alimentos, substâncias medicinais, madeira, plantas
melíferas e ornamentais (Almeida et al., 1998).
Uma planta típica desse bioma é uma frutífera, o Caryocar brasiliense Camb.
(Caryocaraceae), conhecido vulgarmente por "pequizeiro" ou "piquizeiro". Essa
espécie tem se destacado pelo uso de seus frutos na alimentação humana em
diversas regiões, através do preparo de pratos típicos, condimentos, óleos e
bebidas adocicadas (Almeida e Silva, 1994; Araújo, 1994). Ainda, em diversas
regiões de cerrado do país o extrativismo dos frutos de pequizeiro constitui-se
em uma importante atividade econômica, geradora de renda e emprego. Um exemplo
disso é a região Norte de Minas, onde, segundo Chevez Pozo (1997) e Alencar
(2000), a colheita e a comercialização dos frutos de pequizeiro, durante a
safra de verão de dois meses, dezembro a janeiro, mobiliza 50% da população que
vive no campo, representando 54,7% da renda anual do trabalhador rural.
Entretanto, essa atividade tem sido ameaçada pela diminuição da oferta natural
de frutos. Vários fatores podem levar a essa diminuição, entre estes destaca-se
uma séria praga que vem atacando os frutos, tornando-os impróprios para o
consumo (Alencar, 2000).
Na literatura brasileira são bastante escassos os registros sobre essa praga,
sendo que somente os trabalhos de Araújo (1994) e Macedo & Velôso (2002)
relatam sua ocorrência, sendo o primeiro através de um estudo etnobotânico
desenvolvido junto às populações que vivem no Cerrado da região Norte de Minas
e o segundo via levantamento da entomofauna associada ao Pequizeiro na região
central do estado de Minas Gerais. Contudo, esses estudos abordam de maneira
superficial o ataque, sem identificar o inseto e a sua biologia. Desta forma,
em função das poucas informações existentes, justifica-se a realização de
trabalhos básicos que visem conhecer a biologia do inseto, com o intuito de
subsidiar outros estudos posteriores que objetivem controlar de maneira eficaz
a praga.
Algumas espécies de Carmenta relatadas na literatura estrangeira são: C.
laurelae (Brown et al., 1985), C. odda (Brown e Snow, 1986), C. flaschkai
(Eichein, 1992 a) e C. tidani (Eichlin, 1995), todas nos Estados Unidos da
América do Norte. Outras são: C. andrewsi no México (Eichlin, 1992 b); C.
theobromae na Venezuela (Marin et al., 1999), C. mimosa na Austrália (Forno et
al., 1991; Steinbauer, 1998; Steinbauer et al., 2000) e C. haematica na
Argentina (Cordo et al., 1995 a, b). As duas últimas espécies de Carmenta
relatadas são brocas de raízes grossas de plantas consideradas daninhas e estão
sendo estudadas para uso no seu controle biológico nos EUA e na Austrália,
respectivamente (Forno et al., 1991; Cordo et al., 1955 a, b; Steinbauer, 1998;
Steinbauer et al., 2000).
Diante disso o presente trabalho visou conhecer algumas características da
broca dos frutos do pequizeiro, sua forma de ataque, sintomas e os danos
causados, sendo realizado através da análise de frutos coletados na vegetação
do tipo Cerrado nos municípios de Montes Claros e Itumirim, situados,
respectivamente, nas regiões Norte e Sul de Minas Gerais.
Os frutos, após serem coletados, foram levados para análise no laboratório de
entomologia do Centro Tecnológico do Sul de Minas - CTSM/EcoCentro, da Empresa
de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG, sediado no "campus" da
Universidade Federal de Lavras - UFLA, em Lavras, Minas Gerais.
No município de Itumirim, na época de floração dos pequizeiros, as flores foram
identificadas com o objetivo de se determinar posteriormente a idade dos
frutos. Os frutos foram coletados aleatoriamente em duas épocas, aos 45 e 90
dias após a antese (DAA), sendo colhidos na planta e no solo. Para cada época e
local foram coletados 50 frutos para análise. Já no município de Montes Claros,
os frutos foram coletados aleatoriamente em uma só época, em torno de 80-120
dias após a floração, também na planta e no solo, e na mesma quantidade.
Os frutos colhidos foram analisados quanto aos diâmetros longitudinal e
transversal, percentagem de frutos danificados, número de lagartas por fruto e
número de crisálidas por fruto.
Após essa análise, as características dos estágios de desenvolvimento do inseto
quanto ao comprimento, coloração e morfologia, bem como os sintomas do ataque
foram anotados e documentados fotograficamente.
Praga
Os frutos são atacados desde muito pequenos, com um diâmetro transversal médio
de 3,0 cm, aos já desenvolvidos e em fase de maturação, com diâmetro médio de
5,6 cm quando colhidos na planta (Tabela_1).
Trata-se de uma pequena lagarta de 15 mm de comprimento, de coloração clara,
cabeça pequena, de cor marrom, com três pares de pernas torácicas e cinco
abdominais. Ataca e se alimenta dos frutos de pequizeiro (Figura_1). A lagarta
penetra no fruto até a semente, se alimentando do embrião, tornando os frutos
imprestáveis para o consumo.
Em geral, encontra-se somente uma lagarta por fruto, porém, já foram observadas
até cinco delas num único fruto. Depois de se alimentarem transformam-se em
crisálidas ou pupas dentro do próprio fruto, encerradas em casulo (Figura_2).
Neste estudo, em todos os frutos analisados foi encontrado somente um casulo
por fruto.
Após a fase de crisálida, emerge o adulto (mariposa) que abandona o fruto na
região próxima às sépalas (Figura_3). Analisando-se o inseto adulto, conclui-se
ser uma pequena mariposa de hábitos diurnos da família Sesiidae, gênero
Carmenta, de espécie ainda não determinada (Figura_4).
Sintomas do Ataque em Frutos
Os sintomas externos do ataque da broca nos frutos são observados próximo às
sépalas. Nessa região pode-se perceber perfurações obstruídas com fezes
envolvidas por fios de seda produzidos pela lagarta (Figura_5).
No interior do fruto atacado e com tais sintomas pode ser encontrada, conforme
o desenvolvimento do inseto, a lagarta ou a crisálida. Em geral também são
percebidas diversas galerias tanto no mesocarpo interno quanto no externo. As
fezes envolvidas por fios de seda também estão presentes, inclusive envolvendo
o casulo (Figuras_2 e 6).
Danos Causados pela Praga
Através de resultados iniciais do monitoramento do inseto observou-se que o
ataque é maior em frutos verdes, em desenvolvimento, do que na fase de
maturação (Tabela_1), talvez devido aos frutos em fase de maturação mais
avançada apresentarem endocarpo duro, esclerificado, dificultando o acesso da
lagarta ao embrião (Barradas, 1973).
Em geral, os frutos atacados pela broca caem prematuramente em qualquer fase do
processo de frutificação, o que ficou demonstrado pela quantidade de frutos
danificados no solo (Tabela_1), concordando com o trabalho de Macedo e Velôso
(2002).
Avaliando-se os frutos coletados no solo nos dois municípios, verificou-se que
mais de 50% destes estavam atacados pela broca, indicando que a praga
compromete a metade dos frutos, tornando-os inaproveitáveis, num grande
prejuízo.
Sugestão para o Controle da Broca
O método cultural poderá ser uma opção eficiente de controle desse inseto.
Consiste na catação e enterrio dos frutos caídos sob os pequizeiros, de maneira
contínua, visando evitar que as lagartas presentes dentro desses frutos se
transformem em adultos e ataquem a próxima safra, diminuindo assim a população
do inseto. Além disso, a retirada diária dos frutos rejeitados para a
comercialização, incluindo os brocados, nos pontos tradicionais de venda de
pequi como mercados e feiras, e o seu enterrio (em lixões públicos por exemplo)
em muito ajudará na redução da população da praga.
Com relação ao controle químico, sua adoção parece de início uma opção
inviável, já que o pequizeiro é explorado de maneira extrativista.
Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a broca dos frutos do
pequizeiro é uma lepidobroca da família Sesiidae, genêro Carmenta, espécie
ainda não determinada, que ataca e destrói todo o seu interior, tornando-os
imprestáveis para o consumo. Os frutos mais jovens são atacados com maior
freqüência em comparação àqueles mais desenvolvidos, encontrando-se em geral
uma só lagarta e uma só crisálida por fruto. O ataque da broca pode provocar
danos à produção de frutos superior a 50%.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem o Dr. Victor O. Becker pela identificação do gênero e da
família do inseto.