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BrBRCVHe0034-71672004000100016

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variedadeBr
ano2004
fonteScielo

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Fazendo e aprendendo: uma experiência de ensino/aprendizagem RELATO DE EXPERIÊNCIA

Fazendo e aprendendo: uma experiência de ensino/aprendizagem

Doing and learning: a teaching/learning experience

Haciendo y aprendiendo: una experiencia de enseñanza/aprendizaje

Maria José Sanches MarinI; Elaine Morelato VilelaI; Cristina Peres CardosoII; Luzmarina Aparecida Doreto BraccialliIII; Shirlene PavelqueiresIV;Márcia Rosely Miyakawa DadaltiV IDoutora em Enfermagem. Docente da Disciplina de Enfermagem em Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília IIMestre em Enfermagem. Docente da Disciplina de Enfermagem Pediátrica do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de MaríliA IIIMestre em Enfermagem. Docente da Disciplina de Enfermagem em Saúde Coletiva do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília IVDoutora em Enfermagem. Docente da Disciplina de Enfermagem Clinica do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília VAuxiliar de Ensino da Disciplina de Enfermagem em Ginecologia e Obstetrícia do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília

1 Introdução Nas últimas décadas, o mundo todo vem sofrendo profundas mudanças nos aspectos econômico, político, social e cultural, as quais ampliaram as desigualdades econômicas com conseqüências sociais visíveis.

Diante desse contexto, na área da saúde, busca-se a efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) visando o acesso universal, a qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social. Tal necessidade demanda uma reorganização na formação e capacitação de recursos humanos para atuar de forma que atenda às reais necessidades da população.

A 11ª Conferência Nacional de Saúde aponta para o papel das universidades na formação, requalificação e qualificação profissional, propondo, entre outras necessidades, a revisão das estruturas curriculares pautada na política, legislação e trabalho no SUS, de forma articulada com os seguimentos de controle social possibilitando a reorganização da prática, rotina e modelos de atenção à saúde(1).

Para a enfermagem brasileira, a transição no sistema de saúde abre novas oportunidades para o surgimento de um profissional com mais autonomia e maior poder técnico, administrativo e político na gestão de sistemas municipais de saúde e necessita apropriar-se de novas tecnologias(2).

As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Enfermagem, aprovado pela Portaria n. 1518 de 14.06.2000(3), prevêm que a construção do Projeto Político Pedagógico contribua para formação de profissionais com conhecimento de novas ferramentas que possibilitem a atuação com a vida e com a sociedade, subentendendo ruptura com o modelo de divisão social, modelos tecnicistas de ensino e a aquisição de habilidades voltadas para a realização de procedimentos especializados(4).

Lima e Ribeiro(4) apontam o desafio na construção de novos modelos pedagógicos para a formação de profissionais no campo da saúde, frente às necessidades da sociedade atual, que consiste em fazer acontecer na escola o que esperamos suceder fora dela, nos espaços de promoção e de provisão de cuidados à saúde.

Em resposta a uma política nacional e institucional, os docentes do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) deram início, em 1993, a um processo de revisão do currículo e da proposta pedagógica adotada.

Objetivava-se com isso implementar um modelo de educação para os profissionais de saúde alicerçado nos sistemas locais, com a finalidade de construir um modelo formador de recursos humanos em saúde que atendesse aos perfis epidemiológicos, em parceria com os serviços e com a participação da população.

O processo de revisão curricular se deu mediante o desenvolvimento de vários cursos de capacitação pedagógica, voltados para os docentes do Curso de Enfermagem, os quais entenderam a proposta de currículo integrado como a mais próxima de atingir o ideário em questão.

Delinearam-se, inicialmente, os princípios filosóficos que norteariam o desenvolvimento do currículo, incluindo os conceitos de enfermagem como prática socialmente determinada, de homem como ser capaz de agir e modificar a realidade, de estrutura social constituída pelas relações de poder e de processo saúde/doença determinado pelo trabalho e formas de vida das pessoas (5).

Dessa forma, definiu-se o perfil do enfermeiro a ser formado pelo Curso de Enfermagem da seguinte forma: "Profissional generalista, reflexivo, capaz de trabalhar em equipe, tomar decisões e intervir criticamente no processo saúde/ doença, considerando o perfil epidemiológico e provendo cuidados de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade, de forma humanizada, buscando constante atualização do conhecimento".

Seguindo a proposta de construção de currículo integrado(6), após a definição do perfil profissional a ser formado, partiu-se para a identificação dos conhecimentos necessários para tal formação. Esse passo conhecido como rede explicativa, traz os princípios gerais (conceitos chaves), os quais por sua vez, deram origem às Unidades Educacionais, distribuídas nas quatro séries que compõem o curso.

As disciplinas tradicionais deixaram de ser oferecidas separadamente para integrar-se nas Unidades Educacionais, nas quais os conteúdos são desenvolvidos, de forma integrada, em seqüências de atividades contextualizadas com a realidade prática vivenciada pelo estudante. Desta forma, foram desenvolvidas, nas quatro séries, 22 unidades educacionais.

A implementação do novo currículo do Curso de Enfermagem foi iniciada em 1998 e privilegiou a integração dos conteúdos, teoria e pratica e ensino/serviço, bem como a utilização da metodologia problematizadora.

Na avaliação da nova proposta que ocorreu no decorrer do processo de ensino aprendizagem e contou com a participação dos estudantes e docentes, sentiu-se a necessidade de maior integração das Unidades Educacionais e se identificou fragilidades na articulação ensino/serviço e teória/prática. Como conseqüência, surgiu a proposta de integrar as Unidades Educancionais das séries. Tais Unidades Educacionais, após passarem por reestruturações gradativas, atualmente, encontram-se organizadas por série. A primeira e segunda séries, tem como cenário de ensino uma microárea, com uma média de 40 famílias, pertencentes a uma Unidade Básica de Saúde do município; a terceira série desenvolve suas atividades nas Unidades hospitalares e o Estágio Supervisionado na quarta série desenvolve-se em ambos os cenários (rede básica e rede hospitalar), com um semestre em cada cenário.

Nossa proposta, portanto, é relatar a experiência da segunda série do Curso de Enfermagem na busca de superar a dicotomia apontada.

2 A segunda série do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília Na segunda série dá-se continuidade ao trabalho iniciado pela primeira série do curso, na qual os estudantes realizam o diagnóstico de saúde da coletividade, seguindo os passos proposto por Acurcio(7), o qual fundamenta-se no referencial do Planejamento Estratégico Situacional (PES) proposto por Carlos Matus e compreende o conhecimento da realidade local, levantamento dos problemas e explicação de suas causas e conseqüências, determinação dos nós críticos, planejamento e implementação das soluções e avaliação das ações implementadas.

Além disso, na primeira série, os estudantes iniciam a avaliação do estado de saúde do indivíduo, considerando os principais agravos encontrados na coletividade.

A segunda série, portanto tem, o seguinte propósito: "Estudar a sistematização da assistência de enfermagem, no nível primário de atenção à saúde, com enfoque na vigilância à saúde, utilizando o método clínico, epidemiológico, pedagógico e administrativo, no contexto das famílias de uma microárea, pertencente a uma Unidade Básica de Saúde do município, considerando as diferentes etapas do crescimento e desenvolvimento humano.

A elaboração de tal propósito teve como ponto de partida o fazer do enfermeiro, o que justifica a sistematização da assistência de enfermagem a partir dos principais problemas encontrados ao nível individual e coletivo.

Considerando-se o propósito da unidade foram construídos desempenhos a serem atingidos pelos estudantes, os quais, além de guiar a construção das atividades de ensino, serviram de parâmetro para avaliação dos estudantes.

Os desempenhos a serem atingidos pelos estudantes da segunda série são: · Presta assistência de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade fundamentado na sistematização a assistência de enfermagem, visando a vigilância à saúde e a autonomia do sujeito; · Utiliza recursos de ensino aprendizagem no desenvolvimento das atividades; · Trabalha em grupo; · Realiza trabalho com grupo; · Realiza visita domiciliar; · Trabalha em equipe interdisciplinar e multiprofissional; · Desenvolve a capacidade de observação, comunicação e análise crítica com base em princípios éticos e de cidadania; · Utiliza precaução padrão.

Os desempenhos acima são considerados como desempenhos maiores. No entanto, eles são detalhados de forma a abranger os aspectos cognitivos, comportamentais e de habilidades.

A figura_I apresenta, de forma esquemática, a construção da série em questão, destacando-se dois grandes temas, a manutenção da vida, incluindo as necessidades de oxigenação, proteção, alimentação, hidratação, eliminação e circulação e avida de relações que enfoca a sexualidade e reprodução nas diferentes fases do desenvolvimento humano. Tal construção considera os sinais e sintomas de afecções crônicas e agudas mais freqüentes de forma a atuar na promoção, prevenção e terapêutica das mesmas, com ênfase nas condições de vida e trabalho do indivíduo, família e comunidade.

Nesse sentido foram construídas as seqüências de atividades, nas quais encontram-se as estratégias de ensino/aprendizagem, deixando claro o que o aluno e o professor devem realizar para atingir os desempenhos propostos.

As seqüências de atividades organizam-se de acordo com a metodologia probematizadora, partindo do princípio de que, em um mundo de mudanças rápidas, o importante não são os conhecimentos ou idéias nem os compromissos corretos e fáceis que se esperam, mas sim o aumento da capacidade de percepção da transformação social para detectar os problemas reais e buscar para eles soluções originais e criativas(8).

Assim, os três níveis de operações mentais (representação, relação, ação) devem ser consideradas ao sistematizar o processo de pensamento para que o adulto possa desenvolver e usar seu potencial intelectual(9) .

No primeiro momento, portanto, os estudantes em contato com a comunidade e com as atividades práticas do serviço, são estimulados a elaborar perguntas sobre o assunto que está sendo analisado, partindo do senso comum e a identificar os pontos que demandam maior aprofundamento. Num segundo momento, de posse dos dados da realidade e dos questionamentos, os estudantes buscam o conhecimento através de entrevistas, visitas, leitura de livros e revistas, Internet, laboratórios, ou outras formas de obtê-lo. Após essa busca, eles têm a oportunidade de retornar para sala de aula e discutir o assunto com um especialista convidado para essa finalidade, o que, a nosso ver, possibilita ao estudante obter conhecimento amplo do assunto, além de discutir suas dúvidas.

Concomitantemente, as ações são implementadas e avaliadas no decorrer da atuação prática.

A maioria das atividades são realizadas em pequenos grupos com acompanhamento de um professor, que assume o papel de orientador. Em alguns momentos, porém, os estudantes retornam ao grande grupo para participar de plenárias, onde são discutidos os temas centrais que norteiam a seqüência em desenvolvimento.

Em alguns momentos, os docentes das Disciplinas Básicas que fazem parte da série (anatomia, fisiologia, enfermagem psiquiátrica e saúde mental, microbiologia, farmacologia, embriologia, imunologia, patologia, bioquímica, histologia, genética e psicologia) vão ao campo, no qual são desenvolvidas as atividades praticas, com a finalidade de vivenciar, junto com os estudantes, a problemática que emerge dela e após a teorização, retornam para discussão e definição da solução mais adequada a ser implementada na situação em questão.

A avaliação é uma atividade permanente e dinâmica do processo de ensino/ aprendizagem, com a finalidade de visualizar os avanços e dificuldades, o que possibilita ajustes no processo. Propõe, portanto, acompanhar e recuperar as lacunas que, eventualmente, possam conter, além de verificar o quanto o estudante avançou nos desempenhos propostos na unidade e o quanto o professor contribuiu para este avanço e adequação.

3 Considerações Finais Mudar em educação representa a ruptura do hábito e da rotina, a obrigação de pensar de forma nova em coisas familiares e a tornar a pôr em causa antigos postulados(10). Esse é o grande desafio daqueles que se propõem a mudar, uma vez que a tendência, a norma e a inércia são forças persistentes na pratica humana(11).

Nesse sentido, os docentes do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília, vêm trabalhando persistentemente no processo de mudança curricular, cuja finalidade é centrar o ensino no estudante, utilizar os problemas prevalentes da comunidade como base para a aprendizagem, visando a melhoria da qualidade do cuidado prestado e a parceria com o serviço de saúde.

O momento que nos encontramos atualmente, é o reflexo dos cinco anos de atuação no currículo integrado utilizando-se da metodologia problematizadora, através da construção e reconstrução coletiva e contínua. Tal experiência tem se revelado como um processo lento, no entanto, consistente e enriquecedor, devido às constantes avaliações e reflexões entre os seus integrantes.

Este programa de ensino tem possibilitado ao estudante a compreensão do processo de saúde e doença, através do acompanhamento sistemático, durante todo ano letivo, dos usuários residentes na microárea.

Tais mudanças parecem representar alguns avanços, mas também colocam alguns desafios. Entre eles, destacamos a necessidade de aprimoramento da capacidade dos professores para trabalhar em grupo, a melhoria na articulação teórico/ pratica e das áreas de conhecimento entre si.

Para finalizar, é oportuno considera que a mudança pela qual o Curso de Enfermagem está passando, deve ser entendida na perspectiva do pensamento dialético, segundo o qual, as transformações não ocorrem de modo linear, mas sim por meio de avanços e recuos, num processo em que o novo convive com o antigo.

O relato de experiência que ora apresentamos, com certeza, ainda carece de grandes aprimoramentos.


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