A prática do ensino na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: um registro da mídia
impressa (1946)
1 Considerações Iniciais
O Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem (LAPHE) da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), fundado no ano de 2000, vem tentando resgatar
a memória desta instituição, bem como contribuir para o preenchimento das
lacunas da história da profissão.
Desta forma, seus pesquisadores, bolsistas e voluntários, vêm privilegiando o
levantamento de fontes e dados em seus arquivos, estejam eles em meio à poeira
e quinquilharias, em arquivos mortos, guardados em armários ou estantes, onde
estão também vários documentos, como: livros de atas, jornais, revistas,
fotografias, documentação de docentes e discentes, dentre outros, ainda por
serem organizados e catalogados.
Nesse conjunto diversificado de fontes, destacamos um exemplar do periódico
intitulado Revista do Serviço Público (1946), que contém uma reportagem
referente à Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP).
Este estudo tem como objeto de análisea mencionada reportagem e por
objetivoanalisar algumas características do ensino na Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto à época (1946).
Essa reportagem foi privilegiada dado o papel relevante que teve em termos de
propagação na mídia impressa, proporcionando ao ensino de enfermagem
visibilidade perante a sociedade e, ainda, por a julgarmos de fundamental
importância para a formação dos enfermeiros.
2 Suporte teórico-metodológico
A reportagem veiculada na mídia escrita proporciona visibilidade social(1), na
medida em que opera a ampliação da notícia de poucas linhas, aprofundando o
fato no espaço e no tempo, com conteúdo informativo, realizado numa abordagem
estilística. Em outras palavras, a reportagem não fixa o aqui, o já, o
acontecer e sim a amplitude dos acontecimentos através da contemplação de fatos
ocorridos, através de precedentes históricos, com dados já interpretados(2).
Existem três gêneros de reportagem: a) a dissertativa, que tem por objetivo
expor ou explanar idéias; b) a narrativa, que é composta de um universo
simbólico com características e funções especificas e se classifica como
ficcional ou jornalística e; c) a descritiva, que caracteriza e identifica o
objeto da reportagem, considerando que estabelece uma ordem global, com base em
regras convencionais(2).
O conteúdo da reportagem analisada foi considerado, primeiro, como linguagem
escrita, aquela sem marcação de planejamento e de execução, por possuir
períodos mais longos e complexos. Em outros momentos, a mesma reportagem foi
analisada como linguagem falada, texto que vem marcado por pausas, em que se
alternam os papéis do falante e do ouvinte e os períodos são mais curtos e
simples(3).
A linguagem escrita e a falada, quando unidas, perfazem a linguagem da palavra
(4). Cabe também registrar que, quando acompanhada de fotografias, como
acontece no presente caso, a linguagem da palavra passa a ter também o registro
da linguagem da imagem.
As imagens fotográficas da reportagem, como linguagens, são representações
simbólicas da realidade, pois revelam espaço e tempo a quem as vêem, implicando
em um retorno ao passado(5).
Desta forma, o conteúdo da reportagem é composto da linguagem da palavra e da
imagem, que decodificam a realidade como efeito da comunicação e ao serem
analisadas mostram seus aspectos convergentes e divergentes(4).
Destacamos aqui como características da linguagem da palavra a de ser simbólica
como representação convencional, unidimensional, basicamente digital1, fechada
e abstrata e ainda possuindo menor carga polissêmica2 que a linguagem da
imagem, que é icônica, não considerada puramente convencional, possibilitando
representação por semelhança, bidimensional, analógica3, aberta e concreta, por
não representar como, por exemplo, a mulher e sim uma mulher(4).
O resultado da análise no que se refere à linguagem da palavra e a da imagem
são apresentadas, concomitantemente. Assim sendo, a partir das afinidades entre
as imagens, catorze imagens fotográficas foram organizadas em três grupos,
denominados: Práticas de Ensino em Enfermagem, com nove imagens; Ensino em
Enfermagem, Momento de Descontração, com quatro fotografias, e; Arquitetura
Escolar, com uma fotografia.
Como amostra, selecionamos quatro fotografias, consideradas de maior relevância
para o presente estudo, que foram numeradas como figuras de um a quatro e
inseridas no texto.
3 A Reportagem e seu contexto
A matéria foi publicada no segundo trimestre de 1946. À época o panorama sócio-
político era o da gestão do presidente Dutra, na qual se deram os debates da
nova Constituição, que deveria substituir a Constituição outorgada pelo Estado
Novo (1937). No que se refere ao ensino, o pesquisador Rômulo P. de Oliveira,
ao examinar os Anais da Assembléia Constituinte, conclui que os princípios
educacionais, a serem discutidos e votados em plenário, o seriam na
representação de dois grupos antagônicos: os católicos e os pioneiros da Escola
Nova(6). Hilsdorf(6) tinha razão ao relatar que o ensino aparece como
regenerador de costumes, forma de contenção social e construtor do progresso
social democrático. Contudo, estudos realizados nos anos 40 apontam para a
perspectiva desenvolvimentista, ou seja, aquela que propõe o ensino como um
fator dinamizador da economia e qualificadora da mão-de-obra.
No contexto da História da Enfermagem, um fato importante foi o sancionamento
do Decreto 8.772, de 22/1/46, que criara a carreira de Auxiliar de Enfermagem
no Quadro Permanente do Ministério da Educação e Saúde. O preparo desse
pessoal, em curso regular, já vinha ocorrendo desde 1941, na Escola Anna Nery
(EAN), como solução emergencial, o que levantava grandes polêmicas, sobre a
relação que deveria existir entre a enfermeira diplomada e a auxiliar(7). Neste
sentido, a Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (ABED) encaminhara
um memorial, em 1946, ao presidente da República solicitando "reconhecimento da
profissão e separação da carreira de enfermeira e a de auxiliar de enfermagem"
(7).
Cabe ainda destacar que, em 1946, já existiam algumas instituições de ensino de
enfermagem, tais como: Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha (1916), Escola de
Enfermagem Anna Nery (1923), Escola de Enfermagem Luiza de Marillac (1939),
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (1942) e Escola de Enfermagem
da Universidade Federal Fluminense (1944), dentre outras(8).Cabe esclarecer que
o mesmo repórter, Adalberto Mário Ribeiro, em 1943, havia realizado uma matéria
sobre a Escola Anna Nery, conforme ele menciona na reportagem em apreço no
presente estudo. Tendo em vista o exposto, e considerando os propósitos
inerentes a uma Revista do Serviço Público,podemos supor que tais documentários
se inseriam numa propaganda do governo, ao tempo em que consistiam também em
uma estratégia de dar visibilidade à escola e a profissão, uma vez que a
reportagem relata com minúcias a operacionalização do ensino de enfermagem,
apontando para sua qualidade no Serviço Público.
A Revista do Serviço Público era um órgão de interesse da administração, sendo
editada com periodicidade mensal, regulamentada pelo Decreto Lei n. 1.870 de 14
de dezembro de 1939, editada pelo Departamento Administrativo do Serviço
Público (DASP), no tamanho de 300 x 234 mm.
O exemplar em apreço apresenta na sua capa a indicação de que se refere ao ano
IX, volume II, número 03, de junho de 1946, dentre outros elementos de
identificação comercial.
Na contra-capa da revista encontramos: o endereço de sua sede - Palácio da
Fazenda, 60 e 70 andar, na cidade do Rio de Janeiro; o nome do diretor, José
Saldanha da Gama e Silva, o diretor geral e os diretores de divisão e de
serviço; e a informação de que era permitida a transcrição de qualquer matéria
publicada, desde que indicada à procedência. Outra informação na contra-capa é
a do valor da assinatura anual - cinqüenta cruzeiros - para o país e de cem
cruzeiros para o exterior; o preço unitário era de cinco cruzeiros.
O sumário encontra-se dividido em três partes - Editorial, Colaboração e
Documentário. O papel das páginas que servem de suporte aos registros
noticiosos e reportagens, devido ao tempo, estão amareladas e várias páginas
estão rabiscadas ou rasgadas.
Na parte denominada "Documentário", encontramos a reportagem intitulada "A
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto", assinada pelo jornalista Adalberto Mario
Ribeiro ' responsável pela seção de reportagem -, com um total de dezesseis
páginas.
Nestas páginas, constam alguns elementos de marcação textual, com treze
subtítulos e catorze imagens fotográficas em preto e branco.
A reportagem se inicia, ainda na apresentação ao leitor, relatando as
dificuldades que o jornalista encontrou para localizar a instituição situada na
Avenida Pasteur, número 292. Informa tratar-se da ex-Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras do Hospital Nacional de Alienados, mantida pelo
Serviço Nacional de Doenças Mentais e pouco conhecida pela sociedade. Esclarece
que, devido ao fato de haver sido criada pelo Decreto 791, de 27 de setembro de
1890, pelo Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, trata-se da
escola oficial de enfermagem mais antiga do país.
Na linguagem da palavra, cita o autor que, ao procurar a instituição, encontrou
fechado o casarão do antigo hospício, porém, não desanimou e prosseguiu pela
calçada em direção à Praia Vermelha, quando se deparou com uma casa velha,
recuada da rua, tendo à sua frente um gradil, em continuação ao hospício, e à
sua porta um garoto sujo chupando um picolé, ao qual questionou: "- Você sabe
onde tem por aí uma escola? - Aqui tem uma, responde, e D. Maria está lá dentro
com as moças"(9:76).
O repórter, ao finalmente encontrar a sede da EEAP, marca o texto com a palavra
respiração aspada que, em nosso entendimento, é de satisfação. Assim, ele
relata não haver placa ou tabuleta com o nome da instituição, o que o faz
pensar que o motivo para tanto era o de ser uma casa feia, esburacada, velha; e
observa: "... Que diferença da Escola Ana Néri, lá bem defronte, do outro lado
da enseada de Botafogo! (referindo-se ao antigo internato da EEAN). E, no
entanto, as duas escolas se acham subordinadas ao mesmo Ministério da Educação"
(9:76). Um dado interessante é de que não foram encontradas fotografias
referentes à fachada da EEAP à época.
Contudo, sem se dar conta, ele registra sua percepção no texto, bem como
fotografa a fachada da EEAP, provavelmente, como um documento comprobatório de
suas palavras, sendo considerado até o momento, como o único referente à
entrada da instituição, à época, após a sua saída do Hospital Psiquiátrico no
Engenho de Dentro, conforme apresentamos a seguir, acrescentando que a imagem
pertence ao grupo fotográfico arquitetura escolar.
Desta forma, a fachada arquitetônica da EEAP, representada na linguagem da
imagem, faz parte do cenário da paisagem da Praia Vermelha, até os dias de
hoje, mesmo com o novo prédio erguido e inaugurado, em 1966 (Foto_1). Com
razão, Leite (10), relata que quando a imagem fotográfica se faz presente, ela
saiu da representação imaginária, passando para uma representação concreta,
conforme estamos aqui tentando provar, com a fachada da EEAP em fato concreto.
Essa imagem é considerada, para o repórter, provavelmente, como um documento de
comprovação do seu relato, mas para o presente estudo ela é muito mais que um
documento comprobatório, ou seja, é um registro de imagem fotográfica(11).
Após a reportagem ser apresentada da forma descritivonarrativa, encontramos um
subtítulo denominado "Dama da Lâmpada", que faz um resgate histórico da
profissão de enfermagem, mais especificamente, da vida de Florence Nightingale,
até o momento em que o repórter menciona o nome da Diretora da Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, Maria de Castro Pamphiro, destacando ser ela
discípula de Clara Louise Kienninger, ex-Diretora da EEAN e, em seguida fazer
uma retrospectiva da história da EEAP, oferecendo datas e nomes que fazem parte
da construção da memória institucional.
Em outro subtítulo da reportagem - "Escola de Enfermagem Alfredo Pinto" - o
conteúdo traz a matriz predominante do gênero narrativo como linguagem da
palavra e da imagem, com três fotografias pertencentes ao grupo práticas do
ensino em enfermagem, sobre as aulas práticas, e uma do grupo do ensino em
enfermagem, momento de descontração, referente às alunas no pátio antes de uma
aula.
Assim, essa parte se inicia com o anúncio ao leitor de que o mesmo iria ouvir a
Diretora da EEAP, Sra. Maria de Castro Pamphiro que, além de diretora da EEAP
era, simultaneamente, membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de
Enfermeiras Diplomadas (ABED ' Diretoria Nacional, gestão 1945/49), e vice-
presidente do Núcleo do Distrito Federal (então na cidade do Rio de Janeiro) da
mesma entidade(12).
Antes de começar a entrevista, o jornalista observara que diversas alunas, ao
entrarem no gabinete da direção, deixavam sobre a mesa um pequeno cartão. Ao
perguntar sobre o fato à diretora, ela esclarece que segunda-feira era o dia da
semana em que alunas e alunos deveriam informar a direção as atividades por
eles desenvolvidas durante a semana, tais como aulas, conferências, trabalhos
práticos, dentre outros. Ao perguntar se todas as escolas se utilizavam deste
instrumento a diretora respondeu que "não, pois aquele era de sua criação"(9),
destacando que na EEAn tinha um parecido, mas que aquele era muito mais
minucioso.
Neste momento, pode-se observar o grau de controle da instituição sobre o corpo
discente, pois, conforme destacou a diretora, o citado cartão era mais
específico que da EEAN, escola de sua formação.
No decorrer da entrevista, o repórter faz diversas outras perguntas, inclusive
sobre sua estada de um ano e meio nos Estados Unidos, com financiamento
concedido pela Fundação Rockefeller, e a Senhora Pamphiro revela ainda ter
passado por Toronto e Filadélfia, onde teve a oportunidade de se >aperfeiçoar
nos serviços de saúde pública e de enfermagem escolar, o que outro estudo
ratifica(8).
Na reportagem, Maria de Castro Pamphiro relata que, a EEAP, apesar de muito
antiga, achava-se apenas há três anos sendo dirigida por uma enfermeira,
ressentindo-se a instituição das direções anteriores, exercidas por médicos
psiquiatras, embora, destacava ela, por ali já tivessem passado nomes de relevo
na especialidade. A diretora mencionada na historiografia de enfermagem atual
como aquela que abriu novos horizontes à escola, sendo sua preocupação maior a
busca da equiparação da EEAP ao padrão oficial de escola de enfermagem, como
várias outras escolas existentes no país haviam logrado(8).
A reportagem menciona que a escola vinha atraindo muita(o)s jovens para a
profissionalização de enfermagem, sendo muitas(o) parentes de médicos. A
matrícula era limitada a quarenta vagas para alunos internos, com remuneração
de cem cruzeiros, oferecida pelo governo federal. Após o curso os mesmos eram
aceitos como profissionais nos serviços hospitalares e sanitários, ressaltando
que, naquele momento, encontravam-se na escola alunos de vários estados, dentre
eles, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Sul, atendendo ao Decreto n.10.472/42,
que aprovara o regulamento da EEAP(8).
Vale esclarecer que o fato de a EEAP contar com alunos de outros estados da
federação em seu corpo discente, deviase à divulgação realizada pelo
Departamento Nacional de Saúde na gestão de Barros Barreto.
O regimento da Escola determinava o cumprimento de carga horária diária de 10
horas, com intervalo de café, almoço, merenda e jantar. O currículo compreendia
aulas teóricas e práticas e estágios em cenários como o Instituto de Neuro-
Sífilis, serviços do Departamento Nacional da Criança, o Hospital São Francisco
de Assis e instituições do Serviço Nacional de Doenças Mentais. Em suas
palavras, a diretora registra ser um dos maiores interesses da instituição, o
de difundir no país ensinamentos de enfermagem em psiquiatria, que a escola
facultava como especialização para os enfermeiros já diplomados.
Dentre as quatro imagens apresentadas nas páginas da entrevista com a diretora
da EEAP, destacamos duas fotografias: a primeira, referente à linguagem da
imagem possui foco parcial interno da narrativa, sendo os fatos narrados a
partir do ponto de vista do ator na imagem, cujo narrador sabe mais do que
aquele que aparece na fotografia(3).
A imagem a seguir (foto_2) pertence ao grupo das práticas do ensino de
enfermagem e aponta, em sua análise, para uma técnica desenvolvida por um
discente de enfermagem, aquele que participa da ação e também sofre suas
conseqüências.
A imagem da aula é referente à revisão da técnica de curativo abdominal; o
cenário é típico de uma sala de demonstração de técnicas de enfermagem. Com
seus olhares voltados para o estudante de enfermagem, do sexo masculino, os
demais observam, á beira do leito, a execução da técnica em um manequim' o
discente tem à sua frente uma bandeja com frascos e instrumentos necessários à
realização do curativo.
Ao fundo, dispostos de forma circular, os alunos, uniformemente vestidos,
observam a execução da tarefa, porém, os olhares de duas alunas, a primeira e a
terceira da direita para esquerda, encontram-se deslocados para a câmera e não
para a demonstração que está sendo realizada. O espaço físico é pouco visível,
mas destaca-se a parte superior de um biombo, também utensílio, ao fundo da
imagem fotográfica ' o mesmo aparece em outra imagem fotográfica em ângulo
diferente. O ângulo mencionado refere-se à segunda imagem, pertencente ao grupo
das práticas do ensino de enfermagem, que possibilita visualizar de forma mais
ampla e discreta, sob a ótica do espaço na linguagem de focalização parcial
externa da narrativa.
Esta focalização refere-se a uma visão em plano médio, na qual podemos perceber
as ações das pessoas envolvidas narradas com objetividade, o que oferece
possibilidade de leitura, quanto aos alunos desenvolvendo uma atividade na sala
de demonstração de técnicas de enfermagem(3).
A imagem fotográfica (foto3) registra a posição dos discentes, dispostos em
forma de L, vestidos uniformemente e, no centro da imagem, é possível
visualizar três pessoas, Enfermeiras e Professoras, com roupas diferenciadas
das demais, que se encontram ao fundo. Outro detalhe é que, ainda no conteúdo
da imagem, destaca-se o quadro de uma mulher, no alto da parede, que sugere
estar supervisionando a atividade, o que, em forma de representação imagética,
indica o respeito e a lembrança mítica. No entanto, não foi possível até o
momento identificar a mulher da foto.
Em outro momento da reportagem intitulado "Salas de Aulas", o texto passa a ser
descritivo, prosseguindo com a linguagem da palavra e da imagem na mesma
página. As imagens que acompanham o texto intitulado "Salas de Aula", perfazem
o total de duas fotografias. Uma pertencente ao grupo das práticas de ensino da
enfermagem, com alunas sendo pesadas por uma Enfermeira-Professora e, a outra,
do grupo de ensino enfermagem, momento de descontração, com alunas encaminhado-
se para o pavilhão de aulas, como descrito na legenda fotográfica.
Neste momento do texto, a linguagem da palavra, descreve o interior da escola,
ou seja, relata que, no térreo, funcionam duas salas de aula, uma para as aulas
de dietética e outra para os discentes do quarto período. Já no primeiro andar,
há duas salas de aula, uma para anatomia e história natural e outra destinada
às aulas teóricas.
Contudo, cabe aqui destacar, que a fachada do prédio apresentada,
anteriormente, nesse texto, não condiz com a descrição do parágrafo acima, ou
seja, a imagem da entrada da EEAP nos aponta para somente um pavimento, mas
acima o repórter menciona outro pavimento, deixando em aberto alguns
questionamentos.
Assim, a reportagem menciona um espaço destinado para a demonstração das
práticas de enfermagem, bem como descreve alguns utensílios, dentre eles, três
manequins utilizados para o ensino prático da enfermagem. Neste espaço, o corpo
discente aprende a lidar com os instrumentos do cuidar como, por exemplo, as
bandejas, relatadas no total de vinte e seis tipos.
Ainda na linguagem da palavra, a reportagem registra como as disciplinas eram
distribuídas no Curso de Enfermagem, em seis períodos, com no máximo cinco
disciplinas para cada um, bem como as disciplinas do Curso de Especialização de
Psiquiatria, para os Enfermeiros já diplomados, divididos em dois períodos, com
duração de seis meses e, no máximo, quatro disciplinas de três em três meses.
Quanto à organização de distribuição e títulos das disciplinas citadas na
reportagem, podemos afirmar que convergem para o que determina o Decreto n.
10.472/42, no seu artigo 2, referente ao Curso de Enfermagem, com vinte sete
disciplinas, e no artigo 3 para o Curso de Especialização de Serviços
Psiquiátricos para Enfermeiros Diplomados, com oito disciplinas(13).
Outro subtítulo da reportagem, "Corpo Docente da Escola de Enfermagem Alfredo
Pinto" apresenta nominalmente todo o corpo docente da instituição, entre
médicos e enfermeiras, com duas imagens fotográficas dos discentes, sendo uma
pertencente ao grupo do ensino da enfermagem, momentos de descontração, uma
representação imagética do momento de intervalo das aulas e outra pertencente
ao grupo das práticas do ensino de enfermagem, referente a uma aula de
dietética.
Aqui, destacamos a imagem das discentes no intervalo das aulas, em semicírculo,
vestidas diferentemente de uma enfermeira, notada no canto direito para o
esquerdo. No centro da imagem com uma bola, instrumento para a descontração e
também por considerarmos como atividade física, esporte.
Na imagem fotográfica_4, a pessoa com vestimenta diferente dos demais,
localizada no canto direito da fotografia, apresenta-se alegre, sendo ela uma
provável Enfermeira-Professora, pois se encontra trajada de branco (roupa e
sapato), enquanto os alunos de uniformes em duas cores, na roupa, e sapatos
escuros.
A relação nominal dos docentes do Curso de Enfermagem consiste de vinte e
quatro "Drs", com sete professores para a formação de enfermeiros e sete
enfermeiras diplomadas da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto e da Escola de
Enfermagem Anna Nery, sendo elas: Adélia Pedroso Teobaldo, Maria Mercês Araúlo,
Mercedes Ricardina dos Santos, Maria da Penha Machado Pollmann, Olimpia Avelar
Lopes, Regina Meincke, Débora Martins Saião.
Apesar do registro do conteúdo da reportagem não mencionar o valor do pagamento
mensal ou por hora/aula dos docentes, acreditamos ser relevante ao estudo aqui
mencionar Decreto n.º 10.472/42, que garantia aos professores não
comprometidos, ou seja, aqueles admitidos como extranumerários, o direito de
receber o valor de 40$0 (quarenta cruzeiros) por hora aula dada ou de trabalho
executado, não extrapolando nove horas por semana. Para os monitores honorários
de 5$0 (cinco cruzeiros) por hora de trabalho, não excedendo a 100$0 (cem
cruzeiros)(13).
Após o exposto acima, são apresentados aos leitores diversos subtítulos com
textos descritivos de no máximo três parágrafos sem mais se fazerem acompanhar
de imagens fotográficas, como se segue.
No subtítulo "Museu", o repórter relata um armário de miniaturas de peças
empregadas na formação dos instrumentos de trabalho da enfermagem,
confeccionadas pelo próprio corpo discente.
No subtítulo "Alunos formados", um dado de grande relevância é oferecido sobre
o quantitativo de formados até aquela data, num total de oitocentos. Entre
moças e rapazes, o percentual era de oitenta especializados em enfermagem para
os doentes mentais que, segundo a reportagem, era conhecido como sendo uma nova
versão do antigo Curso de Visitadora Social, considerado como uma extensão do
curso de enfermagem, sendo a terceira série, conforme preconizava o Decreto
17.805/1927.
No subtítulo "A vida dos alunos na Escola" descreve o cotidiano dos alunos,
relatando que o café da manhã ocorre às seis horas e em seguido partem para
diversos hospitais, como, por exemplo, o Instituto Fernandes Figueiras para
estágio em dietética infantil e assistência pediátrica. Outro sub-título é
"Excursões" o texto apresenta ao leitor as excursões realizadas pelos alunos a
diversos hospitais, museus, escolas, que se faziam seguir de relatórios
elaborados pelos discentes, além das festas, como, a de Natal e Ano Novo, com a
participação dos familiares dos alunos e, quando possível, de alguns doentes.
No subtítulo "Biblioteca" o texto aponta para duzentos e sessenta volumes de
obras sobre enfermagem em prosa ou em verso. outro sub-título, "Sala de
Costura", relata possuírem duas máquinas que, após a sua aquisição, passaram a
abastecer de roupa a sala de demonstração em enfermagem, e por último "Arquivo
Escolar", a reportagem registra a preocupação pela recuperação dos documentos,
desde a criação da escola, relativos à vida escolar dos antigos alunos.
4 Considerações Finais
Ao analisar, no conteúdo da reportagem, o ensino na Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (1946), tivemos a oportunidade de entrar em contato, de forma
mais íntima, com o espaço da instituição, através da narração e descrição da
linguagem da palavra e da imagem, oferecidas pelo repórter.
Cabe destacar que, apesar da EEAP estar sediada à época em uma casa sem placa
ou tabuleta com o nome da instItuição e em má estado de conservação, ela
atendia aos seguintes requisitos exigidos pelo Ministério da Educação e Saúde
(14): fornecer o ensino teórico e prático de enfermagem; acomodações
indispensáveis para residência do corpo discente; ambientes para recreação e
vida social meio para o repouso em serviço, o que foi amplamente descrito,
narrado e retratado no conteúdo da reportagem.
O garimpo exaustivo em novas fontes de pesquisa vem se mostrando frutífero na
recomposição da trajetória da EEAP. A pérola encontrada nessa reportagem, que é
a foto da fachada da Escola, confirmou o que já conhecíamos por meio de
depoimentos.
Outro ponto evidenciado pela análise da reportagem, é o fato de que a EEAP já
atraia à época muitos jovens para a profissionalização de enfermagem e um dos
atrativos para a matrícula era a remuneração, oferecida pelo governo federal,
bem como a possibilidade de após o término do curso, os alunos serem recebidos
como profissionais nos serviços hospitalares e sanitários.
Deste modo, o presente estudo contribui para demonstrar o papel desempenhado
pela EEAP, de iniciadora da profissionalização da enfermagem no Brasil e de
precursora do ensino de enfermagem no país(15).