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BrBRCVHe0034-71672004000500012

BrBRCVHe0034-71672004000500012

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
ano2004
Issue0005
Article number00012

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A pesquisa em enfermagem no congresso de iniciação científica de uma universidade de São Paulo PESQUISA

A pesquisa em enfermagem no congresso de iniciação científica de uma universidade de São Paulo

La investigación en enfermería en el congreso de iniciación científica de una universidad de São Paulo

Nursing research at the congress on scientific initiation in a university in the city of São Paulo

Maria Magda Ferreira GomesI; Maria Cristina SannaII IEnfermeira. Mestre e Doutora em Enfermagem. Professora Titular e Membro da Comissão Científica da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Santo Amaro.

IIEnfermeira. Mestre e Doutora em Enfermagem. Professora Titular e Membro da Comissão Científica da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Santo Amaro.

Email do autor: mcsanna@uol.com.br

1 Introdução A atividade de pesquisa na graduação é importante para desenvolver, no futuro enfermeiro, o espírito crítico e a competência para buscar respostas para os problemas da prática profissional. Dentre as variadas iniciativas que propiciam esse desenvolvimento, a Iniciação Científica se destaca como oportunidade valiosa porque proporciona a aplicação, na prática, da teoria aprendida na disciplina de Metodologia da Pesquisa.

A Iniciação Científica é apontada como favorecedora de noções teóricas e metodológicas de pesquisa, buscando incentivar-lhe [ao aluno de graduação] a capacidade de pensar e o espírito questionador(1).

vinte e três anos apontava-se os benefícios da inserção precoce do aluno de graduação na atividade de pesquisa, dentre os quais se destacava a redução do medo associado com a pesquisa, o aumento da iniciativa de identificar áreas carentes de investigação, o desenvolvimento da capacidade de reconhecer os critérios de validade e confiabilidade de uma pesquisa, o comportamento de busca da superação de barreiras e obstáculos ao conhecimento, que se estende ao cuidado com o cliente, e o aprendizado do relacionamento colaborativo com os professores(2).

A Iniciação Científica é uma das oportunidades de inserção do aluno de graduação na pesquisa que pode favorecer a conquista dos benefícios citados e é, ao lado da elaboração do trabalho de conclusão de curso, o canal adequado para o desenvolvimento dessas habilidades. Tem por objetivos: Propiciar à instituição um instrumento de formulação de política de pesquisa, para a iniciação científica na graduação; Estimular uma maior articulação entre a graduação e a pós-graduação; Estimular o pesquisador/orientador a formar equipes; Estimular o envolvimento de novos pesquisadores na atividade de formação; e Introduzir o aluno de graduação no mundo da pesquisa científica(3).

para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo o programa de iniciação à pesquisa destina-se a alunos de graduação em instituições de ensino superior localizadas no Estado, para desenvolvimento de pesquisa científica (IC) ou tecnológica (IT) sob a direção de um orientador com título de doutor ou qualificação equivalente, avaliada por sua súmula curricular. O aluno deve ter concluído um número suficiente de disciplinas relevantes para o desenvolvimento do projeto de pesquisa(4).

A universidade em foco no presente trabalho começou a promover Congressos de Iniciação Científica a partir de 1998, trinta anos após sua fundação. Desde este momento a Enfermagem se fez representar, levando número crescente de trabalhos(5), chegando ao volume de 42 relatos em 2002. A atividade é apoiada pela Diretoria de Pesquisa por meio de bolsas de estudo para os acadêmicos e auxílio-pesquisa para os orientadores, quando solicitado. A premiação para os melhores trabalhos resulta no financiamento para a reapresentação dos mesmos em evento nacional de pesquisa. Assim, apesar do financiamento não ser estendido para todos os pesquisadores, interesse na participação no evento, constituindo-se em atividade significativa, a ponto de merecer reserva de data dentro do calendário acadêmico, o que não é comum em universidade particulares.

Dessa maneira se busca cumprir um dos objetivos da universidade na busca de qualidade através da investigação sistemática e produção efetiva de conhecimento, tornando este momento particularmente interessante para a observação da atividade de pesquisa nos seus cursos de graduação.

O Curso de Graduação em Enfermagem desta universidade paulista iniciou sua primeira turma em 1997 e apresentava, em seu Projeto Pedagógico original, a preocupação em fornecer ferramentas básicas ao aluno para a apropriação crítica de relatórios de pesquisa(6). Com a implementação do currículo e obedecendo aos postulados emanados das autoridades de ensino, desde 2000 exige a apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso que envolve pesquisa bibliográfica. O Projeto Pedagógico foi reformulado em 2000, reduzindo-se o tempo de titulação de cinco para quatro anos, mas conservou as mesmas disposições sobre a pesquisa, apenas trazendo mais para o início do curso - 2o ano, a fundamentação para esta prática(7).

Em 2002, em vista da crescente produção científica conduzida pelo corpo docente, a faculdade, através de sua Comissão de Pesquisa, constituída nesse mesmo ano, tomou a iniciativa de reorganizar e ampliar o número dos seus diretórios cadastrados no Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia, definir suas linhas de pesquisa e pesquisadores a elas vinculados, proporcionando uma estrutura mais sólida para o desenvolvimento da atividade, uma vez que não é possível garantir o aprendizado da pesquisa sem efetivamente praticá-la.

Esse breve panorama da pesquisa na Faculdade de Enfermagem da universidade citada evidencia que o momento vivido por ocasião da realização do 5o Congresso de Iniciação Científica exigia uma avaliação sistematizada do produto dos esforços de pesquisa na graduação, a fim de permitir a elaboração de diretrizes e determinação de estratégias para o prosseguimento da atividade com a qualidade que os novos compromissos demandavam, motivo pelo qual foi eleito como objeto de estudo do presente trabalho, a avaliação da produção, apresentada no evento citado, pelos pesquisadores desta faculdade.

2 Objetivo Avaliar a correção metodológica dos trabalhos apresentados, em 2002, no 5o Congresso de Iniciação Científica, pelos alunos e professores do Curso de Graduação em Enfermagem de uma Faculdade de Enfermagem de uma universidade paulista.

3 Metodologia Para realização deste estudo descritivo as fontes empregadas foram o resumo publicado nos anais do evento(8) e os pôsteres afixados no local de exposição, de cada um dos 42 trabalhos. Dos 470 trabalhos apresentados no Congresso, 42 foram produzidos pelos alunos e docentes do curso de Enfermagem, representando 9% do total e ocupando o 4o lugar no quantitativo geral, sendo precedidos das áreas de Educação Física, Psicologia e Medicina, nesta ordem.

Os materiais foram avaliados em relação a tipo de estudo, objetivos, metodologia, resultados, conclusões, vinculação à linha de pesquisa e observância aos aspectos éticos da pesquisa com seres humanos.

Para tanto foi elaborado um instrumento de coleta de dados que contemplou as variáveis elencadas e espaço para anotações sobre as adequações/inadequações encontradas. A leitura do resumo e apreciação dos pôsteres foi feita durante os dias do evento, por duas doutoras em Enfermagem, sem a presença dos expositores e dos visitantes, num período de seis horas, com uma interrupção para descanso.

Os dados foram computados no programa Excel, e a análise dos dados realizada através de estatística simples, apresentada em freqüência absoluta e proporcional.

4 Resultados A classificação do tipo de estudo obedeceu ao postulado por Triviños(9) que nomeia os estudos como: exploratórios, descritivos e experimentais. Por estudo exploratório este autor define aqueles que permitem ao investigador aumentar sua experiência em um determinado problema. Parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes, maiores conhecimentos para, em seguida, planejar uma pesquisa descritiva ou experimental. Os estudos descritivos, por sua vez, pretendem descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade. Incluem os estudos de caso, os estudos correlacionais e os ex-post-facto. os estudos experimentais exigem um planejamento rigoroso, partem de uma exata formulação do problema e definição precisa das hipóteses, de modo a permitir o controle de variáveis, a fim de estabelecer relações estatisticamente significativas que expliquem o objeto de estudo e ofereçam subsídios para a teorização a seu respeito.

Dos 42 trabalhos analisados, o tipo de estudo mais freqüente foi o descritivo, com 79,0% (33 trabalhos), sendo que três não declararam o tipo de estudo e seis não eram pesquisa, e sim relatos de experiência ou estudos de casos assistenciais, como se pode ver na Tabela_1.

Comparando-se com o estudo anterior, que apontou 61% dos estudos do tipo descritivo para iniciação científica, nota-se que também na presente avaliação a maior parte dos trabalhos apresentados concentrou-se nesta modalidade. Isso pode ser explicado pelo fato dos projetos de iniciação à pesquisa preferirem objetos mais simples com abordagens iniciais de aproximação, de forma a facilitar a inserção do aluno e seu desenvolvimento nessa atividade.

Se por um lado essa escolha parece ser a mais acertada para propiciar o desenvolvimento completo de uma pesquisa durante o tempo compatível com a duração do curso de graduação, por outro lado, este tipo de pesquisa é pouco significante quando avaliado o grau de conhecimento desenvolvido na área(10).

Saliente-se que esse comentário se referia não a produtos de iniciação científica, mas para toda a produção veiculada de 1993 a 2001 na Revista Latino Americana de Enfermagem.

Quanto aos objetivos, 45,2% dos trabalhos (19) foram adequadamente construídos enquanto 31% (13) apresentaram-se pouco claros e não mensuráveis, e 11,9% (5) foram confundidos com objetivos assistenciais. Além disso, três trabalhos não declararam seus objetivos, um teve sua construção inadequada e outro não apresentou correspondência com o método de estudo.

A avaliação da metodologia apontou mais de uma inadequação para um mesmo trabalho, num total de 56 ocorrências. Destas, foram identificados problemas quanto à seleção de população e variáveis de estudo, definição de termos, erros teórico-conceituais, forma de coleta e análise de dados, sendo que apenas oito trabalhos estavam adequados.

Outro estudo também evidenciou como falhas metodológicas a pequena utilização de fundamentação teórica como suporte da pesquisa, a desarticulação entre o referencial teórico e os dados obtidos no estudo, a descrição incompleta do material e método e população, critérios de amostragem, procedimentos de coleta de dados e método usado(10).

Considerando-se que a iniciação científica sempre é desenvolvida pelo aluno sob orientação docente, que se indagar sobre o preparo deste para o desempenho do papel de pesquisador.

Não é possível atribuir exclusivamente ao docente a dificuldade com a condução metodológica, pois se sabe que muitos pesquisadores são capazes de conduzir com segurança e rigor suas próprias investigações, ao mesmo tempo em que têm dificuldade em orientar um outro pesquisador, menos experiente, a seguir um caminho metodológico correto. Ainda assim, a decisão de apresentar o relatório da pesquisa depende da autorização do docente, motivo pelo qual este aspecto merece profunda reflexão. Um das possibilidades para a superação dessa dificuldade pode estar no crescimento e desenvolvimento dos grupos de pesquisa, capazes de propiciar a qualificação através da troca de experiências e discussões sobre as pesquisas em andamento em cada núcleo de estudo.

Os resultados dos trabalhos analisados mostraram-se adequados em 57,1% (24) e não consistentes em 11,9% (5), dentre mais outros dez tipos de inadequações, como se pode apreciar na Tabela_3.

Dentre os erros mais freqüentes estão a falta de consistência, a ausência de discussão e a apresentação incompleta dos dados. Houve ainda dois trabalhos que apresentaram erro de concepção teórica. Com apenas uma ocorrência apareceram falhas como confusão com a população do estudo, não respondeu aos objetivos propostos, não permitiu a identificação do que foi medido, sem uniformidade na apresentação dos dados numéricos e com discordância do apresentado no resumo.

Os resultados são o produto da metodologia desenvolvida. Portanto, se houve falhas nas etapas anteriores do processo de pesquisar, é natural que se encontre um número grande de inadequações na sua descrição. Chama à atenção o fato de ainda serem apresentados resultados sem que sejam discutidos, revelando uma atitude de pouca atenção dos pesquisadores envolvidos na investigação, ainda que a maioria dos trabalhos seja do tipo descritivo, na fase preliminar de exploração.

As conclusões dos trabalhos analisados revelaram-se adequadas em 33,3% (14), seguidos de 31,5% (13) que não respondiam aos objetivos do estudo, como se pode apreciar na tabela_4. Do total de trabalhos analisados, 64,3% (27) não mencionaram o atendimento às prescrições sobre ética em pesquisa com seres humanos, seguidos de 23,8% (10) que as contemplaram.

Chama à atenção o fato da desvinculação aparente entre os objetivos e as conclusões, observados em 31,0% dos trabalhos analisados. Embora estudos descritivos não se proponham a provar nenhuma hipótese, ainda assim, espera-se que o pesquisador emita sua opinião sobre os achados ou, ao menos, demonstre, ao leitor, a preocupação em verificar se os objetivos foram atingidos. Marziale e Mendes10 encontraram, em seu estudo, o mesmo tipo de problema, podendo-se inferir que os enfermeiros que nele apresentavam essas deficiências devem trazê-las desde a graduação, motivo que ressalta a necessidade de preparação para o desempenho em pesquisa que contemple todas as etapas do processo de investigação, inclusive a elaboração completa do relatório de pesquisa.

As pesquisas que empregam métodos qualitativos, pela própria natureza do estudo, não permitem a apresentação de conclusões. Isto poderia explicar em parte o fenômeno observado, porém um único estudo empregou essa metodologia.

A faculdade de enfermagem em foco possuía, à época de realização do estudo, quatro grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, a saber: Enfermagem, Enfermagem em Saúde Coletiva, Zinnia: Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde da Criança e do Adolescente e Centro de Estudos e Pesquisas em História da Enfermagem, os três últimos constituídos em 2002. A distribuição dos trabalhos nesses grupos pode ser apreciada no gráfico_1, onde se observa que a maior concentração está no grupo mais antigo, onde também se concentra a maior parte dos docentes pesquisadores que apresentaram trabalhos neste evento.

Ao analisar a vinculação destes trabalhos às onze diferentes linhas de pesquisa dos quatro grupos de pesquisa da faculdade de enfermagem, observou-se a concentração na linha "assistência de enfermagem" (61,9% - 26 trabalhos) nas áreas temáticas de saúde da mulher e saúde do adulto.

O cotejamento dos resultados do presente trabalho, a partir do indicado na tabela_5, com a proposição de classificação de linhas de pesquisa(11,12) demonstra que a área temática assistencial é a mais desenvolvida na faculdade em análise, ao contrário do que foi encontrado a produção científica da Enfermagem brasileira de 1990 a 1999, em que preponderava a área organizacional e profissional.

As mesmas autoras também declararam que, na área assistencial, houve predominância da linha "Cuidar em enfermagem no Processo Saúde-doença", e na linha "processo de Cuidar em Enfermagem" não houve ênfase para clientelas específicas, o que aconteceu no presente trabalho.

Fonte: Dados da Pesquisa A julgar pelo comentado no estudo de Souza(13) pode-se dizer que a produção científica da faculdade em foco ainda está num estágio inicial de desenvolvimento, centrado nas questões técnicas e científicas do cuidar biológico individual, posto que pouco se ocupa questões maiores como a inserção da Enfermagem no processo de trabalho em saúde. Considerando o tempo de existência da faculdade e, portanto, da atividade de pesquisa nela implementada, é esperado que esse seja o cenário preponderante.

Ainda assim, que se buscar uma reorientação para o contexto atual da pesquisa em enfermagem. Assim, contemplando objetos como outras tecnologias, novas formas de gestão do trabalho e articulações político-sociais que privilegiam o cuidar ético e humano na produção dos serviços de saúde, de forma a abarcar as modificações do mundo do trabalho, das relações sociais e dos padrões culturais que trazem implicações para a prática da Enfermagem(14).

Conclusão Os trabalhos apresentados pela Faculdade de Enfermagem de uma universidade paulista no 5o Congresso de Iniciação Científica em 2002 apresentaram razoável grau de correção metodológica, quando observados no contexto da Enfermagem brasileira. No entanto, a apreciação dos mesmos indicou que a atividade de pesquisa desenvolvida pelos os alunos e docentes da faculdade de enfermagem em foco, na época estudada estava em construção, requerendo investimentos na capacitação dos orientadores quanto aos aspectos metodológicos. A despeito de dois terços de o corpo docente possuir o título de Mestre e/ou de Doutor, notou-se que necessidade de contínuo aperfeiçoamento dos responsáveis pela condução da pesquisa na faculdade citada, quanto à operação dos métodos de pesquisa, critérios para escolha de objetos de estudo e condução da orientação dos acadêmicos no processo de trabalho pesquisar em Enfermagem.

Para atender à necessidade de fortalecimento e expansão dos grupos de pesquisa e das linhas em atividade, esses esforços deverão ser empreendidos a partir do estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas, de maneira participativa, a fim de conjugar os conhecimentos e as habilidades disponíveis individualmente para um projeto conjunto de construção de sólidas bases para o progresso da pesquisa em Enfermagem nesta faculdade.

Esta avaliação, oportuna tendo em vista a representatividade da produção científica em Enfermagem desta universidade, pode ajudar a ultrapassar o enfoque no quantitativo expressivo de trabalhos para o amadurecimento da atividade de pesquisa em busca de um novo patamar de qualidade.

Por fim ressalte-se o caráter pioneiro e pontual da presente avaliação, recomendando-se sua continuidade a fim de que se possa identificar tendências, dificuldades e facilidades que permitam direcionar as ações corretivas e prospectivas nessa área.


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